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O aumento de capacitação leva a um processo de aprendizagem que está associado à adaptação e à inovação tecnológica (HANDOKO; SMITH, BURVILL, 2014). Junto a esses temas, desponta também o conceito de capacidade de absorção (COHEN; LEVINTHAL, 1990), nos termos de aquisição, assimilação e aprimoramento do conhecimento.

Cohen e Levinthal (1990) conceituam a capacidade de absorção como a habilidade de reconhecer o valor de um novo conhecimento, assimilá-lo e aplicá-lo a fins comerciais – e argumentam que essa capacidade é fundamental para o

desempenho inovativo de uma empresa. Portanto, uma empresa só vai interagir com uma universidade se ela identificar que é capaz de absorver os resultados da pesquisa cooperativa, segundo Galán-Muros e Plewa (2016). E, ela só será capaz de absorver estes resultados tanto quanto as pesquisas cooperativas realizadas nas universidades estiverem em consonância com as estruturas empresariais locais (COHEN; LEVINTHAL, 1990).

Esta capacidade é cumulativa e depende de uma série de características das empresas, relacionadas às habilidades individuais dos seus funcionários, à sua forma de organização interna e a seus investimentos prévios em P&D (COHEN; LEVINTHAL, 1990). Lundvall (2001), Rajalo e Vadi (2017) e Švarc e Dabić (2019) também apontam sobre a ampliação de competências da empresa mediante o desenvolvimento de habilidades de seu capital humano.

Se uma empresa é capaz de inovar a partir de fontes de informação que lhe são externas (empresarial ou acadêmica), significa que ela tem capacidade de absorver conhecimento dessas fontes (BASTOS; FRENKEL, 2017; GIUNTA; PERICOLI; PIERUSSI, 2016; RAJALO; VADI, 2017). Um bom exemplo são as indústrias biofarmacêuticas italianas, indústrias de base científica cujo crescimento depende de boas pesquisas realizadas por meio de interações recíprocas e complexas entre a universidade e o setor privado (GIUNTA; PERICOLI; PIERUSSI, 2016). Porém, a aquisição de tecnologias e de conhecimentos externos possibilita, mas não garante, a melhoria do desempenho tecnológico (PROTOGEROU; CALOGHIROU; SIOKAS, 2013), dependendo de vários fatores para esta melhor performance.

Quanto às variáveis explicativas da capacidade de absorção, Cohen e Levinthal (1990) levantam vários elementos, que podem ser reunidos em três grandes grupos: o esforço tecnológico da empresa (gasto em P&D), as habilidades pessoais dos seus trabalhadores (qualificação dos profissionais) e as características da organização. Trata-se de um tema relevante, especialmente em um país recentemente industrializado, como é o Brasil. Kroll e Schiller (2010) apontam que, nas empresas de países industrializados recentemente, existe a tendência de que a capacidade de absorção – e, como consequência, a habilidade de buscar o conhecimento mais adequado – não seja tão grande. Ou seja, entende-se que, de modo geral, os esforços tecnológicos, as habilidades do capital humano e as características da empresa não se efetivam em um processo coerente, o que dificulta tanto a aquisição, quanto a

assimilação e o aprimoramento de novas tecnologias. Kroll e Schiller (2010) concluem, deste modo, que o principal desafio ao desenvolvimento empresarial no escopo de um processo de transferência de tecnologia é a capacidade de absorção das empresas locais. Pode ser mais difícil, dependendo das capacitações dos empregados, usar outras informações, por exemplo das universidades (ORGANIZAÇÃO PARA COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, 2005).

Um panorama diferente se vê na Itália, por exemplo, por com a indústria farmacêutica (GIUNTA; PERICOLI; PIERUSSI, 2016), ou na Espanha com as empresas de biotecnologia (GARCÍA-CARPINTERO et al., 2014), onde 93% das empresas dessa área de atuação procuram algum instituto público para a realização de projetos de P&D cooperativa (83%) ou obter informação científica (22%), a fim de absorver conhecimento.

Por isso, spin-offs acadêmicas, principalmente se nascidas de universidade de prestígio, tendem a ser mais capacitadas tecnologicamente, pois são capazes de inovar e porque trabalham em redes como a hélice tripla ou os sistemas regionais de inovação. Segundo Cattaneo, Meoli e Vismara (2015), spin-offs na área de biotecnologia derivadas de universidades mais prestigiadas e internacionalizadas são mais suscetíveis de serem alvos de fusões e aquisições internacionais.

Já o estudo de Handoko, Smith e Burvill (2014) junto a pequenas e médias empresas do setor metalmecânico da Indonésia conclui que, quando a transferência de tecnologia ocorre com um único cedente, seja o governo, empresa ou universidade, o impacto não é suficiente para afetar a inovação do processo tecnológico do cessionário. Por outro lado, a evidência empírica sustenta o impacto significativo e positivo de programas conjuntos na transferência de tecnologia para incrementar a inovação do processo tecnológico do contratante. Segundo Nelson (1993), a abordagem do SNI, com seus atores interagindo, tornou-se uma ferramenta comumente usada para a análise da capacidade tecnológica de um país sob todos os tipos de circunstâncias, portanto, quanto mais interações entre os atores do SNI, como no estudo empírico de Handoko, Smith e Burvill (2014), maior a capacitação tecnológica, como de fato ocorreu com as empresas indonésias. Dessa forma, as parcerias tecnológicas são importantes para a capacidade tecnológica de startups de alta tecnologia, aumentando sua produtividade e indiretamente o desenvolvimento

socioeconômico do país, devendo ser, portanto, alvo de políticas públicas (PROTOGEROU; CALOGHIROU; SIOKAS, 2013).

É preciso, portanto, repensar o papel das universidades no processo de desenvolvimento tecnológico e capacitação tecnológica, porém não pensar que a universidade pode resolver tudo unilateralmente (LUNDVALL, 2001; SERRA; ROLIM; BASTOS, 2018). Empresas que não possuem capital humano qualificado e inovador cooperam muito pouco com universidades, portanto, um passo inicial é a qualificação dos profissionais a fim de incrementar a atuação da indústria com o mercado (LUNDVALL, 2001). Este fato foi confirmado por Benedetti e Torkomian (2010) em um estudo de caso com uma pequena empresa para analisar fatores da cooperação universidade-empresa, sendo que a empresa analisada era dirigida por duas pessoas fortemente ligadas à universidade. Essas empresas têm maior potencial de cooperação com as universidades, conseguindo mais facilmente adquirir e assimilar conhecimento.

Algumas empresas chinesas, por exemplo, já se tornaram hábeis em absorver conhecimento e transformá-lo em inovação tecnológica, partindo da imitação para a adaptação, assim como fizeram as chaebols coreanas. Porém, pode ser observada uma lacuna entre as soluções oferecidas pelos institutos de pesquisa aplicada públicos e as necessidades das empresas locais (KIM; NELSON, 2005). Para suprir esta lacuna, os NITs devem possuir uma mentalidade empresarial, valorizando o empreendedorismo, com apoio tanto ao surgimento de startups quanto às micro e pequenas empresas existentes, para criar confiança mútua nas relações U-E (BRUNEEL; D'ESTE; SALTER, 2010; GALÁN-MUROS; PLEWA, 2016; GONZÁLEZ, 2019; PIRES, 2018).

Para concluir o capítulo de revisão bibliográfica, a seguir é apresentado um alinhamento dos principais conceitos discutidos neste capítulo de Fundamentação Teórica, para facilitar o entendimento da relação entre eles.