• Nenhum resultado encontrado

SUMÁRIO

INQUÉRITO DURAÇÃO INFOR MANTE

6 ANÁLISE DE DADOS

6.1 VARIÁVEL DEPENDENTE

6.1 VARIÁVEL DEPENDENTE

Como explica Labov, duas formas alternativas com o mesmo valor de verdade, constituem-se como variantes de uma mesma variável.

Para o autor, a variação consiste na opção de dizer a mesma coisa de maneiras diferentes. Assim, o uso do pretérito mais-que-perfeito nas suas formas simples ou composta representa a variável dependente a ser estudada e analisada na presente pesquisa.

Fixada a variável dependente – emprego do pretérito-mais-que- perfeito nas formas simples ou composta – foram selecionadas todas as ocorrências desse tempo verbal no corpus de língua escrita e de língua falada que serviu de base a esta pesquisa.

6.1.1 Ocorrências do pretérito mais-que-perfeito simples e composto na língua escrita

Detectadas todas as ocorrências do pretérito mais-que-perfeito no

corpus em análise, foram computados os índices de uso desse tempo verbal na

sua forma simples ou composta, inicialmente nos textos de diferentes autores de cada uma das sincronias num estudo em tempo real de longa duração. A frequência de uso de cada uma das formas do referido tempo em cada um dos textos analisados pode ser observada a seguir:

o Português europeu

Tabela 3 – Uso do pretérito mais-que-perfeito simples e composto no corpus do português europeu PRETÉRITO MAIS-QUE- PERFEITO SIMPLES COMPOSTO SÉCULO PORTUGAL Qt. % Qt. %

XVI Cartas da corte de D. João III 147 86,0 24 14,0

Cartas familiares de D. Francisco Manuel de Melo

137 87,8 19 12,2

XVII

Cartas de amor da Sóror Mariana Alcoforado

6 28,6 15 71,4

Cartas de Cavaleiro de Oliveira (Francisco Xavier de Oliveira).

26 33,3 52 66,7

XVIII

Cartas de Pina Manique 6 50,0 6 50,0

Cartas de Ramalho Ortigão 8 26,7 22 73,3

Cartas de Eça de Queiroz 6 66,7 3 33,3

XIX

Correspondência Camilo Castelo Branco

6 75,0 2 25,0

Cartas de Fernando Pessoa 10 37,0 17 63,0

Cartas inéditas de oitenta e cinco escritores portugueses

1 33,3 2 66,7 XX Cartas de Teófilo 15 100,0 0 - TOTAIS 368 69,4% 162 30,6%

Como se pode observar, nos textos do português europeu, pertencentes aos séculos XVI e XVII, o emprego do pretérito mais-que-perfeito simples predomina. A partir do século XVIII o seu uso decresce, enquanto o do mais-que-perfeito composto aumenta, voltando a decair no século XX. Entretanto, se comparados os índices de uso nos séculos XVI e XX, verifica-se, no século XVI, 86,0% (147 ocorrências) da forma simples e 14,0% (24

ocorrências) da composta e, no século XX, 56,3%24 (26 ocorrências) de uso da forma simples e 43,7%25 (19 ocorrências) da composta, o que revela um crescimento no uso da forma composta e um decréscimo no uso da simples, como pode ser observado no gráfico 1.

147 24 143 34 32 58 20 27 26 19 0 20 40 60 80 100 120 140 160

XVI XVII XVIII XIX XX

SIMPLES COMPOSTO

Gráfico 1: Uso do pretérito mais-que-perfeito simples e composto no corpus do português europeu

Comparando o número de ocorrências das formas simples e composta nos textos de Fernando Pessoa e de Teófilo Braga, ambos escritores do século XX, verifica-se uma situação oposta. Enquanto nos textos do primeiro autor há 37,0% (10 ocorrências) de uso da forma simples e 63,0% (17 ocorrências) da forma composta, nos textos de Teófilo Braga, observa-se 100,0% (15 ocorrências) de uso da forma simples, o que pode ser, talvez, explicado por uma idiossincrasia do autor, uma vez que, também nas Cartas inéditas dos 85 autores portugueses consultadas, nota-se a preferência pelo emprego do mais-que-perfeito composto; entretanto, a freqüência de uso desse tempo verbal nessas cartas é bastante restrita, não permitindo nenhuma conclusão a respeito da preferência de uso da forma simples ou composta do pretérito mais-que-perfeito.

24 Valor % correspondente à média 25

o Português do Brasil

Tabela 4 – Uso do pretérito mais-que-perfeito simples e composto no corpus do português do Brasil PRETÉRITO MAIS-QUE- PERFEITO SIMPLES COMPOSTO SÉCULO BRASIL Qt. % Qt. %

XVI Cartas dos primeiros jesuítas 112 83,6 22 16,4

Cartas do Padre Antonio Vieira 114 70,8 47 29,2 XVII

Correspondências dos Governadores Geraes

18 52,9 16 47,1

Cartas baianas setecentistas 40 67,8 19 32,2

XVIII

Cartas da Bahia – Marquês do Lavradio

12 41,4 17 58,6

XIX Epistolário de Machado de Assis

35 79,5 9 20,5

Carta dos brasileiros cultos 17 77,3 5 22,7

XX Correspondências de Clarice Lispector

11 34,4 21 65,6%

Cartas de Mário de Andrade a Manuel Bandeira 10 58,8 7 41,2 TOTAIS 369 69,4% 163 30,6%

Nos textos do português do Brasil, como se pode verificar na tabela 4 e no gráfico 2, o mais-que-perfeito composto predomina nas cartas do Marquês do Lavradio, texto do século XVIII, mas o mesmo não ocorre nas Cartas baianas Setecentistas, em que o índice de uso do mais-que-perfeito simples é bem maior, assim como nos textos do século XIX, o que permite a hipótese de que a preferência pelo emprego do mais-que-perfeito composto tenha ocorrido primeiramente em Portugal. No século XX, nota-se já uma certa preferência pelo mais-que-perfeito composto. Cabe observar, entretanto, que nas cartas de Mário de Andrade ainda persiste a tendência de maior uso da forma simples, diferentemente do que ocorre nas cartas de Clarice Lispector.

112 22 132 63 52 36 52 14 21 28 0 20 40 60 80 100 120 140

XVI XVII XVIII XIX XX

SIMPLES COMPOSTO

Gráfico 2: Uso do pretérito mais-que-perfeito simples e composto no corpus do português do Brasil

Pela análise dos gráficos 1 e 2, é possível notar que, a partir do século XVIII, o número total de ocorrências de uso do pretérito mais-que- perfeito, quer simples quer composto, já é bem menor, o que parece indicar ter- se tornado este tempo verbal menos usado nesse século, tanto no Brasil quanto em Portugal.

Os dados do corpus do Brasil e de Portugal serão apresentados no gráfico a seguir:

0 20 40 60 80 100 120 140 160 SIMPLES (B) 112 132 52 52 21 COMPOSTO (B) 22 63 36 14 28 SIMPLES (P) 147 143 32 20 26 COMPOSTO (P) 24 34 58 27 19

XVI XVII XVIII XIX XX

Gráfico 3: Uso do pretérito mais-que-perfeito simples e composto: confronto entre o corpus do português de Portugal e do Brasil dos séculos XVI ao XX

Como se pode observar, tanto nos textos do Brasil quanto nos de Portugal, há o predomínio da forma simples nos séculos XVI e XVII. A partir do século XVIII, cai abruptamente o número de ocorrências da forma simples nos dois países. Entretanto, enquanto no Brasil ainda há o predomínio da forma simples até os séculos XVIII e XIX, em Portugal, a forma composta, no séc. XVIII começa a se sobrepor. No século XX, persiste a redução no número de ocorrências desse tempo verbal, mas ocorre uma inversão: enquanto no Brasil há uma maior incidência da forma composta, em Portugal é o emprego da forma simples que se destaca.

6.1.1.1 Ocorrências do pretérito mais-que-perfeito no corpus de Portugal e do Brasil nos diferentes séculos

Século XVI

Observando-se a tabela e o gráfico a seguir, percebe-se, como já foi especificado, que no século XVI, tanto nos textos escritos no Brasil, quanto nos escritos em Portugal, há a mesma tendência de priorizar o emprego do pretérito mais-que-perfeito simples. Cabe observar, entretanto, que, nesse século, ainda não há uma escrita “propriamente” brasileira, pois, como já explicado, apesar de residirem no Brasil, os autores das cartas selecionadas para o corpus desta pesquisa eram oriundos de Portugal; levou-se em conta, pois, a escrita produzida no Brasil.

Tabela 5 – Uso do pretérito mais-que-perfeito simples e composto no século XVI – Portugal/Brasil PRETÉRITO MAIS-QUE- PERFEITO SIMPLES COMPOSTO PAÍS CARTAS Qt. % Qt. %

PORTUGAL Cartas da corte de D. João III 147 86,0 24 14,0

0 50 100 150

Uso do pretérito mais-que-perfeito simples e composto no século XVI

PORTUGAL 147 24

BRASIL 112 22

SIMPLES COMPOSTO

Gráfico 4 Uso do pretérito mais-que-perfeito simples e composto no século XVI, no corpus de Portugal e do Brasil

Observa-se que, tanto nos textos escritos no Brasil quanto nos escritos em Portugal, os índices de uso das formas simples e composta são bastante semelhantes e que nos textos dos dois países a forma simples predomina. A preferência pelo emprego da forma simples do mais-que-perfeito, nesse século, também foi observada por Coan (2003), ao analisar um corpus bastante diversificado do mesmo século – cartas, novelas, peças de teatro e contos – no qual foram detectadas 162 ocorrências da forma simples e apenas 8, da forma composta.

Século XVII

Comparando o número de ocorrências desse tempo verbal em textos de autores portugueses e brasileiros do século XVII, verifica-se que, embora predomine, na maior parte dos textos estudados, a preferência pelo emprego da forma simples, nos textos de Sóror Mariana Alcoforado há o predomínio do emprego da forma composta. A escolha dessa forma pela autora pode ser justificada pelo caráter informal dos textos e pela temática das

cartas – amor, paixão - que pressupõem, por serem textos e assuntos de caráter mais íntimos, a escolha de termos e estruturas menos formais, pois como afirma Said Ali (1971, p. 232) a língua mais formal põe em primeiro plano as formas em – ara, – era, e – ira, por parecerem mais elegantes, enquanto na língua falada, mais informal, há a indiscutível preferência pelas formas compostas, cuja constância de uso é responsável pela extensão do seu emprego a textos escritos do mesmo teor.

Tabela 6 – Uso do pretérito mais-que-perfeito simples e composto no século XVII – Portugal/ Brasil

PRETÉRITO MAIS-QUE-