3.2 CONSTRUÇÃO DOS INSTRUMENTOS E ANÁLISE DOS DADOS
3.2.1 Análise de Conteúdo
3.2.1.2 Exploração do material
A segunda etapa foi a exploração do material por meio de leitura flutuante. Neste passo, escolheu-se as unidades de contexto e de registro e as categorias de análise e de contexto, que são classes que agrupam elementos com características comuns. Esta categorização foi processada por meio do levantamento quantitativo realizado na pré-análise e no levantamento qualitativo.
No qualitativo são consideradas as expressões mais relevantes para a pesquisa e que foram definidas a partir da revisão da literatura, pensando nos grandes
grupos que agregam elementos relacionados com o tema desta pesquisa. Estes grupos foram definidos levando em consideração os quadros de referências com as palavras-chave iniciais e conceitos definidos inicialmente na pesquisa e que são apresentados nos Quadros 4, 5 e 6.
Além desses quadros de referências e seus conceitos principais, foi utilizado o Mapa conceitual do Alinhamento conceitual (Figura 9), que apresenta um resumo dos atores das interações U-E e das dimensões importantes para o desenvolvimento e a transferência de tecnologia entre ICTs e as empresas.
Quadro 4 – Quadro de Referências da Transferência de Tecnologia
Fonte: Autoria própria (2020)
Palavra-chave Conceito Autores
Transferência de tecnologia
Inovação Bruneel, D'Este e Salter (2010); Miller e Acs (2013); Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (2005); Rodrigues e Gava (2016); Fromhold- Eisbith e Weker (2013); Kim, Kim e Yang (2012)
Interação entre atores
Abramo, D'Angelo e Di Costa (2011); Callon (1986); Cantù (2010); Closs e Ferreira (2012); Etzkowitz e Leydesdorff (1997);Farinha, Ferreira e Gouveia (2016); Giunta, Pericoli e Pierussi (2016); Do Nascimento e Labiak Junior (2011); Nelson (1993); Krama (2014); Rodrigues e Gava (2016)
Cooperação U-E Cesaroni e Piccaluga (2016); D'Este e Perkmann (2011); Fromhold-Eisebith e Werker (2013); Galán-Muros e Plewa (2016); Giunta, Pericoli e Pierucci (2016); Lundvall (2001); Müller (2018)
Fluxo de
informação
Bradley, Hayter e Link (2013); Bozeman (2000); Cantù (2010); Fromhold-Eisebith e Werker (2013); Mowery (2011); Protogerou, Caloghirou e Siokas (2013); Silva (2016)
Confiança Baycan e Stough (2013); Boehm e Hogan (2013); Bruneel, D'Este e Salter (2010); Closs e Ferreira (2012); Galán- Muros e Plewa (2016); Do Nascimento e Labiak Junior (2011); Shen (2017)
Empreendedorismo Baycan e Stough (2013); Ghazinoory, Bitaab e Lohrasbi (2014); Miller, McAdam e McAdam (2014)
Sistema de Inovação
Freeman (1995); Lundvall (1992; 2001) e Nelson (1993) Políticas públicas e
governo
Quadro 5 – Quadro de Referências da Capacitação Tecnológica
Palavra-chave Conceito Autores
Capacitação tecnológica
Demanda de tecnologia
Benedetti e Torkomian (2010); Closs et al. (2012); Kim e Nelson (2005); Matei et al. (2012)
Capacidade de absorção
Cohen e Levinthal (1990); Galán-Muros e Plewa (2016); Handoko, Smith e Burvill (2014); Kroll e Schiller (2010)
Fonte: Autoria própria (2020)
Quadro 6 – Quadro de Referências das Instituições Científicas e Tecnológicas
Palavra-chave Conceito Autores
ICTs
Capital Humano
Closs e Ferreira (2012); Farinha, Ferreira e Gouveia (2016); Fromhold-Eisebith e Werker (2013); Hsu et al. (2015)
Transferência de tecnologia
Czeluniak (2015); Etzkowitz (2013); Sanberg et al. (2014); Trencher et al. (2014)
Desenvolvimento tecnológico
(Pesquisa aplicada)
Bozeman (2000); D'Este e Perkmann (2011); Kroll e Schiller (2010); Organização para Cooperação e desenvolvimento econômico (2013); Shen (2017); Toledo (2015)
Propriedade intelectual/ patentes/ invenções
Baycan e Strough (2013); Bradley, Hayter e Link (2013); Brasil (1996, 2010); Czelusniak (2015); Dias e Porto (2014); Galán-Muros e Plewa (2016); Lawson (2013); Mowery (2011); Sanberg et al. (2014); Sherwood (1992); Stal e Fujino (2016)
NIT
Alexander e Martin (2013); Baycan e Stough (2013); Cesaroni e Piccaluga (2016); Dias e Porto (2014); García- Carpintero et al. (2014); Hsu et al. (2015); Lawson (2013); O'Kane et al. (2015); Pietrovski (2017); Santos e
Torkomian (2013); Stal e Fujino (2016); Toledo (2015); Villani, Rasmussen e Grimaldi (2017); Weckoswka (2015)
Empresas spin-off
Baycan e Stough (2013); Cattaneo, Meoli e Vismara (2015); Dias e Porto (2014); Etzkowitz (2013); Hsu et al. (2015); Miller e Acs (2013); Miller, McAdam e McAdam (2014); Do Nascimento e Labiak Junior (2011); Shen (2017); Swamidass (2013)
Incubadoras/ Parques tecnológicos
Do Nascimento e Labiak Junior (2011); Krama (2014); Villani, Rasmussen e Grimaldi (2017)
Contratos de TT
Bradley, Hayter e Link (2013); Brasil (2004; 2017); Czelusniak (2015); Instituto Nacional da Propriedade Industrial (2017b; 2019a); Santos, Toledo e Lotufo (2009)
Dificuldades na relação U-E
Berbegal-Mirabent, Lafuente e Solé (2013); Bruneel, D'Este e Salter (2010); García-Carpintero et al. (2014); Galán-Muros e Plewa (2016); Müller (2018); Siegel et al. (2004)
Desta forma foram definidas as três categorias de contexto da pesquisa: i) transferência de tecnologia e ii) desenvolvimento tecnológico e iii) inovação. Estas palavras significam os elementos centrais desta investigação e estão presentes tanto no título quanto nas palavras-chave definidas, por isso foram selecionadas como categoriais principais. Technology foi a terceira palavra mais citada, transfer a sexta, innovation a sétima e development a décima primeira, demonstrando a importância que essas palavras têm dentro do material analisado.
Essas palavras mais citadas também podem ser demonstradas por meio de uma nuvem de palavras, conforme apresentado na Figura 13.
Figura 13 – Nuvem de palavras do corpus total
Fonte: Autoria própria (2020)
As palavras encontradas pelo NVivo® na contagem de palavras e na nuvem de palavras e os conceitos definidos qualitativamente pela revisão da literatura foram arranjadas em categorias, definidas como as categorias de análise para esta pesquisa. Estas categorias englobam os elementos pertinentes aos temas principais definidos pelas categorias de contexto. Dentro das três categorias de contexto, foram selecionadas as palavras principais que foram utilizadas posteriormente para a construção dos instrumentos e para análise qualitativa dos dados. Os conceitos similares foram agrupados em uma mesma categoria.
Para a categoria desenvolvimento tecnológico foram definidas as seguintes categorias de análise:
- capital humano: escolhida para representar a palavra academic, que aparece em oitavo lugar na contagem de palavras
- pesquisa: research e science
- cooperação universidade-empresa: industry e business
Para a categoria transferência de tecnologia, foram criadas as categorias de análise:
- empreendedorismo: entrepreneurial e firms - NIT: activities e commercialization
- política institucional: policy, university e management
Para a categoria inovação, as seguintes categorias de análise foram estabelecidas:
- capacitação tecnológica: knowledge - política: policy, regional e economic
Para as oito categorias de análise, foram detectadas 17 unidades de registro, codificadas de forma a facilitar a identificação nos materiais analisados e na organização da análise de conteúdo. Estas unidades de registro são palavras ou expressões que, de certa forma, explicam ou exemplificam as categorias de análise e são visualizadas no Quadro 7. Elas também foram definidas a partir da Figura 9 e dos Quadros 4, 5 e 6, de forma qualitativa e usando a contagem de palavras da Tabela 5 para definição quantitativa.
Quadro 7 – Resumo das categorias elencadas para este trabalho
Categorias de Contexto Categorias de Análise Unidades de registro
Desenvolvimento Tecnológico
Capital humano Professores/pesquisadores Estudantes Pesquisa Propriedade intelectual e patentes Financiamento Cooperação U-E
Interação entre atores Fluxo de informação Confiança
Transferência de Tecnologia
Empreendedorismo Empresas spin-off Incubadoras
NIT Divulgação de tecnologias Contratos de TT
Política institucional da ICT Incentivos à transferência Envolvimento com o entorno
Inovação
Capacitação tecnológica Demanda de tecnologia Capacidade de absorção
Política Incentivos à inovação Segurança jurídica
Fonte: Autoria própria (2020)
Para cada unidade de registro foi selecionada uma frase, trecho ou segmento da literatura que permite explicar o contexto da unidade de registro. Estes trechos podem ser visualizados no Quadro 8 para a categoria de contexto Desenvolvimento tecnológico, no Quadro 9 para a categoria de contexto Transferência de tecnologia e no Quadro 10 para a categoria de contexto Inovação.
Quadro 8 – Unidades de contexto para cada unidade de registro definida para as categorias de análise dentro da categoria de contexto Desenvolvimento tecnológico
Categorias
de Análise Unidades de registro Unidades de contexto
Capital humano
Professores/pesquisadores
“Os pesquisadores podem fornecer seu conhecimento científico e experiência em comercialização, além de atrair financiamento privado” (GALÁN-MUROS; DAVEY, 2019). “[...] pesquisadores que recebem uma grande quantidade de investimentos da indústria para pesquisa têm maior propensão de gerar uma patente” (LAWSON, 2013, p. 509).
Estudantes
“Os estudantes agem como condutores de conhecimento e enriquecedores de habilidades para a indústria como estagiários, funcionários e redatores de teses. Além disso, os estudantes trazem motivação, habilidades e novas ideias para os negócios por meio de estágios, projetos conjuntos ou doutorados enquanto aprimoram suas habilidades e empregabilidade” (GALÁN-MUROS; DAVEY, 2019).
Pesquisa
Propriedade intelectual e patente
“O termo propriedade intelectual contém tanto o conceito de criatividade privada como o de proteção pública para os resultados daquela criatividade, na forma de patentes, programas de computador, desenhos industriais, marcas, direitos autorais, indicações geográficas, topografias de circuitos integrados, cultivares e segredos industriais” (SHERWOOD, 1992, p. 22).
“A patente é uma forma de diminuir os riscos dos
investimentos necessários para levar a tecnologia embrionária na sua forma final de produção e disponibilização. (SANTOS; TOLEDO; LOTUFO, 2009, p. 54).
Financiamento
O financiamento pode vir de qualquer um dos três atores da hélice tripla e assumir diferente formas, como subsídios do governo, doações da indústria, incentivos financeiros das ICTs, etc” (GALÁN-MUROS; DAVEY, 2019).
Cooperação U-E
Interação entre atores
“As cooperações U-E são as interações ou esforços colaborativos para transferir ou trocar conhecimento e tecnologia e podem vir de interações informais, como reuniões, conferências e feiras ou formais, como patenteamento, comercialização de resultados de P&D e spin-offs” (GALÁN-MUROS; DAVEY, 2019).
Fluxo de informação
“Devido a vantagens em tecnologias e maiores fluxos de
informação, o conhecimento é cada vez mais percebido
como um condutor central do crescimento econômico e da inovação. A avaliação das interações entre atores foi ampliada em virtude da importância dos fluxos de conhecimento entre as firmas e outras organizações para o desenvolvimento e a difusão de inovações” (ORGANIZAÇÃO PARA COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, 2005).
Confiança
“A confiança, os valores e as normas podem ter um impacto importante sobre o funcionamento das relações externas e sobre a troca de conhecimentos no interior da empresa. O estabelecimento da confiança é também um fator-chave para a manutenção e a melhoria dos relacionamentos, dentro e fora da empresa” (ORGANIZAÇÃO PARA COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, 2005).
Quadro 9 – Unidades de contexto para cada unidade de registro definida para as categorias de análise dentro da categoria de contexto Transferência de Tecnologia
Categorias de Análise
Unidades de
registro Unidades de contexto
Empreendedorismo
Empresas spin-off
Startup significa empresa nascente e quando ela nasce dentro de outra empresa, aproveitando seu conhecimento, esta empresa é conhecida como
spin-off, como é o caso das startups criadas/nascidas dentro do ambiente universitário, com a proposta de desenvolvimento de um novo negócio (DO NASCIMENTO; LABIAK JUNIOR, 2011, p. 86).
Incubadoras
Incubadoras são estruturas estabelecidas para facilitar a atividade de spin-off e a interação com novas empresas empreendedoras e geralmente fornecem espaço físico para os atores industriais localizado em um campus universitário (VILLANI; RASMUSSEN; GRIMALDI, 2017).
NIT
Divulgação de tecnologias
Deve haver ampla divulgação dos serviços que são realizados pelo NIT, bem como das tecnologias existentes e das possibilidades de transferência de tecnologia entre a universidade e as empresas (MATEI et al., 2012).
A divulgação das pesquisas é considerada um mecanismo operacional que visa promover a cooperação U-E (GALÁN-MUROS; DAVEY, 2019).
Contratos de TT
[...]os contratos de transferência de tecnologia têm como principal objetivo obter lucros advindos da exploração da tecnologia por outras organizações, visa uma difusão da tecnologia (CZELUSNIAK, 2015)
Política institucional
Incentivos à transferência
As universidades devem, portanto, integrar seus esquemas de incentivo monetário à comercialização com políticas gerais que possibilitam e incentivam a colaboração com a indústria em geral (D'ESTE; PERKMANN, 2011).
Incentivos, recompensas e critérios de promoção nas universidades são mecanismos internos importantes para se estimular os acadêmicos a se engajarem com parceiros externos na produção e no compartilhamento de pesquisas (KEMPTON, 2018).
Envolvimento com o entorno
[...] os pesquisadores e professores ficam diante do desafio de abordar os problemas reais da
sociedade e transformá-los em objetivos da
pesquisa científica e tecnológica; um compromisso da pesquisa científica em gerar conhecimento não apenas para a própria ciência, mas em paralelo
estender o conhecimento até a solução para problemas reais da sociedade (SOARES, 2018).
[...] importância fundamental dada ao processo de inovação que ocorre nas organizações e nas
relações estabelecidas entre elas e seu entorno,
como determinante da competitividade dos países (GONZÁLEZ, 2019).
Quadro 10 – Unidades de contexto para cada unidade de registro definida para as categorias de análise dentro da categoria de contexto Inovação
Categorias de Análise Unidades de registro Unidades de contexto Capacitação tecnológica Demanda de tecnologia
O NIT representa uma porta de entrada na ICT, que possui mecanismos para responder às demandas do setor produtivo, com possibilidades de prover soluções para a melhoria de produtos e processos por meio da transferência de tecnologia (MATEI et al., 2012).
Capacidade de absorção
[...]a capacidade de absorção como a habilidade de reconhecer o valor de um novo conhecimento, assimilá-lo e aplicá-lo a fins comerciais – e argumentam que essa capacidade é fundamental para o desempenho inovativo de uma empresa (COHEN; LEVINTHAL, 1990)
Política
Incentivos à inovação
Um conjunto de fatores transversais à economia apoia a inovação, incluindo: os recursos humanos e financeiros alocados aos avanços científicos e tecnológicos, o nível de sofisticação tecnológica, as
políticas públicas que afetam as atividades relacionadas à inovação, a proteção à propriedade
intelectual, os incentivos fiscais à inovação e a promulgação e implementação eficaz da legislação antitruste e abuso de poder (FARINHA; FERREIRA; GOUVEIA, 2016)
Segurança jurídica
Como esforços governamentais se destacam os necessários à criação de uma infraestrutura, a partir de uma segurança nas instituições jurídicas, econômicas e educacionais (CZELUSNIAK, 2015, p.86).
Se houver segurança, as trocas comerciais serão mais eficientes e trarão resultados positivos para toda a sociedade, não apenas às partes que participaram diretamente na transação (CZELUSNIAK, 2015, p. 117)
Fonte: Autoria própria (2020)
Estas categorias foram utilizadas para a construção dos instrumentos de coleta de dados primários: questionário (Apêndice E) e roteiro das entrevistas semiestruturadas (Apêndice F). Estes instrumentos estão explicados com maior detalhe na seção 3.4.