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MAPEAMENTO COGNITIVO

3.4 CONSTRUÇÃO DE MAPAS COGNITIVOS

Para Eden, Jones e Sims (1983), a diferença entre um sentimento de desconforto ou insatisfação por parte do sujeito, e a capacidade desse definir o problema na forma tal como ele é percebido é muito grande. Na concepção de Eden (1988), mapas cognitivos são ferramentas versáteis que podem auxiliar os decisores a diminuírem essa distância. Sua construção é um processo que gera aprendizado para os atores envolvidos, no que se relaciona ao problema que têm em mãos.

Ensslin, Montibeller Neto e Noronha (2001), tendo como referência a abordagem de Eden, Jones e Sims (1983), descrevem quatro etapas para a construção de um mapa cognitivo: definir um rótulo para o problema; identificar os Elementos Primários de Avaliação (EPAs); construir conceitos a partir dos Elementos Primários de Avaliação; e, ordenar os conceitos em uma forma hierárquica, realizando as possíveis ligações de influência detectadas.

O processo se inicia com a consecução da etapa de definição do rótulo do problema. Nela, o facilitador (pesquisador) deve procurar estabelecer junto ao decisor (sujeito) um rótulo

(nome) adequado para o problema, por meio de um processo de diálogo (ENSSLIN, MONTIBELLER NETO e NORONHA, 2001).

Ensslin, Montibeller Neto e Noronha (2001) ressaltam entretanto que, para a obtenção de um relato fidedigno por parte do decisor, o facilitador deve fazer uso de uma abordagem empática (EDEN, JONES e SIMS, 1983), evitando interferências excessivas no discurso do decisor. O rótulo mais adequado ao problema deve emergir dessa interação.

Tendo obtido um rótulo preliminar para o problema, a segunda etapa consiste no facilitador tentar levar o decisor a desenvolver idéias a respeito da situação problemática, identificando os Elementos Primários de Avaliação (EPAs). O facilitador deve auxiliar o decisor a indicar idéias com perguntas como: "o que é importante neste contexto?", "o que o preocupa?" (BANA E COSTA, 1992; ENSSLIN, 1998).

Segundo Ensslin, Montibeller Neto e Noronha (2001), o procedimento tradicional de identificação de EPAs envolve a realização de um brainstorming com o decisor. Nesse brainstorming o facilitador deve, conforme Camacho e Paulus (1995), estimular a criatividade do decisor, incitando-o a expressar todos os pontos de vista que lhe vêm à mente; oportunizar ao decisor a colocação do maior número possível de idéias, pois, quanto mais EPAs emergirem, mais rico será o processo; evitar tecer críticas ao discurso pronunciado pelo decisor; e, procurar aperfeiçoar, lapidar e combinar idéias já expostas.

Nessa etapa, a atenção deve estar voltada para o número de EPAs identificados. Isso porque, um número limitado de EPAs levará a um comprometimento da estrutura do mapa cognitivo, que poderá interferir na correta definição do problema a ser resolvido e, conseqüentemente, na estruturação do modelo multicritério (ENSSLIN, MONTIBELLER NETO e NORONHA, 2001).

A terceira etapa é a construção de conceitos a partir dos EPAs. De cada EPA obtido na etapa anterior deve ser construído um conceito. Inicialmente, é necessário orientar o Elemento

Primário de Avaliação para a ação. Estabelece-se, assim, o primeiro pólo do conceito. Como o sentido desse conceito está baseado, em parte, na ação que ele sugere, colocar seu verbo no infinitivo cria dinamismo para o mesmo (ENSSLIN, MONTIBELLER NETO e NORONHA, 2001).

Em um segundo momento, o pólo oposto do conceito é estabelecido. Também chamado de oposto psicológico, ele é um rótulo para a situação que é o oposto da situação atual. A obtenção do pólo oposto é feita perguntando-se ao decisor "qual seria o oposto do pólo presente?" (ENSSLIN, 1998). Os dois pólos (pólo presente e seu oposto psicológico) são separados por '...' (lido como "ao invés de") (ENSSLIN, MONTIBELLER NETO e NORONHA, 2001).

De acordo com Eden, Ackermann e Cropper (1995), o texto de cada conceito não deve ser muito longo, mas sim, o mais abreviado possível (aproximadamente doze palavras), na tentativa de manter-se fiel às palavras e frases usadas pelo decisor.

A quarta etapa diz respeito à construção da hierarquia de conceitos e ao estabelecimento das ligações de influência. O mapa cognitivo tem uma forma hierárquica de meios e fins (ENSSLIN, 1998). Portanto, a expansão de um mapa cognitivo em direção a seus fins, fará o decisor explicitar seu sistema de valores através de conceitos superiores na hierarquia. Quando a expansão se der em direção a seus meios, poderá fornecer um conjunto de ações potenciais através dos conceitos subordinados na hierarquia. Na Figura 3 procura-se explicitar essa idéia.

Fins Meios Por que é importante? Como pode ser alcançado?

Figura 3: construção da hieraquia meios-fins Adaptado de Ensslin (1998, p. 63).

Ensslin, Montibeller Neto e Noronha (2001) referem que normalmente o mapa cognitivo é construído seguindo-se a ordem de conceitos meios na parte inferior da folha de papel e conceitos fins na parte superior, semelhante ao disposto na Figura 3.

Ainda na quarta etapa da construção do mapa, são feitas as conexões dos conceitos por meio das ligações de influência. Essa ligação entre conceitos é feita através de relações de influência ou possível influência, simbolizadas por flechas (→). Usualmente, atribui-se uma relação causal direta entre dois conceitos ligados entre si. Desse modo, o conceito que está na ponta da flecha é uma conseqüência do que está em sua base, ou o conceito que está na extremidade inferior é uma explicação para aquele superior (ENSSLIN, 1998; ENSSLIN, MONTIBELLER NETO e NORONHA, 2001).

Cabe salientar, conforme explica Ensslin (1998), que nem sempre a ligação entre dois conceitos ocorre dessa forma. Em determinadas situações, o decisor pode desejar unir duas idéias, ou dois conjuntos de idéias, que não têm necessariamente uma relação causal, mas apenas uma ligação de influência.

Na Figura 4 apresenta-se, a título de ilustração, um exemplo de representação gráfica resultante de um processo de construção de mapas cognitivos.

2 adotar postura da geração saúde

... continuar negligenciando hábitos saudáveis

3 ter atividade física ... ser sedentário

4 praticar esportes

... ser apenas espectador da TV 5 usar o esforço físico na

locomoção do dia-a-dia ... ser dependente do conforto dos meios de transporte

6 ter dieta adequada

... manter costumes alimentares errados

7 cuidar da saúde mental ... estar sempre propenso ao stress

8 ir à academia ... ficar em casa

9 jogar tênis com os colegas de trabalho ... ir para casa

10 respeitar horário das refeições ... comer a qualquer hora 11 comer comida nutricionalmente

balanceada

... comer comida pronta ou de fast food

12 ir caminhando ao supermercado, farmácia, vídeo-locadora etc ... ir de automóvel

13 ir para o trabalho de ônibus ... ir de automóvel

14 ter lazer mental

...não dar descanso para a mente

15 desenvolver o equilíbrio mental ... ter destemperos emocionais

16 praticar ioga ... ler livros de auto-ajuda 17 jogar conversa fora com os amigos

... falar apenas do trabalho

clustersaúde física

clusteralimentação

clustersaúde mental Rótulo do problema:

identificar ações que promovam uma vida mais saudável

2 adotar postura da geração saúde

... continuar negligenciando hábitos saudáveis

3 ter atividade física ... ser sedentário

4 praticar esportes

... ser apenas espectador da TV 5 usar o esforço físico na

locomoção do dia-a-dia ... ser dependente do conforto dos meios de transporte

6 ter dieta adequada

... manter costumes alimentares errados

7 cuidar da saúde mental ... estar sempre propenso ao stress

8 ir à academia ... ficar em casa

9 jogar tênis com os colegas de trabalho ... ir para casa

10 respeitar horário das refeições ... comer a qualquer hora 11 comer comida nutricionalmente

balanceada

... comer comida pronta ou de fast food

12 ir caminhando ao supermercado, farmácia, vídeo-locadora etc ... ir de automóvel

13 ir para o trabalho de ônibus ... ir de automóvel

14 ter lazer mental

...não dar descanso para a mente

15 desenvolver o equilíbrio mental ... ter destemperos emocionais

16 praticar ioga ... ler livros de auto-ajuda 17 jogar conversa fora com os amigos

... falar apenas do trabalho

clustersaúde física

clusteralimentação

clustersaúde mental Rótulo do problema:

identificar ações que promovam uma vida mais saudável

Figura 4: exemplo de mapa cognitivo

Pode-se identificar o rótulo que o suposto decisor entendeu como significativo para seu problema, denominado de "identificar ações que promovam uma vida saudável". No Mapa propriamente dito, percebe-se a existência de três clusters, cada um reunindo um grupo de conceitos que se refere a uma das áreas de preocupação do decisor, nesse caso, saúde física, alimentação e saúde mental.

É possível também visualizar os conceitos e seus opostos psicológicos. O conceito 15, por exemplo, tem como pólo presente “desenvolver o equilíbrio mental...”. Nota-se que, seu oposto psicológico “ter destemperos emocionais” ajuda a melhor explicar o pólo presente, segundo o entendimento decisor. Verifica-se, ainda, o encadeamento dos conceitos, através das ligações de influência, não seguindo uma lógica, mas sim, o que o decisor entende e prioriza em relação aos mesmos.

Uma ilustração prática, contemplando todas as etapas do processo de construção dos mapas cognitivos na metodologia MCDA-Construtivista é apresentada por Ensslin, Montibeller Neto e Noronha (2001).

Discorridos os procedimentos para a construção dos mapas cognitivos, a próxima seção trata das formas pelas quais procede-se a análise dos mesmos, as análises tradicional e avançada de mapas cognitivos.