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2.3 PROPRIEDADE INTELECTUAL NAS ICTs

2.3.1 Formulário de Informações Anuais das ICTs (Formict)

O Formict é o Formulário de Informações Anuais das ICTs e seu preenchimento procura obedecer ao art. 17 da Lei de Inovação, que diz que a ICT pública deverá apresentar informações anuais ao MCTIC. Cabe lembrar que esta obrigatoriedade se aplica ainda à ICT privada favorecida pelo poder público nas normas legais (BRASIL, 2004). Este formulário vem sendo preenchido pelas ICTs desde 2006 e os relatórios consolidados anuais estão disponíveis na página do MCTIC7.

A Portaria nº 118 de 23 de fevereiro de 2010 aprovou o novo formulário para informações sobre a Política de Propriedade Intelectual das ICTs do Brasil com informações relativas à política de propriedade intelectual da instituição, às criações desenvolvidas no âmbito da instituição, às proteções requeridas e concedidas e aos contratos de licenciamento ou de transferência de tecnologia firmados (BRASIL, 2010). O Formict disponibiliza, portanto, dados sobre as patentes e as transferências de tecnologia realizadas pelas universidades brasileiras.

Com relação aos Formicts, os dados indicam que no ano de 2019, 305 instituições preencheram o formulário eletrônico com os dados referentes ao ano base 2018, sendo 209 públicas, representando 68,5% das instituições respondentes (BRASIL, 2019a). No que diz respeito aos depósitos de proteção de propriedade intelectual, em 2018 foram realizados 2.220 pedidos pelas ICTs e 2.256 em 2017, representando um decréscimo de 1,6% (BRASIL, 2019a). Este número vem caindo

7 Disponível em:

https://www.mctic.gov.br/mctic/opencms/tecnologia/propriedade_intelectual/formict_propriedade_inte lectual.html. Acesso em: 09 out. 2019.

discretamente desde 2016, conforme se visualiza no Gráfico 1. Em compensação, o número de PIs concedidas pelo INPI vem aumentando ano a ano.

Gráfico 1 – Pedidos de proteção de PI requeridas e concedidas das ICTs entre 2014 e 2018

Fonte: Brasil (2019a, p. 51)

Entre 2014 e 2018 os números de pedidos oscilam, com aumentos e declínios ao longo dos anos, porém com aumento de 2,5% de 2014 para 2018, apresentando um leve perfil de crescimento, o que pode ser explicado pelo aumento da quantidade de instituições que respondem ao questionário ano a ano, e também porque as universidades têm se tornado grandes depositantes de patentes. Em 2018 este valor retrocedeu 1% em relação ao ano anterior, apesar das ICTs continuarem a ser as principais depositantes de patentes segundo o INPI (Tabela 2), pois dos dez maiores depositantes de patentes brasileiros, nove foram instituições de ensino e pesquisa (INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL, 2019b).

Tabela 2 – Ranking dos depositantes residentes de patente de invenção, 2018

Posição Requerente/Titular Número de

pedidos

1 Universidade Federal da Paraíba 94

2 Universidade Federal de Campina Grande 82

3 Universidade Federal de Minas Gerais 62

4 Petróleo Brasileiro S.A. - Petrobras 54

5 Universidade Estadual de Campinas - Unicamp 50

6 Universidade de São Paulo - USP 47

7 Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho 38

8 Universidade Federal do Rio Grande Do Sul 36

9 Fundação Universidade Federal de Rondônia 35

10 Universidade Federal do Ceará 34

Fonte: INPI (2019b)

Além das patentes de invenção, que equivalem a 71% das proteções requeridas em 2018 pelas ICTs brasileiras, segundo o Formict/MCTIC (BRASIL, 2019a), as instituições de ciência e tecnologia (C&T) estão protegendo outras formas de PI, como os programas de computador (softwares), as marcas, os modelos de utilidade, os desenhos industriais e os cultivares desenvolvidas por professores e estudantes no âmbito das universidades e institutos de pesquisa.

As quantidades de cada tipo de PI podem ser visualizadas na Tabela 38.

Destas proteções, 574 foram depositadas em cotitularidade, representando 26% dos depósitos (BRASIL, 2019a). A fim de verificar a interação das PI depositadas pelas ICTs brasileiras com o mercado, o Formict solicita informações sobre as áreas econômicas de cada pedido de acordo com a Classificação Nacional das Atividades Econômicas (CNAE) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os respondentes podem escolher entre as 21 seções principais, e os setores com maior índice foram a indústria de transformação com mais de 50% dos pedidos, seguida de atividades, profissionais, científicas e técnicas com 18% e saúde humana com aproximadamente 10% e agricultura e pecuária com cerca de 7% (BRASIL, 2019a).

8 Esta tabela, assim como o Gráfico 1, foram retirados do Relatório Formict 2018 (BRASIL, 2019a) para exemplificar os tipos de proteção intelectual existentes no Brasil e como as universidades estão protegendo seu conhecimento. Patentes de invenção e programas de computador são responsáveis por 81% das proteções de PI por ICTs, sendo as mais importantes em números e em desenvolvimento tecnológico. Salienta-se também que este documento permite sua reprodução desde que citada a fonte.

Desta forma, percebe-se que mais da metade dos pedidos de proteção das ICTs brasileiras está de alguma forma atrelado às áreas industriais, principalmente por elas serem, segundo Lundvall (2001) de mais alta tecnologia e necessitarem de maiores desenvolvimentos.

Tabela 3 – Pedidos de proteção requeridos pelas ICTs em 2018

Fonte: Brasil (2019a, p. 31)

Resta saber se esta propriedade intelectual gerada nas universidades está sendo transferida às empresas a ponto de se tornarem inovações e impactarem o desenvolvimento econômico, conforme propõem diversos autores (ETZKOWITZ, 2013; FREEMAN, 1995; FROMHOLD-EISEBITH; WERKER, 2013; GALÁN-MUROS; PLEWA, 2016; MILLER; McADAM; McADAM, 2014).

Percebe-se, portanto, que o país ainda não tem uma cultura de inovação bem desenvolvida, pois as ICTs, apesar de serem as principais depositantes de patentes (INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL, 2019b), lidam com dificuldades para a estruturação dos NITs e apoio às inovações (PIETROVSKI, 2017; PIRES, 2018; SANTOS; TORKOMIAN, 2013; ZAMMAR, 2017). Este fato se deve, principalmente, à falta de uma política mais incisiva para a sensibilização das instituições quanto ao caráter fundamental do desenvolvimento de inovações e à falta de cultura dos pesquisadores em trabalhar interagindo com empresas e a sociedade (PIRES, 2018; SHEN, 2017; SILVA, 2018; STAL; FUJINO, 2016). Esta política de inovação nas instituições de ensino e pesquisa é fundamental para determinar o que

se ensina, quais pesquisas se realizam, os tipos de parceiros com os quais se deseja colaborar (KEMPTON, 2018), além de definir atividades como patenteamento e licenciamento (BODAS FREITAS; VERSPAGEN, 2017).