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2.2.3.1 Fontes de coleta e dados coletados

PSICOSSOCIOLÓGICO/ANTROPOLÓGICO (possíveis entendimentos)

Pontos de vista Possíveis Entendimentos

Ponto de vista estrutural “Comunidade implica a partilha de um território e/ou organização.”

Ponto de vista

sistêmico/funcional “Comunidade pressupõe um conjunto de sistêmico de inter-relações que se estabelecem durante o desempenho de múltiplas funções pelos elementos do grupo.”

Ponto de vista

psicossociológ/antropológico “Comunidade é um grupo estruturado, sistemático e funcional.”

Fonte: VIEGAS FERNANDES (1998), no Capítulo VI – Da Alfabetização/Educação de Adultos À Educação Popular/Comunitária: Relevância do Contributo de Paulo Freire apud APPLE, Michael e NÓVOA, Antonio (1998).

Observa-se claramente que, nos pontos de vista estrutural, sistêmico/funcional e psicossociológico/antropológico, as linguagens mais evidenciadas são: comunidade, partilhamento, inter-relações e processo grupal. Sem dúvida, é impossível pensarmos na organização e no funcionamento de uma comunidade ou de uma escola-comunitária, sem valorizarmos a necessidade da partilha de escutas e propostas, sem favorecermos o terreno para as inter-relações promissoras e, conseqüentemente, sem desenvolvermos atividades que elevem a condição de grupo.

Estar em grupo é estar em constante aprendizado, é estar experienciando possibilidades de ações e conquistas compartilhadas que oportunizam a socialização, a integração e a reciprocidade; é, inclusive, onde se aprende cotidianamente a viver/agir em sociedade e se compreende que somente no estar-com e estar-próximo do não-próximo nos permitiremos sair e abandonar o isolamento pessoal, situação esta muito favorável aos sujeitos egocentrados.

No entanto, infelizmente não estamos sempre juntos/na parceria como fruto do acaso que não existe. Muitas vezes aproximamo-nos, porque habitamos um mesmo espaço sócio- cultural, um mesmo território, e outras vezes, aproximamo-nos porque temos objetivos em comum e não porque estamos condicionados historicamente a nos agruparmos, mas, porque, é necessário, como acrescenta Freire (1998, p.46) “assumir-se como sujeito porque [é] capaz de reconhecer-se objeto [e] a assunção de nós mesmos não significa a exclusão dos outros é a ‘outredade’ do ‘não eu’, ou do tu, que me faz assumir a radicalidade de meu eu”. (grifo do autor).

A linguagem, esta energia que se renova a todo instante, move o desejo e o mundo- esta expressão que não sabemos conceituar- move o sujeito, e a linguagem e o desejo revelam, com propriedade, quando estamos juntos, apenas porque ocupamos o mesmo território ou quando estamos juntos, porque temos os mesmos objetivos e, portanto, interesses em comum e a satisfação desses desejos comunicam o sentido que queremos atribuir não somente à linguagem mais ao desprendimento que a subjetiva intenção vem demonstrar.

Quando somos heterônomos, anti-dialógicos e estratégicos, revelamos a linguagem de uma pertença forçada, estamos porque estamos ou porque estamos pela obrigação e, portanto, não reconhecemos a importância daquele ato de estar. Quando somos autônomos, dialógicos e

comunicativos, revelamos uma linguagem que constrói e reconstrói um campo de significados que anunciam realidades, experiências e vidas cotidianas que retratam a existência não de sujeitos anônimos, mas daqueles que optam, opinam, constroem pensamentos, verbalizam pretensões.

O campo dos significados anunciados através das linguagens colabora, para que os sujeitos possam isolados e coletivamente

“medir as próprias ações, isto é, medir as dimensões e as conseqüências dos próprios atos: colocá-los em totalidades maiores; orientar-se neles [porque] este esforço de coerência e lucidez abre o horizonte da ação, permitindo sentir melhor os limites e as possibilidades da ação.”

FURTER (1973, p. 28).

Medir as ações do falar e do fazer implica a manifestação de dois comportamentos: primeiro, renunciar a aprendizagem do acomodamento que coisifica o homem e o seu pensamento e caracteriza-o enquanto heterônomo e estratégico; segundo, assegurar a esse homem a possibilidade de abarcar o destino e sair da consciência ingênua -aquela que remete ao homem a falsa idéia de que as coisas e o mundo vão mudar um dia, porque “quem espera sempre alcança”-, conquistando a autonomia e a comunicação como instrumentos necessários à não-negação de si mesmo, do outro e da realidade circundante.

A não-negação de si mesmo, do outro e da realidade circundante e a afirmação da necessidade de perspectivas não-absolutas são os dois elementos que aportam na certeza de que o homem é um sujeito insatisfeito, e somente na reflexão e atuação dialética encontrará disposição para abandonar o imediatismo precário e soberbo que aniquila a possibilidade do se ‘deixar-ser’ que é “uma provocação ao diálogo que vai construir, em comum, a verdade” entre os homens conhecidos e desconhecidos não para a comunidade/sociedade do futuro, mas precisamente para a comunidade/sociedade do agora, do momento presente, na qual os homens se sub-dividem em dimensões territoriais e de interesses, conforme suas intenções. FURTER (1973, p. 59).

Segundo Sacconi (1996), território refere-se à “área de terra” e “região”, além de outras designações que não cabem neste estudo, e interesse, está de acordo com o “estado de

curiosidade ou atenção sobre alguma coisa”, “aquilo que evoca esse estado mental”; “implicação ou envolvimento na participação de alguma coisa” [e] “o desejo egoísta de um desejo pessoal”; mas, acreditamos que, quando existe a associação dessas expressões – território e interesse- ao sentido de comunidade, não é suficiente estarmos pertencendo ao mesmo território porque o habitamos, mas porque descobrirmos os interesses que movem os sentimentos de gostar e/ou não-gostar, querer e/ou não-querer, pertencer àquele lugar e espaço sócio-cultural. (SACCONI, 1996, p. 640 e 401, respect.).

Sem dúvida, os sentimentos expressos no gostar e/ou não-gostar, no querer e/ou não- querer pertencer a um lugar e espaço sócio-cultural, colaboram positiva ou nagativamente para a construção do homem-sujeito (des)preocupado com o viver em comunidade, refletindo, ainda, a condição e os (des)caminhos do diálogo revelado nos interesses (dis)semelhantes ou (des)favoráveis ao conhecimento de si-mesmo e do outro, cuja aproximação e distanciamento de objetivos e perspectivas colaboram para um viver/agir comum, promissor ou pouco promissor expressos na imaturidade ou maturidade pessoal e coletiva.

A imaturidade reflete a condição da impossibilidade, do despreparo psico-social para aprender a refletir e conduzir aquilo que não pode ser condicionado: a história pessoal, as necessidades coletivas, os acontecimentos rotineiros que influenciam na inter-subjetividade humana que diz e contradiz, afirma e nega, constrói e desconstrói heterônoma e estrategicamente, uma diversidade de linguagens, comportamentos, conhecimentos experienciados cotidianamente que vivem a sombra de um quê-fazer sem sentido, que violenta e aprisiona o direito de saber-ser e saber-fazer.

A maturidade reflete não apenas a condição de estar-presente, ocupando um espaço sócio-cultural, mas sobremaneira indica que, além de estar-presente, também existe o sentir-se presente, participando, colaborando e aprendendo na prática a aproveitar os acontecimentos daquele momento para avançar no conhecimento, interpretando-o coerentemente dentro de um agir autônomo e comunicativo que desvela os conteúdos do saber ser e fazer que estão sendo aprendido, re-conhecido e res-significado constantemente.

Nesse sentido, o aprendizado, o re-conhecimento e a res-significação dos conteúdos pedagógico-educativos, aprendidos e explorados na coletividade, colaborarão para identificação de novos e atuais interesses e preocupações da escola-comunitária e as mais

variadas linguagens e expressões e, também, aquelas representadas pelo silêncio - que é uma forma de comunicação mais reveladora que as próprias palavras -, experienciadas nessa comunidade, desencadearão reflexões que conduzirão a ações, representando não somente a relação de interdependência, mas, de maneira especial, a qualidade da pertença dos sujeitos naqueles espaços sociais.

Com essa necessidade do homem de procurar na comunicação a expressão da comunhão e da pertença, como uma conquista pessoal e coletiva, entendemos as considerações de D. Clark (1987) e M. Smith (1994), apud Viegas Fernandes in Apple e Nóvoa (1998, p. 124), quando, respectivamente, entendem e representam a comunidade das seguintes maneiras:

QUADRO 4- COMUNIDADE/COMUNITÁRIA: D. CLARK, 1987