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Como é ensinada, como ensinar

Abordagem da oralidade na formação inicial de profissionais da educação: um estudo num segundo ciclo profissionalizante de Bolonha em Portugal

D) Como é ensinada, como ensinar

Em sequência ao que ensinar, contemplamos o como ensinar. Para isso, foram elaboradas questões que investigavam a opinião das estudantes sobre a forma como a oralidade é ensinada na Educação Pré-Escolar e no 1º CEB (Ficha 1 – Questões 7 e 8) e foi-lhes pedido que apresentassem uma atividade de didática da oralidade adaptada a esses contextos (Ficha 1 – respetivamente Questões 9 e 10).

Segundo as respostas das inquiridas, a forma como a oralidade é ensinada e a forma como elas ensinariam são equivalentes, pelo que apresentaremos os dados co- letados de forma integrada.

A1, A2 e A4 opinaram que o trabalho na Educação Pré-Escolar é e deve ser reali- zado de forma distinta do 1º CEB. A3 respondeu à pergunta sobre como é o ensino na Educação Pré-Escolar, mas não à relativa ao 1º CEB.

A principal diferença entre as respostas de A1 e A2 e A4 é que as duas primei- ras acreditavam que muitos dos momentos de oralidade são informais, na Educação Pré-Escolar, e passam a ser mais formais, no 1º CEB. No entanto, não exemplificam

ou justificam a informação. Por isso, não fica claro o que seria um tratamento mais formal ou informal do eixo pelo professor ou educador de infância. Nossa hipótese é de que as estudantes veem como mais formais os momentos em que o foco do plane- jamento é a oralidade e mais informais aqueles em que aspectos da oralidade podem ser trabalhados quando a fala é utilizada. A4, por sua vez, ressaltou a necessidade de acompanhamento mais próximo de pais e professores de crianças a frequentar a Edu- cação Pré-Escolar, em relação às descobertas da língua: “A oralidade no Pré-escolar é trabalhada por exemplo ao nível da comunicação. Nos primeiros anos pré-escolares, as crianças começam a aumentar o seu vocabulário e conjuntamente a tentar ‘jogar’ e perceber como funciona a sua língua. É também nestas idades, que a criança comete mais erros na constituição de frases, conjugação de verbos, e até na troca de letras ou sílabas. Desta forma, a correção e acompanhamento desta aquisição de discurso é um dos trabalhos que é feito pelas educadoras e até pais, nas crianças com idades pré-escolares.” Por estarem, as crianças, em estágio mais avançado sobre questões basilares de aquisição de língua, A4 mencionou que, no 1º CEB, em alguns momentos, podem ser também retomados os aspectos contemplados na Educação Pré-Escolar. No entanto, o foco seria, agora, a coerência dos textos orais construídos e a relação com a escrita através das atividades de leitura em voz alta e leitura expressiva.

O quadro a seguir apresentado, que foi criado a partir de fragmentos dos discur- sos das estudantes, indica o que cada uma acreditava ser realizado em sala de aula (1ª linha) e o que elas poderiam realizar (2ª linha):

Educação Pré-Escolar 1º CEB

A1 Momento da manta a conversar;

Leitura de uma história. Análise de diversos textos.

Leitura de um texto sobre lengalengas com rimas, falar sobre o sentido das rimas e pedir a cada aluno que diga de cor uma lengalenga.

Visionamento de um teatro, interpretar o que foi visto oralmente, conversar sobre o enredo, recriar um texto dramático em grupo e dramatizar.

A2 Conversas, correções, jogos e chamadas de

atenção feitas no momento certo. Exercícios, leituras e transmissão de conhecimentos da professora. Jogo “faz-de-conta” com a supervisão e

correção da educadora. Um exercício baseado num debate ou num diálogo, onde as crianças tenham que comunicar umas com as outras usando o discurso mais apropriado.

A3 Histórias que são contadas, músicas,

lengalengas, rimas, etc. ---

Hora do conto, onde a educadora conta uma história e as crianças vão intervindo, seja para comentar o que está a acontecer, seja para dar a sua opinião. No final da história poderão fazer um pequeno resumo da história, entre outras.

Dar alguns pequenos poemas as crianças e pedir-lhes para os declamarem.

A4 O levantamento de questões, o reconto de histórias, as discussões de ideias, são também abordagens potenciadoras a este nível.

Criar debates, levantar questões, contar e recontar histórias, criar atividades que envolvam saber se comunicar com o outro. Leitura de uma história, onde, no início e fim

desta, serão colocadas questões relacionadas com a mesma, com o objetivo de que as crianças saibam construir frases e respostas e saibam expressar as suas ideias. No fim desta, poderá ser aberto um “debate” sobre o tema envolvente da história, dando espaço para as crianças falarem e discutirem ideias.

Poderá também ser proposto aos alunos que leiam um texto; citem as ideias principais; recriem uma história; recontem; façam trabalhos do tipo expositivo;

simulem situações de comunicação como um canal televisivo, entre outros.

Quadro 7 – Práticas de ensino associadas à abordagem da oralidade na Educação Pré-Escolar e no 1º Ciclo do Ensino Básico

Observamos que as respostas continham propostas variadas, sobretudo quando comparamos com as dadas às questões sobre o tópico anterior, em que ‘o quê’ ensinar não foi abordado de forma tão diversificada (excetuando a resposta de A4, conforme destacado). Isto é um indício de que o trabalho com a oralidade é realizado, mas talvez não seja planejado ou, se o é, tem o objetivo de desenvolver competências de outros eixos do ensino da língua (leitura, produção escrita ou análise linguística).

Dentre as estratégias que sobressaem da informação dada no quadro, podemos destacar que há atividades para: i) escuta e compreensão de textos orais; ii) produção de textos orais e iii) exploração da relação fala-escrita.

No Quadro 8, apresentamos as atividades distribuídas de acordo com estas categorias:

Escuta e compreensão de textos orais

Produção de textos orais Exploração da relação

fala-escrita Educação

Pré-Escolar Leitura de uma história; leitura de um texto sobre lengalengas com rimas, falar sobre o sentido das rimas lengalenga; histórias que são contadas, músicas, lengalengas, rimas, etc.; hora do conto.

Momento da manta a conversar; pedir a cada aluno que diga de cor uma [lenga-

lenga]; conversas, jogos; Jogo “faz-de-

conta” com a supervisão e correção da educadora; as crianças vão intervindo [no momento em que a professora

conta uma história], seja para comentar

o que está a acontecer, seja para dar a sua opinião. No final da história poderão fazer um pequeno resumo da história, entre outras; o levantamento de questões, o reconto de histórias, as discussões de ideias, são também abordagens potenciadoras a este nível; Leitura de uma história, onde, no início e fim desta, serão colocadas questões relacionadas com a mesma, com o objetivo de que as crianças saibam

construir frases e respostas e saibam expressar as suas ideias. No fim desta, poderá ser aberto um “debate” sobre o tema envolvente da história, dando espaço para as crianças falarem e discutirem ideias. 1º Ciclo do Ensino Básico Análise de diversos textos; visionamento de um teatro, interpretar o que foi visto oralmente.

Conversar sobre o enredo [sobre o

teatro], recriar um texto dramático

em grupo e dramatizar; um exercício baseado num debate ou num diálogo, onde as crianças tenham que comunicar umas com as outras usando o discurso mais apropriado; criar debates, levantar questões, contar e recontar histórias, criar atividades que envolvam saber se comunicar com o outro.

Exercícios, leituras e transmissão de conhecimentos da professora; dar alguns pequenos poemas as crianças e pedir-lhes para os declamarem; dramatizar.

Quadro 8 – Áreas e atividades da oralidade na Educação Pré-Escolar e no 1º Ciclo do Ensino Básico

No Gráfico 1, apresentamos as frequências percentuais das respostas das estu-o Gráfico 1, apresentamos as frequências percentuais das respostas das estu- dantes em relação às mesmas categorias.

Gráfico 1 – Percentual das áreas da oralidade contempladas nas atividades para Educação Pré- Escolar e para o 1º Ciclo do Ensino Básico

A partir do Quadro 8, podemos afirmar que as atividades de escuta foram par- ticularmente relacionadas com a Educação Pré-Escolar (momento da manta, leitura de uma história, leitura de um texto sobre lengalengas, histórias que são contadas). Acreditamos que isso acontece pelo fato de as crianças ainda não serem alfabetiza- das. Quando começam a ser alfabetizadas (1º CEB), o foco das atividades de oralidade passa para a exploração da relação fala-escrita (leituras, visionamento de um teatro, dar alguns pequenos poemas as crianças e pedir-lhes para os declamarem). Os 10% do

Gráfico 1 representam estas atividades, todas propostas para o 1º CEB. Destacamos, contudo, que se trata de uma tendência identificada nas respostas, mas não uma regra absoluta. Nas propostas de A1 e A4, encontramos, por exemplo, “interpretar o que foi visto oralmente” e “citem as ideias principais”.

Já a produção de textos orais é bastante citada, tanto na Educação Pré-Escolar (“No final da história poderão fazer um pequeno resumo da história”, “o reconto de histórias, as discussões de ideias”, “debate”), quanto no 1º CEB (“debate”, “contar e recontar”, “trabalhos do tipo expositivo”, “simulem situações de comunicação como um canal televisivo”), representando 62% das atividades citadas, como se vê no Gráfico 1.

Após análise do Quadro 8, podemos perceber que, apesar das atividades de abor- dagem da oralidade mais usuais estarem presentes (conversa com o colega e leitura em voz alta), aparecem outras que permitem reflexões diversificadas e importantes para a formação do aluno. Neste sentido, é de destacar o fato de serem referidos gêneros textuais como, por exemplo: a lenga-lenga, o debate, a música (letra de canção), o tra- balho expositivo, a narrativa (contos de fadas, fábulas, etc.), a comunicação de canal televisivo (notícia, reportagem, entrevista).

Portanto, dependendo da forma como a sua realização for conduzida, as propos- tas de práticas de ensino da oralidade contribuem para a formação do cidadão com- petente para interagir em situações diversificadas. Apenas com o cruzamento destes dados sobre as representações iniciais com os referentes aos dos planejamentos e das reflexões Individuais (que nos darão acesso, respectivamente, ao seu desempenho e às suas representações finais) é que podemos fazer maiores conclusões.