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PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

2.1 CARACTERÍSTICAS DO ESTUDO

Esse estudo teve como proposta investigar a linguagem presente e operada no cotidiano das escolas-comunitárias, procurando-se verificar se essa linguagem expressa um comportamento heterônomo, anti-dialógico e estratégico ou um comportamento autônomo, dialógico e comunicativo.

Nesse estudo incluímos um certo universo de significados que nos permitiu explorar:

 elementos conceituais que caracterizam o processo de construção e utilização da linguagem, usando-se as seguintes categorias: cotidiano, diversidade/pluralidade cultural, linguagem de autonomia e heteronomia, relação dialógica e anti-dialógica, agir estratégico e agir comunicativo e relações de poder.

 elementos de linguagens utilizadas para expressar o significado e a concepção de escola, de comunidade, de escola-comunitária, das necessidades e dificuldades pedagógico-educativas, das maiores e menores urgências pedagógico-educativas... que foram obtidas dos sujeitos das amostras e, que passaram pela nossa análise e interpretação no decorrer do estudo.

Trata-se de uma pesquisa de caráter descritivo-explicativo.

A necessidade de efetivarmos um estudo descritivo dá-se pelo fato de sabermos que as linguagens marcam, revelando, descrevendo qualidade e intensidade das relações

interpessoais, das intenções e dos desafios e interesses manifestados por cada segmento social (comunidade local e escolar).

Acentuamos, ainda, que o caráter explicativo, o qual nos propusemos, vem do fato de acreditarmos que é impossível trabalharmos aspectos de descrições particulares e singulares dos grupos escolares estudados, sem que, em paralelo, busquemos obter uma certa explicação para os fenômenos investigados durante a pesquisa.

Falaremos, inicialmente, sobre as características do caráter descritivo.

De acordo com Bogdan e Biklen (1982), este tipo de pesquisa é caracterizado por “uma abrangência de palavras, de fotografias e de comportamentos manifestos naturalmente pelos sujeitos envolvidos no processo da pesquisa, tornando o estudo mais informativo e dinâmico”.

Conforme Gil (1999) e Sprandley (1979), apud Ludke e André (1986), respectivamente, a pesquisa descritiva tem como objetivo primordial:

1. “a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis” (Gil, 1999, p. 46) e

2. “a descrição de um sistema de significados culturais de um determinado grupo” [ou de determinados grupos], relatando as crenças, os hábitos, as práticas, as linguagens e os comportamentos dos grupos sociais envolvidos no processo da pesquisa (Sprandley 1979, apud, Ludke e André 1986, p. 14).

Ainda conforme Sprandley (1979), apud Lüdke e André (1986), p. 14), o sentido próprio deste tipo de pesquisa é a “descrição cuja função é traduzir, dentro do possível, um sistema de significados culturais de um determinado grupo” no qual as crenças, os hábitos, as práticas, as linguagens, os significados e os comportamentos de um grupo social conceituam e definem marcas e aspectos da descrição cultural de uma dada população.

Dessa maneira e conforme Lüdke e André (1986, p. 1), a pesquisa descritiva vem colaborar no sentido de facilitar a analise dos dados oriundos da pesquisa, uma vez que ela, a

descrição, “promove um confronto ente dados, as evidencias, as informações coletadas” , possibilitando ao pesquisador uma gama de interpretações e possibilidades de analise do fenômeno estudado.

Podemos ainda pontuar outros sentidos que nos levaram à escolha da pesquisa descritiva e, dentre eles, podemos citar:

a) A pesquisa não se restringiu ao ambiente interno da escola, mas, sobremaneira, ultrapassou os muros escolares, dimensionando e res-significando o que foi apreendido dentro desses ambientes na confluência com os espaços exteriores;

b) A não definição rígida de hipótese e exatamente por isso, a nossa hipótese contempla a possibilidade de: negação/impedimento ou reforço/permissão quando, destacamos as categorias: de reconhecimento do outro, da experiência do diálogo/da liberdade de expressão, da possibilidade de entendimento, do estabelecimento da cooperação e do respeito à identidade/diversidade cultural dos sujeitos envolvidos no processo da pesquisa;

c) O trabalho de pesquisa teve duração de pelo menos um ano e meio, o que nos possibilitou um maior e melhor contato com os espaços escolares e comunitários, como também uma maior e mais apurada coleta de informações que subsidiaram toda a nossa reflexão e análise;

d) Pela possibilidade de combinarmos métodos de coleta de dados tais como: observação direta da estrutura, organização e dinâmica da escola/classes; entrevistas com formulários, análise de documentos escolares; observação das atividades pedagógico- educativas, dos acontecimentos cotidianos e dos fenômenos relativos a cada grupo do estudo.

Destacamos, ainda, que a pesquisa, ao se propor uma certa explicação de/por alguns fenômenos da linguagem, apresenta as seguintes características, assim apontadas pelos autores:

Segundo Gil (1991, p. 46), a pesquisa tem caráter explicativo quando “tem como preocupação central identificar os fatores que determinam ou que contribuem para a ocorrência dos fenômenos [tentando] explicar a razão, o porquê das coisas (...)”.

Assim, compreendemos que, nesta pesquisa, buscamos investigar o universo de significados, das linguagens presentes e operadas nos espaços escolares, destacando e tentando explicações para as relações conflitivas e tensivas da construção do viver/agir estratégico ou do viver/agir comunicativo, experienciadas nas comunicações/linguagens existentes naqueles espaços e nas suas relações com as comunidades nas quais se encontram inseridas.

Coletamos e trabalhamos com dados qualitativos e quantitativos, procurando apresentar e analisar os fenômenos considerando a essência e a freqüência dos comportamentos, bem como as dos fatos e/ou acontecimentos ocorridos no período do estudo, pois esses dois aspectos – o qualitativo e o quantitativo – constroem o ciclo da pesquisa.

Para o aspecto qualitativo, estivemos atentos ao que nos observa Minayo (1997, p. 26 e 23, respect.), quando diz que todo o produto deve ser visto/verificado como “provisório e capaz de dar origem a novas interrogações” e como “um conjunto [que] se complementa, pois a realidade abrangida por eles interage dinamicamente, excluindo qualquer dicotomia” possibilitando novas discussões, inferências e análises promotoras de uma observação e investigação mais detalhada e apropriada da realidade.

Estivemos atentos ao que destacam alguns autores, tais como:

a) Minayo (1997, p. 21), quando aponta que a pesquisa qualitativa “responde a questões muito particulares e se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser [totalmente] quantificado”.

b) Lüdke e André (1986, p. 4), quando asseguram que as pesquisas realizadas em escolas não devem ficar restritas ao que acontece no âmbito da escola, mas tomar um universo maior – o espaço social – em que essa escola se encontra inserida, provocando uma teia e uma rede de conteúdos e reflexões, relacionando o que é aprendido dentro e fora da escola.

c) Bogdan e Biklen (1994, p. 47-51), quando destacam que a pesquisa qualitativa “é caracterizada por uma abrangência de palavras/linguagens oral e escrita, de fotografias e de comportamentos manifestados naturalmente pelos sujeitos envolvidos no processo de pesquisa, tornando o estudo mais informativo e dinâmico e, porque, esse tipo de abordagem, comporta as seguintes características:

1.“A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados, e o pesquisador, como seu principal instrumento (...) [uma vez que] a pesquisa qualitativa supõe o contato direto e prolongado do pesquisador com o ambiente e a situação que está sendo investigada (...) procurando presenciar o maior número de situações [e informações] que se manifeste, o que vai exigir um contato direto e constante com o dia-a-dia escolar (...) as pessoas, os gestos, as palavras, as linguagens.”

2.“Os dados coletados são predominantemente descritivos [e] o material obtido nessas pesquisas é rico em descrições de pessoas, situações, acontecimentos; inclui transcrições de entrevistas e depoimentos e extratos de vários documentos [bilhetes, cartazes, informações pedagógicas, regimento escolar, atas de reuniões de pais e responsáveis e professores, plano de ação pedagógico...]”.

3.“A preocupação com o processo é muito maior do que com o produto” - é / deve ser do interesse do pesquisador estudar o problema que, no nosso caso específico, versa sobre: a comunicação – na dimensão das linguagens nos espaços escolares comunitários, observando e verificando as expressões de comportamento heterônomo/agir estratégico ou autônomo/agir comunicativo, presentes e manifestos nas relações interpessoais cotidianas.

4.“O ‘significado’ que as pessoas dão às coisas e à sua vida são focos de atenção especial pelo pesquisador” e dentro desse enfoque é de fundamental importância tentarmos capturar perspectivas, expectativas e necessidades dos participantes – os sujeitos/atores sociais que fazem parte da nossa amostra e que darão corpo e sentido ao nosso estudo.

5. “A análise dos dados tende a seguir um processo indutivo” e dentro desse aspecto, em particular, o pesquisador não se apressa aprioristicamente em estruturar uma hipótese única, delimitada, fechada em si mesma, mas, sobremaneira, coloca-a em discussão e

análise constantes e, exatamente por isso, a nossa hipótese trabalha dentro de duas ou mais possibilidades que serão investigadas. (grifos nossos).

E para o aspecto quantitativo observamos o que destaca Minayo (1997, p. 23), quando diz que está “no cerne da defesa do método quantitativo [as condições] para explicarmos [as nuances] da realidade social, [assim] a linguagem das variáveis oferece a possibilidade de expressar generalizações com precisão e objetividade”