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ESTUDADAS 219 ANEXO 1 GUIA DE IMPLEMENTAÇÃO – MODELO

2.1. CARACTERÍSTICAS DA CONTABILIDADE GERENCIAL E DA CONTABILIDADE FINANCEIRA

A contabilidade, na estrutura organizacional de uma companhia configura-se como uma grande base de dados onde os gestores internos e os usuários externos buscam informações necessárias para a tomada de decisões. O interesse dos agentes nas informações da empresa diferenciam-se em função do nível de atividade que este agente possui em relação à companhia, ou seja, gestores, investidores, financiadores, entre outros. Padoveze (2004, p. 39) argumenta que os métodos da contabilidade financeira e da contabilidade gerencial foram desenvolvidos para diferentes propósitos e para diferentes usuários das informações financeiras. Corroborando, Frezatti, Aguiar e Guerreiro (2007, p. 21) argumentam que as informações destinadas para os usuários internos não podem ser as mesmas e seguindo os mesmos padrões que as informações voltadas aos usuários externos.

Nesse sentido, se reconhece na prática das empresas duas vertentes da contabilidade com diferentes níveis de informação, no entanto, com a mesma fonte de dados, os eventos ocorridos na empresa.

Para Jiambalvo (2009, p. 5), a contabilidade gerencial tem foco na gestão interna da companhia, e por não ser regida por normas e leis pode ser ajustada conforme os interesses dos gestores, enquanto a financeira tem foco, primordial, porém não exclusivo, nos agentes externos, suas práticas são regulamentadas e presta-se ao atendimento das exigências legais e de informações aos agentes externos.

Padoveze (2004, p. 39) explica que

a contabilidade gerencial é relacionada com o fornecimento de informação para os administradores – isto é, aqueles que estão dentro da organização e que são responsáveis pela direção e controle de suas operações. A contabilidade gerencial pode ser contrastada com a contabilidade financeira, que é relacionada com o fornecimento de informações para os acionistas, credores e outros que estão de fora da organização.

O Institute of Management Accountants define que a contabilidade gerencial envolve o auxílio ao processo de tomada de decisão, tanto na elaboração do planejamento e dos sistemas de gestão do desempenho, quanto no provimento de competências relacionadas aos relatórios financeiros e de controle, auxiliando os gestores na formulação e implementação da estratégia da organização (IMA, 2008).

Segundo argumentos de Atkinson et al. (2008), a contabilidade gerencial apresenta quatro funções organizacionais:

controle operacional, fornece o feedback sobre a eficiência e qualidade das tarefas executadas;

 gestão de produtos e clientes, mensura o custo de recursos utilizados na produção, venda e entrega de um produto ou serviço aos clientes;

 o controle administrativo fornece informações sobre o desempenho dos gestores e unidades operacionais; e

 o controle estratégico fornece informações sobre a performance competitiva e financeira de longo prazo, condições do mercado, preferências de clientes e inovações tecnológicas.

Para Padoveze (2004, p. 42-43), as informações geradas pela contabilidade gerencial visam atender aos gestores em diferentes níveis.

Dessa forma, o autor classifica as informações da contabilidade em três categorias:

 gerenciamento contábil global, são as informações repassadas à alta administração que possibilitam a visão global da companhia;

 gerenciamento contábil setorial, atende à média administração ou os segmentos definidos em função das divisões ou linha de produtos; e

 gerenciamento contábil específico, no qual as informações são geradas com maior grau de detalhamento, em nível operacional.

Considerando os diferentes níveis hierárquicos na informação há a necessidade de estruturar o processamento dos dados que geram essas informações. Nesse sentido, Lunkes (2007) e Jiambalvo (2009) argumentam que os avanços tecnológicos aliados ao desenvolvimento de novas metodologias gerenciais aumentam o nível de informações disponíveis no processo decisório dos diferentes grupos de usuários. Para Jiambalvo (2009), a maior gama de informações disponíveis ao gestor possibilita à empresa tornar-se mais competitiva frente aos seus concorrentes. Frezatti (2007, p. 515) explica que quanto mais turbulento e volátil for o ambiente, mais informações externas serão necessárias ao gestor.

Por outro lado, no campo da contabilidade financeira, o esforço concentra-se na prestação de contas ao mercado, na geração de demonstrativos financeiros para os acionistas, credores, autoridades governamentais e outros agentes externos e internos da empresa (PADOVEZE, 2004 e ATKINSON et al., 2008). A atuação da contabilidade financeira é fortemente limitada pela autoridade dos órgãos e entidades que definem padrões, regulamentações e impostos, e exigindo o parecer de auditores independentes para apurar a confiabilidade das informações prestadas.

O Quadro 1 resume, sem exaurir a discussão, fatores que caracterizam estas duas vertentes de atuação da contabilidade, mostrando que há diferenças entre as duas, porém que há também convergência em alguns fatores.

Quadro 1 - Características da contabilidade financeira e da gerencial

Contabilidade financeira Contabilidade gerencial

Usuários Externos e internos Internos Propósito Facilitar a análise

financeira para necessidades dos usuários externos; Accountability

Facilitar o planejamento, controle, avaliação de desempenho e tomada de decisão internamente. Restrições Regulamentada, orientada

por princípios contábeis e por autoridades governamentais.

Desregulamentada; sistemas e informações determinados pela administração para atender às necessidades estratégicas e operacionais.

Tipo de

informação

Mensurações financeiras. Mensurações financeiras, operacionais e físicas sobre processos, tecnologias, fornecedores, clientes e concorrentes. Natureza da informação Objetiva, auditável, confiável, consistente e precisa.

Mais subjetiva e sujeita a juízo de valor; válida, relevante, acurada.

Foco da

informação gerada

Relatórios com vistas ao resultado final da atividade no período de abrangência.

Relatórios com vistas ao processo de gerenciamento no âmbito da administração global, na gestão setorial (divisões e departamentos) e específico, de cunho operacional.

Contabilidade financeira Contabilidade gerencial Escopo Altamente agregada,

relatórios sobre a organização total.

Também focada na organização como um todo, mas de forma desagregada proporciona análises por unidades de negócios, centros de responsabilidade, grupo de produtos e projetos. Frequência de relatórios Anual, trimestral e eventualmente mensal.

Quando solicitado pela administração.

Bases de

mensuração usada para quantificar os dados

Moeda corrente. Várias bases (moeda corrente, moeda estrangeira, moeda forte, medidas físicas, índices etc.). Fonte: Elaborado com base em Padoveze (2004), Frezatti, Aguiar e Guerreiro (2007) e Atkinson et al. (2008)

De acordo com o Quadro 1, há diferenças consistentes entre as duas áreas da contabilidade, em especial no que tange ao tipo de informação gerada em cada uma delas. A contabilidade gerencial, por seu foco na gestão interna, apresenta informações detalhadas sobre as operações das empresas para auxiliar aos gestores na otimização dos resultados, enquanto que a contabilidade financeira resume aos agentes externos, por meio das demonstrações contábeis, o resultado das tomadas de decisões ocorridas na empresa.

Em função dos diferentes focos não é difícil afirmar que algumas empresas possam manter dois sistemas contábeis, um voltado à gestão, controles, apuração de custos e avaliação de desempenho, e outro voltado a atender as obrigações fiscais e tributárias e prestar contas ao mercado.

No entanto, há uma interdependência na operacionalização das duas áreas, pois os procedimentos da contabilidade gerencial alimentam o sistema para a geração de dados e informações que resultam nos relatórios apresentados ao mercado, e, por outro lado, dados da contabilidade financeira, de cunho legal e normativo, auxiliam na

acurácia das informações apresentadas nos relatórios da contabilidade gerencial. Como exposto por Padoveze (2004, p. 39), há numerosas similaridades e áreas de sobreposição entre a contabilidade gerencial e a financeira.

Os estudos de Jones e Luther (2008) e Weinβenberger e Angelkort (2011) mostram que empresas, na Alemanha, adotam um sistema contábil integrado no qual as informações financeiras são agregadas às práticas da contabilidade gerencial. Para Weinβenberger e Angelkort (2011, p. 175), a integração dos sistemas possui um impacto positivo significativo que não é desencadeado por mecanismos técnicos, mas pela consistência da linguagem financeira. Esta consistência nas informações contábeis potencializa a tomada de decisões. Porém, tal consistência pode ser difícil de ser atingida se a base normativa não for apropriada aos propósitos do âmbito gerencial.

A adoção das normas internacionais de contabilidade colaborou para a aproximação destas duas vertentes da contabilidade. Segundo Weinβenberger e Angelkort (2011, p. 175), os padrões contábeis de acordo com o IFRS são mais adequados para tomada de decisões internas, deste modo a integração dos sistemas contábeis pode ser mais fácil e com maior probabilidade de sucesso.

De acordo com Jones e Luther (2008, p. 20), a abordagem das IFRS altera as características do relatório financeiro elaborado para os agentes externos tornando-o mais relevante às necessidades dos gestores internos. Segundo Haller e Eierle (2004, p. 35), as IFRS são normas que proporcionam informações de alta qualidade e utilidade para as decisões, um relatório da contabilidade financeira também pode ser usado para informação gerencial.

Gilio e Afonso (2012, p. 11) destacam que essa integração foi impulsionada com a introdução do conceito da primazia da essência sobre a forma na estrutura conceitual da contabilidade, CPC 00. Para os autores, a informação baseada na essência econômica, independente de normatizações, sempre foi premissa da contabilidade gerencial para a tomada de decisões. A inclusão desta premissa nas práticas e relatórios da contabilidade financeira faz com que a informação gerencial aproxime-se dos usuários externos.

Jones e Luther (2008, p. 20) argumentam que os principais elementos que facilitam a integração dos sistema de contabilidade gerencial e financeira, é que a adoção das IFRS:

 oferece uma forma superior de informação econômica sobre o desempenho dos negócios e pode ser realizada com bases internas, mesmo para os relatórios externos;

 representa uma mudança de uma orientação fiscal para orientação voltada aos acionistas, e por isso, deve ser mais relevante e importante para os controllers e gestores em geral;  permite que os sistemas de contabilidade financeira e

gerencial sejam integrados, o que deve ser preferido por razões de eficiência na coleta e processamento dos dados. Os resultados do estudo de Gilio e Afonso (2012, p. 11) identificaram que as depreciações, o impairment, o valor justo de instrumentos financeiros, as combinações de negócios, os intangíveis e segmentos operacionais são os processos onde ocorre a maior aproximação das normas contábeis com a contabilidade gerencial. Os autores destacam ainda outras ocorrências que proporcionam esta aproximação, porém, com menor ênfase nos resultados do estudo, tais como: ajuste a valor presente, custo atribuído, ativo biológico e hedge contábil.

O relatório por segmentos, objeto de estudos desta pesquisa, pode ser indicado como peça fundamental no processo de aumentar o poder informativo dos relatórios da contabilidade financeira integrado às práticas da contabilidade gerencial. A norma exige a publicação de informações sobre receita de clientes externos, lucro e ativos de cada segmento operacional da entidade, informações sobre operações intersegmentos, a respeito do grau de dependência dos principais clientes e, também, informações geográficas, com referência ao seu uso gerencial.

Weinβenberger e Angelkort (2011, p. 175) e Gilio e Afonso (2012, p. 9) destacam a relação do relatório por segmentos com a contabilidade gerencial, já que essa forma de evidenciação das normas internacionais exige que critérios de rateio de custos, típicos de vertentes da contabilidade de custos, sejam aplicados aos segmentos divulgáveis da entidade e reportados ao público da mesma forma que foi informado ao principal tomador de decisões da empresa.

A abordagem gerencial exigida pela norma, para que os relatórios reflitam a visão do principal gestor de operações, denota a preocupação com a utilização de informações com valor agregado ao usuário externo. Boscov (2009, p. 121) destaca que o objetivo desta abordagem é que a segmentação deve refletir os mesmos critérios utilizados na contabilidade gerencial da instituição e deve estar de acordo com políticas contábeis e formas de mensuração internas.

Esta nova era da contabilidade, leva a crer que o volume e a qualidade da informação contábil publicada ao mercado sofrerá uma

expansão. Isso poderá impactar tanto de forma positiva quanto negativa, afinal dados utilizados na tomada de decisões serão divulgados a todos os interessados, sejam eles investidores ou concorrentes, que poderão utilizar-se desta informação da maneira que lhes convier na busca de seus objetivos. Esse contexto conduz à discussão da contabilidade gerencial estratégica que se utiliza das informações do ambiente da empresa para a elaboração do seu planejamento.