• Nenhum resultado encontrado

2.3 PROPRIEDADE INTELECTUAL NAS ICTs

2.3.2 Patentes Universitárias

É importante destacar, uma vez mais, que o conhecimento produzido pelas universidades, que se formaliza em PI como as patentes, é essencial para os rumos de uma nação (SHERWOOD, 1992). Daí surge a necessidade de mensurar e também analisar qualitativamente se ele é de fato relevante, trabalho empreendido com afinco por diversos teóricos (CLOSS; FERREIRA, 2012; DIAS; PORTO, 2014; LAWSON, 2013; MOWERY, 2011; SANBERG et al., 2014), e que resulta em análises importantes. As mensurações e os estudos de caso levam à compreensão da efetividade das pesquisas e à busca por inovação de modo geral, e, portanto, sublinham o valor de decisões que são tomadas com base em conhecimento científico (CLOSS; FERREIRA, 2012; DIAS; PORTO, 2014; LAWSON, 2013; MOWERY, 2011; SANBERG et al., 2014).

Lawson (2013), em pesquisa realizada na Europa, conclui que pesquisadores que recebem investimentos consideráveis do setor industrial têm uma propensão maior a desenvolver patentes, o que por fim resulta, comprovadamente, não apenas em mais inovação, mas também em retornos mais significativos para as instituições envolvidas. Ou seja, há indicadores que apontam correlações positivas entre desenvolvimento de patentes e um aumento da inovação (LAWSON, 2013).

Na mesma linha, e ainda sobre o tema, Sanberg et al. (2014) analisam o cenário americano e concluem sobre a necessidade de mudanças drásticas nos Estados Unidos, pois é necessário promover alterações – as quais, até agora, foram lentas e limitadas. Segundo Berbegal-Mirabent, Lafuente e Solé (2013) e Sanberg et al. (2014), as universidades deveriam expandir seus critérios de qualidade, passando a tratar patentes, licenciamento e atividades comerciais promovidos pelo corpo docente como um fator importante na mensuração de mérito, carreira e cargo, no mesmo nível de importância de publicações, ensino e serviço. Isto é, a PI e o desenvolvimento de patentes deveriam estar no centro das atenções; o resultado seria uma universidade mais preocupada com o desenvolvimento de produtos e serviços,

e, portanto, mais comprometida com a sociedade como um todo (SANBERG et al., 2014).

Outro estudo que relata a valorização da pesquisa é o de Miller e Acs (2013), que apresentam a visão de modelo de negócios da universidade, voltada ao empreendedorismo. Este modelo apoia indivíduos a usar seus conhecimentos para resolver problemas locais com soluções eficazes, que poderão ser utilizadas por vários mercados e regiões e vem sido estimulado pelas universidades brasileiras nas últimas décadas, conforme também apontavam Do Nascimento e Labiak Junior (2011).

Para chegar a esta fase de comprometimento com a sociedade, parece que a universidade deve passar por três fases, quais sejam (CESARONI; PICCALUGA, 2016):

i) geração de PI: nesta fase a universidade preocupa-se em construir uma carteira de patentes grande e forte o suficiente para poder ser explorada posteriormente; ii) valorização da pesquisa: nesta fase os esforços da universidade se voltam para o

licenciamento, criação de spin-offs ou contratos de pesquisa, a fim de obter resultados sobre os patenteamentos realizados em um primeiro momento;

iii) equilíbrio: a universidade busca um equilíbrio entre as formas de transferência de tecnologia, incluindo as informais, como consultorias, voltadas ao engajamento acadêmico (colaboração para o conhecimento), favorecendo também desenvolvimento econômico local e nacional, porém sem focar estritamente na comercialização de patentes, como o segundo estágio.

Para além disso, é preciso levar em conta que nem todas as pesquisas que geram inovação passam pelo patenteamento (BAYCAN; STOUGH, 2013; CLOSS et al., 2012), embora o patenteamento e as spin-offs sejam os tipos mais comuns de colaboração (GALÁN-MUROS; DAVEY, 2019). Closs e Ferreira (2012) enfatizam a dificuldade para conciliar pesquisa, patenteamento e docência. Trata-se de um tema que requer atenção, pois os pesquisadores são essenciais para o sucesso da transferência de tecnologias acadêmicas (GALÁN-MUROS; DAVEY, 2019). Bodas Freitas e Verspagen (2017) e Chau, Gilman e Serbanica (2017) sugerem, desse modo, a criação de políticas que possibilitem mais tempo aos pesquisadores para atuarem na cooperação Universidade-Empresa e no desenvolvimento de suas habilidades relacionais e comerciais. Assim, a lida com propriedade intelectual e com

patentes implica necessariamente uma superação das dificuldades próprias do processo de TT, como foi tratado na seção anterior.

Segundo Kempton (2018), deve-se tomar cuidado com a dependência excessiva das universidades como atores regionais, não enfatizando em demasia a extensão da contribuição que elas realmente podem dar, pois além das atividades inovadoras, as universidades possuem suas atividades primordiais de ensino e pesquisa. Porém, em pesquisa realizada por Buainain et al. (2018), eles detectaram que os pesquisadores com pedidos de patentes são também os mais produtivos do ponto de vista meramente acadêmicos, publicando seis vezes mais artigos que os professores não inventores de patentes e com impacto cinco vezes maior que o último grupo.

Dias e Porto (2014) tratam do tema do patenteamento por meio da análise da realidade vivida pela Universidade de São Paulo (USP), uma das mais importantes universidades brasileiras. Esses autores constataram que os principais mecanismos de transferência de tecnologia utilizados pela instituição são: projetos de P&D em parceria, licenciamento de patentes e fomento e apoio à criação de empresas spin- off, pois são os tipos mais comuns de cooperação, segundo Galán-Muros e Davey (2019). Verificou-se que a Agência USP de Inovação tem forte restrição de pessoal e que a USP ainda carece de uma política institucional mais estruturada, que de fato incorpore em sua agenda a necessidade de fortalecer o seu papel enquanto instituição promotora da inovação e do desenvolvimento tecnológico. A USP ainda não realiza efetivamente avaliação do potencial de uma invenção para ser protegida visando um licenciamento futuro. "Assim, abastece continuamente seu portfólio com tecnologias que muitas vezes não serão comercializadas." (DIAS; PORTO, 2014, p. 496). Cenário similar é observado por Shen (2017) nas universidades taiwanesas, onde não existe uma regulamentação forte nem pessoal especializado em transferência de tecnologia, além de dificuldade em conseguir recursos para o desenvolvimento de spin-offs, principal mecanismo de TT no país.

Na mesma linha, Giunta, Pericoli e Pierussi (2016), a partir de um estudo sobre a intensidade da interação U-E na área biofarmacêutica, apontam que na Itália a indústria prefere a publicação ao patenteamento, devido à fraqueza do sistema de direitos de PI existente no país. Muito diferente é o cenário norte-americano descrito por Mowery (2011) em sua pesquisa na área de nanotecnologia. Esta área, assim como a farmacêutica e biomédica, entrou de vez para a agenda das universidades

americanas, que perceberam que pesquisas nessas áreas têm fortes direitos de propriedade intelectual, favorecendo o uso de contratos para a comercialização. Porém, pode criar impedimentos para o avanço da pesquisa, pois dificulta o livre fluxo de informações entre cientistas.

Enfim, analisar a criação de patentes é, sim, importante; mas é preciso sempre ir além (DALMARCO et al., 2011), de modo a considerar todos os atores essenciais, seguindo-se o modelo de Hélice Tripla. Medir o sucesso universitário na geração de inovação exclusivamente por licenciamento ou atividades de patenteamento quase que certamente mascaram a importância de outros meios de difusão do conhecimento, incluindo inovações não-patenteadas, startups lançadas por universidades e consultorias e/ou parcerias entre indústria e academia (BAYCAN; STOUGH, 2013; CESARONI; PICCALUGA, 2016).