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EXPLICITANDO O OBJETO: O ITEM LINGUÍSTICO MESMO

1.5 ORIENTAÇÃO METODOLÓGICA

1.5.1 CARACTERIZAÇÃO DOS CORPORA

Com a intenção de observar de perto o uso de mesmo no português atual, elegi o corpus Projeto Variação Linguística no Estado da Paraíba (VALPB)3, organizado por Hora e Pedrosa (2001), já que esse acêrvo disponibiliza o material linguístico referente à primeira fase da pesquisa: o discurso oral, flagrado em contextos reais interativos, através de entrevistas.

Na integra, o referido corpus está constituído de 60 entrevistas. Cada uma possui, em média 40 minutos de duração e estrutura-se em torno de diferentes conteúdos, permitindo ao informante falar amplamente sobre suas experiências. Os dados foram transcritos e posteriormente armazenados eletronicmente, incluindo-se todo o material coberto na realização das entrevistas, até as marcas da oralidade.

Constituindo-se naturalmente uma pesquisa Sociolinguística, a construção do referido corpus obedece aos princípios variacionistas na seleção dos informantes, observando os seguintes critérios:

- ser natural de João Pessoa ou morar nessa cidade desde os cinco anos de idade; - nunca ter-se ausentado de João Pessoa por mais do que dois anos consecutivos.

Participam do referido corpus pessoas do sexo masculino e do sexo feminino, levando-se em consideração ainda as variáveis: faixa etária e escolaridade, ficando a amostra assim estratificada: 1) SEXO Masculino → 30 informantes Feminino → 30 informantes 2) FAIXA ETÁRIA 15 a 25 anos → 20 nformantes 26 a 49 anos → 20 informantes)

Mais de 50 anos → 20 informantes)

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Segundo Hora (2008, p.84), o VALPB obedece a orientação metodológica proposta pela Sociolinguística Quantitativa nos moldes de Labov (1966, 1972). Na análise dos dados, já armazenados eletronicamente e publicados em cinco volumes, utilizou-se o pacote de programas VARBRUL (PINTZUK, 1988, 1989), método de análise utilizado no Brasil pelos pesquisadores que seguem a linha laboviana.

3) ANOS DE ESCOLARIZAÇÃO Nenhum → 12 informantes 1 a 4 anos → 12 informnates 5 a 8 anos → 12 informantes 9 a 11 anos → 12 informantes

Mais de 11 anos → (12 informantes

Atendendo os limites da pesquisa, opto fazer um recorte neste universo, ficando a amostra de estudo (de agora em diante corpus 1) reduzida a 20 (vinte) entrevistas. No capítulo 5, detalho esse fato.

1.5.1.2 CORPUS 2 - AS CARTAS OFICIAIS DA PARAÍBA (SÉCULOS XVIII E XIX)4

Retrospectivamente, recorro aos documentos históricos da Paraíba para conhecer o passado da língua. O conjunto de Cartas Oficiais da Paraíba escritas nos séculos XVIII e XIX, hoje, integrantes do Corpus Linguístico Diacrônico da Paraíba (FONSECA, 2005), parece-me adequado aos propósitos da pesquisa, já que possibilita a investigação do item em uma prática linguística real de um contexto histórico específico.

Não se trata de uma escolha aleatória. Na verdade, a opção por essas cartas, em particular, deve-se à escassez de documentos históricos que retratem, de forma mais autêntica possível, o português usado nos períodos selecionados. Sem contar que o referido corpus

4 Este corpus foi originalmente apresentado como resultado da Tese de Doutorado “Caracterização Linguística De Cartas Oficiais da Paraíba dos Séculos XVIII E XIX, defendida em 2003, na Universidade Federal de Pernambuco, sob a orientação do Prof. Dr. Marlos de Barros Pessoa. Para a sua utilização junto ao projeto

Competência escrita de cunho oral: marcas de oralidade em cartas oficiais da Paraíba, os manuscritos foram

fotografados, as fotos editadas e ampliados o glossário e a pesquisa sobre os autores dos textos. Essas etapas foram desenvolvidas por Márcia Bicalho, Jerônimo Vieira, Emanuele Carneiro e Emanuele Guedes, alunos de Letras e pesquisadores voluntários junto ao Projeto.

oferece a possibilidade de já se encontrar disponibilizado eletronicamente, facilitando o estudo.

Apesar do estilo formal da sua estrutura, essas cartas apresentam uma linguagem distensa, simples, própria dos contextos informais e da oralidade. Assim sendo, elas contemplam informações linguísticas e funcionais que podem subsidiar o estudo sobre o item mesmo em foco; além de revelar os diferentes usos da palavra no encadeamento das ideias, permitem observar traços linguísticos de uma época, envolvendo propósitos, intenções, opiniões e julgamentos desenvolvidos pelos emissores.

Apesar das cartas oficiais, no original, serem manuscritas5, o suporte usado nesta pesquisa são cópias digitadas, como se apresentam no corpus Linguístico Diacrônico da Paraíba. Segundo a autora, a transcrição reproduz o mais fielmente possível suas fontes.

Ao todo, o corpus Diacrônico de Estudos Linguísticos da Paraíba (VHPPB), publicado por Fonseca (2005) está compreendido de 203 (duzentas e três) cartas oficiais de caráter administrativo, sendo 80 concernentes ao período colonial e 123 do período imperial. Porém, buscando preservar a proporcionalidade entre os corpora, para este estudo, foram selecionadas 160 (cento e sessenta) cartas administrativas oficiais dos séculos XVIII e XIX, ficando a amostra (de agora em diante denominado corpus 2) constituída por 160 cartas ao todo, prevalecendo a seguinte distribuição:

Período colonial (Documento Colonial/DC) - da carta 1 a 80 Período imperial (Documento Imperial/DI) - da carta 120 a 200.

Escritos por pessoas de diferentes níveis socioculturais, esses manuscritos não só guardam histórias do Brasil dos períodos colonial e imperial como constituem amostras autênticas do português aqui faladoo naquele momento histórico, revelando traços característicos de um linguajar coloquial, simples, considerado ainda em formação, conferindo ao corpus confiabilidade para um estudo comparativo dos dados, apesar de escrito.

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Até se constituir uma referência como corpus linguístico diacrônico, as cartas oficiais paraibanas foram submetidas a uma rigorosa análise e investigação. Segundo Fonseca, (2005, p.30), para investigação das cartas, ela tomou por base os modelos de análise utilizados por Oesterreicher (1994; 1999) e Stoll (1996), nos textos escritos por soldados cronistas na América espanhola, pessoas de pouca experiência escolar. Esses textos trazem divergências das obras de escritores apontados como modelos, distinguindo-se dos literários, tradicionalmente investigados na Linguística Histórica e na Filologia. A fundamentação tem caráter interdisciplinar, utilizando elementos da História Social da Linguagem, da Linguística de Texto de Eugênio Coseriu (1979, 1979ª, 1982, 1987, 1995), além dos conceitos de Paleografia, indispensáveis para a abordagem de textos de épocas passadas.