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Caracterização metodológica do estudo 1 Questões e objetivos de investigação

Abordagem da oralidade na formação inicial de profissionais da educação: um estudo num segundo ciclo profissionalizante de Bolonha em Portugal

2. Enquadramento teórico do estudo

3.2. Caracterização metodológica do estudo 1 Questões e objetivos de investigação

Partindo do pressuposto de que o eixo da oralidade é pouco contemplado ou abordado de forma pouco sistemática nas aulas de língua materna, questionamo-nos, então, sobre:

- Que representações evidenciam estudantes de cursos de formação de profissio- nais da Educação sobre a oralidade e sobre a didática da oralidade?

- Como ocorre o processo de formação desses profissionais no que se refere à didática da oralidade?

O objetivo geral deste estudo era compreender como ocorria a abordagem da didática da oralidade no processo de formação de futuros profissionais de Educação que atuarão com o ensino da língua portuguesa.

Como objetivos específicos, tínhamos:

- Identificar as representações iniciais das estudantes sobre a concepção de ora- lidade e de sua didática;

- Verificar as representações finais das estudantes sobre a oralidade e a didá- tica da oralidade;

- Descrever como a oralidade se configurava enquanto temática no processo de construção/reconstrução dos conceitos de oralidade e de questões relativas ao ensino- aprendizagem da modalidade oral da língua.

3.2.2. Opções metodológicas

Entendemos metodologia como um construto amparado teoricamente que se encontra e se enfrenta com a prática de pesquisa (Minayo, 1998). É a partir da relação que se estabelece entre os objetivos do estudo, os objetos de investigação e as escolhas teóricas feitas que são traçados os percursos metodológicos.

Assim como num planejamento de aula, esses caminhos previamente traçados são imprescindíveis, mas não inflexíveis, podendo sofrer ajustes a partir do desenvol- vimento da pesquisa, ou seja, da leitura de novos textos e do contato com o campo de estudo, e isso não implica em falta de rigor metodológico.

Como se pode perceber a partir destas considerações, a nossa conceção de me- todologia baseia-se em alguns princípios inter-relacionados e interdependentes:

i) Não existe um tipo de pesquisa ideal;

ii) O pesquisador faz escolhas em função de aspetos distintos (como, por exemplo, objeto de estudo e objetivo);

iii) As escolhas metodológicas não são neutras;

iv) As relações entre teoria e metodologia são estreitas (o que fundamenta a ideia de aparato teórico-metodológico);

v) Os percursos metodológicos definidos no projeto de pesquisa são passíveis de ajustes ao longo da pesquisa (as categorias de análise são exemplos disso).

Tecidas essas considerações sobre metodologia, focamo-nos, então, no nosso es- tudo. Conforme pode ser observado no nosso enquadramento teórico, os pressupostos da Linguística e da Educação são associados em prol da realização de uma investigação de natureza complexa: o ensino da oralidade na formação do professor de Português. É por isso que o estudo pode ser caracterizado como essencialmente transdisciplinar.

Segundo Núñez Delgado (2002, p. 6), para refletir sobre o ensino-aprendizagem da oralidade com rigor, é necessário “...lograr una síntesis orgánica que ponga de ma- nifiesto cuál es el objeto y el campo científico de la Didáctica de la Lengua en relación con otras ciencias con las que comparte intereses” 26.

A natureza da nossa pesquisa leva-a a ser inserida em subáreas como:

- Didática, Currículo e Formação do Professor, no que concerne à área científica da Educação;

- Linguística Aplicada, que tem desenvolvido inúmeros estudos sobre ensino de língua, no que toca à Linguística; embora a maior parte deles seja acerca de línguas estrangeiras, no contexto brasileiro, as pesquisas sobre o ensino de Português como língua materna começam a ganhar terreno na área, segundo Kleiman (2001); com a sua evolução, a área passou da aplicação de uma teoria linguística (para sua validação) ao desenvolvimento teórico, a partir de contribuições de áreas com as quais pode dialogar (tais como a Linguística, a Educação, a Psicologia, etc).

No entanto, justamente por a nossa pesquisa ser transdisciplinar, parece-nos que, mais importante do que enquadrá-la em áreas pontuais, é reforçamos a necessidade de relação entre áreas científicas que compartilham interesses afins.

Ainda de acordo com Kleiman (2001, p. 18), a “transdisciplinaridade é o referen- cial à luz do qual as pesquisas [sobre formação do professor] são analisadas” sendo, portanto, característica constitutiva e essencial.

Sobre a formação do professor, área do nosso estudo, a autora (Kleiman, 2001, p. 17) afirma que a Linguística Aplicada examina: “(a) contextos naturais em que essa formação é realizada (tais como os diversos cursos de formação, ‘pré’ e ‘em’ serviço,

26 “... lograr uma síntese orgânica que revele qual é o objeto e o campo científico da Didática da Língua em relação a outras ciências com que ela compartilha interesses” (Núñez-Delgado, 2002, p. 6) [Tradução

na terminologia às vezes utilizada na área); (b) contextos onde essa formação é evi- denciada (as aulas de leitura, redação, gramática em diversos níveis e cursos); (c) as diversas modalidades de construção de conhecimento (aulas nos cursos de licenciatura, diários introspectivos, pesquisas colaborativas, etc.).”

Na nossa pesquisa, contemplamos as esferas citadas por Kleiman (2001), já que temos como corpus do estudo informações relativas às representações iniciais e finais e ao desempenho de estudantes, que serão futuras profissionais da Educação (mais concretamente, educadoras de infância e/ou professoras do 1º Ciclo do Ensino Básico).

Estas informações foram coletadas através de vários instrumentos, apresentados no tópico a seguir (3.2.3).

Em relação ao fato de termos como campo do nosso estudo apenas uma universi- dade e um curso de Mestrado, ressaltamos o que afirma Silverman (1993 apud Marcus- chi, 2001c, p. 27) sobre o dilema da escolha da perspectiva quantitativa ou qualitativa da pesquisa: o problema é saber o que se pretende investigar e, consequentemente, quais os melhores caminhos a serem traçados.

Os objetivos propostos neste estudo levam-nos à perspectiva qualitativa. Isso se deve, sobretudo, ao caráter particular do objeto de conhecimento: o ser humano e suas práticas sociais, objeto esse que “se recusa peremptoriamente a se revelar apenas em números ou a se igualar com sua própria aparência” (Minayo, 1998, p. 36).

Dentro, então, do paradigma qualitativo, destacamos que esta pesquisa se trata de um estudo de caso, uma vez que investiga uma realidade individual: a formação dos futuros educadores de infância e professores do 1º CEB na Universidade de Aveiro em uma turma específica de PPS A1.

Para a garantia do anonimato dos participantes, foram utilizados códifos. As qua- tro estudantes de Prática Pedagógica Supervisionada A1 são chamadas de A1, A2, A3 e A4. A docente responsável pela Unidade Curricular é por nós referida como formadora.

Os dados foram coletados através de inquéritos por meio da aplicação de questionário e de fichas, de produção de textos escritos (reflexão escrita individual e planejamentos de aula) e de observação de sessões de PPS A1.

No quadro seguinte, associamos os objetivos do estudo às suas técnicas de coletas:

Objetivos Técnicas/Instrumentos de coleta de dados

Identificar as representações iniciais das estudantes sobre a concepção de oralidade e de sua didática.

- Aplicação de questionário; - Aplicação da Ficha 1; - Aplicação da Ficha 2. Verificar as representações finais das

estudantes sobre a oralidade e a didática da oralidade.

- Coleta de reflexões escritas individuais.

Descrever como a oralidade se configurava enquanto temática no processo de

construção/reconstrução dos conceitos de oralidade e de questões relativas ao ensino-aprendizagem da modalidade oral da língua.

- Observação de sessões de PPS A1 e registro em diário de campo a partir de tabela produzida para a observação; - Coleta de planos de aulas.

Os dados estão, portanto, relacionados com o discurso das estudantes em vários momentos do estudo e materializados através dos documentos citados (questionário, fichas, reflexão escrita individual e planos de aula), além das anotações feitas pelo pesquisador em diário de campo.

Quanto à análise dos dados, podemos afirmar que ela é o encontro de represen- tações de vários sujeitos com aquele que realiza o estudo. Trata-se, pois, de uma busca de produzir conhecimentos, de natureza complexa, assim como as relações sociais, que segue um contínuo processo de realimentação.

A abordagem teórico-metodológica de análise dos dados baseia-se na análise de conteúdo (Bardin, 2009), em alguns momentos combinada com a estatística descritiva (frequências absolutas e frequências relativas).

3.2.3. Instrumentos de recolha de dados 3.2.3.1. Representações

A fim de coletarmos os dados através dos quais foram analisadas as represen- tações das estudantes de PPS A1 sobre oralidade e a didática da oralidade, quatro instrumentos foram utilizados: o questionário, a Ficha 1 e a Ficha 2, que tinham por objetivo a coleta das representações iniciais; a reflexão escrita individual, para coletar informação relativa às representações finais.