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SOFT SYSTEMS METHODOLOGY (SSM)

4.3 CARACTERÍSTICAS DOS SISTEMAS DA SSM

Antes de começar a tratar do processo de investigação da SSM propriamente dito, é necessário expor algumas das particularidades que, para fins de análise, poderiam ser interpretadas como os aspectos que viabilizam o uso dos sistemas como instrumentos da SSM.

Essa análise parte do conceito de sistema proposto por Checkland (1999, p. 317)xii, que concebe o sistema como:

um modelo de uma entidade como um todo. Quando aplicado a atividades humanas, o modelo é caracterizado fundamentalmente em termos de estrutura hierárquica, propriedades emergentes, comunicação e controle. Um observador pode optar por este modelo para relatar atividades do mundo real. Quando aplicado para entidades naturais ou artificiais, a característica crucial é a de propriedades emergentes do todo.

A definição de sistema de Checkland incorpora, de modo abrangente, as principais características que orientam o uso dos sistemas na Soft Systems Methodology. São elas, as noções de modelo, holon, atividades humanas, propriedades emergentes, hierarquia e comunicação e controle. A essência de cada uma delas é a seguir retratada.

a)Sistemas como modelos

Os sistemas são conjuntos abstratos. Fazer uso do pensamento sistêmico significa construir conjuntos abstratos (freqüentemente chamados modelos conceituais) que são confrontados com o mundo real para gerar aprendizado. O propósito de fazer este uso pode variar da perspectiva de engenheirar uma parte do mundo percebida como um sistema até a busca por um insight (CHECKLAND e SCHOLES, 1999).

Nesse contexto cumpre lembrar que dentro do pensamento sistêmico existem duas tradições complementares. A tradição hard toma o mundo como um sistema; a tradição soft desenvolve o processo de investigação como um sistema. Assim, a SSM é um processo

sistêmico soft de investigação que também faz uso dos modelos de sistemas. A incorporação da abordagem hard é um caso especial à SSM, que surge quando existe consenso quanto à necessidade de um sistema ser engenheirado (CHECKLAND e SCHOLES, 1999).

b)Holon

Na SSM, o uso da palavra holon3 é mais adequado para denominar os conjuntos abstratos construídos (modelos conceituais), concedendo à palavra sistema o sentido amplo dado na linguagem cotidiana, e não tentando usá-la como um termo técnico (CHECKLAND e SCHOLES, 1999).

c)Sistemas de atividades humanas

A SSM usa um particular tipo de holon, chamado sistema de atividade humana. Os sistemas de atividades humanas são conjuntos de atividades conectadas entre si para formarem uma entidade intencional construída para atender à necessidade de representar a essência do todo (propriedades emergentes, estrutura colocada em camadas, processos de comunicação e controle) (CHECKLAND e SCHOLES, 1999).

Cabe ressaltar que Checkland (1999) adota como sinônimo de sistemas de atividades humanas a expressão sistemas de atividades humanas intencionais (purposeful human activity systems), em clara referência à propriedade de intencionalidade que conduz as atividades humanas. Por extensão, o mesmo ocorre com a denominação das atividades e das ações resultantes desses sistemas, chamadas atividades intencionais (purposeful activity) e ações intencionais (purposeful actions).

d)Propriedades emergentes

Os sistemas promovem propriedades emergentes. O termo sistema engloba a idéia de um conjunto de elementos conectados que compõem uma entidade, a qual exibe propriedades

3 Arthur Koestler (1969) criou a palavra holon para designar os subsistemas que são, simultaneamente, "todos" e

"partes", e enfatizou que cada holon tem duas tendências opostas: uma tendência integrativa, que funciona como parte do todo maior, e uma tendência auto-afirmativa, que preserva sua autonomia individual. Essas duas tendências são opostas mas complementares (CAPRA, 1982).

que emergem do todo, não de suas partes isoladas. Um modelo de sistema de atividade humana, enquanto entidade total, exibe essas propriedades, que se originam de suas atividades componentes e de sua estrutura, mas não podem ser reduzidas a elas.

Por exemplo, a potencialidade veicular de uma bicicleta é uma propriedade emergente da combinação das partes da bicicleta quando ela está adequadamente montada e preparada para o uso. Se considerada apenas uma parte da bicicleta, como uma das rodas, não será possível atribuir a ela a potencialidade veicular. Da mesma forma, uma bicicleta desmontada em uma caixa não exibirá tal propriedade (CHECKLAND e SCHOLES, 1999).

e)Hierarquia

As propriedades emergentes manifestam-se nas diversas camadas de um sistema. O conceito de propriedades emergentes implica a visão de sistemas co-existindo em camadas (layers), segundo uma hierarquia (sem nenhuma conotação de autoridade). Na hierarquia biológica, por exemplo, de átomos para moléculas, de moléculas para células, de células para órgãos, de órgãos para organismos, um observador pode descrever propriedades emergentes em cada uma das camadas do sistema (CHECKLAND e SCHOLES, 1999).

f)Comunicação e controle

A sobrevivência de um sistema depende de seus processos de comunicação e controle. O todo hierarquicamente organizado com suas propriedades emergentes pode, em princípio, ser capaz de sobreviver às mudanças no ambiente se tiver processos de comunicação (transferência de informações) e controle (monitoração do sistema) que o habilitem a responder a possíveis choques provindos do ambiente (CHECKLAND e SCHOLES, 1999).

Uma última característica pode somar-se às apresentadas. A de que diferentes sistemas devem ser construídos para contemplarem perspectivas diversas. Ao examinar situações do mundo real, caracterizadas por ações intencionalmente tomadas, dificilmente haverá um único holon relevante, dada a habilidade humana para interpretar o mundo de diferentes formas. É

necessário, usualmente, criar vários modelos de sistemas de atividades humanas e debatê-los, para então aprender sobre sua relevância na vida real (CHECKLAND e SCHOLES, 1999).

Sumarizando o que foi exposto, a SSM faz uso dos modelos de sistemas para representar e promover entendimento sobre uma situação problemática percebida, por meio de sistemas de atividades humanas. Esses são modelos conceituais construídos, obedecendo-se às características de propriedades emergentes, hierarquia e processos de comunicação e controle, para serem, então, confrontados com a situação real em um processo de debate, visando gerar aprendizado.

Delineadas as características que remetem às particularidades da aplicação dos modelos sistêmicos na Soft Systems Methodology, a seção seguinte contempla o modo como a mesma pode ser operacionalizada, por meio da descrição de seu processo de investigação.