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CARACTERIZAÇÃO MORFOAGRONÔMICA DE VARIEDADES TRADICIONAIS DE ARROZ VERMELHO CULTIVADO

No documento Resumos, conferências. (páginas 183-185)

PEREIRA1, J. A ; RAMOS, S. R. R.2.; SOBRAL3, P.V.C.

INTRODUÇÃO: O arroz vermelho (Oryza sativa L.) foi introduzido no Brasil no século XVI, na então Capitania de Ilhéus, mas s começou a ter maior importância no século seguinte, quando colonos oriundos do Arquipélago dos Açores o trouxeram para o Maranhão. Atualmente ele é cultivado por pequenos agricultores da Região Nordeste, principalmente nos Estados da Paraíba, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Ceará, Bahia e Alagoas (Pereira, 2004; Pereira & Ramos, 2004). O seu cultivo é praticado com sementes “crioulas” ou variedades locais, as quais são selecionadas e mantidas pelas comunidades tradicionais, num processo que favorece a ampliação e manutenção da variabilidade genética útil aos programas de melhoramento, como confirmado por Fonseca et al. (2004). Contudo, verifica-se que essas variedades estão submetidas a um intenso processo de erosão genética, seja pela concorrência da indústria do arroz branco, seja pelas secas ou pelo acelerado êxodo rural na região produtora (Daninha no Sul..., 2006), fato já comprovado para diversas variedades tradicionais de outras espécies na região Nordeste do Brasil (Queiroz, 1993). Considerando que, a partir da caracterização dos acessos é possível identificar, de forma preliminar, características úteis aos programas de melhoramento genético, este trabalho teve por objetivo caracterizar morfoagronomicamente, 18 acessos de arroz vermelho cultivado.

MATERIAL E MÉTODOS: O experimento foi realizado no Campo Experimental da Embrapa Meio-Norte, em Teresina, Piauí, em um Neossolo Flúvico, em regime de sequeiro, no primeiro semestre de 2004. Foram avaliados 18 acessos de arroz vermelho cultivado, coletados na Região Nordeste e pertencentes à Coleção de Germoplasma da Embrapa Meio-Norte (Tabela 1). As sementes dos acessos foram semeadas em fileiras contínuas, sem repetição, com 5 m de comprimento, na densidade de 50 sementes por metro linear de sulco, adotando-se o

espaçamento de 0,30 m entre as linhas. Os tratos culturais e fitossanitários foram realizados de acordo com as recomendações para a cultura. Os dados foram obtidos de dez plantas

selecionadas ao acaso, sendo as avaliações realizadas com base nos descritores propostos pelo IBPGR-IRRI,com inclusões e alterações realizadas por Fonseca et al. (1981) e Fonseca & Bedendo (1984): altura de planta (ALP-cm), comprimento da folha bandeira (CFB-cm)), largura da folha bandeira (LFB-cm), diâmetro do colmo principal (DCP-mm), comprimento da panícula (CDP-cm), número de ramificações/panícula (NRP-ud), comprimento do grão descascado (CGD- mm), largura do grão descascado (LGD-mm), peso de 100 grãos (P100-g) e número de panículas/planta (NP/P-ud). A análise descritiva foi realizada por meio do programa GENES - versão Windows (Cruz, 2001).

1 Engenheiro Agrônomo, Mestre em Produção Vegetal, Embrapa Meio-Norte. Teresina (PI). Postal 1, 64006-220, Teresina (PI). Fone: (86) 3225- 1141. E-mail: almeida@cpamn.embrapa.br

2 Engenheiro Agrônomo, Doutor em Genética e Melhoramento, Embrapa Meio-Norte. 3 Estudante de Graduação da Universidade Federal do Piauí, Estagiária da Embrapa Meio-Norte.

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II Congresso Brasileiro da Cadeia Produtiva do Arroz/VIII Reunião Nacional de Pesquisa do Arroz - Renapa

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os caracteres morfol gicos são de alta herdabilidade e pouco influenciados pelo ambiente e, por esta razão, bastante utilizados como parâmetros para identificação de uma variedade, já os caracteres agronômicos, em geral de baixa herdabilidade, são fortemente influenciados pelo ambiente e, por consegüinte, menos recomendados para igual fim (Fonseca et al., 2004). Neste estudo, os caracteres agronômicos foram o ciclo até a floração (FLO), o comprimento da panícula (CDP), o comprimento do grão descascado (CGD), a largura do grão descascado (LGD), o peso de 100 grãos (P100) e o número de panículas por planta (NP/P). O comprimento da folha bandeira (CFB) variou de 25,8 cm (‘PB 11’) a 42,6 cm (‘AL 04’), enquanto a largura da folha bandeira (LFB) oscilou de 1,19 cm (‘AL 03’) a 1,98 cm (‘AL 01’). Um grupo de acessos (‘PB 02’, ‘PB 04’, ‘PB 05’, ‘PB 10’ e ‘PB 11’) apresentou o comprimento do colmo principal (CCP) inferior a 80 cm, portanto, sendo todas consideradas semi-anãs, indicando que, provavelmente, já são variedades derivadas do cruzamento natural entre uma cultivar de arroz vermelho tradicional da Paraíba (‘PB 01’) e as cultivares de arroz branco ‘BR IRGA 409’ e ‘IR 8’, já que as duas últimas vêm sendo plantadas nas mesmas áreas há mais de 20 anos. Os acessos ‘PB 07’, ‘AL 02’ e ‘AL 04’ são os que têm os colmos mais grossos, com diâmetro do colmo principal (DCP) superior a 5 mm. Por se tratar de uma característica muito importante, já que está diretamente associada à resistência da planta ao acamamento, as três variedades são, assim, fontes de genes para os programas de melhoramento do arroz. Do mesmo modo, como a maioria dos acessos apresentou ciclo médio, destacaram-se pela precocidade o ‘PB 06’ (67 dias para a floração), o ‘PB 07’ e o ‘PE 01’ (67 dias). Com relação ao número de ramificações por panícula (NRP), com 14

ramificações, sobressaiu o acesso ‘AL 01’, ao contrário de outros quatro acessos, cujo número de ramificações foi inferior a dez. O ‘AL 03’ produziu o maior número de panículas por planta, um dos componentes da produção do arroz, ao passo que dois dos acessos (‘PB 08’ e ‘PE 01’) s produziram nove panículas por planta. Quanto ao comprimento de panícula (CDP), não se constatou grande variabilidade, apresentando o acesso ‘PB 02’ a panícula mais curta (22,68 cm) e o ‘AL 04’ a mais longa (28,95 cm). Esta característica é influenciada pelo ambiente, notadamente a ocorrência de déficit hídrico e o emprego de altas dosagens de nitrogênio. Com relação ao comprimento do grão descascado (CGD), 66 % dos acessos são considerados de grãos longos (C > 6 mm), tendo somente o ‘PB 10’ apresentado grãos curtos (C < 5 mm), não se registrando grande variação em termos do descritor largura do grão

Tabela 1. Valores médios apresentados pelos acessos tradicionais de arroz-vermelho por meio da

utilização de descritores quantitativos. Teresina, PI, 2004.

Acessos / CFB LBF CCP DCP FLO NRP NP/P CDP CGD LGD P100 Descritores (cm) (cm) (cm) ( mm ) (dia) (unid) (unid) (cm) ( mm ) ( mm ) (g)

PI 01 32,55 1,31 98,40 3,68 82 10 18 26,35 5,72 2,70 2,78 RN 01 39,65 1,68 123,86 4,68 75 10 10 24,96 6,42 2,82 3,14 PB 01 34,98 1,36 95,69 4,56 72 10 12 23,87 6,18 2,89 3,00 PB 02 28,00 1,34 70,40 3,18 80 11 17 22,68 6,05 2,55 2,49 PB 03 34,05 1,35 89,20 3,75 79 9 10 24,40 6,17 2,91 3,96 PB 04 29,90 1,38 61,90 4,57 78 11 13 23,85 5,60 2,92 2,81 PB 05 30,45 1,42 60,65 4,02 82 12 20 24,02 5,59 2,72 2,49 PB 06 36,27 1,49 108,49 4,48 67 9 11 26,27 6,28 2,79 3,09 PB 07 38,10 1,94 102,34 5,33 68 9 16 26,68 6,79 2,49 3,21 PB 08 29,57 1,53 72,29 4,33 74 10 9 23,64 6,08 2,84 2,80 PB 09 35,23 1,61 78,00 3,77 73 11 14 24,95 5,85 2,84 3,28 PB 10 32,50 1,52 54,60 4,97 81 11 16 23,65 4,95 2,43 2,40 PB 11 25,80 1,51 58,85 4,23 82 12 20 24,70 5,59 2,71 2,48 PE 01 32,15 1,51 105,53 4,77 67 10 9 25,94 6,27 2,87 3,51 AL 01 37,18 1,98 99,26 4,42 80 14 14 25,40 6,56 2,93 2,80 AL 02 38,45 1,40 82,26 5,26 87 11 25 27,50 6,00 2,39 3,19 AL 03 36,09 1,19 92,69 4,28 79 9 42 23,55 6,26 2,85 3,05 AL 04 42,60 1,82 105,90 5,26 80 12 13 28,95 7,36 2,57 2,54

¹CFB- comprimento da folha bandeira, LFB -largura da folha bandeira, CCPcomprimento do colmo principal, DCP- diâmetro do colmo principal, FLO – floração, NRP- número de ramificações/panícula, NP/P- número de panículas/planta, CDPcomprimento da panícula, CGD- comprimento do grão descascado, LGD- largura do grão descascado e P100 - peso de 100 grãos.

descascado (LGD), que oscilou entre 2,39 mm (‘AL 02’) e 2,93 mm (‘AL 01’). Por sua vez, constatou-se expressiva variabilidade no descritor peso de 100 grãos (P100), com 50 % dos acessos pesando de 3 a 3,96 g e os acessos ‘PB 02’ (2,49 g), ‘PB 05’ (2,49 g), ‘PB 10’ (2,40 g), ‘PB 11’ (2,48 g) e ‘AL 04’ exibindo os menores pesos (Tabela 1).

CONCLUSÃO: Constatou-se variabilidade genética nos acessos com relação aos descritores analisados, possibilitando a posterior utilização no programa de melhoramento genético desenvolvido pela Embrapa Meio-Norte.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CRUZ, C. D. Programa Genes: aplicativo computacional em genética e estatística - versão Windows. Viçosa: UFV, 2001. 648 p.

DANINHA no Sul, Alimento no Norte. Planeta Arroz, Porto Alegre, v.5, n.17, p.29- 31, 2006. Disponível em: www.planetarroz.com.br

FONSECA, J.R.; BEDENDO, I.P. Características morfol gicas, agronômicas e fenol gicas de algumas cultivares de arroz. Goiânia: EMBRAPA-CNPAF, 1984. 58p. (EMBRAPA-CNPAF. Boletim de Pesquisa, 3).

FONSECA, J.R.; RANGEL, P.H.N.; PRABHU, A.S. Características botânicas e agronômicas de cultivares de arroz (Oryza sativa L.). Goiânia, EMBRAPA-CNPAF, 1981. 13. (EMBRAPA-CNPAF. Circular Técnica,14).

FONSECA, J.R.; VIEIRA, E.H.N.; PEREIRA, J.A.; CUTRIM, V.dos A. Descritores morfoagronômicos de cultivares tradicionais de arroz coletados no Maranhão. Revista Ceres, Viçosa, v.51, n. 293, p. 45-56, 2004.

PEREIRA, J. A. O arroz-vermelho cultivado no Brasil. Teresina: Embrapa Meio-Norte, 2004. 90 p.

PEREIRA, J.A.; RAMOS, S.R.R. Cultura do arroz-vermelho (Oryza sativa L.) no Brasil. Teresina: Embrapa Meio-Norte, 2004. (Embrapa Meio-Norte. Folder).

QUEIROZ, M.A de Potencial do germoplasma de cucurbitáceas no Nordeste brasileiro. Horticultura brasileira, Brasília, v.11, n. 1, p. 7- 9, 1993.

ANÁLISE DESCRITIVA DE VARIEDADES TRADICIONAIS DE

No documento Resumos, conferências. (páginas 183-185)

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