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ESTUDADAS 219 ANEXO 1 GUIA DE IMPLEMENTAÇÃO – MODELO

2.4. INFORMAÇÕES AOS DIFERENTES AGENTES

A disponibilidade de informações sobre dados operacionais, econômicos e financeiros das empresas, em tempo hábil e com conteúdo relevante, constitui-se em importante instrumento para auxiliar a tomada de decisões, seja no ambiente interno, pelos gestores, ou no contexto externo, por investidores e financiadores.

Atkinson et al. (2008 p. 36) argumentam que a informação contábil gerencial é uma das principais fontes para tomada de decisão e controle nas organizações. Os sistemas de contabilidade gerencial produzem informações que ajudam funcionários, gerentes e executivos a tomar melhores decisões e a aperfeiçoar os processos e o desempenho da organização. Para os autores, essa informação estratégica, cuja origem é na contabilidade gerencial, é aquela que orienta a tomada de decisão em longo prazo na organização. Pode incluir a rentabilidade de produtos, serviços e clientes, o comportamento e o desempenho de concorrentes, as preferências e as tendências dos clientes, as oportunidades e as ameaças do mercado e as inovações tecnológicas.

No ambiente corporativo, o mercado de capitais é um dos principais provedores de recursos para as empresas, seja pela mão de investidores, em bolsa de valores, ou pela via dos financiadores, bancos e demais instituições financeiras. Em contrapartida, estes agentes requerem que as empresas apresentem informações sobre sua condição econômica e financeira com o objetivo de avaliar riscos e possibilidades de retorno. Uma das vias de acesso a estas informações ocorre por meio da publicação das demonstrações financeiras ao mercado.

Dessa forma, a contabilidade como geradora das informações sobre a empresa tem papel relevante no auxílio à gestão. Beyer et al. (2010, p. 296) defendem que a informação contábil desempenha dois importantes papéis, primeiro, permite aos provedores de capital avaliar o potencial retorno de oportunidades de investimentos e posteriormente possibilita a eles monitorar o uso do seu capital nas atividades da empresa.

As informações quando divulgadas ao mercado, segundo Silva et al. (2009, p. 2), representam um elemento importante no relacionamento da empresa com seu público externo, pois neste momento os gestores decidem sobre a disponibilização de informações em relação à empresa de forma a orientar a tomada de decisões dos agentes econômicos, especialmente nas demonstrações contábeis, ou seja, as informações que são divulgadas devem ser relevantes aos agentes que dela farão uso em

seu processo decisório, portanto, essa informação deve conter o máximo possível de exatidão e fidedignidade com os fatos ocorridos.

No entanto, a evidenciação das informações nem sempre atinge o objetivo de informar satisfatoriamente aos agentes interessados na companhia, pois o que o usuário externo espera que seja divulgado e o que a administração decide publicar, muitas vezes, não são convergentes, visto que a empresa tende a explicitar, no limite da legislação, as informações que lhe sejam favoráveis, que lhe gerem benefícios.

Esta divergência explica-se em função das relações existentes entre os agentes. Lopes e Martins (2005, p. 28) explicam que, inicialmente, na teoria econômica clássica a firma possuía somente um dono, que também atuava como o gestor e que atuando de forma racional buscou sempre otimizar o lucro econômico no longo prazo. No entanto, a teoria da agência rompe com esse paradigma e afirma que podem ocorrer conflitos entre os agentes interessados nas atividades da empresa.

A evolução das relações de mercado criou duas figuras distintas na configuração da empresa, o acionista e o gestor. Com efeito, Lopes e Martins (2005, p. 28) explicam que o surgimento da corporação moderna com propriedade separada da gestão criou a possibilidade para que conflitos de interesse surgissem entre acionistas e administradores e mesmo entre administradores de diferentes níveis hierárquicos.

A interação da empresa com o contexto em que está inserida faz com que ela possua relações múltiplas com agentes diversos e que possuem diferentes interesses no contato com a empresa. De acordo com Jensen e Meckling (1976, p. 314), os problemas de agência estão relacionados ao conceito da firma. Na concepção apresentada pelos autores a firma não é um indivíduo, mas sim uma ficção legal que serve como foco para um processo complexo no qual os objetivos conflitantes dos indivíduos buscam o equilíbrio inseridos em uma estrutura de relações contratuais.

Dessa forma, os preceitos da teoria da agência entendem que as relações contratuais ocorrem entre dois agentes com diferentes interesses: o principal e o agente. O primeiro é o sujeito ativo, ou seja, é a parte do contrato que solicita a execução de determinada atividade, enquanto o agente é a parte passiva da relação contratual, cuja participação é a execução das tarefas solicitadas pelo principal, deste modo as relações conflitantes são originadas por interesses distintos que

podem basear-se em aspectos diversos, sejam econômicos, financeiros, estratégicos, entre outros.

Nesse sentido, Lopes e Martins (2005, p. 32) destacam que a empresa, à luz da teoria contratual da firma, é vista como um conjunto de contratos entre os diversos participantes. Cada um contribui com algo para a firma e em troca recebe sua parte; estes contratos são de natureza diversa e muitos deles não são explícitos.

Para Harris e Raviv (1991), os conflitos entre acionistas e gerentes giram em torno da maximização da riqueza do acionista e a maximização da utilidade do gestor na companhia. Desse ponto de vista, o administrador, enquanto gestor dos recursos da empresa, tende a priorizar projetos que valorizem sua gestão na continuidade das operações, por vezes, em detrimento de projetos que podem apresentar melhores retornos ao capital investido para os acionistas.

Por outro lado, o conflito entre acionistas e credores ocorre na aprovação de projetos de investimentos, no qual os acionistas tendem a assumir maiores riscos, quando o valor investido tem origem nos credores e não em capitais próprios. Nessa situação, explica Rocha (2007), os acionistas ficam em uma posição tranquila, pois se o projeto apresentar bons resultados, eles quitam os juros e o principal da dívida e obtém lucros. No entanto, se os resultados forem ruins, os credores ficam expostos ao maior risco.

Diante desse contexto, depreende-se que as situações conflitantes nas interações entre os agentes e as empresas é condição natural e sempre presente nas relações. Lopes e Martins (2005, p. 33) destacam que os problemas surgem na imposição dos contratos entre as partes.

Desse modo, para Boot e Thakor (2001, p. 1024), a informação divulgada pelas companhias pode ser classificada em três tipos, tendo diferentes impactos na avaliação dos agentes:

 informação complementar para ser processada: é útil somente aos investidores que podem processá-la para descobrir implicações futuras sobre o desempenho da empresa, isto é, complementa a informação para alguns investidores, como por exemplo, o investimento realizado em pesquisa e desenvolvimento visando projetos futuros para a companhia.  informação complementar pré-processada: envolve

informação que é ortogonal à informação do investidor. Pode ser utilizada por todos os investidores sem ter de investir em recursos para processá-la, e, assim, permite revisar suas expectativas sobre o desempenho da firma, como por

exemplo, o anúncio da renovação de um contrato relevante para a empresa.

 informação substituta: refere-se ao tipo de informação que os investidores poderiam obter de qualquer forma, por exemplo, a emissão, por parte da firma, de uma previsão de lucros para o período.

Segundo Boot e Thakor (2001, p. 1024), de forma equilibrada, todos os três tipos de apresentação da informação aumentam o valor de mercado esperado nas boas firmas. Destacam, porém, que a divulgação de informação é suscetível de elevar a transparência dos preços mais em mercados desenvolvidos do que nos mercados emergentes. Nesse sentido, Murcia e Machado (2011, p. 3) argumentam que o disclosure corporativo nivela as informações entre os participantes do mercado, o que de certa forma aumenta a liquidez e a negociação das ações das empresas.

Nesse contexto, com diferentes grupos de usuários das informações geradas, com finalidades distintas e que buscam atender uma gama de objetivos individuais e coletivos, o processo de disclosure das informações geradas na contabilidade das empresas é peça fundamental para o atingimento das metas de cada agente, de forma a otimizar a utilidade da informação divulgada.