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O paradigma qualitativo de pesquisa, por sua natureza interpretativa ou naturalística, define os métodos e as técnicas mais apropriados para a coleta e análise dos dados. Na pesquisa interpretativa considera-se o processo e as experiências vividas. Compreender o significado do processo ou experiência constitui o que emerge do método de investigação indutivo.

3.3.1 ENTRADA NO CAMPO

Na pesquisa qualitativa, o ‘campo’, segundo Minayo (1992), é o recorte que o pesquisador faz em termos de espaço, representando uma realidade empírica a ser estudada. Além do recorte espacial, as pessoas e os grupos que convivem numa dinâmica de interação social ocupam um lugar primordial e são os sujeitos de uma determinada história a ser investigada.

Segundo esse conceito, o ‘campo’ torna-se “um palco de manifestações de intersubjetividades e interações entre pesquisador e grupos estudados, propiciando a criação de novos conhecimentos” (MINAYO, 1992, p. 105). De acordo com esta definição, na presente pesquisa, o campo pode ser considerado os dois cursos de graduação da Universidade do Vale do Itajaí (recorte espacial), que foram criados há mais de dez anos, e como locus do processo desenvolvimento dos mesmos. Destaca-se que o foco adotado para a investigação é o da perspectiva dos participantes, ou seja, dos professores e dos egressos que participaram do processo de desenvolvimento dos cursos nos últimos dez anos.

De acordo com Cruz Neto (1994), a entrada no campo é um momento crucial, a partir do qual começam a ser estabelecidas as bases do relacionamento entre o pesquisador e seu objeto de pesquisa, assim como o acerto dos compromissos a serem seguidos entre as partes. Minayo (1992) afirma que a estratégia de entrada em campo deve prever os detalhes do primeiro impacto da pesquisa, ou seja, como apresentá-la, como se apresentar, a quem se apresentar e com quem estabelecer os primeiros contatos. Quando o processo de investigação prevê as idas ao campo antes do trabalho mais intensivo, segundo Santos (2001), possibilita o fluir da rede de relações e possíveis correções já iniciais dos instrumentos de coleta de dados.

Como primeiro passo para a ‘entrada no campo’ foi realizado um levantamento junto à Pró-Reitoria de Ensino da Universidade do Vale do Itajaí com o objetivo de identificar os cursos que atendiam aos seguintes critérios para a delimitação dos casos pesquisados:

(1) Cursos que foram implantados há pelo menos dez anos.

(2) Cursos em cujas coordenações os gestores estavam há mais de cinco anos5. (3) Cursos que mantiveram um desempenho que corresponde aos padrões institucionais da Avaliação Interna6 (PAIUB), ou seja, próximo ao padrão desejado na escala semântica de um a cinco, apresentando os resultados equilibrados e crescentes entre quatro e cinco.

Depois da identificação dos três cursos que atendiam aos critérios estabelecidos para a delimitação dos casos a serem estudados, foram agendados encontros com os coordenadores visando a apresentação do objetivo e metodologia da pesquisa bem como a solicitação de autorização para realização do estudo o que incluía a consulta a documentos para o levantamento de dados e a realização de entrevistas com professores, coordenadores, ex-coordenadores. Os três coordenadores consultados concederam as entrevistas, disponibilizaram os documentos para consultas e auxiliaram no contato com os professores para as futuras entrevistas. Após a defesa do exame de qualificação a pesquisa ganhou um novo recorte com a exclusão de um dos cursos de graduação previamente selecionados para o estudo porque, além dos professores, o universo dos ‘atores’ entrevistados foi ampliado para que alunos egressos também fossem ouvidos.

3.3.2 ENTREVISTAS

Para o alcance dos objetivos de identificar e compreender os fatores que inibiram e/ou fomentaram o sucesso no desenvolvimento dos cursos segundo a percepção dos seus principais atores, a estratégia escolhida para a pesquisa de campo foi a entrevista com os atores que tiveram efetiva participação no desenvolvimento dos cursos de graduação. Em consonância com a abordagem metodológica adotada, o desenvolvimento do trabalho de campo, através das

5 Houve alteração na coordenação de um dos cursos escolhidos para a pesquisa após o processo de

entrevistas ter se iniciado. Assim, mesmo havendo a alteração no critério de tempo do gestor na função optou-se por dar prosseguimento à pesquisa.

6 A UNIVALI desenvolve o programa de avaliação institucional desde 1995 de acordo com as

entrevistas, visa captar e entender as diferentes visões dos entrevistados, os eventos e os fatores determinantes do sucesso no desenvolvimento destes cursos.

A entrevista qualitativa envolve, além de um ouvir aprimorado, intenso e cuidadoso sobre os significados, interpretações e compressões que dão forma às palavras dos entrevistados. um profundo respeito tanto pela pessoa informante quanto pelo conteúdo do que está sendo dito (RUBIN e RUBIN, 1995). Neste processo de coleta de informações, o entrevistador expõe o assunto e então guia a discussão através de perguntas, tendo o entrevistado plena liberdade de expressar- se como quiser.

Segundo Bardin (1977), as entrevistas são classificadas conforme o grau de diretividade e não-diretividade e, por conseqüência, segundo o grau de profundidade do material recolhido. O autor ressalta que a entrevista deve ser analisada preservando a ‘equação particular do indivíduo’. Isto implica no entendimento de que cada entrevista deve ser analisada de acordo com uma lógica própria, ou seja, tentando-se conhecer e resguardar as particularidades de cada indivíduo.

Na primeira etapa deste estudo, partiu-se das entrevistas com os coordenadores de cada curso e, definindo-se quais professores seriam entrevistados, tendo-se como critério o tempo de docência no curso, ou seja, foram selecionados os professores envolvidos com o curso desde sua implantação até o presente. Em decorrência do resultado das primeiras entrevistas, realizadas com os participantes de um dos cursos, outros professores referenciados repetidamente pelos sujeitos entrevistados foram também ouvidos.

A proposta foi de compreender os fatores determinantes do sucesso dos cursos na visão dos sujeitos participantes, aqueles cujas percepções sobre o conteúdo, o processo e o contexto do desenvolvimento destes cursos deveriam ser buscadas. A definição desses “principais atores” a serem entrevistados passou a exigir uma etapa de levantamento daqueles professores a partir do critério de delimitação que é o de terem ingressado no curso, nos cinco primeiros anos de sua existência. Realizou-se o levantamento, e no curso de Ciência da Computação foram selecionados seis professores que atendiam ao critério estabelecido. No curso de Turismo e Hotelaria foram identificados oito professores para as entrevistas.

Como critério para identificação dos alunos para a pesquisa definiu-se àqueles egressos que obtiveram o prêmio mérito estudantil concedido pela |

Universidade aos alunos que apresentam o melhor desempenho acadêmico durante o curso. No curso de Ciência da Computação somente um aluno dos dez egressos que já obtiveram o referido prêmio não foi localizado. O curso de Turismo e Hotelaria não dispunha de informações sobre todos os egressos, do conjunto de nove egressos localizados apenas um alegou falta de tempo para participar da pesquisa. Os coordenadores de curso auxiliaram no levantamento das informações para identificar o nome e o endereços dos egressos que haviam recebido o prêmio mérito estudantil.

Conforme prevê o método, as entrevistas foram conduzidas de modo que as questões formuladas inicialmente, na medida que fossem sendo respondidas, pudessem gerar outras questões para aprofundamento das anteriores ou para elaboração de novos questionamentos. Observando-se os princípios éticos acordados com os sujeitos pesquisados, os diálogos foram gravados e, posteriormente, transcritos para que se pudesse melhor apreender a realidade.

Para atingir os objetivos propostos neste estudo, foram realizadas trinta entrevistas (egressos e professores dos dois cursos). Estas entrevistas foram conduzidas a partir da ‘pergunta de corte’, permitindo que os entrevistados expressassem suas percepções, enfatizassem os fatores que julgavam críticos/determinantes para o desenvolvimento do curso, ou seja para o sucesso do mesmo, de acordo com suas vivências enquanto professores e/ou coordenadores. Assim, as entrevistas abertas não se pautaram por um roteiro com interferência mínima da pesquisadora.

Pela natureza do trabalho, optou-se por privilegiar a entrevista não- estruturada. Esta técnica, ao mesmo tempo que valoriza a presença do investigador, oferece todas as perspectivas possíveis para que o informante alcance a liberdade e a espontaneidade necessárias, enriquecendo a investigação. Desta forma, o entrevistado, seguindo espontaneamente a linha de seu pensamento e de suas experiências dentro do foco principal colocado pelo investigador, começa a participar na elaboração do conteúdo da pesquisa (Triviños, 1987).

As entrevistas realizadas foram pautadas pelos seguintes procedimentos: (1) realização de contato com o entrevistado, por telefone ou e-mail, informando os objetivos da entrevista, a previsão do tempo médio de duração e solicitação de agendamento de local e data para a realização da mesma;

(2) apresentação da ‘pergunta corte’ ao entrevistado, no início do encontro, que orientava a entrevista. O entrevistado tinha a liberdade de discorrer sobre a sua percepção do assunto da maneira que lhe conviesse;

(3) o diálogo informal preponderou em todas as entrevistas.

A pesquisadora assumiu o compromisso formal de não divulgar os nomes dos entrevistados para resguardar o caráter pessoal das informações prestadas, para tanto optou-se utilizar o gênero masculino na transcrição do texto, portanto, todos foram denominados ‘professor’ ou ‘egresso’. Contando com a autorização dos entrevistados, as entrevistas foram gravadas. À medida que fatos importantes em relação ao tema eram abordados a pesquisadora fazia anotações que lhe permitiram retornar a eles, quando necessário, para que fossem melhor esclarecidos. Das trinta entrevistas, quatro ocorreram com o uso de e-mail e contatos telefônicos em função da impossibilidade de deslocamento até a cidade onde os entrevistados residem. Para estas entrevistas o primeiro contato foi feito por telefone, seguido por uma troca de e-mail’s e um novo contato telefônico.

As entrevistas gravadas foram transcritas, e após a transcrição devolvidas aos entrevistados para serem validadas na forma em que estavam, ou retificadas ou complementadas, de modo que os eles se sentissem seguros quanto ao conteúdo final das mesmas, visando superar interpretações dúbias que porventura surgissem, tanto por parte da pesquisadora quanto dos entrevistados.

A transcrição das entrevistas consistiu numa etapa bastante trabalhosa, uma vez que tiveram duração média superior a uma hora. Do Curso de Ciência da Computação foram transcritas 9 horas de entrevistas com alunos egressos do curso, num total de 80 laudas de papel A4, digitadas em fonte 11, em espaço simples. A transcrição de 6 horas de entrevistas com os professores do curso resultou num total de 41 laudas. A transcrição da entrevista com os professores do Curso de Turismo e Hotelaria, que teve uma duração de 8 horas, resultou em um total de 82 laudas também digitadas em fonte 11 e espaço simples. As 6 horas de entrevistas com os egressos de Turismo e Hotelaria resultaram em 59 laudas.