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2.3 Sucesso no ensino

2.3.2 Sucesso no ensino superior

2.3.2.1 Perspectiva de negócio

2.3.2.1.2 Escola do desempenho

Na abordagem da escola do desempenho, os autores apresentam critérios em três perspectivas: a eficiência, a eficácia e a efetividade. A relevância é citada por alguns autores como uma quarta perspectiva. Conforme Lapa e Neiva (1996) destacam, nas instituições de ensino superior, o desempenho organizacional está ligado aos critérios de: (1) produtividade dos recursos alocados ao sistema educacional; (2) eficiência com que estes recursos são transformados e geram resultados; (3) eficácia com que os recursos e os resultados correspondem aos planos e metas idealizados; e (4) efetividade com que os resultados gerados correspondem às expectativas da sociedade. A quarta dimensão é definida por alguns autores como a dimensão da relevância, que funciona como dimensão interdisciplinar das três primeiras, tendo interface comum com as três.

Estrutura e Organização

Liderança

Política, Estratégia e cultura

Processos ()stakeholdersResultados

REGULAÇÕES EXTERNAS Estado, União Européia Associações profissionais Organizações e Sociedade

Avaliação, inovação e aperfeiçoamento Atores

Fornecedor es e parceiros

Recursos não-humanos

Para Sander (1982), é comum haver confusão conceitual entre as diferentes dimensões de desempenho, ou seja, eficiência é tratada como eficácia; eficácia é confundida com efetividade; e efetividade com relevância. O autor distingue os conceitos:

(1) A eficiência: significa o critério administrativo que mostra a capacidade real de produzir mais num menor espaço de tempo, com menor consumo de recursos de qualquer natureza.

(2) A eficácia: representa todo potencial que a organização detêm para consecução dos resultados planejados.

(3) A efetividade: caracteriza-se pelo conjunto de métodos e critérios para medir o desenvolvimento do desempenho na busca das soluções que a população-alvo espera.

Belloni (1989) faz distinção entre referências internas e externas para a avaliação da educação. De acordo com a autora, as atividades da educação precisam ser avaliadas em termos de sua eficácia social e de sua eficiência produtiva ante seus compromissos tanto científicos quanto sociais

As instituições de ensino superior, porém, são organizações atípicas no sentido de operarem com recursos e resultados para os quais não existem preços de mercado e de não terem, em geral, a lucratividade como objetivo. Assim, avaliações baseadas em preços, custos e investimentos passam a ser substituídas por outros enfoques que consideram múltiplos recursos e múltiplos resultados, que não podem ser reduzidos a uma unidade comum de medida (AHN, 1987).

Tais dificuldades, de acordo com Belloni (2000), inviabilizam a obtenção de medidas de eficiência alocativa e limitam a pesquisa ao estudo da eficiência produtiva, já que esta utiliza exclusivamente as quantidades dos recursos e dos resultados e não exigem o conhecimento dos respectivos preços.

A partir da década de 70, segundo Cameron (1978), a adoção de índices de eficiência tornou-se o parâmetro na avaliação da performance das instituições de ensino superior. Isto ocorreu porque o cerne dos esforços dos administradores passou a ser a preocupação com o aspecto financeiro, necessidade de equilibrar orçamentos e de recuperar o nível de matrícula4.

Medidas de eficiência, por sua vez, estão associadas à comparação entre os resultados alcançados com os recursos utilizados e o elenco de resultados ótimos

que poderiam ser obtidos com aqueles recursos (LAPA e NEIVA, 1996). Algumas pesquisas lidam com índices de eficiência e outras se preocupam em avaliar a qualidade de programas oferecidos. Outro tipo de estudo é aquele estruturado a partir de uma única variável, como a aprendizagem do aluno ou o processo de ensino. Estudos que abordaram a eficácia das instituições de ensino superior pesquisando-as enquanto organizações, tiveram por referência o sistema educacional como um todo (ASTIN, 1988; BOWEN, 1983; CENTRA, 1988).

Segundo Lovell (1993), o critério da eficiência na produção tem dois componentes: (1) um componente físico que se refere à habilidade de evitar desperdícios, produzindo tantos resultados quanto os recursos utilizados permitirem ou utilizando o mínimo de recursos possíveis para aquela produção (eficiência produtiva); e (2) um componente econômico que se refere à habilidade de combinar recursos e resultados em proporções ótimas, dados os preços vigentes (eficiência alocativa ou eficiência preço).

Modelos de avaliação da eficácia de uma IES pressupõem a existência de um conjunto de planos e metas em relação aos quais se possa avaliar os produtos e resultados da atividade acadêmica. Se a eficácia está associada à consecução dos objetivos educacionais propriamente ditos, Lapa e Neiva (1996) afirmam que a efetividade refere-se à consecução de objetivos sociais mais amplos, cujos elementos caracterizadores são difusos e complexos, de difícil obtenção, tal a magnitude dos interesses e a diversidade das expectativas em jogo.

O critério da eficácia, de acordo com Belloni (2000) está associado à consecução de objetivos educacionais propriamente ditos, internos à instituição, tendo, portanto, uma dimensão pedagógica, enquanto o conceito de efetividade “supõe um compromisso real e verdadeiro com o alcance dos objetivos sociais e com o atendimento das demandas políticas da comunidade” (Sander, 1995, p.48).

A eficácia organizacional é “a meta última do desenho organizacional, é uma medida do sucesso de uma organização na consecução de suas metas e objetivos que podem incluir alvos como rentabilidade, crescimento, participação de mercado, qualidade do produto, eficiência e estabilidade” (WAGNER III e HOLLENBECK, 1999, p.333). Eficácia é diferente de produtividade, uma vez que o conceito de

produtividade não leva em conta se uma empresa está produzindo os bens ou serviços corretos. Na análise dos dois autores, a organização que melhor satisfizer as demandas dos vários grupos de clientes, que lhes proporcionar os recursos necessários, terá maior vantagem competitiva no mercado.

Katz e Kahn (1987) definem eficácia em termos de eficiência e eficácia política, e eficiência, como a razão entre a energia de produtos e insumos. A eficiência indica a forma pela qual a organização utiliza a energia disponível, ou seja, quanto de investimento de energia é necessário para obter um produto. A análise dos autores parte do ponto de vista da sobrevivência das organizações num ambiente de recursos e oportunidades limitadas. Isto é, quanto menor a energia consumida internamente pela organização, tanto maior será seu índice de eficiência.

Para Cameron (1978), o problema sobre o conceito de eficácia nas instituições de ensino superior reside na identificação do grupo central de variáveis (ou dimensões) que sejam relevantes para os membros da organização, aplicáveis às suas várias subunidades e comparáveis entre as demais instituições. A autora estudou a eficácia organizacional em instituições de ensino superior considerando três aspectos básicos referentes a eficácia:

(1) Possibilidade de medir a eficácia em instituições de ensino superior.

(2) Possibilidade de desenvolver um instrumento que avaliasse as diferenças nos padrões de eficácia.

(3) Descoberta do que determinaria a diferença na eficácia entre instituições de ensino superior.

Os principais obstáculos ao estudo da eficácia, segundo Cameron (1978), concentram-se em dois pontos básicos: aqueles relacionados à natureza do critério de eficácia e os referentes à origem do critério. Quanto à natureza ou tipo de critério, os problemas podem surgir em decorrência:

− Do modelo de eficácia organizacional adotado (modelo de objetivos, modelo de aquisição de recursos e modelo de processos internos).

− Da escolha entre critérios universais (o mesmo conjunto de critérios para qualquer tipo de organização).

− Da natureza descritiva ou normativa dos critérios escolhidos pelo pesquisador. − Da opção do estudo em trabalhar com uma visão estática ou dinâmica de “entradas”, processos e resultados.

Os critérios de eficácia, segundo Cameron (1978), dependerão também das escolhas feitas com relação às fontes ou origens destes critérios. Estas escolhas relacionam o grupo de elementos constituintes adotado, o nível de análise do estudo (supersistema, organizacional, de subunidades da organização ou da performance individual) e, ainda, a utilização de critérios objetivos (aqueles contidos nos arquivos e documentos da organização em geral) ou subjetivos (aqueles obtidos a partir da percepção dos membros da organização).

Assim, Cameron (1978) define eficácia organizacional como as “transações organizacionais ‘bem-sucedidas’ que ocorrem no contexto da organização referentes a seus vários níveis. A avaliação da eficácia seria feita a partir dos domínios, conforme apresentados no Quadro 8, admitindo a perspectiva da organização como um sistema aberto.

Aspectos Organizacionais

Entrada Processo Resultado

Indivíduo Aquisição de recursos bem-estar produtividade Subunidade Aquisição de recursos bem-estar produtividade Nível

De

Análise Organização Aquisição de recursos bem-estar produtividade Quadro 8 – Classificação dos domínios de eficácia organizacional

Fonte: Cameron, 1978

Cameron (1978) considera que as instituições de ensino superior são eficazes na medida em que produzem resultados valiosos e desejados, mantêm sua viabilidade e vitalidade e adquirem os recursos necessários sem esgotar o ambiente. Uma pesquisa da autora citada identificou 130 (cento e trinta) variáveis a partir da análise de relatórios e avaliações de diversas naturezas elaborados, em relação à educação superior. Uniu estas variáveis a outras e realizou entrevistas com cinco administradores e membros do corpo docente de cinco instituições, com as seguintes questões:

− Quais características organizacionais possuem as instituições de ensino superior eficazes?

− O que nestas instituições faz a diferença em termos de sua eficácia?

− O que poderia ser mudado para que cada instituição se tornasse mais eficaz? − Pense em uma instituição de ensino superior que você considera eficaz. O que faz com que esta instituição seja eficaz?

− Dos 130 itens gerados a partir da literatura, quais não são relevantes para eficácia desta instituição?

− Dos 130 itens, quais não são mensuráveis, ou para quais não existem dados disponíveis?

A partir da identificação dos critérios resultantes das entrevistas, Cameron propôs as seguintes dimensões de eficácia:

− Satisfação educacional do estudante – compreendendo critérios que indicam o grau de satisfação dos estudantes em relação as suas experiências educacionais na instituição.

− Desenvolvimento acadêmico do estudante – compreendendo critérios que indicam o grau de crescimento e progresso acadêmico dos estudantes da instituição.

− Desenvolvimento da carreira do estudante – compreendendo critérios indicando o grau de desenvolvimento ocupacional dos estudantes e a ênfase e oportunidades de desenvolvimento profissional oferecidos pela instituição.

− Desenvolvimento pessoal do estudante – compreendendo critérios que indicam o desenvolvimento do estudante em áreas não acadêmicas e não relacionadas à educação profissional – por exemplo, o desenvolvimento social, emocional ou cultural – e a ênfase em oportunidades de desenvolvimento pessoal oferecidas pela instituição.

− Satisfação do corpo docente e da administração com o trabalho – compreendendo os critérios sobre satisfação dos professores e administradores com seu trabalho e sua posição na instituição.

− Desenvolvimento profissional e qualidade do corpo docente – compreendendo critérios indicando o grau de realização e desenvolvimento profissional de professores e o grau de estímulo oferecido pela instituição com relação ao desenvolvimento profissional.

− Abertura do sistema e interação com a comunidade – compreendendo critérios sobre o total de serviços comunitários oferecidos, a ênfase atribuída à interação com o ambiente externo e a adaptabilidade da instituição.

− Habilidade de aquisição de recursos – compreendendo critérios sobre a habilidade da instituição em obter recursos do ambiente, tais como bons estudantes, professores/pesquisadores, recursos financeiros, dentre outros.

− ‘Saúde’ organizacional – compreendendo critérios que indicam a benevolência, vitalidade e viabilidade das práticas e processos internos da instituição.

A autora conclui sua análise apontando que as variáveis mais fortes entre as descritas foram as que podiam ser controladas pelos administradores. Desta forma, explica a eficácia como algo que os administradores podem administrar e não como resultado do meio, do caráter público ou particular da instituição, dos alunos ou da localização da instituição.

O desenvolvimento de processos de avaliação de desempenho, segundo Leitão (1987), deve emergir de um contexto onde os valores democráticos convivem com os valores da racionalidade e não se subordinam aos últimos. Para este caso, ressalta que as abordagens mais adequadas são de natureza política e psicossocial. Pois, segundo Rodrigues (1985), na universidade quando se pretende dar primazia aos critérios econômicos, subestimando-se os aspectos políticos, a decisão toma rumos imprevistos, caracterizando-se como uma atividade política em conflito.

Uma síntese dos fatores associados ao sucesso no ensino superior de acordo com as três escolas da perspectiva de negócio: estratégia, processo e desempenho é apresentada no Quadro 9.

Fatores associados ao sucesso

no ensino superior segundo a perspectiva de negócio

Escola da Estratégia Autores

Adoção de estratégias

Pragmática implementação das estratégias Pensamento competitivo

Gestão estratégica

Conceitos e ferramentas de estratégia

Aleong, 2001; Katz, 1999; Oster, 1995, Higher Education Founding Council for England apud Clarke, 1997; Oster, 1995

Planejamento estratégico Estrada, 2000; Phelan et al.,

apud, Estrada, 2000; Fedalto, 1994; Karadima, 1992; Meyer Jr, 1991; Meyer Jr.; 1988; Oster; 1995

Competências essenciais

Posicionamento competitivo baseado nas competências essenciais

Holmes e Hooper, 2000; Clarke, 1997; Collins e Montgomery, 1995; Synder e Eberling, 1995; Black e Boat, 1994

Quadro 9 – Fatores associados ao sucesso no ensino superior – escolas da perspectiva de negócio

Fatores associados ao sucesso

no ensino superior segundo a perspectiva de negócio

Escola da Gestão do Processo Autores

Qualidade

Foco em indicadores-chave de performance Gestão da Qualidade Total (TQM),

Contínuo Aperfeiçoamento da Qualidade (CQI) Certificação ISO 9000

Benchmark

American Society for Quality Control apud Lee, 2001; Spencer-

Matthews, 2001; Lee, 2001; Kanji; 2001; Engelkemeyer, 1998; Andrews, 1997; Jauch e Orwig, 1997; Hall, 1996; Gaither et.al, 1995; Hertzler, 1994; Marchese, 1993

Foco nos resultados do aprendizado

Foco necessidades dos estudantes Foco no consumidor

American Society for Quality

Control apud Lee, 2001;

Marchese, 1993; Baldrige National

Quality Program, 2002 Ênfase nas pessoas

Professores e funcionários - ativos da instituição

Foco especial nos atores da escola (estudantes, professores e outros empregados)

Valorização de professores, funcionários e parceiros – comprometimento com a satisfação e desenvolvimento e crescimento pessoal e profissional

Baldrige National Quality Program,

2002; Rosa et al., 2001; Marchese, 1993

Administração por fatos e foco nos resultados Baldrige National Quality Program,

2002; Marchese, 1993

Perspectiva de sistema Baldrige National Quality Program,

2002; Rosa et al., 2001

Liderança

Liderança visionária – estabelecimento de clara direção para criar um ambiente focado no estudante

Baldrige National Quality Program,

2002; Rosa et al., 2001

Escola do Desempenho Autores

Aperfeiçoamento continuo

Aprendizado organizacional e individual Contínuo aperfeiçoamento de processos

Cultura organizacional favorável às constantes mudanças

Baldrige National Quality Program,

2002; Marchese, 1993

Agilidade de resposta às necessidades dos alunos e de outros stakeholders

Baldrige National Quality Program,

2002

Responsabilidade social e cidadania Baldrige National Quality Program,

2002

Conjunto de indicadores de resultado amplo para considerar

vários tipos de stakeholders Rosa et al., 2001

Produtividade dos recursos alocados ao sistema educacional Lapa e Neiva (1996)

Eficiência com que os recursos são transformados e geram

resultados Lapa e Neiva (1996)Belloni (2000)

Eficácia

Satisfação do estudante em relação as suas experiências educacionais

Desenvolvimento acadêmico do estudante Desenvolvimento da carreira do estudante Desenvolvimento pessoal do estudante

Satisfação do corpo docente e da administração com o trabalho Desenvolvimento profissional e qualidade do corpo docente Abertura do sistema e interação com a comunidade

Habilidade de aquisição de recursos, Saúde’ organizacional

Wagner e Hollenbeck, 1999; Lapa e Neiva, 1996; Astin, 1988; Bowen, 1983; Centra, 1988; Cameron, 1978

Efetividade – resultados gerados correspondem às

expectativas da sociedade

Lapa e Neiva, 1996 Satisfação do estudante em relação as suas experiências

educacionais na instituição Cameron, 1978

Quadro 9 – Fatores associados ao sucesso no ensino superior segundo a perspectiva de negócio (continuação)