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SUMÁRIO

CARTAS QTD LINHAS

4.2.2 Caracterização do corpus

Visando obter uma maior confiabilidade a respeito dos usos da língua em cada século, buscou-se analisar, sempre que possível, cartas de mais de um autor, tendo, entretanto, o cuidado de que o número de linhas consultadas fosse mais ou menos equivalente em cada século pesquisado. Os documentos consultados serão caracterizados a seguir:

4.2.2.1 Corpus do português europeu

4.2.2.1.1 Século XVI

o Cartas da corte de D. João III (CCJ)

As cartas da corte de D. João III foram escritas no período de 1524 a 1562. O acervo das cartas de D. João III é formado por uma carta de D. João lII ao Conde de Castanheira e 173 outras cartas, escritas por pessoas da sua família ou da sua corte: trinta, da Rainha Catarina, viúva do rei, quarenta e nove do Infante Luís, uma do Infante Fernando, e cinco do Infante Cardeal e Rei Henrique, seus irmãos, uma de Frey Duarte, seu filho natural, uma, da Rainha Leonora, sua madrasta, quarenta de Jaime IV, Duque de Bragança, quarenta e uma, de Theodosius, filho do referido Duque e seu sucessor, duas provavelmente escritas por Antonio Ataíde, Chanceler de D. João, uma, de Antonio Carneiro e duas anônimas, dirigidas, uma ao Rei e outra ao Infante Luís.

A maior parte das cartas é endereçada a Antonio de Ataíde, Conde de Castanheira, então Chanceler de D. João. Dessas, apenas a carta de número 172, da Rainha Leonora, é escrita em espanhol.

As cartas de números 1 a 49 foram escritas entre 1531 e 1554 pelo Infante Luís (CIL) que, conforme salienta o editor parece ter gozado de reputação de homem de letras e ter sido dotado de "excelentes virtudes e possuidor de grande facilidade para escrever".

As cartas 50 a 79, datadas de 26.01.1533 a 1.7.09.1562 são da Rainha Catarina, que, por morte de D. João IIl, tornou-se regente e administradora dos assuntos nacionais, no lugar do seu neto, o Rei D. Sebastião, que contava, no momento, apenas três anos. Todas as cartas da Rainha são dirigidas a D. Antonio d' Ataíde, Chanceler do Rei.

As cartas 80 a 119, de 11.05.1524 à 31.12.1632, de Jaime IV, Duque de Bragança (CJB) são, na sua maior parte, também dirigidas ao Chanceler do Rei; apenas três são dirigidas ao próprio Rei.

As cartas 120 a 160 (1530 à 1559), de Theodosius, primeiramente Duque de Barcelos (CTB) e, após a morte de seu pai, Duque de Bragança, demonstram a sensibilidade do autor, um amante das letras, das ciências e da música, ávido de novos conhecimentos e informações.

Quatorze cartas estão reunidas sob o título Miscelâneas: uma de D. João III ao seu Chanceler, escrita por Fernam d' Alvarez, em 22.03.1963, uma do Infante Fernando (22.01.1633), cinco do Infante, Cardeal e Rei Henrique (1538-1563), duas de Antonio d'Ataide dirigidas ao rei (1537-1541), uma de Antonio Carneiro para o Conde de Castanheira (s.d.), uma de Frey Duarte dirigida ao rei (1541), uma da Rainha Leonora, como já foi especificado anteriormente, escrita em espanhol (1525), uma anônima, dirigida ao Infante Dom Luís (1537), uma anônima sem destinatário (1551).

Segundo Barreto (1999, p.32), as cartas da corte de D. João lII, além de constituírem um documento importante para o estudo da língua portuguesa no século XVI, fornecem importantes informações sobre a vida da corte portuguesa, no período áureo da história de Portugal.

Foram utilizadas para essa pesquisa, como já especificado anteriormente, as cartas do Infante Luis, as de Jaime IV, duque de Bragança e as de Theodosius, duque de Barcelos.

A edição consultada foi a de J. D. M. Ford e L. G. Moffat, publicada em Cambridge, pela Havard University, em 1933.

4.2.2.1.2 Século XVII

O corpus português do século XVII é composto pelas Cartas Familiares de D. Francisco Manuel de Melo e pelas Cartas de Amor de Sóror Mariana Alcoforado:

o Cartas Familiares de D. Francisco Manuel de Melo (CFM) D. Francisco Manuel de Melo nasceu em Lisboa, em 1608. Oriundo de família nobre começou, muito novo, a frequentar a corte. Embora tenha cursado Humanidades, no Colégio de Santo Antão, dedicou-se ao estudo da Matemática, pois pensava seguir a carreira das armas. Militou na marinha e, depois de um naufrágio, passou a viver em Madrid.

Em 1639 comandou um regimento na Flandres e lutou contra os Holandeses. Em 1641, encontrando-se em Londres, aderiu à causa da independência em Portugal, regressando ao reino onde, depois de receber a comenda da Ordem de Cristo, foi acusado e preso por conivência no assassinato de Francisco Cardoso.

De Novembro de 1644 até a Primavera de 1650, esteve preso na Torre de Belém, na Torre Velha e no Castelo de S. Jorge. Em 1650 foi-lhe mudada a pena para o degredo, que deveria ser cumprido no Brasil. Assim, em 1655, seguiu para o Brasil, onde cumpriu parte da sentença, até princípios de 1658, data da morte de D. João IV, quando regressou a Portugal e foi finalmente anistiado. A partir de 1662, exerceu atividade diplomática na Inglaterra, França e Itália, voltando ao Reino em 1665, onde, em outubro do ano seguinte, veio a falecer.

Para Massaud Moisés (2008, p.80-81), apesar da vasta obra do autor, “é na epistolografia e nos escritos morais que atinge o máximo de suas possibilidades”. As Cartas Familiares, ainda segundo o mesmo autor, “são importantes por seu caráter confessional e documental, mas o escritor fala menos de si do que das gentes e acontecimentos contemporâneos, mantendo sempre compreensível reserva.”.

A edição utilizada para análise foi a do Corpus Histórico do Português Tycho Brahe, organizado por um grupo de pesquisadores da Universidade de Campinas (Unicampi), um corpus eletrônico anotado, composto de textos em português, escritos por autores nascidos entre 1380 e 1845. A edição de base foi a de 1942, com seleção, prefácio e notas de M. Rodrigues Lapa, publicada em Lisboa, pela Livraria Sá da Costa.

o Cartas de amor de Sóror Mariana Alcoforado (CMA)

Sóror Mariana Alcoforado foi uma das religiosas da Ordem de Santa Clara, do Convento da Conceição de Beja, local onde, atualmente, funciona o Museu Regional da cidade. Natural de Beja, nasceu a 22 de Abril de 1640, entrou na clausura com 11 anos, vindo a professar aos 16. Porteira, Escrivã e Vigária, foram alguns dos cargos que exerceu durante a sua longa vida conventual. Faleceu em 28 de Julho de 1723. (MUSEU REGIONAL DE BEJA , 1992),

Em 1669, na cidade de Paris, surgiu um livro intitulado “Lettres Portugaises Traduites em Français” (Cartas Portuguesa traduzidas para o francês), publicado pelo livreiro Claude Barbin, que apresentava cinco cartas, escritas por uma freira portuguesa a um oficial do exército francês. Entretanto, o nome da freira não era citado, assim como o do oficial e do tradutor, fato que até hoje gera controvérsia acerca da autenticidade da autoria.

Em 1810, o crítico literário francês Boissonade revelou ter encontrado, num exemplar antigo das Cartas, uma nota que dizia: “A religiosa que escreveu essas cartas se chamava Mariana Alcoforado, freira em Beja, entre a Estremadura e a Andaluzia. O cavaleiro a quem as cartas foram escritas era o conde de Chamilly, chamado então de Conde de Saint-Léger ”. (NEVES, L. 2003, p. 2). A partir daí, as cartas foram lidas e traduzidas em várias línguas, mas de acordo com Massaud Moisés (2008, p.89) “o problema que as cinco cartas levantaram não parece de todo resolvido” tal o volume das conjecturas e indagações feitas.

A edição consultada para esta pesquisa foi a publicada pela Imago, no Rio de janeiro, em 1992.

4.2.2.1.3 Século XVIII

As Cartas consultadas para o século XVIII foram as de Francisco Xavier de Oliveira, ou Cavaleiro de Oliveira, como era denominado, e as de Pina Manique. Foram escolhidas como corpus, tendo em vista constituírem documentos importantes para o conhecimento da sociedade lisboeta do mencionado século, e por conseqüência, da linguagem em uso.

o Cartas de Francisco Xavier de Oliveira, ou Cavaleiro de

Oliveira (CCO)

No Dicionário Cronológico de Autores Portugueses (1989), Cavaleiro de Oliveira, é apresentado como:

Comentador fino e divertido da vida e dos costumes portugueses no século XVIII, as suas observações têm o maior interesse para compreender a mentalidade do tempo, oferecendo-nos, ao mesmo tempo, o retrato vivo de um libertino que oscila entre a gabarolice e uma surpreendente discrição. A mundanidade é a característica primacial da sua obra, onde se espelha uma experiência que merece a nossa atenção.

Aos vinte e sete anos, Francisco Xavier de Oliveira, obteve o grau de Cavaleiro da Ordem de Cristo, título que usou ostensivamente durante toda a sua vida e do qual se orgulha nos seus escritos. De acordo com Massaud Moisés (2008, p.83) “é uma das figuras humanas e literárias mais curiosas do tempo, quer pela aventurosa vida que levou, quer pela obra onde caldeou uma vária e complexa”. Escreveu sempre obras de observação, com o propósito definido e pragmático de “realizar conquistas amorosas, sobretudo por meio de cartas, defender-se dos ataques que lhe eram dirigidos e satirizar os usos e costumes do tempo”.

A edição utilizada para análise das Cartas de Cavaleiro de Oliveira foi também a do Corpus Histórico do Português Tycho Brahe, já especificada anteriormente.

o Cartas de Pina Manique (CPM)

Formado em Leis pela Universidade de Coimbra, Diogo Inácio de Pina Manique, ocupou diversos cargos, antes de ser designado Intendente- Geral da Polícia. Foi juiz do crime em diversos bairros de Lisboa, superintendente-geral de Contrabandos e Descaminhos, desembargador da Relação do Porto, desembargador dos Agravos da Casa da Suplicação.Foi considerado o homem da confiança do Marquês do Pombal.

O Dicionário Cronológico de Autores Portugueses (1989) registra que era:

Moço fidalgo, primeiro senhor de Manique do Intendente; 4.º senhor do morgado de S. Joaquim, na vila de Coina; alcaide-mor de Portalegre, comendador da ordem de Cristo, chanceler-mor do reino, desembargador do Paço; intendente geral da polícia da corte, e reino; administrador geral da Alfândega Grande de Lisboa; feitor-mor das mais alfândegas do reino; administrador da Casa Pia do castelo de S. Jorge; bacharel formado em Leis pela Universidade de Coimbra, juiz do crime do bairro do Castelo, etc.

Para esta tese, tendo em vista o número de linhas desejado, foram analisadas 40, das 72 cartas escritas.

A edição utilizada para análise das Cartas de Pina Manique foi também a do Corpus Histórico do Português Tycho Brahe, já, anteriormente, especificado.

4.2.2.1.4 Século XIX

Para representar o século XIX foram selecionadas, tendo em vista o número de linhas desejado para cada século, cartas de três autores: Ramalho Ortigão, Eça de Queirós e Camilo Castelo Branco .

Interessante destacar a interrelação entre a vida e a obra de Ramalho Ortigão e Eça de Queirós – de certa forma eles sempre estiveram muito próximos, embora o último tenha tido uma carreira literária de maior destaque.

o As Catas a Emília , Ramalho Ortigão (CRO)

Ramalho Ortigão nasceu de uma abastada família nortenha de origem rural, o que haveria sempre de marcar o seu aspecto físico, a sua estrutura moral e o próprio estilo da sua obra.

Fez os estudos preparatórios no Porto, e dedicou-se também ao magistério como seu pai. Lecionou no colégio da Lapa, que seu pai dirigia, e sentindo uma grande inclinação para as letras, entrou para a redação do Jornal do Porto, tomando a seu cargo a seção noticiosa e o folhetim. Naquela folha, colaboravam então os políticos mais em evidência na época. Ramalho Ortigão logo se “firmou um espírito cintilante e pitoresco, revelando as altas qualidades que lhe deviam dar nas letras um lugar tão especial” (DICIONÁRIO CRONOLÓGICO DE AUTORES PORTUGUESES, 1989). Lançado na vida do jornalismo, e tendo sido nomeado oficial da Academia Real das Ciências, veio, em 1879, para Lisboa, estabelecer definitiva residência. Segundo Massaud Moisés (2008, p. 200) “foi um autêntico repórter do tempo, mas repórter apaixonado por sua terra.”

As cartas em estudo são denominadas “Cartas a Emilia”, embora pouco se saiba acerca de seu casamento com D. Emília Isaura Vilaça de Araújo Vieira, a destinatária.

As cartas de Ramalho para a mulher e toda a família foram reveladoras. Era fácil perceber que ele tinha consciência de que as suas cartas seriam lidas em voz alta, para o círculo familiar e dos amigos íntimos, para que todos tivessem conhecimento daquilo que ele, Ramalho, via e admirava. Suas cartas tinham como destinatário uma autêntica plateia. Por tal razão Ramalho autorizava a publicação das cartas em jornais. Através dessas cartas, conservadas hoje entre os espólios da Biblioteca Nacional, foi possível usufruir do sabor de sua inteligência e, sobretudo, de seu bom gosto, finura de espírito, conhecimentos de arte. (BERRINE, 2007)

Pode-se notar, pelo que afirma Beatriz Berrine, organizadora das Cartas, em depoimento à Biblioteca Nacional de Portugal (2007) que a correspondência de Ramalho Ortigão traça muito mais um “roteiro” das viagens do autor que, propriamente, um indicativo da intimidade do casal.

A edição utilizada para a análise foi a organizada por Beatriz Berrini, editada em Lisboa e publicada pela Biblioteca Nacional em 1993, disponível no Corpus Histórico do Português Tycho Brahe

o Correspondência de Eça de Queirós (CEQ)

Romancista consagrado por Os Maias e O crime do padre Amaro, José Maria Eça de Queirós iniciou os seus estudos no Colégio da Lapa, Porto, propriedade do pai de Ramalho Ortigão, que ali lecionava francês. Os dois escritores tornar-se-iam parceiros de letras e amigos para toda a vida.

Segundo Jorge Couto, presidente do Instituto Camões, "A literatura portuguesa não teria alcançado a importância internacional de que desfruta sem a contribuição determinante da obra de Eça de Queirós".

Em relação à sua correspondência, Carlos Reis (2005) afirma:

O epistolário queirosiano (ainda não estudado de forma sistemática, é certamente um corpus altamente sugestivo, pelas informações que encerra, mas não deve, por isso, levar-nos a esquecer o que, afinal, não se passa só com Eça: que, nas suas cartas, o escritor tende, não raro, a encenar explicações ou a ocultar motivações. E muitas vezes não é só o destinatário imediato que é visado: é também um destinatário mediato, inscrito na posteridade, destinatário outro não menos importante do que o primeiro, em quem o escritor provavelmente também pensa, ainda que obviamente o não diga de forma expressa. A esse destinatário outro endereçam-se, por vezes, de forma enviezada, explicações que podem não convencer o primeiro, mas que, a prazo, ilustrarão aspectos importantes da vida literária do escritor.

A publicação original da Correspondência de Eça de Queirós consta de 40 cartas, mas nove são escritas por Oliveira Martins. Para este estudo, foram consideradas as 31 cartas escritas por Eça de Queirós.

A edição da Correspondência de Eça de Queirós utilizada para análise foi, também, a organizada por Beatriz Berrini, editada em Lisboa e

publicada pela Biblioteca Nacional disponível no Corpus Histórico do

Português Tycho Brahe.

o Correspondência e declaração intima, de Camilo Castelo

Branco (CCB)

Camilo Castelo Branco nasceu em 1825, em Lisboa, e foi registrado como filho de mãe incógnita, pelo que se diz, porque o seu pai e a sua avó não queriam que o nome Castelo Branco estivesse envolvido com alguém de humilde condição. Órfão de pai aos dez anos tem o curso de sua vida modificado, indo morar em Trás-os-Montes com uma tia e posteriormente com uma irmã.

Camilo inicia os estudos primários, em 1830, em Lisboa, primeiro na escola de mestre Inácio Minas, na rua dos Calafates, depois na escola de Satírio Salazar, na Calçada do Duque. Formou-se lendo os clássicos portugueses e latinos e a literatura eclesiástica . Após muitas idas e vindas, prossegue os estudos com o padre Manuel Rodrigues, conhecido por padre Manuel da Lixa e, em 1843, já no Porto, é aprovado na Escola Médica e na Academia Politécnica. Entretanto, na Escola Médica do Porto, perde o ano por faltas e tenta o curso de Direito em Coimbra, fato que leva vários autores a denominá-lo como um “falhado nos estudos”.

Em 1841, aos dezesseis anos, Camilo Castelo Branco casa-se com Joaquina Pereira de França e instala-se em Ribeira de Pena. Entretanto, algum tempo depois, após vários romances tumultuados, inclusive, com uma freira, apaixona-se por Ana Plácido, um senhora casada, que, por ele, abandona o marido, fato que os leva a serem processados e presos por crime de adultério. Após serem libertados, Camilo assume a responsabilidade de sustentar a mulher e três filhos, um dos quais do casamento anterior de Ana Plácido. Desse modo, passa a trabalhar incansavelmente, apesar dos desgostos familiares (“um filho demente e outro doidivanas”) e dos sofrimentos que a sífilis começa a lhe causar, determinando-lhe a perda progressiva da vista até fazê-lo cego. Estafado, torturado, roído pela moléstia, Camilo suicida-se a 10 de junho de 1890, quando já gozava de largo prestígio como homem de letras.

Camilo impressiona primeiro que tudo pela aventuresca e trágica vida que levou: um como estigma de desgraça marcou-lhe a existência desde cedo. Impressiona ainda pela quantidade de obras que escreveu: somam algumas dezenas, formando a obra talvez mais extensa e variada em Língua Portuguesa.

Camilo Castelo Branco produziu, ao longo de sua vida, poesia, teatro, crítica literária, jornalismo, folhetim, historiografia, polêmica, romance, novela, conto e a epistolografia, levando Massaud Moisés (2008, p. 182) a descrevê-lo, com propriedade, como um “nato contador de histórias ... que conhece a Língua por dentro e por fora, a erudita e a popular ou regional.”, características que estão refletidas em sua correspondência.

As cinqüenta e três cartas selecionadas para o corpus desta pesquisa compõem o volume 1 – Autobiografia e memórias: verso, novelas e contos – da obra seleta publicada pela Editora José Aguilar, em 1960.

4.2.2.1.5 Século XX

Para analisar o século XX, foram utilizadas as cartas de Fernando Pessoa, Teófilo Braga e as cartas de diversos autores portugueses endereçadas a Cândido Figueiredo.

o Correspondências de Fernando Pessoa –1905/1922 (CFP) O mais universalizado e comentado dos poetas portugueses, Fernando Pessoa, é considerado o mais influente, o mais lido, o mais permanentemente intrigante, desde Camões. Para Massaud Moisés (2008, p.240) “um dos casos mais complexos, senão único da Literatura Portuguesa, tão fortemente perturbador que o futuro virá a compreendê-lo e julgá-lo como merece.”

Nascido em Lisboa, em 13 de Junho de 1888, e falecido 47 anos depois, em 30 de Novembro de 1935. Fernando Pessoa não casou, não teve filhos, não teve emprego certo, não teve, tirando Mário de Sá-Carneiro, amigos ‘íntimos’; não concluiu um curso superior, não viajou, depois do seu regresso a

Lisboa que se seguiu à estada (não por si determinada), de alguns anos, em Durban21; a sua vida foi, vastamente, uma sucessão ininterrupta de não aconteceres, só dramaticamente entrecortados, uma vez, pelo suicídio de Sá- Carneiro, acontecido à sua revelia. Bebeu muito, fato que o levou a morrer por cirrose. (DICIONÁRIO CRONOLÓGICO DE AUTORES PORTUGUESES, 1989).

Interessante destacar que Fernando Pessoa não gostava de escrever cartas para as pessoas que amava, como afirma o próprio autor em uma de suas cartas a Ofélia Queirós (carta 125, 1920):

Não te admires de certo laconismo nas minhas cartas. As cartas são para as pessoas a quem não interessa mais falar: para essas escrevo de boa vontade. A minha mãe, por exemplo, nunca escrevi de boa vontade, exactamente porque gosto muito dela.

As cartas aqui estudadas compõem o volume I, Correspondência - 1905 - 1922, organizado por Manuela Pereira da Silva, em 1999, que, no Posfácio, afirma ter reunido não apenas as cartas consideradas literárias, mas também as que, embora pouco significativas de um ponto de vista estritamente artístico, ajudassem a iluminar a personalidade multíplice de Fernando Pessoa e a desvendar alguns ‘mistérios’ da sua biografia.

o Cartas inéditas de oitenta e cinco escritores portugueses da

segunda metade do século XIX e do primeiro quartel do século actual (CIP)

Trata-se de uma publicação que reúne, como especifica o próprio título, oitenta e cinco autores portugueses da segunda metade do século XIX e dos primeiros vinte e cinco anos do século XX. Apesar do título se referir a escritores portugueses, entre eles estão incluídos também brasileiros a exemplo de Silvio Romero, Olavo Bilac, José Veríssimo, Gonçalves Dias e Machado de Assis, perfazendo um total de 165 cartas das quais foram analisadas 22, tendo em vista o objetivo de verificar a escrita de portugueses

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no século XX. Essas cartas fazem parte do acervo da correspondência endereçada a Cândido Figueiredo, conforme especifica o próprio autor no prefácio do livro: “são cartas que cultivo de minhas relações literárias ou não que tenho recebido por mais de meio século.

As cartas analisadas têm como remetentes: o arcebispo da Calcedônia, ministro dos Negócios Eclesiásticos e da Justiça; o Conde de