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A COMUNICAÇÃO HUMANA: conceitos, épocas, tipos e papéis que constituem o mundo inter-subjetivo.

REVISÃO DE LITERATURA

1.3 A COMUNICAÇÃO HUMANA: conceitos, épocas, tipos e papéis que constituem o mundo inter-subjetivo.

“Nascemos humanos, mas isso não basta: temos também que chegar a sê- lo (...) o que parece mais prudente dizer é que nascemos para a humanidade (...) A condição humana é em parte espontaneidade natural, mas também deliberação artificial: chegar a ser totalmente humano – seja humano bom ou humano mau – é sempre uma arte.”

FERNANDO SAVATER, 1998, p. 29-31.

O humano encontra a necessidade de comunicar, como uma das maneiras de exposição/transmissão de mensagens e conteúdos que podem ser e, muitas vezes, são conjugadas com outras formas de comunicação re-conhecidas, recebidas e transmitidas culturalmente.

Na cultura, cada povo se realiza de uma maneira ímpar, porque cada ser humano é um estranho, ímpar. Esta maneira ímpar de ser, pensar, sentir, viver/agir, está na comunicação que, evocada pelo sujeito, parece saciar-se, embora não absolutamente, porque, por mais que nos esforcemos em transmitir uma certa mensagem/conteúdo, com certeza, ainda assim, teremos muito para dizer, e o círculo da comunicação/linguagem, em si, é infinito.

Conforme Figueiredo e Giangrande (1999, p. 17), “a origem da comunicação está baseada na necessidade que o homem sentiu de decodificar seus sentimentos (...) desenvolvendo um código lingüístico”, estabelecendo, assim, uma maneira coletiva de se expressar e uma interação social coordenadas por um jogo de ações específicas.

(I) “Da Idade da pedra-lascada, no período Paleolítico, temos informações por meio de desenhos e esculturas e, nos últimos estágios do período Paleolítico, os estudiosos reconhecem as primeiras pinturas encontradas nas cavernas”.

(II) “Da Idade da pedra-polida, no período Neolítico e da Pré-história, o homem também deixou registrada a sua necessidade de comunicação para aquele momento específico e, para a posteridade, expressando seus feitos heróicos e de bravura, como a caça dos grandes animais naquela época”.

(III) “A História antiga foi contada ao mundo através de pinturas e músicas; tijolos de argila, em pedras, em papiro e pergaminho, em monumentos esculpidos pelos povos da antiguidade; em desenhos arquiteturais (barroco, gótico, moderno, neoclássico...)”.

Se nas Idades das Pedras Lascada e Polida e na História Antiga encontramos, conforme os autores citados, a marca de uma linguagem que se registrava em pedras, desenhos, músicas e danças, na História moderna, encontramos o avanço tecnológico e a escrita das cartas, dos documentos e a velocidade da imprensa permitindo grandes tiragens. Hoje, na pós-modernidade, estas atividades são trocadas pelas velozes escritas de e-mail´s, e o encontro inter-humano sentido, perceptível, palpável trocado pelo virtual, desconhecido para alguns e imaginário para outros.

Embora atualmente, através da internet, as pessoas, muitas vezes, intercomuniquem seus planos e necessidades, e observem este veículo de comunicação como um fortíssimo aliado para o alcance de muitos conhecimentos, não podemos negar que é bastante difícil aceitarmos a idéia e acreditarmos que “conversar” por e-mail é tão semelhante quanto conversar no espaço da inter-subjetividade humana.

Como comunicação não-verbal, podemos citar, dentre muitas e variadas formas, a arte, a dança, as roupas, as fotografias, os silêncios, o gestual, a mímica, as ginásticas, as pirâmides, as imagens, as oferendas a santos, as paisagens humanas e naturais, os sons dos tambores ecoando nas florestas como expressões de festa ou de guerra, as pinturas que revelam/revelavam o estado de vida, de morte, de festa, de guerra, as muitas, quase intocáveis

expressões facial e corporal tais como a expressão da raiva, do medo, da tristeza, da alegria/contentamento, da esperança, da atenção .... Em tudo existe a manifestação da comunicação.

Como comunicação verbal, as variadas expressões facial e corporal acompanham as linguagens dos sons (ruídos indecifráveis ou sonoridades) que compõem, ritmizam o comunicar, construído no processo do se sentir e se saber/perceber humano. A comunicação que estrutura e é estruturada pela linguagem realmente intensifica as expressões que exalam do ser humano, presididas por uma estética que re-modela a cada momento o estado humano, porque ele é, sempre, a dimensão do movimento explícito dos discursos que se constroem interiormente.

Na comunicação verbal midiática – numa junção de som, imagem, movimento e coloridos, a indústria televisiva, cinematográfica e computadorizada vende e lucra na complexidade da (in)formalidade assumida pelos grupos sociais compostos pelas pessoas que são entre si (des)conhecidas, mas que contactam, entre si.

Nesse tipo de comunicação, há uma linguagem pouco conhecida e dominada pela maioria dos sujeitos que habitam no mundo do agora e, com certeza, no mundo do devir. Muitos de nós nos sentimos alfabetizados porque sabemos ler e escrever, mas não percebemos o nosso analfabetismo diante de situações novas como, por exemplo, identificar e utilizar o controle remoto das TV´s, que muito mais que controlar o aparelho, controla o ser humano, o qual, por sua vez, deixa-se controlar, porque se prende a esquemas muitas vezes inoportunos quando as discussões se apresentam frágeis, descartáveis, momentâneas, supérfluas e construtoras de um pensar e um falar nada consciencioso.

A comunicação, dentro desses e de outros contextos, tem o papel de transmitir idéias, utilizando elementos próprios da linguagem humana que são os signos com significados e significantes sócio-culturais de uma determinada época e história da humanidade. A comunicação/linguagem potencializa o sujeito, e o sujeito empresta e demarca a potência da sua própria comunicação/linguagem, determinando o peso do enunciado, que, muitas vezes, cuida, con-torce ou fratura a marca do comportamento exposto na linguagem.

Toda comunicação viabiliza uma ação em si mesma e nos proporciona a tradução do conteúdo transmitido, enquanto uma ação da natureza autônoma, dialógica e comunicativa, quando permite e promove uma construção ou modificação de comportamento ou uma ação heterônoma, anti-dialógica e estratégica, quando impede e não promove uma construção ou modificação de comportamento.

É ação autônoma, dialógica e comunicativa toda expressão que define, conceitua, veicula um ou vários sentidos anunciados, permitindo inter-ligação e inter-relação entre os diferentes pensamentos humanos. É uma ação heterônoma, anti-dialógica e estratégica toda expressão que inibe, que impede e amedronta o sujeito, impedindo pluralidade de pensamentos.

No entanto, para decodificar e compreender a mensagem, o conteúdo da comunicação/da linguagem, é necessário verificar as maneiras pelas quais as mensagens estão sendo processadas, quais são os objetivos, interesses, finalidades. Isso porque o processo de comunicação inter-humana ou inter-pessoal ou inter-subjetiva modifica-se de acordo com as necessidades e expectativas de cada sujeito em sua unicidade ou pluralidade, isto é, o que entendo, conceituo, afirmo, venho a negar (...) hoje, agora, não significa que continuarei a apresentar em mesmas condições nos próximos minutos.

Em um minuto, tudo ou parte de um todo pode se modificar, quando redirecionamos nosso olhar e nossa percepção, porque tudo é relativo; afinal, como diz Heráclito de Éfeso, “no mesmo rio entramos e não entramos; somos e não somos” e isso quer dizer, segundo o nosso entendimento, que o rio muda suas águas, as pessoas mudam seus olhares, as linguagens mudam de trajeto, e não somos sempre os mesmos.

A comunicação e a linguagem assumem a face do imediatismo ou da paciência, através da mensagem revelada que possibilita a compreensão ou da mensagem revelada que possibilita a ocultação de múltiplos entendimentos humanos, permitindo um certo (des)encontro interpessoal no mundo da vida e na escola, na cultura, na comunidade...

“isso nunca fica tão claro quanto nas relações que [a comunidade, os diretores, especialistas], professores [e alunos] mantêm com a linguagem. Pendendo entre um uso carismático da palavra como encantamento destinado a colocar [o sujeito] em condições de ‘recebe[r] a graça’ e um uso tradicional da linguagem (...) como veículo consagrado de uma cultura consagrada (...).”

(BOURDIEU, 1999, p. 55).

A comunicação anunciada constitui-se em uma urgência, para a dimensão pedagógica e educativa do homem que precisa aprender a experienciar os saberes: saber-ser, saber-saber, saber-poder, saber-querer e saber-fazer, que no inter-jogo das linguagens escrita e oralizada, anunciadas na educação, na sociedade e na comunidade, supomos que deverão ser estruturadas e estruturantes do novo saber; saber-dizer; saber-poder; saber-querer e saber- fazer que circulará pela nova ordem social e contemporânea.

Dentro do mundo da comunicação, existem elementos sagazes, sobre os quais muito pouco se explora no cotidiano escolar e comunitário: as linguagens oralizada (discurso) e a escrita (discurso-documentos), ambas instituídas, validadas, consentidas e, às vezes, pouco percebidas e refletidas por seus usuários diretos, que, no imediatismo da anunciação discursiva, revelam concepções sobre o (in)correto, o (in)desejável e o (im)possível, demarcando um território de pré-conceitos e preconceitos “verdades” absolutas, no âmbito das relações interpessoais, existentes nas instituições sociais.

A comunicação humana instaura no homem um mundo de pré-sentidos que implica a dimensão valorativa das ações/comportamentos em que nos acomodamos ou somos levados ou deixamos nos levar, para satisfazer este ou aquele modo de pensar e/ou expressar os argumentos que interessam a uma determinada cadeia comunicativa.

A comunicação trans-forma circularmente os homens em sistemas sociais, implicando a observação, diagnóstico, planejamento e direcionamento de um determinado que-fazer. E quantas interpretações advêm dessas redes moduladas que envolvem o homem - o mundo - o pensar e o não-pensar; o falar e o não-falar; o querer e o não querer; o fazer e o não-fazer; o poder e o não-poder, que promovem fortemente o aceitar ou o rejeitar de elementos não tão significativos para o cotidiano, porque sua finalidade pode ser descartável (?).

1.4 LÍNGUA, um código cultural, e LINGUAGEM, um modo multifacetado de expressões