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Partilhamos a perspetiva de Guillemard (2010) de que a discussão sobre o envelhecimento deverá atender à evolução de três fatores interdependentes que constituem três dimensões centrais de análise: mercado de trabalho, sistemas de proteção social e a organização do ciclo de vida.

A principal resposta à evolução das dinâmicas demográficas, no sentido do envelhecimento populacional, tem sido dada ao nível do mercado de trabalho (Gonçalves; Dias, 2008). Exemplo disso tem sido a definição e reformulação da Estratégia Europeia de Emprego que a partir do início do século XXI passou a incluir uma diretiva específica para a promoção do envelhecimento ativo e para o aumento da participação dos trabalhadores mais velhos no mercado de trabalho. O aumento da taxa de emprego dos indivíduos mais velhos, particularmente entre os 55 e os 64 anos, e o prolongamento do tempo de trabalho, através do adiamento da idade de saída do mercado de trabalho, são entendidos pelo UE-27 como os principais meios para a garantia de um crescimento económico sustentado que possa, pelo menos em parte, atenuar os encargos financeiros decorrentes do envelhecimento demográfico.

As medidas adotadas em concreto ao nível da passagem à aposentação têm-se focado na insustentabilidade económica da atual configuração dos sistemas de proteção social. Para melhor caracterizarmos as contas da proteção social em Portugal utilizamos como indicadores a despesa total com proteção social e com as pensões por velhice, tanto em volume absoluto, sobre o PIB, per capita e por indivíduo ativo.

A análise do andamento da despesa portuguesa com a proteção social ao longo das últimas décadas evidencia o aumento dos encargos com as prestações de proteção social. Entre 1995 e 2010, o valor absoluto de despesa com estas prestações triplicou, passando de 8 225,6 para 24 564,7 milhões de euros. Se atentarmos apenas nos encargos com o pagamento de pensões por velhice notamos que em 1995, 65,4% do valor afeto às pensões de proteção social foi alocado ao pagamento daquela rubrica. Cerca de uma década depois, Portugal já registava um aumento na ordem do dobro da despesa com o pagamento das pensões aos mais velhos. Os dados mais atuais relativos a 2010, indicam que 74,2% da despesa com pensões de proteção social foi destinada à rubrica de pensões por velhice, num total de 18 226,1€. O gráfico abaixo mostra inequivocamente o aumento gradual e contínuo dos encargos com o pagamento de prestações sociais, no seu todo e por velhice, entre 1995 e 2010.

Gráfico 3. Despesa absoluta com proteção social com pensões em Portugal (milhões €)

Fonte: INE, 2012.

O aumento absoluto dos encargos com o pagamento de pensões resultou numa maior pressão sobre as contas nacionais na medida em que o crescimento da riqueza portuguesa não acompanhou a evolução dos encargos com esta rubrica. Em consequência, ao longo das últimas décadas o montante destinado ao pagamento de pensões tem representado uma proporção crescente face ao PIB nacional. Em 1995, cerca de 9% do PIBpm nacional era destinado ao pagamento de pensões de proteção social. As despesas com o pagamento de pensões por velhice representavam cerca de 6% da riqueza bruta nacional. Deste então, tem-se observado um contínuo e gradual aumento da proporção da despesa com proteção social sobre o PIBpm. Em 2010 a despesa total com proteção social representava 14% do PIB nacional e aquela referente às pensões por velhice aproximadamente 10%. De uma análise atenta do gráfico abaixo apresentado observa-se que em 2007 e 2009 houve um aumento expressivo da despesa total e com pensões de velhice. Entendemos este aumento como resultado da corrida às aposentações que se verificou neste período em consequência das alterações operadas ao nível do Estatuto da Aposentação nomeadamente ao nível do adiamento da idade mínimo de passagem à mesma e à alteração da fórmula de cálculo das pensões. Em consequência, vários trabalhadores optaram pela aposentação (antecipada) por forma de evitarem as alterações produzidas ou mesmo que outras novas fossem produzidas.

Gráfico 4. Despesa com proteção social com pensões em Portugal em proporção ao PIBpm (%)

Fonte: INE, 2012.

Uma análise mais fina da evolução da despesa com proteção social revela que o aumento observado nestes encargos traduziu-se também num aumento desta rubrica per capita e por indivíduo ativo. Esta situação é resultado da combinação do aumento destes encargos com um crescimento populacional português praticamente nulo, o que significa que uma maior despesa é distribuída por um número relativamente estável de portugueses o que faz com que cada um suporte uma parcela tendencialmente maior da despesa.

Além disso, a diminuição da população ativa, resultante de uma baixa fecundidade e do consequente menor potencial de indivíduos ativos no futuro, associado a um aumento absoluto e relativo dos mais velhos e inativos, resulta num aumento gradual da despesa com proteção social por indivíduo ativo.

Quadro 19. Despesa com proteção social com pensões em Portugal per capita e por indivíduo ativo (€)

Anos Per capita Por indivíduo ativo

Total Velhice Total Velhice

1995 819 535 1 808 1 182 1996 893 583 1 963 1 281 1997 961 617 2 091 1 344 1998 1 054 682 2 100 1 359 1999 1 129 757 2 240 1 503 2000 1 249 835 2 451 1 638 2001 1 360 924 2 638 1 793 2002 1 473 1 012 2 835 1 949 2003 1 559 1 080 2 990 2 072 2004 1 689 1 184 3 241 2 271 2005 1 795 1 289 3 422 2 458 2006 1 910 1 370 3 624 2 598 2007 2 010 1 437 3 799 2 715 2008 2 137 1 558 4 037 2 943 2009 2 237 1 650 4 263 3 144 2010 2 309 1 713 4 402 3 266 Fonte: INE, 2012.

No caso da saúde espera-se também um aumento da pressão financeira com os encargos decorrentes da prestação de cuidados de saúde. Do ponto de vista demográfico, o aumento da esperança de vida, o necessário reforço dos cuidados geriátricos, o desenvolvimento de “novas” doenças e a acentuação dos gastos com saúde, concentração dos recursos combinados com fatores ligados à produtividade, nomeadamente ao nível do progresso tecnológico, à medicina defensiva e à tecnologia mais cumulativa constituirão importantes desafios e encargos económicos (Félix, 2002). As transformações no mercado de trabalho em Portugal são historicamente tributárias de processos de reconfiguração além do envelhecimento da sua população ativa. Este sofreu os efeitos da entrada da mulher no mundo do trabalho, de um mais fácil acesso à escola e ao consequente aumento da escolaridade da população, à terciarização das atividades laborais, à proliferação de formas atípicas e tendencialmente mais flexíveis e instáveis de trabalho, ao aumento das taxas de desemprego, transformações enformadas num quadro de desigualdades salariais com base, nomeadamente, no género (Gonçalves, 2009; Rodrigues, 2007).

O envelhecimento da mão-de-obra é hoje entendido enquanto um elemento determinante das dinâmicas do mercado de trabalho a nível europeu, não obstante o reconhecimento das especificidades de cada país membro (Lopes; Gonçalves, 2012). As

consequências políticas, económicas e sociais do envelhecimento demográfico colocam- no atualmente na ribalta das estratégias políticas nacionais e supranacionais em dois principais níveis: na definição e implementação de estratégias de promoção do emprego, sobretudo entre os trabalhadores mais velhos; na procura de soluções face à insustentabilidade das configurações vigentes até muito recentemente dos regimes de proteção social e de pensões atendendo aos elevados encargos associados ao apoio aos mais velhos (nomeadamente pela prestação de cuidados de saúde) e ao pagamento de prestações de aposentação a um número crescente de indivíduos com uma esperança média de vida também em evolução.

O processo de envelhecimento indivídual e social significou também uma alteração da lógica geracional dominante durante décadas, a qual se baseava na premissa de que o sistema de proteção social era sustentado por uma “passagem de testemunho” entre gerações: a população ativa financiava o pagamento de pensões à população inativa reformada na expetativa da população inativa jovem, que a antecede financiar depois o pagamento das suas pensões. Contudo, o futuro será marcado por uma quebra desta lógica acompanhado por uma certeza: os custos serão tendencialmente maiores e os benefícios incertos e em ordem decrescente.

Ao transmitir representações sobre o papel de cada grupo etário para a harmonia entre gerações, a lógica de solidariedade intergeracional assegurava a própria identidade de cada geração (Mendes, 2005b). Todavia, a diminuição da população ativa e o simultâneo aumento absoluto e proporcional dos mais velhos e inativos tornaram necessário um novo contrato social entre gerações para mitigar os novos riscos sociais oriundos de trajetórias sociais descontínuas e incertas (Guillemard, 2003). Trata-se, portanto, de alcançar um novo modelo de relação intergeracional num contexto de uma “nova incerteza” que, ao nível das relações laborais, tendencialmente mais flexíveis, ocorra por duas vias: (i) a concessão de um lugar central ao indivíduo e à sua requalificação no mercado que assegure a sua trajetória profissional, sendo aqui secundário o papel do Estado; (ii) por via de uma fórmula de direitos sociais (através do subsídio de desemprego, formação, inatividade, etc.) ou de mercados transitórios, privilegiando as regulações coletivas e a coordenação entre diferentes atores, como o Estado, sendo então mais relevante o papel deste.

O novo panorama do envelhecimento demográfico implica uma partilha dos riscos sociais do envelhecimento (nomeadamente da doença, da dependência, da falta de

a estes riscos não se podem basear numa “segmentação artificiosa das respostas” mas sim na “integração das eventualidades sociais [e não na] sua compartimentação” (Félix, 2002). Torna-se também necessária uma nova configuração do Estado- Providência que providencie respostas integradas para o envelhecimento e de sensibilização da população para a realidade do envelhecimento e dos seus desafios.

Os resultados de toda a produção em torno do fenómeno do envelhecimento confirma o seu carácter estrutural e a inevitabilidade da manutenção, e porventura agravo, dos desafios que este representa, no presente e no futuro, aos Estados, às sociedades e aos indivíduos. Em particular, destacam-se dois: (i) a pressão financeira e económica sobre os sistemas de proteção social, nomeadamente ao nível da prestação de cuidados de saúde aos mais velhos e do pagamento de pensões; (ii) a necessidade de alterar as dinâmicas do mercado de trabalho, procurando aumentar as taxas de emprego dos mais velhos, num contexto de inovação e crescente competitividade. Estes dois desafios estão intrinsecamente relacionados, na medida em que o prolongamento da atividade profissional dos mais velhos e a sua (re)inserção no mercado de trabalho podem duplamente aliviar a pressão sobre os sistemas de pagamento de pensões: por haver um menor volume de pensionistas e por haver um maior número daqueles que se mantêm no ativo e, portanto, continuam a contribuir para o sistema.

Ao incentivarem o prolongamento temporal da trajetória profissional e promoverem o aumento da taxa de emprego dos trabalhadores mais velhos (55-64 anos), os Estados têm procurado, então, adequar o momento da saída do mercado de trabalho ao aumento da esperança média de vida observado nas últimas décadas. Desta forma, procuram aliviar a pressão económica das pensões, que passarão a ser pagas tendencialmente mais tarde e durante menos anos, ao mesmo tempo que dinamizam o mercado de trabalho através do aumento das taxas de emprego entre os mais velhos.

A aproximação da geração baby-boom à reforma foi acompanhada pela já discutida diminuição da taxa de fecundidade. Resulta daqui um maior volume de indivíduos a sair do mercado de trabalho e um menor daqueles que entram. Menos população ativa significa um menor número de contribuintes e, portanto, menores receitas para o Estado pela diminuição do pagamento de impostos e contribuições. Esta diminuição das receitas é particularmente gravosa no atual momento de crise económica pela qual passam vários países, incluindo Portugal. Assim, as respostas dos Estados às consequências e desafios do envelhecimento demográfico devem ter um longo alcance, perspetivando não só a atenuação dos seus efeitos no presente mas, além disso,

prepararando as sociedades para o futuro as quais, como demonstrámos no Capítulo III, terão uma população tendencialmente mais envelhecida. Importa, então, apostar em reflexões profundas sobre as origens e consequências, atuais e futuras, do processo de envelhecimento demográfico na procura de estratégias que garantam o apoio adequado aos mais velhos.

Não obstante o reconhecimento dos diferentes graus de impacto do processo de envelhecimento na UE-27, a própria organização reconhece que o envelhecimento representa desafios para todos os sistemas de bem-estar social e para as finanças públicas. É por isso mesmo que afirma que “lidar com uma população envelhecida irá requerer aumentos substanciais nas despesas com pensões públicas e com cuidados de saúde a longo-prazo como uma proporção do PIB” (Comissão Europeia, 2012a, p. 6).

Face à insustentabilidade dos atuais sistemas de pagamento de pensões, os Estados têm apostado em políticas de incentivo ao prolongamento da atividade profissional, seja por alteração das condições de passagem à reforma (nomeadamente pelo aumento da idade mínima legal), seja pelo desincentivo à reforma antecipada. Têm, ainda, direcionado esforços para o aumento da taxa de emprego dos trabalhadores mais velhos fora do mercado de trabalho, nomeadamente em situação de desemprego. Paralelamente têm sido feitos esforços no sentido de combater obstáculos à permanência dos mais velhos no mercado de trabalho, nomeadamente a fenómenos de discriminação no acesso e na manutenção no trabalho com base na idade (Comissão Europeia, 2011). Também a Organização Internacional do Trabalho tem encetado esforços no sentido de discutir e definir estratégias de combate à discriminação etária, sendo exemplo disso o Simpósio sobre as Respostas das Empresas aos Desafios Demográficos de 2009. Neste encontro reuniram-se investigadores, pensadores e grandes empresas que foram desafiados a conceber planos de apoio às empresas no momento da definição e implementação de programas e políticas que propiciassem condições dignas e produtivas de trabalho e de emprego para os trabalhadores mais velhos. Foi grande objetivo deste Simpósio “demonstrar como a manutenção e o recrutamento desses trabalhadores [mais velhos] pode ser uma parte integrante e compatível com uma gestão empresarial competitiva e produtiva” (OIT, 2011, p.72).

O declínio do tamanho da população ativa europeia esperada vai, provavelmente, traduzir-se em taxas de crescimento económico per capita mais lentas em consequência de uma insuficiência da força de trabalho e de competências (Eurostat,

níveis mais elevados de imigração e de taxas de fecundidade mais altas, sem esquecer um elemento central, que é o aumento da participação dos mais velhos no mercado de trabalho (Comissão Europeia, 2012a). Contudo, a inversão da tendência de incentivo à saída dos mais velhos do mercado de trabalho não se relaciona apenas com um problema de natureza financeira que visa atenuar a pressão sobre os sistemas de proteção social. Trata-se, também, de um problema com os tempos do ciclo de vida, mais propriamente de equilíbrio entre o tempo de trabalho e o tempo de inatividade, sobretudo no atual cenário de aumento da esperança de vida (Guillemard, 2003).

O tempo de inatividade dos indivíduos em consequência, nomeadamente, da aposentação, tem inerente a experiência de múltiplas situações, nomeadamente a de marginalização face ao mercado de trabalho. Este fenómeno resulta de uma construção social havendo, portanto, oportunidade para um reposicionamento do papel dos trabalhadores mais velhos, a qual passa pela consideração da interdependência entre sistemas de proteção social, políticas de emprego, dinâmicas de relações profissionais e os contextos empresariais de cada país. A influência dos contextos sociais sobre as taxas de emprego dos trabalhadores mais velhos, nomeadamente ao nível das condições oferecidas e dos incentivos à sua permanência no mercado de trabalho tem sido amplamente frisada por (Guillemard, 2003, 2010). Em concreto, a autora identifica quatro aspetos determinantes: as políticas públicas de emprego e de proteção social para trabalhadores mais velhos, as estruturas normativas que estão na base de construções sociais sobre a idade, as estratégias de coordenação e organização, nomeadamente em situações de conflito, entre os intervenientes no mercado de trabalho e, ainda, as transformações, potenciadores de conflito, ocorridas ao nível do mercado de trabalho.

Guillemard (2010) procedeu a um extenso trabalho de comparação entre políticas públicas e estratégias adotadas por várias países enquanto resposta ao envelhecimento demográfico, não só do ponto de vista da sustentabilidade dos sistemas de proteção social mas também do seu impacto nas dinâmicas do trabalho. A autora procurou entender, portanto, como é que atualmente se pensam os tempos de inatividade, atividade e formação, focando especialmente os riscos sociais emergentes em várias idades. Com o seu trabalho tem procurado demonstrar que o envelhecimento pode constituir uma oportunidade e não necessariamente um problema social.

Apesar da discussão em torno do envelhecimento demográfico ser eminentemente política, tem sido acompanhada e alimentada pelo desenvolvimento teórico e concetual de várias ciências que se têm dedicado ao estudo deste processo. De

facto, também a produção científica acompanhou os impactos do processo de transição demográfica, discutindo as suas implicações e dando importantes outputs para as medidas políticas seguidas neste domínio. Assim, à preocupação política com a procura de respostas aos desafios do envelhecimento demográfico correspondeu uma orientação científica, particularmente no domínio da Sociologia, orientada para a produção de conhecimento científico de sustentação às intervenções políticas. Não obstante a preocupação científica sobre o envelhecimento se ter iniciado no âmbito da Economia, numa perspetiva mais economicista decorrente dos custos associados ao envelhecimento, a Sociologia tem assumido um papel de crescente importância neste domínio de análise. A importância da investigação sociológica sobre o envelhecimento demográfico justifica-se por este constituir um fenómeno social total com múltiplas causas e consequências e, assim, por se revestir de uma natureza eminentemente sociológica. O contributo da Sociologia na análise do envelhecimento tem-se revelado vital para uma compreensão mais alargada da multiplicidade de dimensões que abarca e, em concreto, para a compreensão dos processos de estratificação social com base na idade (Crystal, 2007).

Uma importante utilização do conhecimento produzido pela Sociologia é feita na definição e implementação de políticas sociais direcionadas para os mais velhos que procuram, nomeadamente, proceder a uma redistribuição e a uma redução das desigualdades sociais. Neste âmbito, a produção científica da Sociologia, não obstante a relevância de outras áreas, assume-se como fundamental na leitura do fenómeno do envelhecimento, atendendo ao contexto espacial e temporal, decorrendo daí uma visão mais clara dos seus impactos e das possibilidades de intervenção. O papel da Sociologia na definição e aplicação de estratégias de resposta ao fenómeno do envelhecimento remete-nos para o conceito de Sociologia Pública proposto por Michael Burawoy (2006) O autor desenvolveu este conceito tendo como base a sociologia norte- americana, não obstante a possibilidade de considerarmos as pistas de análise lançadas pelo autor a outras realidades, nomeadamente ao campo sociológico português. O trabalho do autor abriu portas para uma reflexão acerca dos destinatários e dos objetivos da sociologia. Trata-se de uma sociologia pública orientada para a emancipação da sociedade civil por via da identificação e exploração dos pontos de ligação entre problemas de natureza privada e individual, como é o caso do envelhecimento dos individuos, e os desafios que se colocam à sociedade e que decorrem dos primeiros. A

público, entre a produção científica e os problemas que se colocam à sociedade e aos indivíduos. É aqui precisamente que podemos situar o papel da sociologia na produção de conhecimento acerca do envelhecimento que, como demonstrámos em momentos anteriores, coloca sérios desafios aos indivíduos, organizações e sociedades.

A Sociologia Pública é um dos quatro tipos de sociologia diferentes propostos por Burawoy que não se excluem mas, pelo contrário, devem coexistir. O primeiro refere-se à sociologia profissional, realizada no meio académico e orientada para a produção académica. A segunda, também de natureza académica, é a sociologia crítica, mais vocacionada para a discussão da natureza da sociologia. Os outros dois tipos não têm a mesma vocação académica dos anteriores. Apesar de diferentes, os outros dois tipos partilham componentes das anteriores. O primeiro é a sociologia aplicada orientada para a implementação de políticas públicas, para a tomada de decisão e para resulltados mais imediatos e práticos. O quarto e último refere-se então à sociologia pública que pressupõe o envolvimento do sociólogo para além do mundo académico, estando orientado para públicos com os quais estabelece redes de comunicação pelas quais percebe a relevância da produção científica sociológica. A sociologia pública tem, então, um cariz mais “instrumental”. Envolve um trabalho mais próximo com associações, organizações e outros movimentos sociais que atestam e reforçam a sua