• Nenhum resultado encontrado

METODOLOGIA MCDA-CONSTRUTIVISTA

5.1 O APOIO À DECISÃO

5.1.1 DEFINIÇÃO DE APOIO À DECISÃO

A simples conceitualização do termo, sem demonstrar os pressupostos que a fundamentam, não exprime a compreensão implícita que dá sentido à definição da expressão apoio à decisão. Dentro desse contexto, Bernard Roy (1993), em seu artigo Decision science or decision-aid science? descreve, inicialmente, as formas de conhecimento produzidas pela pesquisa operacional, para, na seqüência, relacioná-las ao que entende como ciência da decisão e ciência do apoio à decisão.

Roy (1993) menciona que, para dar sentido ao conhecimento gerado na pesquisa operacional, os pesquisadores fazem uso de três pressupostos (caminhos ou vias, para Roy). Cada um deles pode, mas não necessariamente, estar associado com uma questão particular: o caminho do realismo com a questão da descrição de uma descoberta, o caminho axiomático com a questão da prescrição e normatividade e o caminho do construtivismo com a questão das hipóteses para a determinação de recomendações.

No que concerne à via do realismo, pesquisadores que atuam segundo essa concepção, geralmente consideram a existência de um certo número de restrições que delimitam um conjunto dado de soluções satisfatórias, indiferentes ao tempo e à diversidade de atores envolvidos no processo decisório. Sob estas condições, a atitude científica é a procura por

uma descrição da realidade, objetivando uma decisão ótima simplesmente porque ela existe (ROY, 1993).

Para Roy (1993), esta não é uma via adequada para tratar problemas complexos, porque o indivíduo que opta por este caminho está naturalmente inclinado a considerar que existe somente uma forma correta de estruturar um problema e que esta formulação por si só é parte da realidade, não importando os atores do processo.

Em se tratando da via axiomática, Roy (1993, p. 192)i afirma que a construção de um modelo “[...] consiste em transcrever, em termos formais, aquelas demandas que refletem uma forma de racionalidade com a finalidade de investigar suas conseqüências lógicas". O propósito deste caminho de exploração formal é fazer com que, à medida que se aceite os conceitos, regras ou princípios, um procedimento dado tenha que ser seguido e um resultado obtido deva ser aceito.

Dessa maneira, os axiomas são considerados "uma não demonstrável, mas auto- evidente verdade para qualquer um que entenda seu sentido" (Robert Dictionary apud ROY, 1993, p.192)ii. O caminho axiomático leva o pesquisador a acreditar que, com axiomas se possui meios para alcançar a verdade, que é validada pelos próprios axiomas.

Roy (1993) menciona que três considerações podem ser feitas a esse respeito. Inicialmente, nem sempre é fácil estabelecer uma ligação entre algo expresso em um contexto abstrato e a realidade de um processo decisório; em segundo lugar, mesmo que, individualmente, cada axioma seja inegável, nada garante que quando considerados coletivamente, o sistema deles resultante tenha de ser aceito; e, finalmente, para que um modelo de representação seja bem definido, através de um sistema de axiomas, é muitas vezes necessário admitir que ele usa a via do realismo.

A última via a ser apresentada é a construtivista. Esta é explicada por Roy (1993) por meio de uma analogia a um conjunto de várias chaves, cada qual abrindo a fechadura de uma porta diferente.

Como alude Roy (1993, p. 194)iii, o caminho construtivista “consiste em considerar conceitos, modelos, procedimentos e resultados como sendo chaves capazes (ou não) de abrir certas fechaduras apropriadas (ou não) para organizar a situação ou causar seu desenvolvimento”. Os conceitos, modelos, procedimentos e resultados são vistos como ferramentas que instrumentalizam o processo de entendimento e a evolução de convicções em determinada problemática.

Conforme Roy (1993, p. 194)iv, no caminho construtivista, “a meta não é descobrir uma verdade existente externa aos atores envolvidos no processo, mas construir um conjunto de chaves que abrirão as portas para os atores e permitirão a eles atuar, progredindo de acordo com seus objetivos e sistemas de valores”.

Para o autor, do mesmo modo que para abrir uma série de fechaduras se faz necessário possuir várias chaves e saber lidar com elas de muitas formas, até encontrar a fechadura correspondente, não existe apenas um conjunto de ferramentas apropriadas para clarificar uma decisão, nem há um único caminho que seja o melhor para fazer uso delas (ROY, 1993).

Sobre isso, Roy (1993) explica que, na via construtivista, a seleção e o desenvolvimento dos conceitos, modelos e procedimentos devem estar explicitamente ligados às hipóteses de trabalho, que irão auxiliar no desencadeamento das recomendações para o problema. Roy (1993, p. 194)v ressalta que:

a seleção e desenvolvimento de chaves, isto é, os conceitos, modelos, procedimentos e até resultados (possivelmente deduzidos de um sistema axiomático), deveria ser (caso se queira poder submetê-los a uma discussão crítica) claramente conectada (em uma realidade logicamente deduzida) a uma ou várias hipóteses de trabalho. A busca por tais hipóteses de trabalho deveriam ser guiadas por um julgamento conveniente, que serve de base para

progredir em direção a certas convicções capazes de prover o que nós devemos chamar de uma recomendação.

No caminho construtivista, as recomendações não necessitam serem elaboradas dentro de uma aproximação da realidade ou da formalidade, como entidades pré-existentes. O conteúdo das recomendações pode ser resultado apenas das convicções construídas no curso do processo de múltiplas interações, com vários atores envolvidos, com base nas hipóteses convenientemente estabelecidas (ROY, 1993).

Isso exposto, da discussão sobre os três caminhos ou vias de conhecimento, anteriormente feita, Roy (1993) entoa as definições de ciência da decisão e ciência do apoio à decisão. No que tange à primeira delas, na concepção de Roy (1993, p. 199)vi:

o termo ciência da decisão designa uma ciência cujo propósito seria a procura por verdades objetivas nas tomadas de decisão e, mais particularmente, do conhecimento (se não preciso, então pelo menos aproximado) da melhor decisão dentro de um contexto dado, pelo uso de modelos apresentados como simplificações de realidade.

A ciência da decisão está, portanto, ancorada no caminho do realismo (pela questão da descrição e da procura da verdade), ao mesmo tempo em que, para validar o conhecimento produzido, encontra suporte na questão das normas, alicerçada no caminho axiomático (ROY, 1993).

Quanto à ciência do apoio à decisão, ela deve ser desenvolvida essencialmente dentro do caminho construtivista, em conjunção com (observadas certas restrições) o caminho axiomático. Roy (1993, p. 200)vii define-a nos seguintes moldes:

a ciência do apoio à decisão busca desenvolver uma rede de conceitos, modelos, procedimentos e resultados capazes de formar um corpo estruturado e coerente de conhecimento que possa agir (junto com o corpo de hipóteses) como chaves para guiar a tomada de decisão e comunicação de seus indivíduos em conformidade com seus valores e objetivos.

O objetivo do apoio à decisão, é, então, desenvolver um corpo de condições e meios que possam servir como referência para decisões melhores, segundo os sistemas de valores dos atores, em um conjunto de procedimentos, coerente e evolutivo, que coloca a ciência a serviço da elucidação de processos complexos, e não como um fim em si mesma (ROY, 1993).

Contextualizada a definição de apoio à decisão, o item seguinte o caracteriza como um sistema. Para tanto, discorre sobre seus dois subsistemas, o subsistema de atores e o subsistema de ações.