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1.4. ORGANIZAÇÕES HOSPITALARES

1.4.2. HOSPITAL DE SÃO JOÃO, EPE

A criação e desenvolvimento do HSJ está intimamente relacionada com a história do ensino médico na cidade do Porto. Importa recordar que no início do século XX existia na cidade a Escola Médico-Cirúrgica do Porto com instalações no HSA e em edifício contíguo. Apesar da importância desta escola para o ensino médico-cirúrgico da cidade e do país eram notórias as dificuldades ao desenvolvimento de um ensino de qualidade em consequência da falta de instalações adequadas para o efeito. Como resposta a esta necessidade, o Presidente do Conselho de Ministros, António de Oliveira Salazar, comunicou ao país em 1933 a construção de dois hospitais universitários em Lisboa e no Porto, anexos às respetivas faculdades de medicina (Ministério das Obras Públicas e Comunicações, 1933). Era intuito do Estado que os dois hospitais estivessem orientados simultaneamente para o ensino e investigação e para a assistência hospitalar. Em 1955 o DR 40/303, de 3 de setembro, definiu que o já edificado Hospital Escolar do Porto passaria a designar-se como HSJ ganhando, assim, “o nome do Santo patrono da Ordem Soberana e Militar Hospitalária de São João de Jerusalém, de Rodes e de Malta, fundada no século XI, na Terra Santa” (Gomes, 200947).

O diploma orgânico do HSJ foi publicado em 1958. Tinha expresso os princípios de cooperação e complementaridade com o HSA além da obrigatoriedade de garantia de condições adequadas de ensino à FMUP. Definia ainda a autonomia técnica e administrativa do hospital e as regalias concedidas aos demais estabelecimentos oficiais de assistência hospitalar. O administrador responsável respondia diretamente ao Ministro do Interior e a direção técnica ficou a cargo do diretor de serviços clínicos,

auxiliado por diretores e chefes de serviço. O referido DR indicava também que o HSJ seria constituído por serviços administrativos, clínicos, farmacêuticos e de enfermagem, devendo assegurar “a assistência a doentes tanto em casos de urgência como em regime de internato, de consulta externa e de tratamento no domicílio” (Gomes, 2009, p. 48).A inauguração oficial deste hospital ocorreu a 24 de junho de 195914.

Em 1968 foi publicada a Lei da Organização Hospitalar (Ministério da Saúde e da Assistência, 1968a) e o Regulamento Geral dos Hospitais (Ministério da Saúde e da Assistência, 1968b) segundo os quais passariam a ser designados por “escolares” os hospitais que possibilitassem às faculdades o desenvolvimento de atividades de ensino e investigação, não obstante o reconhecimento das limitações que podem advir das atividades de assistência hospitalar e saúde pública também exercidas por estas instituições. A legislação era, todavia, confusa no que respeita aos órgãos de governo dos hospitais e às suas competências, bem como ao tipo de relacionamento com as faculdades. Em consequência, os hospitais escolares passaram a exercer as suas atividades de ensino/investigação e assistência sem a devida clarificação de como estas duas vertentes se deveriam organizar e articular e, ainda, de como se processaria a organização com os dois organismos de tutela: o Ministério da Educação e o Ministério da Saúde (Gomes, 200979).

A sobrelotação provocada pela abertura do serviço de urgência do hospital e a massificação do ensino universitário durante a década de 1970, evidenciaram as limitações físicas das instalações do HSJ e da FMUP. Apesar disso vários novos serviços foram abertos nos anos que se seguiram acompanhados, em alguns casos, pela construção de novos estruturas15.

14 Os seus serviços estavam organizados em unidades clínicas constituídas por uma enfermaria de oito

camas, duas de seis e outras duas de três camas, além de um quarto com uma única cama, com uma capacidade total para vinte e sete doentes. Estas unidades possuíam ainda uma sala de tratamento, uma sala de trabalho, uma copa, uma sala de estar/refeitório, um gabinete médico, um pequeno laboratório e serviços de higiene. Comportavam, igualmente, laboratórios de análises de salas de Raio X e salas para consultas externas de Medicina, Cirurgia e especialidades médicas. O hospital tinha também dezoito salas de operações, quatro das quais permitiam a observação a partir de um andar superior para efeitos de ensino.

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Em 1970 foi criado o Hospital de Dia de Psiquiatria vocacionado para a prevenção e tratamento do doente mental sem necessidade do seu internamento. No final de 1971, o Conselho de Administração do hospital estabeleceu como prioridade a abertura dos Serviços de Internamento em Psiquiatria – que só viria a acontecer em 1978, de Cirurgia Vascular, das secções de Nefrologia, Dermatologia Clínica e de Prematuros (Pediatria) e da Unidade Coronária, reivindicando-se, da mesma forma, a construção de instalações adequadas para o funcionamento dos serviços de Traumatologia, de Ortopedia e de consultas externas. Muitos destes objetivos prioritários foram apenas concretizadas após o 25 de Abril de 1974. Exceção feita ao serviço de Traumatologia, inaugurado em 1973, como consequência da decomposição do serviço de Orto traumatologia. Os serviços de Ortopedia e de Traumatologia passaram, então, a

A nova administração do hospital foi responsável pela criação, em 2002, de novas Unidades de Cuidados Intensivos (Infeciologia e Neurocirurgia) e de Cuidados Intermédios (nos departamento de Cirurgia e Medicina e nos serviços de Cardiologia). Foi responsável, ainda, pela abertura das Unidades de Acidentes Vasculares Cerebrais e de Doente Neutro pénicos. Em 2003, entrou em funcionamento o Hospital de Dia não Oncológico e a Unidade de Queimados

Em 2005 o Conselho de Ministros aprovou o DR 233/2005, de 29 de dezembro, que alterou o estatuto jurídico do HSJ para entidade pública empresarial (Ministério da Saúde, 2005). Esta medida teve como objetivo submeter algumas “unidades do Serviço Nacional de Saúde a um regime jurídico que, atendendo ao serviço público por elas prestado, permitisse uma maior intervenção ao nível das orientações estratégicas de tutela e superintendência, a exercer pelos Ministros das Finanças e da Saúde” (Gomes, 2009129) criando-se, então, condições para uma gestão autónoma destas instituições hospitalares.

A transformação em entidade pública empresarial constituiu um marco no processo de reorganização interna da organização e um investimento nas suas

funcionar autonomamente, à semelhança da sua configuração inicial aquando da inauguração do hospital em 1959. O serviço de Nefrologia nasceu em 1977 e um ano depois iniciou-se o funcionamento do serviço de Internamento em Psiquiatria. No mesmo ano, criaram-se os serviços de Imunologia, de Cirurgia Torácica e de Pneumologia. Em 1979 entrou em funcionamento a Unidade Coronária para o acompanhamento e tratamento dos doentes cardíacos agudos. Nos anos que se seguiram, mais unidades e serviços entraram em funcionamento: em 1983 foi inaugurada a Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais; em 1984 o serviço de Cirurgia Plástica e Reconstrutiva; em 1986 o serviço de Urgência Pediátrica autonomizou-se do serviço de Urgência; em 1997 constitui-se a primeira Comissão de Ética do hospital, iniciativa de carácter inédito entre as organizações hospitalares portuguesas; em 1989, com natureza pioneira, foi criado o Centro de Cirurgia Torácica, em funcionamento nas mesmas instalações e com recurso ao mesmo equipamento e pessoal do restante hospital, diferenciando-se apenas pela sua autonomia económico-financeira em relação. Esta diferenciação na estrutura organizativa foi possível graças à Lei de Gestão Hospitalar que tornou “possível criar, dentro dos hospitais estatais, estruturas com quadro de pessoal próprio, geridas segundo um regulamento interno e autorizadas a exercer, simultaneamente, medicina pública e privada”. Com esta lei surgiram, então, os Centros de Responsabilidade e de Custos.

Apesar das limitações orçamentais surgiu em 1989 uma Unidade de Cuidados Intensivos. Em 1991 entrou em funcionamento o Centro de Fertilização in vitro. No mesmo ano começou a ser utilizado um pré- fabricado para consultas externas dos serviços de Neurologia, de Neurocirurgia, de Anestesia e da Dor. Mais tarde, foram possibilitadas consultas externas, ainda neste pavilhão, para os serviços de Medicina Interna, de Imunoalergologia, de Endocrinologia e de Nefrologia. Em 1993 foi inaugurada a Unidade de Recobro Operatória da Cirurgia Programada, as instalações do serviço de Estomatologia e o Hospital de Dia de Oncologia. Em 1994 abriu o serviço de Radioterapia. Até ao final da década de 1990, foi concluída a construção do bloco operatório central, do bloco de partos, do internamento de Obstetrícia, da Unidade de Neonatologia, das instalações para triagem, da sala de Orto traumatologia (no Serviço de Urgência), e foi reformulada a Unidade Coronária, o Hospital de Dia de Doenças Infeciosas, a Cirurgia Ambulatória, a Central de Colheitas, a Unidade de Hematologia Clínica, os Cuidados Intensivos em Cardiologia, a Unidade de Neurologia Pediátrica, o serviço de Medicina Nuclear e a Unidade de Neutro pénicos.

infraestruturas, tendo em vista melhores condições para os seus utentes e profissionais. Em consequência, as suas áreas de ação médica passaram a ser organizadas em seis Unidades Autónomas de Gestão (UAG): Meios Complementares de Diagnóstico e Terapêutica; Medicina; Cirurgia; Mulher e da Criança; Urgência e Cuidados Intensivos; Saúde Mental. As UAG têm como objetivo “assegurar ampla autonomia e responsabilização na gestão dos recursos financeiros, humanos e tecnológicos das diferentes áreas da organização hospitalar, tendo em vista o incremento da qualidade, rapidez e eficiência dos serviços assistenciais” (Gomes, 2009131). Além das UAG, a estrutura orgânica do HSJ compõe-se por um conselho de administração, por um grupo de Órgãos e Comissões de Apoio Técnico, Serviços e Órgãos de Acão Médica, Serviços de Suporte à Prestação de Cuidados, Serviços de Gestão e Logística, Serviços e Órgãos de Suporte ao Conselho de Administração pela Direção do Internato Médico e por uma Comissão Mista HSJ/FMU (Centro Hospitalar do João, 2006). Em 2008 foi inaugurada a nova Urgência Pediátrica, além da Unidade de Diagnóstico de Patologia Mamária. O HSJ oferece quotidianamente assistência em 33 especialidades médicas e cirúrgicas16.

O DR 30/2011 de 2 de março definiu a criação, a partir de 1 de abril de 2011, do CHSJ em resultado da fusão de duas unidades hospitalares: o HSJ e o Hospital de Nossa Senhora da Conceição. Desde então, as duas unidades iniciaram um processo de integração gradual cujo desenvolvimento permite, no presente, afirmar o sucesso dessa mesma integração (Centro Hospitalar de São João, 2012). O CHP presta assistência direta a quatro freguesias da cidade do Porto (Bonfim, Paranhos, Campanhã e Aldoar) e aos concelhos da Maia e Valongo. É, ainda, a referência para o distrito do Porto (com exceção dos concelhos de Baião, Amarante e Marco de Canaveses) e, no contexto das Redes de Referenciação Hospitalar, para os distritos de Braga e Viana do Castelo. Considerando a sua tecnologia e recursos humanos, o Centro Hospitalar de São João é ainda referência para cidadãos com residência mais distante. Segundo os dados do

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Anestesiologia, Cardiologia, Cardiologia Pediátrica, Cirurgia Geral, Cirurgia pediátrica, Cirurgia Plástica e Maxilo-Facial, Cirurgia Torácica, Cirurgia vascular, Cuidados Intensivos, Cuidados Paliativos, Dermatologia, Doenças Infeciosas, Endocrinologia, Estomatologia, Gastrenterologia, Ginecologia e Obstetrícia, Hematologia Clínica, Hematologia e Oncologia Pediátrica, Imunoalergologia, Medicina Interna, Nefrologia, Neonatologia, Neurocirurgia, Neurologia, Oftalmologia, Oncologia, Ortopedia e Traumatologia, Otorrinolaringologia, Pediatria Médica, Pneumologia, Psiquiatria, Reumatologia e Urologia. Dispõe. Tem ainda um conjunto de meios complementares de diagnóstico e terapêutica, a saber: Anatomia Patológica, Patologia Clínica, Imunohemoterapia, Radioterapia, Radiologia, Medicina Nuclear, Medicina Física e de Reabilitação, Neurorradiologia e Neurofisiologia. O HSJ é, em algumas situações, a última instância para alguns tratamentos e diagnósticos. Em edifício complementar ao edifício principal do hospital, funcionam o serviço de Instalações e Equipamentos e o centro de Ambulatório, que inclui consultas externas, os Hospitais de Dia e a Unidade de Cirurgia do Ambulatório.

Relatório e Contas de 2011 (2012), na globalidade, o CHSJ tinha, em 2011, uma lotação máxima de 1133 camas (1076 no polo do HSJ e 57 no polo de Valongo). No mesmo ano, saíram deste Centro 31 892 doentes.

O HSJ mantém a sua ligação à FMUP a qual, de resto, continua a ocupar as mesmas instalações do hospital, em regime de condomínio Em 2012, as instalações da FMUP foram ampliadas com a construção do Centro de Investigação Médica (CIM- FMUP), um complexo de três edifícios que acolhem, nomeadamente, laboratórios, auditórios, salas de aulas e uma biblioteca. Um dos edifícios é por inteiro dedicado à investigação básica, acolhendo os departamentos de Bioquímica, farmacologia, Fisiologia e Biologia Experimental. Num outro encontram-se os auditórios e espaços de lazer ou estudo. O terceiro acolhe os departamentos de Ciências da Informação e Decisão em Saúde, Epidemiologia, Medicina Preditiva e Saúde Pública e, ainda, os Serviços de Clínica Geral e Bioética. A importância atribuída ao ensino e à investigação está patente na sua missão: “prestar os melhores cuidados de saúde, com elevados níveis de competência, excelência e rigor, fomentando a formação pré e pós-graduada e a investigação, respeitando sempre o princípio da humanização e promovendo o orgulho e sentido de pertença de todos os profissionais.” (Centro Hospitalar do Porto, 2012). São, de facto, vários os projetos de investigação, os estudos e as publicações de equipas desta organização. Destaca-se, ainda, a sua ligação a várias organizações de prestação de cuidados de saúde, nomeadamente outros centros hospitalares, unidades locais de saúde, hospitais e o Instituto Português de Oncologia do Porto, a par da celebração de protocolos de cooperação com diversas entidades.

CAPÍTULO II

O envelhecimento corresponde a uma fase da vida dos indivíduos marcada por um múltiplo conjunto de transformações que ocorrem ao nível do corpo, das capacidades cognitivas, do comportamento, das auto e hétero representações e dos objetivos e expetativas de vida dos individuos. Constitui-se, portanto, como um fenómeno de amplo espectro e múltiplos impactos ao nível biológico, psicológico e social. O carácter multidimensional do envelhecimento tem justificado o interesse de várias ciências no seu estudo, desde a medicina, a economia e a sociologia. Em consequência, as últimas décadas têm sido marcadas por importantes avanços no conhecimento científico sobre o envelhecimento dos quais se destaca um aumento crescente da produção sociológica sobre o tema. Também conscientes da abrangência de efeitos do envelhecimento, tanto para o individuo como para as sociedades e especialmente ao nível do encargos com a proteção social prestada a um número crescente de idosos, os Estados e as organizações supranacionais, como a UE-27, iniciaram no final do século XX um amplo debate acerca das origens e consequências do envelhecimento populacional do qual têm resultado vários encontros e documentos de orientação e intervenção.

Neste capítulo começaremos precisamente por discutir as dimensões biológica, psicológica e social do envelhecimento passando, depois, para a apresentação e reflexão sobre os principais quadros teóricos de análise a este fenómeno e terminamos com a discussão do envelhecimento ativo enquanto paradigma dominante das estratégias de intervenção ao nível do envelhecimento.

2.1. DIMENSÕES DO ENVELHECIMENTO: BIOLÓGICA, PSICOLÓGICA