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SUMÁRIO

MODOS VERBAIS INDICATIVO SUBJUNTIVO

1. duração relativa das coisas que cria no ser humano a idéia de presente,

3.4 O PERÍODO HIPOTÉTICO

O período hipotético é caracterizado pelas construções em que se evidencia claramente a relação entre a prótase ou condição e a apódose ou consequência. Nessas construções, a situação da oração principal é uma contingência direta daquela expressa pela oração subordinada condicional.

Leão (1961, p.13) destaca a importância de se estudar o período hipotético ao afirmar que esse período “pode ser considerado uma das mais importantes entidades sintáticas que se prestam à nossa observação”, ratificando, que nele se revelam muitas características de uma língua e, também, “alguns traços do feitio mental dos indivíduos que compõem a comunidade linguística”.

A autora denomina período hipotético o conjunto de duas orações, uma das quais (geralmente a primeira) exprime uma suposição, condição ou

ponto de partida de raciocínio e subordina-se sintaticamente à outra, chamando a atenção para a maneira de interpretar a estrutura sintática do período hipotético, que considera como um caso de subordinação. Entretanto, destaca que alguns especialistas a interpretam como um caso de correlação. Ernout e Thomas (1989, p.374), por exemplo, identificam as duas proposições como interdependentes e solidárias, em vez de principal e subordinada, porque, como afirmam, “não podem existir uma sem a outra e só têm sentido uma pela outra” Este fato é inegável, segundo Leão, de um ponto de vista lógico, mas não de um ponto de vista sintático, pois para admitir-se a existência de uma correlação sintática, exige-se mais que o sentido, visto que será necessário uma estrutura típica.

Na maioria dos casos, o período estrutura-se com a oração subordinada antes da principal, o que se explica pela precedência lógica e cronológica da hipótese a sua consequência. Ou seja, quando o fato é concebido, já está submetido a certas condições. Desse modo, em síntese, para que ocorra o período hipotético, é necessário que seja estabelecida uma profunda vinculação lógica entre as duas orações que o compõem.

Villalobos (1997, p.447) afirma que:

As condicionais se encontram entre as mais complexas de nossas orações subordinadas, entre outros motivos, pela especial relação que se estabelece entre a prótase e a apódose, o que ocasiona um complicado jogo de relações modais e temporais com incidência também no plano semântico.

O período hipotético é formado por uma oração iniciada pela partícula se ou caso, caso que, dado caso que, denominada de condicionante, e a sentença principal ou condicionada, que completará o sentido da proposição hipotética.

A oração iniciada pela conjunção se pode denotar a condição de que depende certo acontecimento. Nesse caso, a oração condicionante pode se apresentar de três maneiras, como indica Said Ali (1971, p.188):

a. referir-se a um fato inexistente ou improvável: “Se eu tivesse dinheiro compraria uma casa”

b. referir-se a um fato realizável: “Se tiver dinheiro, comprarei uma casa.”

c. exprimir eventualidade: “Se queres a paz, prepara-te para a guerra.”

Quanto à equivalência estilística, Said Ali indica quatro possibilidades de construção:

1 o ato condicionante é expresso sob a forma de conselho (oração subordinada) – o ato condicionado denotará efeito ou consequência (principal): neste caso, a oração subordinativa iniciada por se terá o verbo no imperativo e a oração seguinte terá o valor de coordenada: Tome este remédio e ficarás curado [Se tomares este remédio ficarás curado].

2 a condicionante tem o verbo no tempo passado (pretérito mais-que- perfeito do indicativo ou pretérito imperfeito do subjuntivo) e é proferida antes da condicionada. Nesse caso, pode prescindir da conjunção se, mas o verbo deverá ser anteposto ao sujeito: Fizera-o eu, e arrependera-me.

3 A oração de se com verbo no imperfeito ou futuro do conjuntivo pode se converter em oração infinitiva precedida de a: A não ser assim, não fora possível o que vejo.

4 A oração condicionante pode ser substituída por uma oração gerundial: Ficarás curado seguindo os conselhos dos médicos.

As construções condicionais apresentam grande diversidade de estruturas sintáticas. Mateus et al (2003, p.706) classificam as orações condicionais em factuais (ou reais), hipotéticas (ou potenciais) e contrafactuais (ou irreais):

a. Factuais ou reais – nesse tipo de construção, o conteúdo das duas proposições se verifica no mundo real, no intervalo de tempo relevante. Nesse caso, a oração condicional terá o verbo no presente do indicativo:

 Se a água atinge a temperatura de 100°C, (então) entra / entrará em ebulição.

 Se o narciso é uma flor, (então) pertence ao reino vegetal.

b. Hipotéticas ou potenciais - a proposição hipotética remete para um mundo possível, criado linguisticamente pelo enunciado, epistemicamente não acessível no intervalo de tempo da enunciação, e no qual, dado o antecedente, verifica-se o conteúdo proposicional do consequente. O tempo utilizado nesta oração é o futuro. Entretanto, se a oração antecedente for iniciada por: se, caso, no caso de, se porventura, com o verbo no futuro do conjuntivo, terá um valor condicional e temporal. Nesse caso, é usado na oração consequente, o verbo no presente ou no futuro do indicativo.

 Se tu vieres cedo, vamos / iremos jantar fora.  Se a Maria estudar, tem / terá melhores notas.

c. contrafactuais ou irreais – nestas orações são estabelecidas relações entre proposições que se verificam em mundos alternativos ao mundo real. No intervalo de tempo relevante, a negação do antecedente verifica-se no mundo real, sendo sempre possível acrescentar à proposição antecedente a sua negação:

 Se tivesse chovido em Portugal em 1981, não tinha/ teria havido seca.

 Se a Terra não fosse esférica, era/seria cúbica.

O mesmo afirma Almeida (1999, p.359) acrescentando que quando a hipótese é real, a conjunção se equivale a uma conjunção causal e, assim, na prótese o verbo fica em qualquer tempo do indicativo, com exceção do futuro, que é substituído pela perífrase: verbo ir + infinitivo do verbo principal:

 Se vou ao teatro, é porque gosto.

Quando a hipótese é possível (potencial), o verbo da prótase ou vai para o imperfeito do subjuntivo e o da apódose para o futuro do pretérito ou vai para o futuro do subjuntivo e o da apódose para o futuro simples ou composto do indicativo:

 Se eu for, avisarei.  Se eu fosse, avisaria.

Se a hipótese é irreal, o fato é inexistente; nesse caso, o verbo da prótase vai para o imperfeito ou mais-que-perfeito do subjuntivo e o da apódose para o futuro do pretérito simples ou composto:

 Se eu pudesse falar, não estaria escrevendo.  Se eu tivesse podido falar, não teria escrito.

Uma vez que o período hipotético se apresenta, no português arcaico, com uma estrutura diversa da que está em uso no português contemporâneo, será feita uma revisão da sua constituição a partir do latim.

3.4.1 O período hipotético no latim clássico

A principal característica das línguas humanas é sua heterogeneidade e as constantes mudanças que apresentam. A língua latina, língua oficial do império romano, não podia se furtar a essa realidade, apresentando basicamente duas variantes: o “latim clássico”, língua aristocrática e culta, língua dos escritores, que possuía uma estrutura gramatical rígida e um vocabulário apurado, e o “latim vulgar” ou “latim falado”, língua da plebe, língua do cotidiano, repleta de formas interpretadas como ‘transgressões ou erros’ se comparadas às da língua utilizada pela elite, como já especificado anteriormente.

Assim, o período hipotético deve ser analisado, observando-se as variações que ocorreram ao longo do tempo nas formas de expressar a hipótese.

Referindo-se à subordinação, Ernesto Faria (1958, p. 403), afirma que a oração subordinada difere da oração independente e também da oração coordenada por indicar uma relação de dependência referente a outra do mesmo período,que, por essa razão, é denominada de principal, e que a

subordinação se desenvolveu tendo por ponto de partida a simples justaposição.

A subordinação é indicada por um modo especial (o subjuntivo), o que, para o autor, possibilita vislumbrar a sua primitiva origem em frases cujo verbo bastava para exprimir a própria idéia de subordinação, que, posteriormente, passou a ser expressa por meio de partículas subordinativas.

No que diz respeito às orações condicionais, Faria distingue três tipos, no latim clássico, os quais se constroem com o verbo no modo indicativo ou subjuntivo, segundo a natureza da condição expressa.

São apontados os seguintes tipos de condicionais pelo autor: