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ESTRUTURAÇÃO DE PROBLEMAS

2.2.3 CORRENTES TEÓRICAS DA ESTRUTURAÇÃO

A etapa de estruturação tem desempenhado papel imprescindível no processo decisório, ao longo de toda a trajetória da pesquisa operacional. Segundo Winterfeldt (1980),

grande parte dos praticantes da pesquisa operacional concordam que ela é a mais importante e difícil fase desse processo.

Essa importância tem sido reiterada por um número significativo de autores, dentre eles Smith (1988, 1989, 1990), Eden (1988), Keeney (1992), Basadur, Ellsperman e Evans (1994), Roy (1996) e Checkland (1999), os quais advogam em seus trabalhos a relevância da etapa de estruturação como fator preponderante na compreensão, definição e representação de um problema.

Apesar disso, Smith (1988) refere que não há uma caracterização de consenso para a etapa da estruturação de problema, que seja amplamente aceita. Ante tal dicotomia, Smith (1988) denota que Woolley e Pidd (1981) empreenderam uma rigorosa revisão da literatura da pesquisa operacional, identificando quatro correntes teóricas que orientam o processo de estruturação.

Em sua essência, a proposta de Wooley e Pidd (1981) tem como elemento balizador o enquadramento das principais técnicas de estruturação presentes na bibliografia da P.O. dentro de quatro clusters, usando como critério de categorização a semelhança no modo como os problemas são estruturados.

Como decorrência de suas pesquisas, Woolley e Pidd (1981) classificaram as correntes teóricas que direcionam o processo de estruturação em: a) corrente do check list; b) corrente da definição; c) corrente da ciência; e, d) corrente das pessoas. Woolley e Pidd (1981, p. 204)xi explicam que:

• a corrente do check list vê a estruturação como um conjunto de procedimentos especificados passo a passo, o que indica que um problema deve ser examinado em termos de uma estrutura pré- ordenada. Sob este ponto de vista, problemas são fracassos, desarranjos, ou divergências de um padrão. A resolução de um problema consiste em achar a causa do problema e eliminá-la O processo pode ser representado em um fluxograma genérico que guia o usuário por uma série de perguntas;

• a corrente da definição vê a estruturação como um processo de identificar os elementos do problema, tipicamente em termos de cliente, decisor, objetivos, alternativas e medidas. Isto é empreendido levando em conta alguma forma de modelagem, visto que a estruturação de um problema, de acordo com a corrente da

definição é essencialmente um procedimento para obter um conjunto

de variáveis que permitam construir um modelo. A modelagem consiste, portanto, em definir as relações entre as variáveis;

• a corrente da ciência vê a estruturação em termos de um enquadramento que se aproxime de uma compreensiva descrição da situação problemática, principalmente por meio de dados quantitativos. Há necessidade consciente em detectar o que está realmente acontecendo, de descobrir o problema real; e

• a corrente das pessoas considera a estruturação em função das percepções das pessoas. Os problemas não são entidades concretas existindo no mundo real; nenhuma coisa existe como o problema ou como um problema real; somente percepções diferentes da mesma situação, ou diferentes realidades construídas por vários indivíduos.

Em síntese, na corrente do check list, a estruturação é dirigida por um grupo de questões relevantes, providas em uma lista exaustiva, que reúne todas as informações requeridas para detectar o problema. Na corrente da definição, a estruturação se dá por meio do uso de uma forma de modelagem similar à teoria da decisão (SIMON, 1963). Os decisores, objetivos e cursos de ação são identificados, para então serem combinados em um modelo que gerará alternativas de solução. Na corrente da ciência, a estruturação ocorre pelo estudo da realidade física, na busca do problema real. Por fim, na corrente das pessoas, a estruturação reflete a interpretação que um indivíduo tem de determinada situação, percebida por ele como problemática.

Em uma análise das correntes teóricas, Dutra (1998) observa que a diferença entre elas está no deslocamento do objeto de estudo. Na corrente do check list, tem-se como objeto a procura pela causa do problema; na corrente da definição, o objeto traduz-se na identificação dos componentes e variáveis do contexto decisional; na corrente da ciência, o objeto é a investigação da realidade em que o problema se insere; e, por último, na corrente das pessoas, o objeto de estudo constitui-se da subjetividade dos indivíduos participantes da decisão.

É necessário, entretanto, ressaltar que essas correntes não têm que serem consideradas de maneira isolada. De acordo com Wolley e Pidd (1981), embora as quatro correntes teóricas representem formas diferenciadas do processo de estruturação, ainda assim não devem ser visualizadas de modo excludente. Isso porque, alguns métodos de estruturação podem ser conformados por características que emergem de duas, ou mais, das correntes descritas.

Nesse sentido, este trabalho coaduna com o posicionamento de Dutra (1998), que se refere às correntes de estruturação como dimensões mutuamente incidentes. O mais desejável seria agregar os aspectos teóricos e práticos robustos de cada uma delas, privilegiando uma melhor representação da situação decisória.

Tal postura é condizente com a visão construtivista adotada no decurso desta tese em relação à etapa de estruturação, uma vez que se preceitua como propósito a busca pela compreensão da situação problemática por meio de instrumentos que permitam organizar, retratar e congregar os diferentes aspectos percebidos por cada ator envolvido diretamente no processo, bem como a diversidade de interesses que circundam o contexto decisório.

A consecução da etapa de estruturação, segundo a metodologia MCDA-Construtivista, conforme Ensslin, Montibeller Neto e Noronha (2001), se subdivide em três passos: (1) o uso de uma abordagem soft para a compreensão, definição e representação do problema; (2) o desenvolvimento de uma estrutura arborescente que evidencie os pontos de vistas fundamentais; e, (3) a operacionalização dos pontos de vistas fundamentais através da construção de descritores para os mesmos.

Como a metodologia MCDA-Construtivista é tratada de modo específico no capítulo cinco deste trabalho, a próxima seção concentra-se apenas no estágio da estruturação em que a proposta deste trabalho sugere o aprimoramento da metodologia, isto é, o 1º passo da etapa de estruturação na MCDA-Construtivista, o uso de uma abordagem soft para compreensão, definição e representação do problema.

Na seqüência descreve-se as duas tradições de enquadramento das abordagens de estruturação de problemas, as abordagens hard e as abordagens soft da pesquisa operacional, e as orienta para os objetivos do trabalho.

2.3 TRADIÇÕES HARD E SOFT DE ESTRUTURAÇÃO DE PROBLEMAS