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Caracterização da pesquisa

A presente pesquisa teve caráter interpretativo com uma abordagem qualitativa que, segundo Godoy (1995), permite melhor compreender o fenômeno em seu contexto. Nela, a realidade é entendida como a construção social da qual o investigador participa e, portanto, os fenômenos só podem ser compreendidos dentro de uma perspectiva holística, “que considera os componentes de uma dada situação em suas interações e influências recíprocas, o que exclui a possibilidade de se identificar relações lineares de causa e efeito e de se fazer generalizações do tipo estatístico”. (ALVES, 1991, p. 40).

A pesquisa qualitativa, de acordo com Minayo e Sanches (1993), se volta para o campo da subjetividade e do simbolismo, dos motivos, das intenções, dos projetos dos atores, a partir dos quais as ações, as estruturas e as relações tornam- se significativas. Segundo esta perspectiva, um fenômeno pode ser melhor compreendido no contexto em que ocorre e do qual é parte, devendo ser analisado de forma integrada. Para tanto, o pesquisador vai a campo buscando ‘captar’ o fenômeno em estudo a partir da percepção das pessoas nele envolvidas, considerando todos os pontos de vista relevantes (GODOY, 1995).

O pressuposto filosófico da pesquisa qualitativa, segundo Merriam (1998), consiste na visão da realidade construída por indivíduos interagindo com seu mundo social. Os pesquisadores que seguem esta abordagem estão interessados em compreender o significado que as pessoas têm construído a respeito do mundo através de suas experiências adquiridas. A pesquisa qualitativa implica em preocupação direta com a experiência – como ela é ‘vivida’, ‘sentida’ ou ‘experimentada’. Conforme Minayo (1997), a pesquisa qualitativa trabalha com um universo de significados, motivos, valores e atitudes, o que corresponde a um

espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. Desta forma,

[...] a abordagem qualitativa possibilita uma maior interação com o objeto de estudo e, conseqüentemente, uma construção teórica mais próxima dos fenômenos, já que se pauta em um contato maior com a realidade pesquisada, resgatando a interdependência dinâmica entre o mundo real e o sujeito; propõe-se desvendar pressupostos implícitos no discurso; permite que a concepção de causalidade seja entendida como uma relação entre o todo e as partes, o objeto e o contexto; relativiza os conceitos de cientificidade ao apoiar-se no processo lógico de interpretação e na capacidade de reflexão do pesquisador sobre o fenômeno de seu objeto de estudo; possibilita, ao investigador, o uso de sua criatividade; e ainda, permite ao participante profunda interação, inclusive na escolha de fatores de seu interesse (MINAYO, 1997, p. 21).

Lüdke e André (1986) argumentam que o estudo qualitativo é desenvolvido em uma situação natural, é rico em dados descritivos e tem um plano aberto e flexível, permitindo que a realidade seja focalizada de forma complexa e contextualizada. Já Bogdan e Biklen (apud LÜDKE e ANDRÉ, 1986) apresentam cinco características básicas que configuram a pesquisa qualitativa:

(1) A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu próprio instrumento de coleta de dados. Desta forma, este tipo de pesquisa supõe o contato direto e prolongado com o ambiente e a situação em estudo, já que os fenômenos são muito influenciados por seu contexto.

(2) Os dados coletados são predominantemente descritivos. Todos os dados da realidade são considerados importantes, assim, o pesquisador deve atentar para o maior número possível de elementos presentes na situação estudada, pois um aspecto supostamente trivial pode ser essencial para a melhor compreensão do problema em estudo.

(3) A preocupação com o processo é muito maior do que com o produto. O interesse do pesquisador ao estudar um determinado problema é verificar como ele se manifesta nas atividades, nos procedimentos e nas interações cotidianas. (4) O ‘significado’ que as pessoas dão às coisas e à sua vida são focos de atenção especial do pesquisador. Neste sentido, há uma tentativa de capturar a perspectiva dos participantes sobre as questões enfocadas. Ao considerar os diferentes pontos de vista dos informantes, a pesquisa qualitativa permite iluminar o dinamismo interno das situações.

(5) A análise dos dados tende a seguir um processo indutivo. O pesquisador não se preocupa em buscar evidências para comprovar hipóteses definidas no início do estudo.

Outro autor que define características essenciais para os estudos qualitativos é Patton (apud ALVES, 1991). Segundo este autor, os estudos qualitativos caracterizam-se por:

(1) Visão holística - a compreensão do significado de um fenômeno só é possível a partir do entendimento do contexto em que ocorre e de suas inter-relações.

(2) Abordagem indutiva – o pesquisador parte de observações mais livres, sendo que as dimensões e categorias não são definidas a priori, mas emergem durante o processo de coleta e análise dos dados.

(3) Interação naturalística – o pesquisador tem sua intervenção reduzida ao mínimo. Merriam (1998) também destaca que existem algumas características essenciais comuns aos diferentes tipos de pesquisa qualitativa:

(1) A preocupação central com o entendimento do fenômeno se dá partir da perspectiva dos participantes, não do pesquisador. A pesquisa qualitativa tem como foco a descoberta, os insight’s e a compreensão do fenômeno ou do processo que emerge na investigação da visão de mundo das pessoas envolvidas.

(2) O pesquisador é o instrumento primário de coleta e análise dos dados, os quais são mediados através do instrumento humano. Esta forma de coleta de dados é distinta porque o pesquisador responde ao ambiente, pode adaptar as técnicas às circunstâncias, considerar todo o contexto, expandir o que é conhecido sobre a situação, através da sensibilidade aos aspectos não verbais.

(3) A pesquisa envolve o estudo de campo, ou seja, o pesquisador deve estar fisicamente próximo das pessoas, dos lugares e das instituições para observar o comportamento no cenário natural. A maioria dos investigadores que tem interesse em descrever e interpretar uma unidade ou um processo social, precisa tornar-se intimamente familiarizada com o fenômeno em estudo.

(4) O emprego da estratégia de pesquisa é indutiva. Este tipo de pesquisa constrói abstrações, conceitos, hipóteses ou teorias em vez de testar a teoria existente. Desta forma, não existem hipóteses a ser deduzidas da teoria para guiar a investigação. O pesquisador constrói em direção à teoria a partir da observação e da compreensão intuitiva alcançada no campo. Tipicamente, os resultados da pesquisa

qualitativa estão em forma de temas, categorias, tipologias, conceitos, tentativas de hipóteses ou mesmo teorias que indutivamente derivam dos dados.

(5) A pesquisa qualitativa tem o foco nos processos, nos significados e compreensões, assim, o seu produto é ricamente descritivo. As palavras e as figuras, não os números, são usadas para comunicar o que o pesquisador tem aprendido sobre o fenômeno. Os dados em forma de descrição das próprias palavras dos participantes e citações diretas dos documentos são incluídos para dar suporte às descobertas do estudo.

Além das citadas características comuns a todos os tipos de pesquisa qualitativa, existem outras mais ou menos comuns. “Idealmente, por exemplo, o design de um estudo qualitativo é emergente e flexível, com capacidade de resposta a mudanças nas condições do estudo em progresso” (MERRIAM, 1998, p. 8), mas isto nem sempre ocorre. A seleção de amostras, na pesquisa qualitativa, é usualmente não randômica, intencional e pequena. A autora afirma que "a pesquisa qualitativa é um conceito guarda-chuva que abrange várias formas de indagações que nos ajudam a entender e explicar o sentido dos fenômenos sociais com a menor ruptura do ambiente natural quanto possível" (MERRIAM, 1998, p.10).

Na presente pesquisa, optou-se pela abordagem qualitativa considerando-se que todo o conhecimento é relativo às experiências, às vivências e às perspectivas das pessoas que o relatam ou descrevem. “Também é relativo a um determinado momento histórico e social, o que significa estudá-lo em sua singularidade, porém sem desvinculá-lo de seus enlaces sociais mais amplos” (SANTOS, 2001, p. 68).

A opção pela abordagem qualitativa implica, nos casos a serem estudados, na compreensão dos fatores que determinam o sucesso de cursos de graduação da Universidade. Destaca-se que o interesse da pesquisa foi conhecer a experiência do desenvolvimento dos cursos a partir da perspectiva daqueles que os ‘constróem’ – os professores (aqueles que estão à frente da gestão e professores que atuam no ensino, na pesquisa e/ou na extensão) e os alunos egressos. A abordagem interpretativa permitiu a compreensão a partir da interpretação dos atores envolvidos.

Dada a opção metodológica, é importante enfatizar que a pesquisa de campo não foi desenvolvida com um modelo teórico ou um referencial de análise previamente definido. Neste sentido, para manter a coerência com a metodologia adotada, os referenciais teóricos têm maior importância na fase de análise, como

apoio na categorização e na interpretação dos dados. Desta forma, com a opção pela abordagem qualitativa, o trabalho de campo partiu do conhecimento da realidade a partir dos dados levantados e não de um quadro teórico definido a priori nem de hipóteses anteriormente especificadas.