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Enquadramento político e legal dos serviços sociais de interesse geral

A promoção do progresso social e o alcançar de um elevado nível de em- prego são dois dos principais objectivos da UE. A prossecução dos mes- mos encontra-se estruturada em torno da prestação de um vasto leque de serviços sociais em cada Estado-membro.

De acordo com o princípio da subsidiariedade, que rege o papel inter- ventivo da UE, a defi nição e organização dos serviços sociais é da respon- sabilidade, em princípio, dos Estados-membros, a nível nacional, regional e/ou local, ou ainda transferida para os parceiros sociais, dependendo das regras de delegação de competências vigentes em cada Estado-membro.

Ainda que nos domínios da solidariedade social e da saúde a competên- cia específi ca da Comissão Europeia tenha então estado consideravelmen- te limitada e que continue apenas a ter competências, ou partilhadas ou de apoio, a infl uência da sua legislação tem crescido consideravelmente, nomeadamente de modo indirecto, através da implementação das regras da UE acerca do mercado interno e da concorrência.

Para melhor explicitar o raio de acção das regras do mercado interno importa identifi car os diferentes tipos de serviços aí integrados, em fun- ção das actividades prestadas.

· Serviços de mercado

Produtos industriais sem qualquer intuito de prestar um serviço público. · Serviços de interesse geral

Asseguram as necessidades diárias das pessoas e são vitais para o seu bem-estar. A qualidade de vida dos cidadãos depende destes serviços, os quais são essenciais para um desenvolvimento económico sustenta-

do e para a coesão social da Europa. A electricidade, os serviços postais, os transportes e os serviços sociais e de saúde são alguns exemplos des- tes serviços. Os seus objectivos essenciais são os mesmos: implementar os direitos sociais e económicos das pessoas e alcançar a coesão eco- nómica, social e territorial. No alcance destes objectivos, a qualidade dos serviços prestados assume um importante papel. Os serviços de interesse geral devem basear-se nos seguintes princípios de qualidade: igualdade, acessibilidade, acessibilidade económica, segurança, pro- ximidade, continuidade, transparência, universalidade e participação. Aqui se integram as actividades económicas – desenvolvidas por em- presas num dado mercado – e as actividades não-económicas – desem- penho de uma função pública não-lucrativa.

· Serviços sociais de interesse geral

Serviços de interesse geral que se destinam a toda a população e visam a operacionalização das metas ou objectivos das políticas sociais (e.g., apoios da segurança social e prestação de serviços de saúde e reabilita- ção). Baseiam-se numa interacção complexa entre os prestadores dos serviços e os seus clientes, muitas vezes em situações de vulnerabilida- de e em situação de dependência. Estão centrados nas necessidades e nos direitos dos cidadãos, dotados portanto de uma abordagem holís- tica, quer em termos de formulação, quer na implementação. Assume especial relevância o estabelecimento de uma relação de confi ança en- tre prestador do serviço e cliente. Estes podem ser considerados como actividade económica ou actividade não-económica.

A relevância da distinção entre as actividades económicas e as activi- dades não-económicas assenta no facto de as últimas não serem sujeitas a determinadas regras, como as da concorrência, dos apoios estatais e fi nanciamento público.

Da enunciação dos tipos de serviços, pode-se concluir que a existência de aspectos como a solidariedade, a prossecução de objectivos sociais, ou a natureza não-lucrativa da entidade, não excluem a possibilidade de a actividade desenvolvida poder ser considerada como actividade económi- ca, entendida como a actividade que consiste na oferta de bens ou servi- ços num determinado mercado.

Nos casos em que apenas algumas actividades de uma entidade são de carácter económico, apenas essas se regem pelos princípios das activi- dades económicas. Além disso, a criação de uma lista de actividades que possam ser identifi cadas, a priori, como não sendo actividades económi-

é um conceito em desenvolvimento, em parte infl uenciado pelas opções políticas de cada Estado-membro. Por exemplo, um Estado pode decidir transferir determinadas tarefas, habitualmente a seu cargo, para uma em- presa. Os Estados-membros podem ainda criar as condições necessárias para assegurar a existência de um mercado para um produto ou serviço que, de outro modo, não existiria. Desta intervenção do Estado resultaria então a consideração das actividades em causa como sendo de carácter económico, estando, portanto, no âmbito de aplicação das regras da con- corrência e do mercado interno.

Especifi cidades dos serviços sociais e de saúde de interesse geral

No âmbito da legislação comunitária, os serviços sociais não constituem uma categoria legalmente distinta no conjunto dos serviços de interesse geral. No entanto, a especifi cidade dos serviços sociais em relação a ou- tros serviços de interesse geral foi sublinhada pela Comissão, baseando- -se nas seguintes características dos serviços sociais: 1) operam na base

do princípio da solidariedade; 2) são abrangentes e personalizados; 3) na

maior parte das vezes, são de natureza não-lucrativa.

Não obstante, e a título ilustrativo, podem ser apresentadas algumas decisões do Tribunal de Justiça da Comunidade Europeia, onde, em ter- mos de reabilitação profi ssional, os serviços de apoio à colocação no em- prego e, no campo da habitação, o apoio à aquisição ou arrendamento de casas, têm sido consideradas actividades económicas.

Aplicação das regras do mercado interno aos serviços sociais e de saúde Se perspectivados com carácter económico, aos serviços sociais são apli- cáveis as regras do mercado interno relativas à livre circulação e à livre prestação de serviços. Recentemente, foi adoptada a Directiva relativa aos serviços no mercado interno (comummente conhecida por Directiva Bolkenstein), com o objectivo de eliminar as barreiras à entrada de outros prestadores de serviços no mercado e à livre circulação de serviços entre Estados-membros, aumentando deste modo a concorrência. Esta directi- va foi alvo de várias interpretações, sendo percebida, nalguns casos, como uma tentativa de privatização de serviços e, noutros, como um factor de risco para o modelo social europeu. A partir da tomada de posição do

sector dos serviços sociais, os serviços sociais e de saúde não foram englo- bados no raio de acção desta directiva. No entanto, continuam a obedecer ao princípio do mercado interno, o que criou uma situação de incerteza legal, quer para os prestadores de serviços, quer para os clientes.

Em termos de atribuição de fi nanciamentos públicos aos serviços so- ciais e de saúde, e como anteriormente referido, os Estados-membros podem prestar os serviços directamente ou transferir essa responsabi- lidade para outras organizações. Em qualquer dos casos, aplicam-se as regras do fi nanciamento público. São respeitados os princípios da igual- dade de tratamento, do reconhecimento mútuo, da proporcionalidade e da transparência.

Deste modo, deve ser assegurado um adequado grau de publicidade, para garantir a abertura do concurso a todos os potenciais interessados e as condições e critérios devem ser objectivos e aplicados de forma trans- parente e não discriminatória. As instâncias governamentais podem optar pela proposta com custo mais reduzido ou pela proposta economicamente mais vantajosa. No último caso, dos documentos de candidatura devem constar a identifi cação dos critérios avaliativos e respectiva ponderação.

Prevê-se que esta situação provoque um aumento da concorrência en- tre prestadores de serviços e que crie a necessidade de serem defi nidos instrumentos de verifi cação de qualidade ao nível da UE. Assim sendo, os procedimentos de certifi cação europeus e os padrões de qualidade serão desenvolvidos. Daí decorrente, haverá mais pressão para evidenciar o va- lor acrescentado dos serviços que cada entidade presta, bem como um maior enfoque na cooperação transnacional.

Capítulo 8.

Um modelo de política