• Nenhum resultado encontrado

1.4. ORGANIZAÇÕES HOSPITALARES

1.4.1. HOSPITAL DE SANTO ANTÓNIO, EPE

Até finais do século XVIII existia na cidade do Porto o Hospital - Albergaria de Roque Amador, sob responsabilidade da Câmara Municipal do Porto até 1521. Neste ano, por ordem de D. Manuel I, a sua gestão passou para a Santa Casa da Misericórdia. Em 1605 foram iniciadas obras de ampliação financiadas por uma doação de D.

Lopo de Almeida, mecenas que viria a dar o seu nome ao hospital aquando da sua conclusão em 1689. No ano de 1641,teve início o ensino de cirurgia neste hospital, ainda que o mesmo não estivesse suportado num plano de estudo oficialmente definido pelo que os conteúdos ministrados eram de responsabilidade dos cirurgiões (Centro Hospitalar do Porto, 2007).

Com o desenvolvimento da cidade do Porto, e com o crescimento da sua população, tornou-se cada vez mais notória a necessidade de um hospital com capacidade para mais doentes e com melhores condições. A Misericórdia do Porto não dispunha, contudo, de verbas para financiar tal projeto, pelo que se iniciou um movimento de recolha de donativos junto de ilustres da cidade com vista à edificação de um novo hospital (Bastos, 1931).

A construção do que seria depois designado por HSA iniciou-se em 1770 com o intuito de substituir o Hospital D. Lopo de Almeida. Ao arquiteto inglês John Carr foi pedido um edifício amplo e de grandes dimensões. Em finais de 1799 foi concluída a construção da ala sul do edifício, o qual começou a receber de imediato os primeiros doentes. As obras sofreram, contudo, um significativo atraso em consequência das invasões francesas e das dificuldades colocadas pela própria geografia do terreno o que adiou a conclusão da construção do hospital para 1824. As condições do terreno, muito pantanoso, marcaram o ritmo da construção nos anos que se seguiram, tendo sido mesmo motivo para que, em 1857, o Conselho Médico do Hospital tenha considerado o edifício como inapropriado para o tratamento de doentes, recomendando a construção de um novo hospital. Contudo, este manteve-se em funcionamento, continuando a receber e a tratar doentes (Centro Hospitalar do Porto, 2007).

Durante a construção deste edifício de arquitetura neoclássica foram realizadas várias alterações ao projeto inicial, em consequência dos custos muito elevados da obra. O hospital foi, então, construído sem a fachada traseira e com redução das alas sul e norte. Assim, além da sua importância em termos da prestação de cuidados na cidade do Porto, o HSA marcou, também, a arquitetura do Porto (IGESPAR, 2012).

Em inícios do século XIX a educação médica em Portugal “sofria […] os efeitos deletérios da hegemonia da Universidade de Coimbra”, cujo ensino era acusado de ser «teorizante»” (Costa cit. por Gomes, 200911). Em consequência, o Cirurgião-Mor do Reino convenceu o rei D. João VI da necessidade da criação de duas escolas de cirurgia no país: uma em Lisboa, no Hospital de São José, e outra no Porto, no HSA. Em 25 de

Porto. A criação destas duas escolas cirúrgicas marcou profundamente a formação em cirurgia em Portugal11 dando início a uma forte ligação entre o HSA e o sistema de ensino médico em Portugal.

Em consequência do golpe de Estado de 1836, a Revolução de Setembro, Manuel da Silva Passos - conhecido por Passos Manuel, tornou-se ministro do reino e iniciou a reorganização do ensino médico no país. Por sua ação, as Escolas Régias de Cirurgia de Lisboa e do Porto passaram a designar-se Escolas Médico-Cirúrgicas, apesar de não se constituírem ainda enquanto faculdades e não possuírem um hospital universitário, ao contrário do que acontecia com o ensino médico em Coimbra.

A localização da Escola Médico-Cirúrgica do Porto na ala nascente do HSA constituía um entrave ao desenvolvimento do ensino médico na cidade. Havia falta de espaço e de equipamentos necessários ao ensino, nomeadamente um teatro anatómico e uma biblioteca. Ainda assim, em 1866 o curso de medicina aqui ministrado foi equiparado ao da Universidade de Coimbra o que permitiu aos alunos da primeira a certificação da sua formação e, consequentemente, a igualdade de direitos em relação à restante classe médica portuguesa da época.

O problema da falta de espaço, impeditivo do bom funcionamento das atividades da Escola, foi solucionado em 1883 com a construção de um novo edifício, em frente ao HSA, onde passaria a funcionar a Escola Médico-Cirúrgica do Porto12. Em 1911, por DR do Governo Provisório da República, a Escola Médico-Cirúrgica do Porto, à semelhança Escola de Lisboa, foi elevada à categoria de faculdade, procedendo-se à sua integração na Universidade do Porto, instituição criada no mesmo ano. Esta mudança no estatuto da Escola acarretou também mudanças ao nível da formação em Medicina (Santos, 1996). Até então, existiam os chamados preparatórios médicos, com duração de cinco anos, ciclo a que se seguia a realização de cinco disciplinas na Academia Politécnica, na Faculdade de Filosofia da Universidade de Coimbra, ou na Escola Politécnica de Lisboa. A formação em Medicina tinha então uma duração de seis anos e terminava necessariamente com uma tese doutoral.

11

Até então grande parte dos profissionais que exerciam funções de cirurgia (sangradores, dentistas, algebristas, boticários, parteiras e emplastadeiras) marcada pela falta de formação científica e pela inexperiência. Acresce que, não raras vezes, a realização de um exame para acesso a funções de cirurgia não passava de uma mera formalidade.

12

Algumas áreas de estudo, como a Anatomia e a Fisiologia, foram transferidas para as novas instalações, ainda que o ensino da Medicina e da Cirurgia se tenha mantido nas antigas instalações do HSA, não existindo acesso aos serviços de ambulatório e de urgência.

Após a reforma de 1911 o plano de ensino em medicina foi alterado. Terminaram os preparatórios médicos e houve uma forte aposta na vertente prática da aprendizagem, por via da obrigatoriedade de frequência das aulas práticas, e no trabalho em laboratório e em clínica. As disciplinas que compunham o ciclo de estudo dividiam- se em dois grupos e, cada um destes, em cursos, lecionados por professores ou primeiros-assistentes, e cadeiras, lecionadas por professores ordinários e extraordinários. O ciclo de formação foi dividido em dois momentos: no primeiro eram ministradas as disciplinas consideradas basilares à formação médica; no segundo, os alunos passavam aos hospitais e outras organizações de saúde para aí poderem aplicar e desenvolver conhecimentos. O término do curso passou a estar dependente da realização de um estágio prático complementar que atribuía aos estudantes o título de bacharel. A realização de uma tese, antes obrigatória, tornou-se apenas necessária aos alunos que pretendessem o grau de doutor. Ocorreu, então, uma importante mudança no ensino da Medicina e Cirurgia em Portugal.

Nos anos subsequentes tornou-se clara a necessidade de novas medidas com vista à melhoria do ensino ministrado. O Governo nomeou então uma comissão de trabalho com o objetivo de apresentar medidas de melhoria do ensino. Em resultado do seu trabalho, em 1918 procedeu-se a uma nova organização do ensino médico, nomeadamente ao nível da composição do corpo docente, das disciplinas lecionadas, do intercâmbio cultural e científico e de uma maior aposta na vertente prática.

Ao longo das décadas que se seguiram, o HSA manteve um papel central na prestação de cuidados de saúde no Porto e no Norte do país, em simultâneo com a sua contínua ligação ao sistema de ensino médico e de investigação científica. Esta última dimensão materializa-se por via da sua ligação ao curso de Medicina do ICBAS. Esta instituição de ensino foi criada em 1975 por um grupo de personalidades da Universidade do Porto com inspiração no pensamento e obra de Abel Salazar, seu patrono. Desde a sua criação que o ICBAS assumiu o seu carácter multidisciplinar e multiprofissional na área das Ciências da Vida sob o lema de que “um médico que só sabe Medicina nem Medicina sabe”.

O crescimento e desenvolvimento do HSA ao longo dos anos evidenciou a falta de espaço para responder adequadamente às necessidades dos seus serviços e utentes. Assim, entre 1993 e 1998 foi construída uma nova ala no hospital que veio complementar as instalações até então existentes, ocupando o espaço vago pela não

construção do inicialmente projetado. A opção recaiu, contudo, num edifício moderno e com melhores condições de atendimento aos utentes.

O ano de 2007 constituiu um novo marco para este hospital pela publicação do Decreto-Lei nº. 326/2007, de 28 de setembro, o qual definiu que o HSA, a Maternidade Júlio Dinis e o Hospital Central Especializado de Crianças Maria Pia passariam a constituir o Centro Hospitalar do Porto, E.P.E.. Em abril de 2011 o Hospital Joaquim Urbano foi também integrado neste Centro Hospitalar. O CHP foi criado com o estatuto jurídico de E.P.E. entendido enquanto “o modelo mais adequado à gestão das unidades de cuidados de saúde diferenciados, na medida em que compatibiliza a autonomia de gestão com a sujeição à tutela governamental” (Decreto-Lei nº. 326/2007)

A área de influência atual do HSA abarca todas as freguesia da cidade do Porto, com exceção de Paranhos, Campanhã e Bonfim, e pelo concelho de Gondomar. O HSA é também a organização de saúde de referência para os distritos do Porto, Bragança e Vila Real, para os concelhos de Amarante, Baião, Marco de Canaveses e aqueles a sul do Douro pertencentes aos distritos de Aveiro e Viseu. Em 2011, este hospital foi a organização hospitalar de influência e referência para 881 844 habitantes das áreas indicadas. Considerando todos os hospitais que compõem o CHP este número aumenta para 2 991 624 milhões de pessoas (Centro Hospitalar do Porto, 2012).

O HSA está organizado em departamentos e centros de responsabilidade que constituem “unidades funcionais com objetivos próprios, integrados nos objetivos definidos para o Centro Hospitalar do Porto” (Centro Hospitalar do Porto, 2007). Os departamentos estão divididos em serviços e estes, por sua vez, em unidades funcionais13. É constituído por um conselho de administração ao qual reportam variadas comissões de apoio técnico. Tem, ao mesmo nível, a figura de um fiscal único e um conselho consultivo. Sob alçada do conselho de administração estão, ainda, os departamentos/serviços clínicos, a área de gestão e logística, os serviços de suporte e prestação de cuidados e o departamento de ensino, formação e investigação.

O HSA partilha a missão do Centro Hospitalar do Porto, ou seja, alcançar “a excelência em todas as suas atividades, numa perspetiva global e integrada da saúde [centrando-se] na Prestação de Cuidados que melhorem a saúde dos doentes e da

13 O HSA comporta os seguintes departamentos: Medicina; Cirurgia; Doenças do Sistema Nervoso e

Órgãos dos Sentidos; Orto fisiatria; Anestesiologia; Cuidados Intensivos e Emergência; Patologia Laboratorial; Imagiologia; Ambulatório; Conselho de Transplantação; Mulher e Neonatologia; Infância e Adolescência; Pedopsiquiatria e Saúde Mental da infância e da Adolescência; Bloco Operatório; Serviço de Urgência; Psiquiatria de Ligação e Psicologia da saúde; Gestão de Altas e Cuidados Continuados; Ensino, Formação e Investigação.

população, em atividades de elevada diferenciação e no apoio e articulação com as restantes instituições de saúde [e privilegiando e valorizando] o ensino pré e pós- graduado e incentiva a investigação com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento da ciência e tecnologia da saúde” (Centro Hospitalar do Porto, 2012). Na missão do Centro está patente a sua relação e, por associação, do HSA com outras organizações de saúde – centros hospitalares, unidades locais de saúde e hospitais, através de atividades de parceria e cooperação.