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Características-chave da CIF do ponto de vista das políticas

Níveis de aplicabilidade

A CIF pode ser aplicada a nível individual, institucional ou social. É possível aplicá-la no caso de uma pessoa que vivencia uma redução na sua funcionalidade, em resultado de um problema de saúde, com vista a documentar a experiência de vida dessa pessoa, especifi car interven- ções ajustadas e defi nir resultados esperados. Mais, proporciona uma linguagem comum que facilita a comunicação entre os profi ssionais

(Stucki et al., 2002).

A nível institucional, tem potencial para descrever os objectivos es- tratégicos de uma organização que opera no campo das defi ciências e incapacidades, para contribuir para o desenvolvimento de programas holísticos e mais relevantes, para estruturar planos de investigação, para contribuir para o desenvolvimento profi ssional contínuo dos técnicos e para proporcionar a base para standards de qualidade e avaliação de re- sultados (RI – Europe Landmark Study, 2005).

A nível social, a CIF pode ser usada para avaliar a resposta actual às deficiências e incapacidades dentro de uma jurisdição, identificar onde os mecanismos legais e reguladores funcionam como barreiras à participação plena das pessoas com deficiências e incapacidades e proporcionar um referencial para a criação de políticas mais inclu- sivas (MHADIE, 2005). A CIF tem sido particularmente útil na criação

de estudos estatísticos, para a documentação de experiências vividas por pessoas com deficiências e incapacidades, e tem sido usada com sucesso na adaptação de perguntas nos censos à população, para re- velar a distinção entre incapacidade e participação. Tem sido também usada em estudos nacionais de deficiências e incapacidades para do- cumentar o impacto das políticas existentes (Statistics Canada, 2006).

Assim, a adopção da CIF como um referencial para o desenvolvimento de políticas significa que a sua implementação pode ser sistematica- mente gerida a nível institucional e individual. Desta forma, a ava- liação do impacto de políticas de deficiência torna-se mais fácil (e.g, Northern Ireland Statistics & Research Agency, 2007).

Domínios de relevância

As defi ciências e incapacidades são geralmente aceites como um assun- to que diz respeito a vários domínios da política. É também aceite que o principal factor de incapacidade na sociedade é a fragmentação das responsabilidades, dentro e entre os diferentes domínios da política. A resposta desejável às defi ciências e incapacidades é aquela que reúne consenso entre os diversos domínios de política. Um desafi o importante no sucesso das políticas de defi ciências e incapacidades transversais é a diferença nas linguagens e defi nições de defi ciência entre os domínios. Por exemplo, a forma como as defi ciências e incapacidades são usualmen- te descritas no domínio da saúde difere qualitativamente das descrições usadas na educação.

Cada domínio especifi ca a sua resposta às defi ciências e incapacida- des, quer através da legislação, quer através de mecanismos regulado- res. O que é necessário é uma forma de contextualizar as defi ciências e incapacidades nos vários domínios de política, assegurando a coerência da diversidade de critérios para a elegibilidade entre domínios. A CIF pro- porciona um referencial que pode ser aplicado dentro dos domínios da saúde, educação e formação, trabalho, assuntos sociais, inclusão social, transportes, comunicações, ambiente, justiça e equidade (e.g., Committee on Disability in America, 2007; Wynne & McAnaney, 2004). Não requer a unifi ca-

ção de critérios ou estratégias. Ao mesmo tempo, cada resposta política pode ser gerida nos eixos multidimensionais da CIF (e.g., National Commis- sion on Disability, 2005).

Especificidade da descrição

Uma das forças principais da CIF reside na coerência que mantém em to- dos os níveis de descrição. No nível mais geral, a CIF especifi ca as inter- relações entre condição de saúde, funcionalidade, limitação da activida- de e restrição na participação, no contexto das variáveis intervenientes: ambiente e factores pessoais (Schneidert et al., 2003). Ao nível das políticas, o

capítulo ambiental especifi ca o leque de políticas, sistemas e serviços que estão implicados dentro de um determinado sector. A CIF pode ser usada para caracterizar o impacto dos mecanismos de mediação e sistemas de provisão nas vidas de cidadãos com defi ciências e incapacidades (e.g., Brick-

Doenças (CID) 10, pode ser usada para proporcionar uma descrição holís- tica das necessidades e potenciais do indivíduo (McDougall & Miller, 2003).

A consistência com que a CIF descreve as defi ciências e incapacidades faz com que constitua uma ferramenta ideal para monitorizar o impacto das políticas nos indivíduos.

Sensibilidade para com os factores intervenientes

Uma característica importante da CIF, do ponto de vista do desenvolvi- mento de políticas, é o reconhecimento, ao nível do enquadramento, de que as defi ciências e incapacidades interferem de forma diferenciada nas pessoas, dependendo de um leque de outros factores. Assim, o signifi cado de defi ciências e incapacidades para alguém com 55 anos de idade é mui- to diferente da experiência que uma pessoa com 25 anos tem. E também o é entre homens e mulheres. As defi ciências e incapacidades são vistas de modo diferenciado em diferentes culturas e podem ser experimentadas de modo diverso, dependendo da origem étnica de uma pessoa. As defi ci- ências e incapacidades irão ter implicações variadas, dependendo do nível económico e de educação de uma pessoa. A CIF reconhece a importância dos factores pessoais no processo de incapacidade, mas não consegue do- cumentá-los dentro da classifi cação. Tal facto revela-se apropriado, visto que a sua função primária é proporcionar uma forma sistemática de des- crever a saúde, a funcionalidade e a incapacidade. De qualquer modo, do ponto de vista da política, reconhecer a importância de factores pessoais e demográfi cos no processo de incapacidade permite a defesa contra as abordagens “tudo em um” para as políticas das defi ciências e incapaci- dades (OCDE Dissemination Conference, 2003). A interacção entre defi ciências

e incapacidades e outros factores, tais como estatuto social e estatuto económico, pode também ser útil na especifi cação de critérios de elegibi- lidade para certos apoios, programas e intervenções.

Dimensão de actividade

A CIF tem sido usada, a nível de política e investigação, em diferentes sec- tores. Numa perspectiva política, é regularmente aplicada na análise da saúde da população, na monitorização do impacto das defi ciências e inca- pacidades em termos económicos e sociais e propicia uma base de evidên-

cias para decisores em relação a um leque de intervenções políticas, nos domínios da saúde, segurança social, trabalho e emprego e educação.

Em particular, a CIF sublinha a importância de documentar não só a epidemiologia, mas também de avaliar a rapidez de resposta dos siste- mas de prestação, a efi cácia na disponibilização dos serviços e respectiva performance. No campo da investigação, a CIF tem vindo a ser considera- da em áreas tão diversas quanto a saúde pública (Clancy & Andresen, 2002),

a inclusão social (Wynne & McAnaney, 2004), o trabalho e o emprego (Beaton & Mustard, 2003), a equidade (Hurst, 2003) e a segurança social. É parti-

cularmente útil na descrição de interacções entre factores do processo de incapacidade, examinando as relações complexas entre explicações estruturais dos resultados, facilitando a investigação multidisciplinar e programas de avaliação.

A CIF aumenta o conhecimento disponível em relação à utilização de serviços, necessidades e resultados, custos e impactos. No campo da saú- de, a CIF tem alargado o foco para lá da defi ciência, contribuído para a clarifi cação do conceito de incapacidade, proporcionado domínios comuns de descrição que são independentes do diagnóstico, ajudado a relacionar dados de fontes de saúde e de incapacidade e enfatizado a importância de factores ambientais no planeamento de apoios e intervenções.

A nível da prática clínica, a CIF proporciona uma estrutura para efectu- ar a análise de necessidades, planear intervenções e apoiar e monitorizar resultados e progresso. O uso de descritivos específi cos (Weigl et al., 2004)

para diferentes condições proporciona uma abordagem consistente e sis- temática que pode ser aplicada a vários domínios de políticas, de serviços e em regiões diferentes.

A CIF pode também ser útil na organização de sistemas de prestação de serviços, visto que é idealmente adequada na construção de registos electrónicos, monitorização da performance de serviços, medição da satis- fação do consumidor, comparação do impacto de diferentes intervenções e no mapeamento dos diferentes padrões de utilização.

Intervenção precoce e prevenção

Uma contribuição essencial da CIF para a política das defi ciências e inca- pacidades baseia-se na ênfase da necessidade de desenvolvimento de polí- ticas, sistemas e serviços para prevenir a incapacidade. Assim, a CIF dimi-

as políticas de saúde pública. De facto, esta proporciona uma abordagem coerente e sistemática ao desafi o do mainstreaming. De forma mais especí- fi ca, na perspectiva da CIF, os serviços mainstream e especializados devem ser considerados ao longo de um continuum, em função das capacidades e necessidades do indivíduo.

Por exemplo, no que respeita à atribuição de fi nanciamentos para a educação e a formação, a aplicação da CIF para a alocação de recursos re- quer uma abordagem multifacetada, na qual o fi nanciamento é aplicado, quer a instituições mainstream, quer a indivíduos com necessidades espe- cífi cas. A distribuição de recursos seria baseada em três tipos diferentes de intervenções:

· Uma atribuição de recursos a cada escola e centro de formação, para responder às pessoas que experimentam difi culdades, mas que não re- querem diagnóstico, e para adaptar a infra-estrutura a fi m de criar um ambiente mais inclusivo. Estes fundos poderiam ser aplicados com base nas estatísticas do número de pessoas na população que se espera experimentarem incapacidades.

· Financiamentos adicionais poderiam ser aplicados aos centros de for- mação ou escolas, baseados no número de participantes na instituição com defi ciências e incapacidades documentadas. Uma vez mais, os fi - nanciamentos seriam proporcionados às escolas e não ao indivíduo, no sentido de apoiar o desenvolvimento de ambientes mais inclusivos e na obtenção de apoios ao ensino.

· Para além da aplicação destes dois fi nanciamentos, também deveria estar disponível uma quota para atribuir apoios a um sujeito com base na análise das suas necessidades, sempre que os recursos gerais se mostrassem, com o decorrer do tempo, insufi cientes para promover o seu desenvolvimento e a participação.

Ao mesmo tempo que é feita esta abordagem, dirigida e faseada quan- to à aplicação de recursos ao ensino regular e centros de formação, os recursos de saúde pública e segurança social devem também ser distri- buídos equilibradamente pelos serviços de prevenção, de identifi cação e de intervenção precoces, focados na população em geral e na criação de estruturas especializadas e apoios dirigidos a pessoas com desvantagens como resultado directo de uma incapacidade.

Avaliação das deficiências e incapacidades