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2.5 TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA

2.5.2 Contratos de transferência de tecnologia

O contrato é o instrumento formal pelo qual acontece a regulamentação e a adequação de parcerias, assegurando e estabelecendo as regras para a prestação de serviços tecnológicos, parcerias para P&D e utilização da tecnologia para pesquisa, bem como a comercialização de novos produtos, processos e serviços, os quais serão explorados pelas empresas (SANTOS; TOLEDO; LOTUFO, 2009). Cabe salientar que um detalhe que não esteja bem explicitado no contrato pode inviabilizar a comercialização de um novo produto que levou anos para ser desenvolvido em parceria (CZELUSNIAK, 2015).

A Lei de Inovação brasileira prevê, no seu artigo 6°, o contrato de pesquisa por encomenda e no artigo 9°, o convênio de pesquisa, especificando cláusulas de exclusividade, cotitularidade, prazo determinado, remuneração entre as ICTs e as empresas (BRASIL, 2004). Porém, além desses, existem os seguintes tipos de contratos que podem ser firmados entre as instituições (BRASIL, 2004; SANTOS; TOLEDO; LOTUFO, 2009):

a) prestação de serviços de pesquisa (encomenda): contrato de pesquisa;

b) parceria para P&D (atividades conjuntas): contrato ou acordo de parceria ou de cooperação;

c) cessão (transferência de titularidade do direito de propriedade intelectual): contrato de transferência ou cessão;

d) licenciamento (licenciamento de uso do direito de propriedade intelectual de forma exclusiva ou não): contrato de licenciamento;

e) fornecimento de tecnologia (fornecimento de informações não amparadas por direitos de propriedade industrial – know-how): contrato de fornecimento de tecnologia;

f) serviços de assistência técnica.

Nenhum contrato de TT é igual ao outro e a forma de repasse e de absorção da tecnologia deve levar em consideração todos esses fatores (CZELUSNIAK, 2015). Como forma de garantir a continuidade das pesquisas, deve-se prever sempre em contrato que isso fica resguardado à ICT; além da publicidade de resultados das pesquisas e a importância da tecnologia para a sociedade (SANTOS; TOLEDO;

LOTUFO, 2009), que deve estar prevista no contrato. Todos esses itens devem ser avaliados pelo NIT, assim como a adequação do contrato deve ser avaliada pela instância jurídica das instituições (SANTOS; TOLEDO; LOTUFO, 2009). Para isso, o NIT deve possuir habilidades em negociação a fim de estabelecer um instrumento jurídico adequado e contendo todas as cláusulas necessárias para a celebração da parceria (DIAS; PORTO, 2014), o que nem sempre acontece (SHEN, 2017).

Após a celebração do contrato, o artigo 62 e os parágrafos 1º e 2º, da Lei n. 9.279/96, determinam que os contratos devem ser averbados:

Art. 62. O contrato de licença deverá ser averbado no INPI para que produza efeitos em relação a terceiros. § 1º A averbação produzirá efeitos em relação a terceiros a partir da data de sua publicação. § 2º Para efeito de validade de prova de uso, o contrato de licença não precisará estar averbado no INPI. (BRASIL, 1996, online, grifo nosso).

Além de produzir efeitos em relação aos terceiros, a averbação cria um banco de dados sobre tecnologias, legitima pagamentos ao exterior e permite deduções fiscais das importâncias pagas (SILVA, 2016). Os tipos de contratos que podem ser averbados no INPI são "as cessões e os licenciamentos de patentes, desenhos industriais e marcas, assistência técnica, fornecimento de tecnologia (know-how) e franquias empresariais, garantindo assim um acordo seguro e conferindo validade perante terceiros" (INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL, 2017b, online).

Em 2018 foram averbados 1.212 contratos de tecnologia no Brasil, conforme se visualiza no Gráfico 2. Este número é maior que nos últimos dois anos, porém menor aos anos anteriores a 2016 (foram 1.710 em 2014, 1.400 em 2015, 1027 em 2016 e 1.166 em 2017), devido principalmente à Resolução INPI n° 156/2015 que aumentou o escopo de serviços isentos de averbação (INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL, 2019a). Somente quatro desses 1.212 contratos foram solicitados por instituições de ensino e pesquisa, o que pode sugerir uma baixa transferência de tecnologia por meio formal por parte das ICTs.

Gráfico 2 – Contratos de tecnologia averbados no INPI entre 2014 e 2018

Fonte: Instituto Nacional da Propriedade Industrial (2019a, p. 17)

Em relação ao que as ICTs informaram no Relatório Formict 2018 sobre seus contratos de tecnologia, 66 instituições possuem 2.374 contratos de transferência de tecnologia firmados, sendo a maioria de instituições públicas (71%). Como se observa no Gráfico 3, apesar de serem poucas ICTs que possuem contratos firmados de cooperação (cerca de 22% do total de instituições), o montante arrecadado aumenta ano a ano (BRASIL, 2019a), sendo que no ano de 2018 somou R$ 1.217,7 milhões, 59% a mais que no ano anterior.

Quanto ao objeto dos contratos informados no Relatório Formict 2018 se teve a seguinte distribuição (BRASIL, 2019a):

• 36% para contrato de licenciamento de direitos de propriedade intelectual; • 28% para acordo de parceria de pesquisa, desenvolvimento e inovação (equivalente a P&D cooperativa e contrato de pesquisa científica);

12% para contrato de know-how (envolvendo ativos intangíveis não amparados por direitos de propriedade intelectual), assistência técnica (consultorias ou capacitação e treinamento) e demais serviços;

• 9% para acordo de confidencialidade;

Os outros 15% correspondem a contratos de cotitularidade (estabelece a proporção da PI para cada parte); contrato de permissão de utilização de laboratórios, equipamentos, instrumentos, materiais e instalações por empresas; contrato de uso

do capital intelectual em projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação;contrato de compartilhamento de laboratórios, equipamentos e instalações com empresas incubadas; acordo de transferência de material biológico; contrato de cessão de direitos de propriedade intelectual; outros (BRASIL, 2019a).

Gráfico 3 – Montante em R$ milhões dos contratos de tecnologia das ICTs que responderam aos Formicts entre 2014 e 2018

Fonte: Brasil (2019a, p. 52)

O principal tipo de contrato firmado pelas ICTs são os contratos de licenciamento de propriedades intelectuais protegidas (BRASIL, 2019a), porém muitos deles sem gerar rendimentos ou com rendas abaixo do necessário para manter os gastos para registro e manutenção desses pedidos de propriedade intelectual no INPI e a administração dos próprios NITs das universidades (DIAS; PORTO, 2014). Os acordos de parcerias são o tipo de contrato que mais geram recursos às universidades com R$ 782,7 milhões de rendimentos em 2018 (BRASIL, 2019a). Estes dados corroboram os encontrados por Dias e Porto (2014) sobre os principais mecanismos de TT da USP: patenteamento e parcerias, além da criação de spin-off, motivados

pela comercialização.

Segundo pesquisa realizada por D'Este e Perkmann (2011) com bolsistas do Conselho de Pesquisa Científica de Engenharia e Física do Reino Unido, os três canais com a maior proporção de pesquisadores envolvidos são as parcerias de pesquisa e consultorias (know-how), com mais de 50% dos pesquisadores entre 2009 e 2013. Como estes resultados mostram, os pesquisadores geralmente veem o envolvimento colaborativo com a indústria como benéfico para suas pesquisas e, dado que a indústria paga por grande parte dessa interação, pode-se supor que os parceiros da indústria também julgam ser útil, muitas vezes não necessitando de comercialização (licenciamento) como o mecanismo central para tornar o conhecimento universitário relevante para a economia e a sociedade.

Estas parcerias ou colaborações são as modalidades de engajamento com empresas preferidas pelos pesquisadores, de acordo com D'Este e Perkmann (2011), pois possuem motivações relacionadas com a pesquisa, que inclui aprendizado da indústria e levantamento de fundos. Isso vai ao encontro dos dados encontrados pelo Formict em 2018 (BRASIL, 2019a), em que os acordos de parceria são os que geram o maior rendimento às universidades, frente aos outros mecanismos clássicos de transferência de tecnologia, que, de acordo com Goel, Göktepe-Hultén e Grimpe (2017) incluem o licenciamento de patentes e demais propriedades intelectuais, bem como os modos de interação colaborativos e informais, incluindo pesquisa conjunta, pesquisa contratada e consultoria.

Apesar da existência de contratos de transferência de tecnologia que renderam R$ 1.217,7 milhões às ICTs em 2018, existem barreiras na cooperação U-E, seja ela feita por acordos de parceria, pesquisa conjunta ou licenciamento, que são tratados na próxima subseção.