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TEMPO PRIMITIVO TEMPO DERIVADO Presente do Indicativo

SUMÁRIO

TEMPO PRIMITIVO TEMPO DERIVADO Presente do Indicativo

 Presente do Subjuntivo  Imperativo (afirmativo e negativo) Pretérito perfeito do Indicativo  Pretérito mais-que-perfeito do Indicativo  Futuro do Subjuntivo  Pretérito imperfeito do Subjuntivo Infinitivo impessoal  Pretérito imperfeito do Indicativo  Futuro do presente do Indicativo  Futuro do pretérito do Indicativo  Infinitivo pessoal Figura 4: : Formação dos tempos verbais simples

Com exceção do infinitivo pessoal, os tempos simples dos verbos portugueses correspondem a formações existentes no latim clássico ou no latim vulgar, que sofreram, com o passar dos séculos, alterações fonéticas (CUNHA; CINTRA, 2001, p.376).

Assim como o sistema verbal do latim, o do português apresenta as variações de número, de pessoa, de modo, de tempo, de aspecto e de voz.

Como afirmam Coutinho e outros autores, a fim de preencher as lacunas deixadas pelos tempos verbais que não foram transpostos para a língua portuguesa, foram criados os tempos compostos:

Estes tempos, de criação românica, de que se encontram vestígios no próprio latim clássico, foram formados a princípio com o verbo habere, depois com tenere, e o particípio passado de outro verbo. Perífrases tais já ocorriam em Plauto: illa omnia missa habeo; em César: quem ex

omni província coactum habebat; em Cícero: satis habeo deliberatum:

em Salústio: compertum ego habeo.. (COUTINHO, 1958, p.304)

Barros (1540), ao abordar a questão dos tempos compostos, que ele denomina de “tempo per maneira de rodeo”, afirma que esses tempos compostos substituem as formas simples latinas que não passaram para o português. O autor destaca que os tempos compostos são construídos, fundamentalmente, com o verbo ter. O imperfeito do verbo haver seguido da preposição de + infinitivo de um verbo principal constitui o que o autor denomina “tempo per rodeo vindoiro”, e corresponde a uma ação futura.

Barros ainda destaca que há tempos per rodeo que possuem uma correlação com os tempos simples (amara/tinha amado), e que há, nessas formas, uma diferença aspectual.

Chamamos tempo per rodeo, quando simplesmente nam podemos usár dalgũ, entã pera ô sinificár tomamos este uérbo, tenho, na quelle tempo que é máis confórme ao uérbo que queremos cõiugár, e cõ o seu participio passádo dizemos, tiuéra amádo: como se póde uer no tempo passádo e máis que acabádo no módo pera de seiár, o quál suprimos per este rodeo, por nam termos simples com que ô sinificár. E no módo infinitiuo nam acabádo por nã termos tempo passádo e uindoiro ambos simples, sinificámos per rodeo: o passádo, dizendo, ter amádo, lido, ouuido, sido, e o uindoiro, auer damár, ler, ouuir, ser. (BARROS, 1540)

Assim como os autores anteriormente apresentados, para Jerônimo Soares Barboza (1830), os verbos auxiliares são originados dos verbos latinos, que, por terem perdido suas marcas morfológicas aspectuais, passaram a constituir estruturas compostas. No que se refere aos tempos compostos, o autor afirma que, para compor as construções perifrásticas, os verbos, junto aos “nomes verbais”, perdem a significação natural para exprimir diversos estados de existência. Para o autor, ter e haver, como auxiliares, ainda mantêm alguns resquícios de sua natureza primitiva, exprimindo uma posse com caráter virtual, metafórico. Desse modo, o uso do verbo ter, como auxiliar, deve ser utilizado associado ao particípio perfeito ativo do verbo adjetivo “se queremos

uma acção ou existência já concluída e acabada” – tendo amado, tendo entendido, tendo aplaudido – e o uso do auxiliar haver com o infinitivo do verbo adjetivo, por sua vez, é indicado para uma “acção que he por fazer”, - havendo de amar, havendo de entender, havendo de applaudir – ou seja, uma acção futura. (BARBOZA, 1830, p. 288).

Júlio Ribeiro (1884, p.194) ressalta o que já havia sido afirmado por Coutinho (cf. p. 47): o fato de ser o português a língua românica “que tem conservado com mais fieldade as formas da conjugação latina”.

Em relação aos tempos compostos, o autor salienta que a maior diferença entre a conjugação latina e a portuguesa é:

... que os tempos de acção incompleta da voz passiva e todos da activa se exprimem em Latim por desinências (amor, amavero); ao passo que em Portuguez se exprimem pelo particípio aoristo precedido de ter na voz activa e de ser na passiva. (RIBEIRO, JULIO, 1884, p.202)

O autor esclarece, assim como Nunes (cf. p. 46), que esse fato não é original, pois já existem ocorrências no falar dos romanos, exemplificando com Cícero (43 a.C) e César (44 a.C) .

Ernesto Carneiro Ribeiro não se utiliza da terminologia tempos compostos, mas de “linguagem composta”. Para isso, apresenta os verbos vir, ser, estar, dever, ir, andar, ter e haver como auxiliares, afirmando que “Todos eles como auxiliares formam a linguagem composta com as variações verbaes indefinidas a que se appõem.” (RIBEIRO, E., 1915, p.152).

O autor faz ainda uma distinção entre os tempos simples e compostos. Para ele, simples são aqueles “que se formam só com a mudança de flexões: amo, amei, amasse, amarei, amaria, amando, etc” (1915, p.71), enquanto os compostos, que chama também de periphrásticos, são “os que se formam com o socorro dos verbos auxiliares ... tenho andado, tinha andado, haviam gastado, hei de gastar...” (1915, p72)

Em relação aos tempos compostos, o conjunto verbo auxiliar + verbo principal constitui uma locução na qual o auxiliar contém as flexões e o verbo principal se apresenta em uma forma nominal de gerúndio, de particípio ou de infinitivo do verbo. Com a formação do tempo composto, há a fusão semântica

das duas formas verbais, ficando a ação subordinada a um mesmo agente. As diversas formas dos tempos compostos, quer no indicativo, quer no subjuntivo ou nas formas nominais possuem um mesmo traço semântico aspectual que as difere das formas simples.

Em sua Gramática Histórica da Língua Portuguêsa (1971, p. 180), Said Ali destaca também que o tempo composto resulta da combinação de um verbo relacional (auxiliar) em suas diversas formas com o infinitivo, gerúndio ou particípio do pretérito de um verbo nocional (principal). Como explica, era praxe antiga dos gramáticos, por desconhecimento da verdadeira história das formas analíticas, considerar tempos compostos e conjugações perifrásticas como “cousas distintas”. Para ele, trata-se de processos análogos.

O autor confirma o fato de, no uso de ter e haver, a conjugação perifrástica indicar a existência de um elemento ativo, representado por haver ou ter, e um elemento passivo, o particípio passivo. Nesse caso, o verbo ativo estaria relacionado ao sujeito da ação e o particípio passivo, ao complemento verbal, demonstrando uma independência das duas formas verbais, cada qual relacionada a um elemento específico: uma ao sujeito e outra ao objeto.

Na conjugação composta, para o mesmo autor, deve ser utilizado o tempo presente, em português, para denotar o “acto da realização perfeita”, porém durativo ou iterativo, abarcando o momento em que se fala e podendo, até, excedê-lo, e, raras vezes, para enfatizar um ato que durou “sómente até este mesmo momento”. Para ele, nos demais tempos, a ausência do aspecto perfectivo objetiva “assignalar o acto perfeitamente executado no passado e no futuro” (1964, p.180).

Cegalla (1984, p.162), Rocha Lima (2003, p.123) e Bechara (2006, p.221) reconhecem que o verbo ter corresponde ao auxiliar prototípico para o tempo composto, sendo o haver menos frequente. O auxiliar, na formação das estruturas compostas, contém apenas uma noção gramatical, que indica as marcas morfológicas de pessoa, número, tempo e modo.

Câmara Júnior (1976, p. 164) afirma que as línguas indo-européias sempre conheceram, ao lado das formas flexionais do verbo, locuções verbais ou perífrases para expressar categorias não previstas no quadro das flexões. O futuro, por exemplo, constituiu-se comumente dessa maneira.

O processo geral das línguas indo-européias, nas conjugações perifrásticas, como afirma o autor, é o de combinar uma forma nominal do verbo com qualquer forma flexional de outro verbo selecionado para auxiliar no padrão perifrástico dado. A significação lexical do conjunto está na forma nominal, assim como a forma simples flexional apresenta no radical a sua significação. Desse modo, a flexão do auxiliar traz em si uma significação gramatical dupla: por um lado, as categorias número-pessoal e modo-temporal e por outro, a associação do significado lexical do auxiliar com o tipo de forma nominal que o acompanha, que, no caso do português, são o particípio perfeito, o gerúndio e o infinitivo.

Este processo de unidade semântica, não obriga, entretanto, a uma ordem fixa das formas constituintes, não impedindo, também, que haja uma possível intercalação de locuções ou vocábulos. Assim, as duas formas verbais

auxiliar + forma nominal não se distinguem, ao se analisar a oração para se

associar, separadamente, a outro elemento do período.

As conjugações perifrásticas, portanto, são menos ou mais gramaticalizadas. Quanto mais gramaticalizada ela for, mais o auxiliar terá seu conteúdo lexical esvaziado, tornando-se um mero índice da categoria que se destina a exprimir.

Tradicionalmente, no português, por conta do processo de gramaticalização do auxiliar, há dois modelos de composição denominados tempos compostos:

1. a locução do verbo ser, em todas as suas flexões, + particípio perfeito, que sob o nome de ‘voz passiva’ é apresentada como a contrapartida da conjugação flexional ativa;

2. a locução de alguns tempos do verbo ter + particípio perfeito nominalmente invariável, incorporada à série de tempos de formas flexionais unas.

Câmara Júnior (1976, p.164) considera que o verbo haver, na construção do tempo composto, aparece “às vezes na língua literária, sem raízes no uso corrente”. Afirma que a sua origem está num padrão oracional que se estabeleceu no latim, para indicar o aspecto permansivo que desaparecera do perfectum latino. Usava-se o verbo habere “ter” com um

objeto modificado por um particípio perfeito que com ele concordava em número, gênero e caso: habeo litteram scriptam ‘tenho uma carta escrita (em meu poder)‘.

Esse tipo de locução não sofreu mudança, do ponto de vista morfológico, conservando-se gramaticalmente a concordância nominal do particípio com o substantivo objeto. Foi somente após um período de variação livre na língua literária clássica que a concordância do particípio com seu objeto direto perdeu-se, e a construção se estendeu a verbos intransitivos.

O português, dentre as línguas românicas, como já mencionado, é a que melhor conserva o valor primitivo da locução, um ato perfeitamente executado no passado ou no presente. Como afirma Câmara Júnior, “é um perfeito, delimitado no tempo pelo auxiliar.”.

Desse modo, para Câmara Junior (1976, p. 168) não há conflito entre a unidade significativa geral e as especializações que se verificam em alguns tempos verbais, a exemplo do pretérito perfeito e mais-que-perfeito que, em linhas gerais, coincidem quanto à marca de conclusão do evento num dado momento do passado.

No Português arcaico, já se iniciara a substituição frequente de haver, como auxiliar, por ter, que se consolidou e passou a distinguir o português das demais línguas românicas e até do espanhol, que manteve o haver como primeiro auxiliar em suas construções.

Ainda no português arcaico se encontrava, conforme Said Ali (1971), Câmara Junior (1976) e, posteriormente, Mattos e Silva (1989a) a construção ter + particípio na função de predicativo do objeto. Os autores admitem que, enquanto se documenta a flexão do particípio passado de acordo com o complemento direto desse particípio, essa sequência não é de se considerar como tempo composto ou locução verbal, por não ter ocorrido ainda a fusão semântica e sintática que está implícita na construção do tempo composto, constituído de ter ou haver nas suas formas flexionadas mais o particípio passado invariável, isto é, não está em causa ainda a relação auxiliante/auxiliado necessária a essa construção. Para arrematar, Câmara Júnior (1976, p.82) afirma que “enquanto a forma verbal adjetiva se mantém articulada com o objecto de acção, não há a rigor uma conjunção verbal

composta, mas uma construção frasal que deixa em evidência o estado de posse”.

Dessa forma com a inclusão dos tempos compostos, o sistema verbal do português passa a ser assim constituído:

MODOS VERBAIS