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É notória a infl uência do contexto internacional, designadamente da União Europeia, na formulação e no desenho das políticas dos Estados- -membros, consubstanciada na propositura de modelos e de paradigmas, na defi nição de referenciais legais e na partilha de recomendações (Go- dinho, 2007). Assim sendo, o desenho de uma estratégia nacional implica

analisar o contexto internacional de referência, as tendências internacio- nais, com vista à antecipação de oportunidades e ameaças, e assegurar o respeito pelas orientações normativas, regulamentares e outras. Tam- bém o estudo de políticas nacionais de outros países permite identifi car abordagens inovadoras e prever as consequências das medidas políticas em ponderação. Constituem-se ainda como dimensões de análise as ten- dências quanto aos modelos de fi nanciamento dos serviços de reabilita- ção e o enquadramento destes no quadro político e normativo da União Europeia, enquanto serviços sociais de interesse geral.

Referenciais

No contexto internacional, existem três instrumentos de política que se assumem como referenciais fundamentais no domínio das políticas em favor das pessoas com defi ciências e incapacidades:

· a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Defi ciência;

· a Estratégia Europeia para a Defi ciência, da Comissão Europeia; · o Plano de Acção para a Defi ciência 2006 – 2015, do Conselho da Europa.

Face à relevância e transversalidade destes referenciais, importa ex- plorá-los e interpretá-los, extraindo aquelas que são as suas orientações fundamentais.

Convenção das Nações Unidas

sobre os Direitos das Pessoas com Defi ciência

A Convenção, adoptada pela ONU em Dezembro de 2006, marca a mu- dança de paradigma em termos de abordagem das pessoas com defi ciên- cias e incapacidades. A sua principal mensagem assenta no facto de todas as pessoas com defi ciências e incapacidades deverem usufruir de todos os

mais amplo do que o anterior entendimento de defi ciência, considerando a relação entre a pessoa e o contexto, em total coerência com o modelo relacional consubstanciado na CIF.

É reforçado que todas as categorias de direitos se aplicam às pessoas com defi ciências e incapacidades e são identifi cados os domínios nos quais têm de ser realizadas adaptações, de modo a que as mesmas possam exer- cer, efectivamente, os seus direitos, enfatizando ainda as áreas em que a protecção deve ser reforçada. A Convenção formula algumas linhas de orientação concretas, bem como recomendações a ponderar aquando do desenho ou revisão das estratégias nacionais para a defi ciência, das quais se apresenta uma síntese:

· Considerar os princípios estruturantes da Convenção nos princípios nacionais, nomeadamente em termos de participação plena e activa; respeito pela diferença e aceitação das defi ciências e incapacidades, enquanto elemento integrante da diversidade humana; igualdade de oportunidades; acessibilidade.

· Incluir as pessoas com defi ciências e incapacidades na comunidade, enquanto elementos que acrescentam valor, e eliminar estereótipos, promovendo a sensibilização dos cidadãos.

· Perspectivar o emprego e a empregabilidade enquanto estratégias ao serviço da inclusão, identifi cando o retorno ao trabalho como dimen- são-chave.

· Assegurar que os serviços sociais relativos à defi ciência são abrangen- tes, multidisciplinares e orientados para a promoção da autonomia e da plena participação das pessoas com defi ciências e incapacidades.

Estratégia Europeia para a Defi ciência, da Comissão Europeia

Tendo por objectivo a igualdade de oportunidades, a Estratégia visa criar oportunidades que permitam às pessoas com defi ciências e incapacida- des o usufruto do seu direito à dignidade, igualdade de tratamento, vida autónoma e participação na sociedade. As acções propostas pela UE fun- damentam o conjunto de valores económicos e sociais, promovendo ao máximo os seus potenciais e assegurando a sua participação na sociedade e na vida económica. A Estratégia assenta em 3 pilares:

· Legislação e medidas anti-discriminação que permitem o acesso aos direitos individuais.

· Integração das questões relativas às defi ciências e incapacidades no amplo conjunto de políticas da UE, de modo a facilitar a inclusão activa das mesmas.

Em 2003, foi desenvolvido, pela Comissão Europeia, o Plano de Acção Europeu para a Defi ciência, com vista à operacionalização da Estratégia. A Comissão recomenda a sua consideração aquando do desenvolvimento das políticas nacionais. O Plano de Acção é composto por 3 fases, visando diferentes desafi os-chave em diferentes períodos temporais:

· Fase 1 (2004 – 2005)

Focalizada no acesso ao mercado de trabalho das pessoas com defi ci- ências e incapacidades e em acções relacionadas com a empregabilida- de (e.g., aprendizagem ao longo da vida, tecnologias de informação e acessibilidade do espaço físico).

· Fase 2 (2006 – 2007)

Acrescenta à integração profi ssional das pessoas com defi ciências e incapacidades o enfoque na promoção do acesso a serviços de apoio e cuidados de elevada qualidade. Depois da tónica na acessibilidade do espaço físico, nesta fase é privilegiada a acessibilidade a bens e servi- ços. A desinstitucionalização e a criação de serviços baseados na comu- nidade constituem-se ainda como recomendações-chave.

· Fase 3 (2008 – 2009)

A publicar em Dezembro de 2008, continuará orientada para a acessi- bilidade, num sentido amplo, e para o emprego. Como prioridade será identifi cada a aplicação da Convenção das Nações Unidas nas políticas dos Estados-membros. Serão ainda enfatizados o empowerment e a sen- sibilização/consciencialização da sociedade para a temática em análise.

Plano de Acção para a Defi ciência 2006 – 2015, do Conselho da Europa Este Plano de Acção (Conselho da Europa, 2006) visa fornecer um enquadra-

mento holístico, fl exível e adaptável, de modo a corresponder às espe- cifi cidades de cada país. Assume-se como um referencial para decisores políticos, no sentido de os apoiar no desenho/revisão e implementação de planos, programas e estratégias inovadoras. Contém quinze linhas de acção, focalizadas nomeadamente, na participação em domínios como a vida política, pública e cultural, a igualdade no acesso à educação, a acessibilidade ao património edifi cado e aos transportes, a vida em

desenvolvimento, e a promoção do disability awareness.

O Plano de Acção evidencia ainda o fenómeno das múltiplas barreiras e da dupla discriminação, salientando como grupos especialmente afec- tados pelo maior risco de exclusão o género feminino, as pessoas com necessidades de apoio bastante especializado, as crianças e jovens, os in- divíduos com mais idade e as pessoas com defi ciências e incapacidades de grupos minoritários e migrantes. Estes grupos específi cos requerem uma resposta transversal e intersectada com outros domínios de acção, de modo a assegurar a sua inclusão na sociedade.

Enquanto referenciais, estes instrumentos políticos permitem a identi- fi cação de algumas das principais orientações no contexto internacional. A partir destes e das experiências de outros países, particularmente da União Europeia, identifi cam-se algumas tendências de desenvolvimento e linhas de reforma das políticas de reabilitação, com especial focalização nos impactos que daí decorrem para o desenho de uma estratégia, de pro- gramas e de intervenções relativos às defi ciências e incapacidades.