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SUMÁRIO

MODOS VERBAIS INDICATIVO SUBJUNTIVO

V. embedding problem (o problema do encaixamento) identifica tanto a matriz social como a matriz linguistica da comunidade na

3.3.1 Um pouco de história

As sementes para o desenvolvimento do Funcionalismo em linguistica foram lançadas por um grupo de estudiosos pertencentes à primeira Escola Linguistica de Praga18, o qual considerava a língua como um sistema de meios apropriados a um fim.

Essa escola marca profundamente a ciência linguistica nos primeiros anos do século XX. Foi criada, em 1926, por linguistas tchecos, como V. Mathesius, B. Havránek, J. Moukarovsky, B. Trnka, J. Vachek, M. Weingart, assim como por linguistas franceses, como L. Bruo, L. Tesnière, J. Vendryes, E. Benveniste, A. Martinet, e russos como R. Jakobson e N.S. Trubetskoi. Baseados nos conceitos do Estruturalismo, os integrantes da Escola de Praga concebem a língua como um ‘sistema funcional’, no qual aparecem, lado a

18

Entende-se por primeira Escola Linguistica de Praga, o conjunto de autores, a exemplo de Mathesius. Jakobson. Trubetzkoy. entre outros, que, entre 1929 e 1938, participaram do Círculo Linguístico de Praga, e se tornaram conhecidos através dos trabalhos publicados sob o título “Travaux da Cercle Linguistique de Prague”; já a segunda escola Linguistica de Praga refere-se a um grupo de autores, a exemplo de Firbas. Dames. Sgall, entre outros, cujos trabalhos começaram a ser conhecidos, a partir de 1966, quando foi publicado o primeiro número da revista “Travaux des Linguistiques de Prague”

lado, o estrutural e o funcional. Assim, rejeitavam a dicotomia diacronia/sincronia e preconizam uma relação entre sistema e uso.

Como afirma Neves (1997, p.16), para o grupo de estudiosos da Escola Linguistica de Praga, a linguagem possibilita ao homem reação e referência à realidade extralinguistica. Desse modo, as frases são vistas como unidades comunicativas que veiculam informações, ao mesmo tempo em que estabelecem ligação com a situação de fala e com o próprio texto linguístico.

Segundo a mesma autora, embora o termo funcionalismo em linguistica esteja, incontestavelmente, ligado à Escola Linguistica de Praga, várias outras abordagens funcionalistas surgiram, e o Funcionalismo tomou depois vida própria e independente.

Caracterizar o Funcionalismo é uma tarefa difícil, já que as abordagens ditas funcionalistas não são identificáveis por rótulos teóricos, sendo muitas delas reconhecidas pelos nomes dos estudiosos que as desenvolveram. (NEVES, 1994, p.58). Tem-se, assim, o Funcionalismo de Halliday, de Dik, de Hopper, de Sandra Thompson, de Givón, entre outros.

O Funcionalismo opõe-se ao Formalismo, corrente linguistica que se caracteriza por estudar a língua como um objeto descontextualizado, preocupando-se com suas características internas, sem se importar com a relação entre os elementos constituintes e seus significados. Para os formalistas, uma gramática define a teoria de uma língua, estudando suas partes e os princípios de sua organização.

Os funcionalistas analisam a língua no seu contexto social de uso, enquanto os formalistas se baseiam em dados idealizados e desprovidos de contexto, uma vez que estudam intuições sobre a língua, fora de qualquer contexto extra-sentencial.

A partir da década de 1970, o Funcionalismo passou a se destacar nos Estados Unidos, tendo como principais representantes Paul Hopper, Sandra Thompson e Talmy Givón, que, segundo Martelotta e Areas (2003, p.23), “passaram a advogar uma linguistica baseada no uso, cuja tendência é observar a língua do ponto de vista do contexto linguístico e da situação extralinguistica.”. A partir desse ponto de vista, a sintaxe é uma estrutura em constante mutação, tendo em vista as constantes variações que se realizam no discurso, onde o falante faz a sua escolha, optando por determinadas formas,

as que considera mais apropriadas para o contexto em que se passa a comunicação e para uma comunicação eficiente.

Para o Funcionalismo, a estrutura gramatical da língua é motivada. Para a análise dessa motivação, Givón (1995, p. 09) lista algumas premissas que caracterizam os estudos funcionalistas:

 a linguagem é uma atividade sociocultural;

 a estrutura serve a uma função cognitiva ou comunicativa;  a estrutura é icônica, motivada e não-arbitraria;

 a mudança e a variação estão sempre presentes;  as categorias não são discretas;

 a estrutura e maleável;

 as gramáticas são emergentes: nunca se estabilizam;  regras gramaticais permitem flexibilidade;

 o significado e dependente do contexto.

Esse conjunto de premissas evidencia, de um modo geral, a noção de que a língua é dependente de forças externas, e de que as gramáticas não são sistemas absolutamente autônomos, uma vez que são sensíveis a fatores externos, e, por servirem a uma função cognitiva, são adaptáveis, ou seja, sensíveis às pressões do uso.

Givón estabelece dois princípios gerais para a teoria funcionalista: o da iconicidade e o da marcação:

O princípio da iconicidade ressalta que as escolhas linguisticas são feitas no momento do discurso. Este princípio pressupõe uma conexão não- arbitrária e também a existência de uma correlação de um-para-um entre forma e função na gramática da língua (ABRAÇADO, 2001). Entretanto, para Givón (1991), esta correlação idealizada entre forma e função é 'super-estendida'. O mencionado autor admite a existência de arbitrariedade na codificação linguistica, argumentando que a iconicidade do código linguístico está sujeita a pressões diacrônicas corrosivas tanto na forma (código/estrutura) quanto na função (mensagem): o código sofre constante erosão provocada pelo atrito fonológico, e a mensagem costuma ser alterada em virtude da elaboração criativa. Os dois tipos de pressão geram ambiguidades: quanto ao código, verifica-se a correlação entre uma forma e várias funções; quanto à mensagem, observa-se a correlação entre várias formas e uma função.

I. o da quantidade - que prevê a correlação entre quantidade de informação e quantidade de codificação;

II. o da proximidade - que correlaciona proximidade cognitiva de entidades com proximidade de unidades no plano da codificação; . e

III. o da ordem sequencial - que orienta a ordenação linear semântica e pragmaticamente (GIVÓN, 1984).

Já o princípio da marcação, oriundo da linguistica estrutural desenvolvida pela Escola de Praga, baseado na noção de valor linguístico de Saussure, estabelece a distinção entre as formas marcadas, mais complexas, menos frequentes e as não-marcadas, mais simples e recorrentes. Cognitivamente, as formas marcadas são mais complexas já que exigem um maior esforço mental. Para análise da marcação prototípica, são os seguintes os critérios estabelecidos por Givón:

a) Complexidade estrutural: a estrutura marcada tende a ser maior, em extensão, do que a estrutura não-marcada.

b) Distribuição de frequência: a estrutura marcada tende a ser menos frequente, e assim, cognitivamente mais perceptível do que a categoria não-marcada correspondente.

c) Complexidade cognitiva: a estrutura marcada tende a ser cognitivamente mais complexa do que a estrutura não-marcada correspondente.

Para o supracitado autor, uma correlação função-forma somente é válida se for testada em dados reais, e mostrada através de quantificação estatística. Givón (1991, p.20) destaca que o contexto pode ser determinante para que a marcação não seja determinada em termos absolutos, tendo em vista que uma estrutura que é marcada em um contexto pode não ser marcada em outro.

Filiada ao Funcionalismo, a gramaticalização constitui-se em um dos processos de mudança linguistica, segundo o qual, como explica Heine (1991, p.10-11), “é vista como algo pertencente à linguistica diacrônica”, ou seja, como uma forma de analisar a evolução linguistica, de reconstituir a história de uma língua ou relacionar as estruturas linguisticas do momento com os padrões anteriores do uso linguístico.

Embora o termo gramaticalização tenha origem com Meillet, em seu artigo “L´évolution des formes grammaticales”, publicado em 1912, os estudos referentes ao fenômeno da gramaticalização, enquanto corrente linguistica, são relativamente recentes.

Para Dubois (1984, p.318) o fenômeno da gramaticalização é visto como a passagem de construções relativamente livres no discurso, motivadas por necessidades comunicativas, para construções relativamente fixas na gramática..

O processo de gramaticalização pode ser encontrado em todas as línguas e pode envolver qualquer tipo de função gramatical. Através desse processo, itens lexicais e construções sintáticas passam a assumir funções referentes à organização interna do discurso ou a estratégias comunicativas. Para Heine (1991, p. 10-11) “a idéia de gramaticalização implica na idéia de um processo pelo qual um item lexical, ou uma estrutura lexical, passa, em certos contextos, a exercer uma função gramatical ou um item já gramatical passa a exercer uma função ainda mais gramatical”.

Traugott e König (1991, p.196) afirmam que a gramaticalização “é um processo dinâmico, unidirecional e diacrônico mediante o qual, um item lexical, através da evolução temporal, adquire um estatuto gramatical”.

Os estudos sobre gramaticalização possuem abordagens diversas e até denominações variadas, como, por exemplo, reanálise, apagamento semântico, esvaimento semântico, condensação, redução e gramaticização e gramaticalização.

A despeito da variedade de termos, esse processo de variação/mudança linguistica é utilizado para explicar as transformações ocorridas com itens que se transferem do léxico para a gramática, que se especializam dentro da própria gramática. Ou seja, a Gramaticalização é compreendida como um processo diacrônico e um continuum sincrônico que

atinge tanto as formas que vão do léxico para a gramática como as formas que mudam no interior da gramática.

Para Heine e Reh (1984), a gramaticalização é a: "evolução em que unidades linguisticas perdem em complexidade semântica, liberdade sintática e substância fonética”.

3.4.1 Os princípios que regem a gramaticalização

Não há acordo entre os linguistas quanto aos princípios da gramaticalização. Nem poderia ser diferente, dada a complexidade da matéria e as naturais divergências entre os vários linguístas. Serão apresentados os princípios apontados por renomados estudiosos do assunto:

3.4.1.1 Os cinco princípios de Lehmann (1982)

1) Paradigmatização — que diz respeito à tendência de integração das formas