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1.6 BASES TEÓRICO-METODOLÓGICAS

1.6.5 INSTRUMENTOS DE PESQUISA

De acordo com Rudio (1996, p. 91), “chama-se de instrumento de pesquisa o que é utilizado para a coleta de dados”. Outros autores (RICHARDSON, 1989; TRIVIÑOS, 1995) expandem o conceito, elucidando que um instrumento de pesquisa representa o conjunto de

procedimentos que permite ao cientista orientar, de modo lógico e sistemático, o processo de coleta e análise de dados de uma pesquisa.

Quanto ao tipo de pesquisa (qualitativa, quantitativa) em que cada instrumento melhor se enquadra, Triviños (1995, p. 137) é efusivo ao citar que “não poderíamos afirmar categoricamente que os instrumentos que se usam para realizar a coleta de dados são diferentes na pesquisa qualitativa daqueles que são empregados na investigação quantitativa”. A partir disso, subentende-se que tais instrumentos também podem ser aplicáveis aos métodos mistos ou quali-quantitativos.

Dentro desse contexto, e expressas algumas ponderações sobre a natureza do termo instrumento, úteis ao entendimento do que segue, passa-se a discutir os instrumentos de coleta de dados.

Nas ciências sociais, ainda que haja uma gama de instrumentos que possibilitem a coleta e análise de dados (observação, auto-experiência, pesquisa-ação), o questionário, a análise documental e a entrevista são aqueles empregados com maior incidência pelos pesquisadores em seus estudos (MAZZOTTI e GEWANDSZNAJDER, 1999; GODOY, 1995).

O questionário, conforme Gil (1999), consiste em uma técnica de investigação composta por questões apresentadas por escrito às pessoas, tendo como objetivo o conhecimento de suas opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas e situações vivenciadas.

Segundo Richardson (1989), os questionários cumprem pelo menos duas funções: descrever as características (sexo, idade, estado civil) e medir determinadas variáveis (opinião do indivíduo sobre um partido político) em um indivíduo ou grupo social.

Quanto ao seu formato, os questionários não estão restritos a uma quantidade determinada de questões, nem a um tópico específico. Não há um arcabouço de regras que

delineiem a avaliação e adequação de determinados questionários a demandas específicas. É responsabilidade do pesquisador determinar o tamanho, a natureza e o conteúdo do questionário, de acordo com o problema pesquisado, e respeitar os interesses e necessidades do interpelado, que podem divergir das do investigador (RICHARDSON, 1989).

Sobre o tipo de questões formuladas em um questionário, Cozby (2003) explica que elas podem ser tanto abertas quanto fechadas. As questões abertas proporcionam ampla variedade de respostas, pois podem ser expressas livremente pelo respondente. Nas questões fechadas, as alternativas de resposta são as mesmas para todas as pessoas, oferecendo-se ao interpelado, usualmente, a possibilidade de escolher uma, entre um número limitado de respostas.

No que concerne à análise documental, como explica Nascimento (2002), é aquela que usa como fonte de investigação documentos que ainda não sofreram nenhum tipo de exame. Por vezes, ela é confundida com a pesquisa bibliográfica. Embora haja semelhanças, elas vão diferir na natureza das fontes utilizadas. Enquanto a análise documental usa documentos que ainda não foram explorados, a pesquisa bibliográfica baseia-se nas contribuições dos diversos autores que já abordaram a questão.

Ressalva-se que a palavra documento, aqui usada, deve ser entendida, de uma forma abrangente, incluindo, de acordo com Godoy (1995), os materiais escritos (jornais, revistas, diários, obras literárias, científicas e técnicas, cartas, memorandos, relatórios), as estatísticas (que produzem um registro ordenado e regular de vários aspectos da vida de determinada sociedade) e os elementos iconográficos (sinais, grafismos, imagens, fotografias, filmes).

Levando em conta as individualidades metodológicas da análise documental, que utiliza basicamente documentos escritos, é preciso, para operacionalizá-la, fazer uso de técnicas que permitam a crítica textual ou documental, tal como a análise de conteúdo

(NASCIMENTO, 2002). Esta é uma técnica de pesquisa que procura obter, de forma objetiva e sistemática, a descrição do conteúdo incluso em um documento.

Em se tratando da entrevista, Triviños (1995, p. 146) a define como sendo:

aquela que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam à pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas do informante. Desta maneira, o informante, seguindo espontaneamente a linha de seu pensamento e de suas experiências dentro do foco principal colocado pelo investigador, começa a participar na elaboração do conteúdo da pesquisa.

Mazzotti e Gewandsznajder (1999) salientam que a entrevista, dada sua natureza interativa, permite tratar de temas complexos, que dificilmente poderiam ser investigados adequadamente por instrumentos que não contemplam o contato direto com o sujeito, bem como não possuam um certo grau de flexibilidade em sua elaboração.

Nesse sentido, a literatura descreve a classificação das entrevistas quanto ao seu grau de flexibilização, em entrevistas não estruturadas, entrevistas semi-estruturadas e entrevistas estruturadas (RICHARDSON, 1989; TRIVIÑOS, 1995; RUDIO, 1996).

A entrevista não estruturada é sugerida nos estudos que têm como finalidade explorar realidades pouco conhecidas pelo investigador, ou então proporcionar visão aproximada da questão estudada. Esse tipo de instrumento não possui nenhum tipo de formato, sendo livre ao entrevistado discorrer sobre o assunto do modo que mais lhe convier. Em entrevistas dessa ordem, com freqüência, recorre-se a informantes-chave, usualmente especialistas no tema (GIL, 1995).

Em relação à entrevista semi-estruturada, esta se orienta por uma relação de tópicos de interesse sobre determinado assunto que o entrevistador procura explorar ao longo de seu curso. Nessa modalidade de entrevista, o investigador apenas apresenta os tópicos e deixa o entrevistado falar livremente à medida que refere à pauta pré-estabelecida. Quando o

inquirido se afasta dela, o entrevistador intervém, embora de maneira sutil, para preservar a espontaneidade do processo (GIL, 1995).

Por último, no que tange à entrevista estruturada, Gil (1995) relata que esta se desencadeia a partir de uma relação fixa de perguntas, cuja ordem e redação permanece indiferente para todos os respondentes, que normalmente são em quantidade significativa. Explica que, as entrevistas deste tipo podem assumir maior ou menor grau de estruturação em função da natureza das questões que as compõem, abertas ou fechadas, assim como ocorre com os questionários.

Após terem sido discorridos os aspectos essenciais ao entendimento dos instrumentos de pesquisa usualmente aplicados em investigações nas ciências sociais, pode-se, neste momento, determinar quais deles são empregados no presente trabalho.

Esta pesquisa empregou preliminarmente a pesquisa bibliográfica para a realização da revisão de literatura que compõe o marco teórico da tese. No estudo em campo, usou entrevistas não estruturadas para obter contato com a realidade investigada, bem como a análise documental para a verificação dos documentos iconográficos (representações pictóricas).