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1.2. OBJETIVOS E HIPÓTESES

1.3.3. UNIVERSO E AMOSTRA

1.3.3.2. CARACTERÍSTICAS SOCIODEMOGRÁFICAS DOS INQUIRIDOS

Na definição do perfil sociodemográfico dos participantes considerámos dois indicadores discriminatórios: o grupo profissional e a organização hospitalar.

Iniciaremos a análise considerando o grupo profissional. Do conjunto dos 231 profissionais que responderam ao inquérito a maioria eram médicos (69,3%). Os dois grupos profissionais (enfermeiros versus médicos) apresentavam diferenças estatisticamente significativas em termos de sexo, predominando o feminino (76,1% versus 35,7%), conclusão de doutoramento (0% versus 22,9%) e das habilitações literárias dos pais. Não se observaram diferenças relativamente ao hospital de exercício de funções (62% versus 68,1% do HSJ) e predominaram os participantes com idade entre os 55 e os 60 anos (92,6% versus 86,6%).

Quadro 4. Características sociodemográficas dos participantes por grupo profissional Enfermeiros Médicos N % N % Hospital HSJ 44 62,0 109 68,1 HSA 27 38,0 51 31,9 Sexo Masculino 17 23,9 103 64,4 Feminino 54 76,1 57 35,7 Idade (anos) 55 aos 60 63 92,6 123 86,6 61 aos 65 5 7,4 19 13,4

Habilitações literárias do próprio

Bacharelato/ Licenciatura/ Mestrado 63 100 123 77,4

Doutoramento 0 0,0 36 22,9

Habilitações literárias do pai

Ensino básico 46 78,0 59 39,9

Ensino secundário 7 11,9 27 18,2

Ensino superior 6 10,2 62 41,9

Habilitações literárias da mãe

Ensino básico 49 84,5 83 56,5

Ensino secundário 8 13,8 38 25,9

Ensino superior 1 1,7 26 17,7

Na informação do quadro anterior importa acrescentar o peso dos enfermeiros e médicos casados ou em união de facto (67,5% versus 75,5%), com nacionalidade portuguesa (100% versus 97,2%) e residência na Área Metropolitana do Porto (98,5% versus 97,3%), sobretudo no Porto onde se localizam os dois hospitais considerados.

Relativamente à família de origem – os pais, ou de pertença – com o cônjuge, importa atender em algumas semelhanças e diferenças entre grupos profissionais. Enfermeiros e médicos partilham a elevada percentagem de cônjuges na condição de empregados(as) (73,9% versus 81%) e na situação de trabalho por conta de outrem (78% versus 74,4%). Diferem, contudo, na condição de doméstico(a) (19,6% versus 3,2%) e de aposentado(a) (4,3% versus 15,1%). Naturalmente, a condição perante o trabalho dominante entre os pais dos inquiridos dos dois grupos profissionais é a de aposentado(a) a qual, no caso das mães, concorre com a de doméstica. Quanto à sua situação laboral, predomina a de trabalhador por conta de outrem, especialmente entre os pais, sendo uma parcela significativa das mães trabalhadoras familiares não- remuneradas (o que se coaduna com a condição de domésticas).

Importa ainda referir que da análise das profissões exercidas pelos cônjuges e progenitores apurámos que 89,5% dos primeiros e 31,3% dos pais (homens) dos médicos exercem uma profissão do grupo dos Especialistas das Profissões Intelectuais e Científicas. Entre os enfermeiros apenas 42,1% dos cônjuges exercem uma profissão do grupo anterior. Já entre os progenitores há uma grande distribuição pelos vários grupos de profissões, não obstante a relevância do grupo dos Trabalhadores Não Qualificados entre os pais (15,5%) (sendo 82,5% das mães domésticas).

A maioria dos médicos e enfermeiros são oriundos da classe dos Empresários, Dirigentes e Profissionais Liberais (EDL) (47,9% versus 41,9%).9 A análise das restantes situações revela importantes diferenças entre grupos profissionais. No caso dos médicos, a soma daqueles cuja classe de origem é de Profissionais Técnicos e de Enquadramento (PTE) com EDL totaliza 82,4%. Entre os enfermeiros, a classe de PTE tem uma importância residual, sendo os Agricultores Independentes e Operários Industriais aqueles que assumem maior relevância (18,6% em ambos os casos).

No que diz respeito à classe social de pertença dos médicos e enfermeiros inquiridos, a dos Ptrofissionais Técnicos e de Enquadramento é aquela que maior expressão assume (84,8% versus 83,7%).

Quadro 5. Indicadores familiares de classe de origem e de pertença dos participantes10

Enfermeiros Médicos

N % N %

Lugar de classe de origem

Assalariados Agrícolas 3 7,0 0 0,0

Agricultores Independentes 8 18,6 4 3,4

Empresários, Dirigentes e Profissionais Liberais 18 41,9 57 47,9

Empregados executantes 3 7,0 9 7,6

Operários industriais 8 18,6 4 3,4

Profissionais Técnicos e de Enquadramento 2 4,7 41 34,5

Trabalhadores Independentes 1 2,3 4 3,4

Total 43 100,0 119 100,0

Lugar de classe de pertença

Empresários, Dirigentes e Profissionais Liberais 7 16,3 21 15,2

Profissionais Técnicos e de Enquadramento 36 83,7 117 84,8

Total 43 100,0 138 100,0

9 No caso da mãe ser doméstica, apurámos o lugar de classe da família de origem com base na profissão e

situação nesta do pai.

10

A propósito da origem social dos médicos, Nuno Santos Jorge defende que o “recrutamento social desta classe profissional é bastante mais elevado e homogéneo do que em outras áreas do saber, o que é, em parte, uma consequência da excelência escolar estar fortemente associada à «excelência social»” (2000, p. 6). Inquéritos realizados por instituições de ensino superior portuguesas, nomeadamente os desenvolvidos pelo Observatório dos Novos Alunos da Universidade Nova de Lisboa e promovido pelo CEOS – Investigações Sociológicas, da Universidade Nova de Lisboa, bem como pelo Observatório do Emprego da Universidade do Porto, confirmam as elevadas origens sociais dos alunos de medicina – uma parte muito significativa destes descende de quadros superiores, pertencem a agregados familiares com elevados capitais económico e escolar. Daqui se conclui existir uma lógica de reprodução do capital escolar, social e económico da família de origem dos médicos em Portugal, características estas fortalecidas por via da união com indivíduos também de elevados capitais. É, ainda, de sublinhar que esta lógica se tem verificado ao longo de vários anos, mantendo-se atualmente tal como revelam os dados deste estudo.

Atentando no segundo indicador discriminatório, a organização hospitalar de exercício de funções (HSJ versus HSA), não se encontraram diferenças significativas entre os participantes em relação aos indicadores considerados no quadro anterior, com exceção da conclusão do doutoramento (21,9% versus 5,4%). Importa contudo referir que no HSJ apenas os médicos concluíram este grau académico.

A maior percentagem de profissionais do HSJ que indicou ter concluído um doutoramento poderá estar relacionada com a associação entre as organizações hospitalares em estudo e as duas escolas de medicina da cidade do Porto e, em consequência, das múltiplas funções exercidas pelos profissionais inquiridos. O HSJ e o HSA são dois hospitais universitários associados à FMUP e ao ICBAS, respetivamente. Assim, vários profissionais destas instituições dividem-se entre a prática clínica, a docência e a investigação. Para estes, a conclusão de um doutoramento reveste-se de grande importância por se constituir como uma importante etapa, ou mesmo como resultado, das funções de investigador, bem como se assume de grande importância para a atividade de docente. A atestar esta ideia está o facto de, quando questionados acerca das razões inerentes à conclusão de um doutoramento, a generalidade dos médicos que concluiu este grau de ensino indicou precisamente o interesse na prossecução e desenvolvimento da carreira docente na área da medicina no ensino superior (24 respostas em 35 casos de doutoramento).

Quadro 6. Descrição dos participantes por organização hospitalar HSJ HSA N % N % Grupo profissional 153 66,2 78 33,8 Enfermeiros 44 28,2 27 34,6 Médicos 109 71,2 51 65,4 Sexo Masculino 84 54,9 36 46,2 Feminino 69 45,1 42 53,8 Idade (anos) 55 aos 60 98 94,2 28 87,5 61 aos 65 6 5,8 4 12,5 Habilitações literárias

Bacharelato/ Licenciatura/ Mestrado 114 78,1 72 94,7

Doutoramento 32 21,9 4 5,3

Habilitações literárias do pai

Ensino básico 69 49,6 36 52,9

Ensino secundário 24 70,6 10 14,7

Ensino superior 46 33,1 22 32,4

Habilitações literárias da mãe

Ensino básico 84 20,1 48 70,6

Ensino secundário 31 22,6 15 22,1

Ensino superior 22 16,1 5 7,4

Traçado o perfil sociodemográficos dos participantes na nossa investigação, é momento de caracterizarmos as organizações hospitalares nas quais os mesmos exercem funções.