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QUADRO 7 – CARACTERÍSTICAS PESSOAIS QUE DEVEM TER E QUE NÃO DEVEM TER AS PESSOAS QUE VIVEM EM COMUNIDADE

2.2.3.1 Fontes de coleta e dados coletados

QUADRO 7 – CARACTERÍSTICAS PESSOAIS QUE DEVEM TER E QUE NÃO DEVEM TER AS PESSOAS QUE VIVEM EM COMUNIDADE

Sujeitos

Perguntas Moradores 100% Professoras 100% Gerentes (extratos de discurso) Características pessoais que devem ter... “Não sabe”; “Ser solidário”; “Ter coragem”; “Ser fiel a Deus”. 50 38 7 5 “Fé”; “Coragem”; “Vontade”; “Determinação” 50 30 10 10 “Atenção e preocupação”;

“Amor, generosidade, cuidado e Solidariedade”;

“Tomar conta de seus filhos, procurar emprego e aprender algo na vida”;

“(acho)... coragem”; “(acho) que é dá apoio para os pais que estão aí procurando emprego”

Características pessoais que não

devem ter... “Ser violento”; “Ser egoísta”; “Ser infiel a Deus”. 47 33 20 “Falta de fé”; “Violência”; “Falta de vontade” 60 30 10

“Falta de atenção, carinho, preocupação”;

“Falta de cuidado, solidariedade, de amor ao próximo, de olhar para todos como iguais”;

“Falta de Deus”; “Falta de fé”; “Idéia para roubar”.

Fonte: dados da pesquisa

APÊNDICE A: Gráficos 9 e 10, e Depoimentos 17, 18, 19 e 20 Gráficos 11 e 12, e Depoimentos 21, 22, 23 e 24

50% dos moradores disseram “não saber” que características pessoais devem ter os sujeitos que vivem em comunidade. Para 38% é “ser solidário”, porque: “A solidariedade é tudo na vida das pessoas”; “Sem solidariedade a miséria parece que aumenta”; “Se todas as pessoas tivessem solidariedade , o mundo seria melhor”.

Para 7% é “ter coragem”, dizendo que pensam assim porque: “A coragem faz o homem ter sucesso”; “Sem coragem fica difícil viver, acordar”; “Só a coragem faz a gente enfrentar as dificuldades”. E dos 5% que afirmaram “Ser fiel a Deus”, justificaram dizendo que pensam assim porque: “Deus é o nosso maior fiador”; “Lembre da palavra: ‘ O filho sábio alegra o pai; o filho insensato entristece a mãe’. (Provérbios 10; 1). II. O caminho da Justiça; o justo e o injusto).

Para 47% dos moradores a característica pessoal que não devem ter os sujeitos em comunidade é “ser violento”, e afirmaram que pensam assim porque “A violência destrói o

ser humano”; “A violência não ajuda ninguém a resolver nada”; “Quanto mais a gente for violento com os outros mais eles serão com a gente”.

Para 33% é “ser egoísta”, e afirmaram que pensam assim porque: “É o egoísmo que causa a miséria”; “Tem gente que pensa que tem o rei na barriga” e “Tem gente que acha que nasceu sozinho”. Verifica-se que uma característica básica do sujeito heterônomo é estar centrado em si mesmo; é, pois, ser egoísta.

E para 20% é “ser infiel a Deus” e, em seus porquês, afirmaram que pensam assim porque: “Deus [é] nossa fonte de fé”; “Todo homem de fé clama a Deus”; “O homem de bom senso aceita o mandamento, mas o estúpido se arruína pela boca” (Provérbios – 10; 8). II. O caminho da justiça. O justo e o injusto.

Para 50% das professoras, a característica pessoal que devem possuir os sujeitos em comunidade é a “fé” e afirmaram que pensam assim porque: “A fé é tudo na vida”; “A fé remove montanhas”; “Somente a fé nos faz mudar”.

Para 30% é a “coragem” porque “é importante ter coragem na vida”; “É a coragem que faz a gente aceitar este trabalho”. Para 10%, “vontade”, porque “a vontade mexe com a gente” e, para 10%, é a “determinação”, porque, “sem determinação o que somos?”.

Para 60% das professoras, a característica pessoal que não devem ter os sujeitos em comunidade é a “falta de fé”, e afirmaram que pensam assim porque: “Sem fé não é fácil viver”; “Sem a fé nada somos ou somos?”; “A fé nos constrói em Deus”.

Para 30%, é a “violência” porque “A violência destrói o ser humano”; “A violência destrói o amor”. Para 10% é a “falta de vontade” porque “ela [a vontade] empurra a vida, o trabalho”.

Para dona C.L., gerente da 1ª Escola, as características pessoais que devem ter os sujeitos que vivem em comunidade são: “atenção e preocupação” e não devem ter como características pessoais “falta de atenção, carinho, preocupação com o bem-estar das pessoas...”

Entendemos o que essa gerente nos disse, pois nos relatou alguns aspectos sobre “a história da escola”, destacando que:

“A escola oferece para a comunidade o acompanhamento escolar- comunitário, priorizando o atendimento na área da saúde, educação, alimentação e melhorias habitacionais, ajudando no resgate da auto-estima e contribuindo para o exercício da cidadania.” (depoimento da gerente).

Para dona C.B., gerente da 2ª Escola, as características pessoais que devem ter os sujeitos que vivem em comunidade são: “amor, generosidade, cuidado, solidariedade...”, e as características pessoais que não devem ter são: “falta de cuidado, de solidariedade, de amor ao próximo, de olhar prá todos como iguais...”

Entendemos o que essa gerente nos disse, pois relatou alguns aspectos sobre “a história da escola”, destacando que:

“(...) o serviço do amor, cuidado e atenção ao próximo deve ser o ponto forte do processo educativo (...) não podemos colocar as crianças na escola e ensinar-lhes apenas a ler, escrever e contar porque é preciso mais – é preciso ensinar-lhes a ler a vida e tendo a vida nas mãos sabermos, cada um, o que devemos fazer com ela.” (depoimento da gerente).

Para dona V.C., gerente da 3ª Escola, as características pessoais que devem ter os sujeitos em comunidade são: “saber tomar conta de seus filhos, procurar empregos, aprender algo na vida...” e as características que não devem ter são: “falta de Deus... falta de fé... ”

Compreendemos o que essa gerente nos disse, quando nos relatou alguns aspectos sobre “a história da escola”, destacando que:

“A Creche-Escola é uma entidade sem fins lucrativos que tem como finalidades: ‘tomar conta das crianças enquanto seus pais trabalham ou procuram emprego; suprir a carência alimentar das crianças pobres moradoras do bairro; desenvolver cursos profissionalizantes para jovens e adultos’.” (depoimento da gerente).

Para dona M.A., gerente da 4ª Escola, as características pessoais que devem ter os sujeitos que vivem em comunidade são: “acho ... coragem... acho também que é dá apoio para os pais que estão aí procurando emprego...” e a característica que não devem ter é: “idéia que tem que roubar prá viver...”

Essa gerente esclarece a sua opinião quando nos relata que:

“A escola nasceu com os seguintes objetivos: resolver o problema da falta de escola para as crianças e dar apoio às crianças que, enquanto seus pais/responsáveis saiam para trabalhar ou procurar emprego, ficavam pelas ruas ou trancadas em casa sem atividades que pudessem preencher-lhes o tempo.” (depoimento da gerente).

Para expressar as “características pessoais que devem ter” e as “características pessoais que não devem ter as pessoas que vivem em comunidade” os sujeitos da amostra usaram dois tipos de linguagem.

Para o que “devem ter as pessoas como características pessoais“ destacam-se linguagens, tais como: “não sabe”, “ser solidário”, “ter fé”, “ser fiel a Deus”, coragem”, “vontade”, “determinação’, “atenção e perseverança”, “hora para dormir levantar cedo e procurar trabalho”.

E para o que “não devem ter as pessoas como características pessoais” destacam-se linguagens, tais como: “ser violento”, “ser egoísta”, “ser infiel a Deus”, “falta de atenção, carinho, preocupação”, “falta de solidariedade, de amor ao próximo, de olhar para todos como iguais”, “falta de Deus”, “falta de fé”, “idéia para roubar”, “violência”, “falta de vontade”

Aqui observam-se anúncios de identidades próprias... pessoas que revelam suas identidades queridas ou requeridas enquanto vontade de ser... Dizemos isso porque temos três grupos de pessoas que revelam linguagens próximas... pensamentos próximos... daquilo que e pode se chamar de linguagens–pensamentos coletivos.

Esses grupos colaboram com a existência de linguagens próximas do sentimento de autonomia, de busca de diálogo e de busca de um agir comunicativo, quando, por exemplo, dizem que os sujeitos que vivem em comunidade precisam ser - solidários, corajosos, ter vontade, ter determinação, ter atenção e perseverança, não ser violentos (expressão que se destaca e expressa uma preocupação comum e uma recusa coletiva ao que se contrapõe ao bem comum e revelam o modo como compreendem a si mesmo, o modo como projetam suas vidas, seus propósitos e rejeitam a heteronomia pois declaram que as pessoas não devem ser egoístas).

Esses grupos colaboram com a existência de linguagens próximas do sentimento de pertença ao grupo, do sentido e do sentimento sempre atentos, quando, por exemplo, dizem que os sujeitos que vivem em comunidade não devem ser - violentos, egoístas, ter falta de atenção, carinho, preocupação, ter falta de solidariedade, ter falta de amor ao próximo, ter falta de olhar para todos como iguais, ter falta de vontade e revelam que o modo como compreendem a si e ao outro traz todo um elemento de inter-subjetividade, colocando-se a serviço de si mesmo e do outro.

A partir dessas considerações, tivemos um ensaio do que é comunidade, do que os sujeitos que vivem em comunidade podem ou não podem ser; podem ou não podem ter..., construindo uma visão que retrata relações e argumentações subjetivas, mas muito próprias daqueles que esperam ou não esperam muito de si ou do outro.

Mesmo trazendo limitações a respeito desse poder ser ou não poder ser; desse querer ser ou não querer ser, os sujeitos que aqui se expressaram colocaram-se dentro de uma comunidade enunciativa e trouxeram linguagens que partilharam desejos, intenções, pretensões..., partilharam também compreensões e incompreensões, quando, em seus jogos de linguagem, expressaram reflexões ou a falta delas..., partilharam também visões consensuais ou não-consensuais, que habitam no mesmo espaço social chamado comunidade.

Afinal,

“A linguagem tem uma significação determinante para a Vida Sociocultural” JURGEN HABERMAS, 1987, p.12

3.1.5 - Análise das expressões e significados de escola-comunitária na visão dos sujeitos investigados

[Palavras que podem representar a escola-comunitária]

“Trabalho e cuidado. Atenção também é uma boa palavra. Aqui tem um pouco dessas coisas. O trabalho é mesmo continuo e o cuidado e a atenção são como conseqüência para todo aquele que se dispõe a estar com os desfavorecidos.” (Irmã C. B, gerente da 2ª Escola)

“A escola é boa e isso é o que importa. Mais uma palavra como você quer, acho que alimentação. É aqui que matamos a fome daqueles que têm fome. Eles vêm mais prá escola por causa da fome”.

(dona V.C., gerente da 3ª Escola)

Na metodologia anteriormente mencionada, destacamos que tivemos duas etapas de pesquisa, envolvendo os moradores das comunidades, as professoras e as gerentes administrativo-financeiras das escolas (consideradas) comunitárias.

Na segunda etapa da pesquisa, conversamos com os sujeitos da pesquisa, porque era preciso saber e sentir um pouco sobre o que aquelas pessoas sabiam e sentiam, quando o assunto era escola-comunitária. Assim, pudemos colher alguns dados que agora apresentamos e submetemos a análise.

Os dados revelam-NOS que, falar da escola e do espaço-escola não é apenas conquistar aprendizados formalizados como necessários para construção de um certo saber, mas, sobretudo, é conquistar aprendizados que saem dos livros e entram na vida.

Nessas escolas, com o objetivo de identificar as linguagens mais presentes e exploradas no cotidiano e de verificar o grau de importância que aquela escola tem para sua comunidade, sentimo-nos chamados a perguntar aos moradores, às professoras e gerentes administrativo-financeiras das escolas: “para você, o que é escola?”, “que palavra pode ser usada para representar esta escola?” e “como você define/caracteriza esta escola?”

Construindo-se um paralelo entre as três perguntas citadas, verificamos que os sujeitos destacam a escola como um espaço que se caracteriza como lugar ou situação conforme expresso no quadro 8.

QUADRO 8 – O QUE É ESCOLA, A PALAVRA USADA PARA