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TIPOS DOS PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS (PRODUÇÃO LEXICAL SUFIXAL)

3) desenvolvimento de objetos preposicionais: enriquecer (transformar-se em rico), aterrar (chegar a terra), ensacar (meter em saco), etc.

4.4.7 Luiz Carlos de Assis Rocha

O autor, que segue a linha gerativista, assim define sufixo em sua obra:

Sufixo é uma forma presa recorrente, que se coloca à direita da base41, caracterizando assim uma palavra derivada. (ROCHA, 1998, p. 108)

Para ele, o sufixo se distingue de uma base por não apresentar significação e/ou função (S/F) própria, autônoma, independente. No entanto essa S/F só será explicitada se o sufixo estiver anexado a uma base, por isso deve-se falar na S/F do produto e não na S/F do sufixo e exemplifica:

- florista é a pessoa que vende flores, não é o –ista que vende flores; - jogador é a pessoa que joga, mas não é o –dor que joga;

- ajudante é a pessoa que ajuda, não é o –nte que ajuda; - boiada é um conjunto de bois, mas não é o –ada que ajuda.

Para se definir se um lexema apresenta sufixo ou não, basta verificar se a terminação da palavra aparece em outras formações da língua com o mesmo significado S/F. É o caso da seqüência fônica –eiro, um sufixo em padeiro, com o sentido de agente, forma recorrente com o mesmo significado em leiteiro, lixeiro,

açougueiro, confeiteiro, sacoleiro, muambeiro, roqueiro, micreiro, grafiteiro, faficheiro42, frizeira, carpinteiro, marceneiro etc.

Os sufixos podem ser anexados a bases livres (marinheiro, bíblico,

charmoso, arrozal, etc.) ou a bases presas (carpint– eiro, marcen– eiro, ol– aria, ol– eiro, serralh– eiro, agr– este, antrop– óide, cív– ico, doc– ente, etc.).

Em relação às bases presas é necessário observar: ________

41

“Base é uma seqüência fônica recorrente, a partir da qual se forma uma nova palavra, ou através da qual se constata que uma palavra é morfologicamente complexa. A partir da base apelidar é possível formar apelidador, e em formigueiro, uma palavra institucionalizada, constatamos que a base é formiga. A base não precisa ser uma palavra da língua . Poderá ser uma forma presa, como em agrário (agr–) ou escoteiro (escot–)” (Rocha, 1998, p. 100).

42

faficheiro < FAFICH (sigla de Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas). Trata-se de um neologismo citado por Rocha utilizado pelos estudantes e docentes da UFMG. A palavra não está atestada nem abonada no Aurélio nem no Houaiss, ambos em versão eletrônica, no entanto, encontramo-la em algumas páginas do GOOGLE.

a) Em alguns casos, correspondem ao que a Gramática Tradicional, chamada

Normativa ou Prescritiva, denomina de radicais gregos e latinos: bio– (vida),

gastr– (intestino), geo– (terra), etc.;

b) Podem apresentar alomorfes: graf– ~grafo; agr– ~ agri– ~agro–; antropo– ~

antrop– etc.;

c) Podem ser anexadas a sufixos: (escot– ismo; gástr– ico; agr– ário; antrop–

óide) , a bases presas (gastr– ônomo; geo– logia; antropo– morfia) ou a

bases livres (agri– cultura; bio– degradável; eco– xiita);

d) Podem aparecer como primeiro elemento da composição (malabar– ismo;

artilh– aria; antropo– logia; geo– grafia etc.) ou como segundo elemento

de composição (aurí– fero; frutí– fero; taqui– grafia; metró– pole; bí–

gamo; fungi– cida etc.)

e) Podem ser produtivas, isto é, capazes de formar novas palavras (agr– este;

agr– ário; agri– cultura; agro–pecuária etc. (formações consagradas); agro–indústria; agro– dólar; agro–boy (formações novas) ou improdutivas,

isto é, limitar-se às palavras já consagradas na língua, não servindo como ponto de partida para a formação de novos itens lexicais (combust– ível;

lantern– eiro; hospital– idade, docê– ncia; serralh– eria etc.).

Rocha (1998, p. 109) adverte-nos ainda de que “[...] não há critérios muito claros para se fazer a distinção entre sufixo e base presa (como segundo elemento de composição) [...]” e exemplifica:

cefalalgia – cefaléia – encefalite

“Para a Gramática tradicional, –algia é considerado radical; base presa, na terminologia de Rocha;

“ –algia, –éia e –ite, como observa o autor, apresentam sentidos

equivalentes (dor ou inflamação).

O mesmo ocorre com

“ sambódromo – fumódromo – rocódromo (–dromo ou

–ódromo) é base presa ou sufixo?

“ geologia – antropologia – numerologia (–logia)

é base presa ou sufixo?

No capítulo 7, Processos de Formação de Palavras. A Derivação Prefixal,

no item 7.3 BASE PRESA X PREFIXO, p. 153 a 156, Rocha esclarece-nos que:

a) As bases presas equivalem, semanticamente, a substantivos, adjetivos e

verbos;

b) Os lexemas compostos caracterizam-se por apresentarem mais de uma raiz, ou seja, base + base;

c) As raízes, por definição, apresentam significação externa. Exemplos de compostos:

antropologia antropo– base presa substantiva (´homem´)

log(ia)– base presa substantiva (´tratado, ciência´) sambódromo sambó– alomorfe da base livre substantiva samba

dromo– base presa substantiva (´local em que se realiza algo destinado a algum evento ´)

anfiteatro anfi– base presa adjetiva (´de forma circular, com arquibancadas

etc.´)

arborícola arbori– alomorfe da base livre substantiva árvore cola– base presa verbal (´que cultiva ou habita´)

Baseando-se na expressão “vocábulos homônimos” , Rocha (1998, p. 109) assim se refere a “sufixos homônimos”: “Dois ou mais sufixos distintos que apresentam coincidência sob o ponto de vista fonético [...]”, cuja terminologia correta deveria ser a seu ver “sufixos homófonos”. Em relação a esses últimos, assim os define:

Sufixos homófonos são portanto, sufixos que apresentam a mesma seqüência fonética, mas sentidos e/ou funções diferentes, como –al1 e –al 2, de laranjal e de semanal, por exemplo. (ROCHA, 1998, p. 110).

Outros exemplos de sufixos homófonos:

SUFIXOS: SENTIDO E/OU FUNÇÃO: EXEMPLOS:

–eiro1 agente verdureiro, doleiro, roqueiro

–eiro2 árvore ou arbusto abacateiro, tomateiro –eiro3 lugar ou recipiente galinheiro, saleiro, doceira –eiro4 idéia ou conjunto, coletivo braseiro, letreiro, nevoeiro –eiro5 gentílico brasileiro, mineiro, pantaneiro –eiro6 formador de adjetivos grosseiro, matreiro, ordeiro

–eiro7 objeto chuveiro, isqueiro, pandeiro

–ar1 formador de verbos malufar, telefonar, clientar –ar2 formador de adjetivos familiar, circular, escolar

Tabela 4.22 – Sufixos Homófonos – Sentidos e/ou Funções e Exemplificação. (Fonte: ROCHA, 1998, p. 111 – 112)

Rocha (1998) traz ainda em suas classificações os seguintes tipos de

sufixos:

a) Sufixos concorrentes: aqueles que, distintos sob o ponto de vista fonético, apresentam o mesmo sentido e/ou função. Além do mais, as bases e os produtos precisam pertencer à mesma categoria lexical.

Exemplos:

florista, frentista, parecerista, palestrista, padeiro, lixeiro, faroleiro, verdureiro,

etc.

“ –al, –ico, –iano, –eiro, –ino, –estre, –aço, –ado, –ar, –ento, –eo etc:

formam adjetivos a partir de substantivos:

carnal, rítmico, machadiano, verdadeiro, natalino, campestre, maníaco, barbado, familiar, corpulento, róseo etc.

b) Sufixos alomorfêmicos: são aqueles que apresentam variação de morfema em função do contexto (cf. –al ~ –zal; –eiro ~ –eira; –nça ~ –ncia; –aça ~ –

aço; –aria ~ –eria; –bil ~ –vel; –dor ~ –tor ~ –sor ~ –or; –ura ~ –dura ~ –tura

etc.)

Exemplos:

“–eiro ~ –eira: árvore ou arbusto:

abacateiro, goiabeira, laranjeira, limoeiro, mangueira, roseira etc.

“–dor ~ –tor ~ –sor ~ –or: agentivo:

ascensor, cantor, corredor, delator, genitor, narrador, professor etc.

“ –ura ~ –dura ~ –tura: substantivos abstratos; ação expressa pelo verbo;

adjetivos; objeto; locativo:

alvura, atadura, brancura, clausura, cintura, dentadura, doçura, feitura, formatura, magistratura, mordedura, pintura etc.

c) Sufixos categoriais: são os sufixos que mudam a categoria lexical do produto em relação à base; sufixos não categoriais: são aqueles que não mudam a categoria lexical do produto, com relação à base. São todos

significativos:

Sufixos Categoriais

S A–al teatro teatral

V S–dor navegar navegador

Sufixos Não-Categoriais

S S–eiro bicho/bicheiro agente

S S–ada dente/dentada golpe

A A–al branco/brancal adjetivo

Os sufixos categoriais podem ser: a) significativos – se se acrescenta ao

significado da base uma significação acessória (cf.: seqüestrar < seqüestrável 

possibilidade etc.); b) não–significativos – se não se pode apontar nos sufixos algum componente semântico . São chamados sufixos funcionais (cf.: teatro <

teatral; ritmo < rítmico; preparar < preparação etc.).

Obs.: A língua portuguesa não apresenta sufixos não–categoriais não–

significativos: quando não se pode apontar claramente um componente

semântico, há a possibilidade de se falar numa diferença de grau e, às vezes, numa

diferença estilística: Exemplos: triste tristonho feio feioso cinza cinzento eterno eternal angélico angelical

d) Às vezes , têm-se seqüências fônicas terminais que são sufixos, porque são recorrentes43 e têm uma função específica: formar substantivos, adjetivos,

verbos ou advérbios. É o que ocorre nos exemplos abaixo, todos adjetivos:44

_______

43

Na realidade, basta uma seqüência fônica terminal ser recorrente para ser classificada como sufixo? A seqüência fônica –ebre não é recorrente em língua portuguesa e, a bem da verdade, forma o derivado casebre, único em língua portuguesa a apresentar esse sufixo. No entanto, não parece haver dúvida, se consultarmos um falante nativo da língua, de que ele reconheça essa seqüência “–ebre“ como sufixo. A questão da produtividade ou não de um sufixo parece ser outra questão. (Cf. “casebre s.m. (1789 cf. MS1) 1 casa pequena e humilde, sem conforto, velha ou em ruínas 2 pequena habitação rústica; choupana, tugúrio, cabana ETIM orig.contrv.; prov. do provç casebre, antigo occ. casibla; AGC deriva o provç. do lat.medv. *cassibula 'casinha'; segun-

momentâneo campestre celeste temporâneo alpestre agreste cutâneo silvestre subterrâneo eqüestre litorâneo rupestre espontâneo terrestre consentâneo simultâneo (Fonte: ROCHA, 1998, p. 116)

Os sufixos –âneo, –estre e –este são, por definição, recorrentes, mas são improdutivos, melhor dizendo, falta a essas regras e a esses sufixos o caráter de

produtividade, na língua atual, embora o falante nativo possa aplicar-lhes as

RAE´s (Regras de Análise Estrutural) e reconhecer suas estruturas cuja regra pode ser assim formalizada: [ [X]a Y]b. Observem-se as seguintes RAE´s:

[ [momento]S –âneo]A [ [campo]S –estre]A

[ [terra]S –âneo]A [ [cútis]S –âneo]A [ [céu]S –este]A

Obs.: S = substantivo ; A = adjetivo

O falante saberá que momentâneo, campestre, terrestre, cutâneo e

celeste vêm, respectivamente, de momento, campo, terra, cútis e céu e assim

por diante.

_______

do Corominas em DECLC, o port. casebre poderia constituir uma sobrevivência moç.: lat. *casipula, dim. de casa, pronunciado kazebrä pelos mouriscos do Ribatejo ao Algarve; ver cas-.” (Houaiss, versão eletrônica)

44

Exemplos recolhidos em ROCHA (1998). O autor não cita exemplos de substantivos, verbos nem de advérbios, embora os sufixos possam formar palavras de todas essas classes gramaticais, também denominadas classes lexicais ou plenas.

Luiz Carlos de Assis Rocha filia-se, como vimos, à linha da morfologia gerativista. Suas reflexões são muito pertinentes em relação aos sufixos, à

sufixação e aos demais temas de que trata sua obra, aqui analisada apenas

parte dela.

Muito interessantes e diferentes dos estudos tradicionais (gramaticais / normativos / prescritivos / estruturalistas) são as idéias do autor em relação aos

sufixos e à sufixação, em virtude da linha de pesquisa à qual se filia, dentre as

quais, podemos ressaltar: a) mostrar os sufixos ligados a bases presas; b) a diferenciação entre sufixos e bases presas; c) classificação dos sufixos etc. O autor nos mostra que os sufixos em si não são produtivos ou improdutivos, como vulgarmente se diz, mas o são as regras que geram novas palavras e podem ser aplicadas a uma base da língua portuguesa e ser capazes de gerar, ou não, um novo produto.

É um dos raros autores que apresenta em seus estudos os “sufixos

homófonos” – estudo bastante interessante, mas pouco trabalhado pela literatura

especializada. Além do caráter didático-pedagógico, sua obra apresenta abundância de exemplificação.

4.4.8 Alina Villalva

A obra de Villalva (2000) constituiu sua dissertação de doutoramento em lingüística, apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa em 1994, orientada pela Profa. Dra. Maria Helena Mira Mateus.

Seu objetivo geral é descrever e analisar as estruturas morfológicas do

Português. Para isso, a referida autora baseou-se nos pressupostos e programa da

Teoria Gerativa, apresentados em Chomsky (1986, p. 3 – 4)45.

Na Introdução, ao fazer a apresentação de sua obra e dos referidos capítulos, Villalva, na página 10, já propõe uma distinção entre sufixos, os quais podem ser de três tipos ou espécies:

_______

45

Villalva refere-se à obra knowledge of Language. Its Nature, Origin and Use, de autoria de Noam Chomsky, publicada em 1986, em Nova Iorque, pela Praeger.

a) sufixos derivacionais: são predicadores transitivos e subcategorizam obrigatoriamente um complemento (radical, tema ou palavra);

b) sufixos flexionais: são especificadores morfo-sintáticos do tema;

c) sufixos avaliativos: são modificadores.

Para Villalva, baseada na perspectiva de Siegel (1974, 1979)46 e de Allen (1978)47, os sufixos, de modo geral, contêm a sílaba tônica, situação prevista pela regra geral da acentuação, ao contrário dos prefixos que são neutros quanto ao

acento:

folha folhagem barulho barulhento fácil facilidade

Entretanto, Villalva ressalta que o acento pode recair sobre a última vogal da base:

demônio demoníaco símbolo simbólico ácido acídulo

ou ainda o acento pode recair sobre a mesma sílaba [tônica] da base:

terra térreo eficaz eficácia ovo óvulo cone cónico _______ 46

SIEGEL, D. Topics in English Morphology, 1974; Nova Iorque: Garland, 1979.

47

ALLEN, M. Morphological Investigations. Universidade de Connecticut: Dissertação de PhD, 1978.

Villalva (2000, p. 47) nota ainda “[...] que os sufixos se associam a radicais, temas ou palavras.” e fazem parte dos afixos e, para ela, baseada em Siegel (1974, 1979), podemos reconhecer as subclasses dos afixos, assim distribuídos:

a) prefixos I; b) prefixos II; c) sufixos I; d) sufixos II.

Os afixos de nível I são introduzidos por “+” [fronteiras de morfema], e os afixos

de nível II, por “#” [fronteiras de palavra].

Conjugando-se os dois critérios (acentuação e categoria morfológica da base), Siegel (1974, 1979: 153, apud Villalva, 2000, p. 44 – 45) “[...] preconiza a perificidade dos afixos de nível II relativamente aos afixos de nível I” e assim os esquematiza:

afixos +

palavras não derivadas Afixação radicais

Regras cíclicas de acentuação

afixos # Afixação #

O modelo de Siegel (1974, 1979), no entanto, traz sérios problemas ao português, uma vez que “As regras gerais de acentuação em Português (cf. Pardal 1973, 1977 e Mateus 1983)48 demonstram que as palavras complexas são acentuadas de modo idêntico ao das palavras simples. [...]” (Villalva, 2000, p. 45). _______

48

PARDAL, Aspects de la Phonologie (Générative) du Portugais. 1973; Lisboa: INIC – CLUL, 1977.;

MATEUS, M. H. M.; BRITO, A. M.; DUARTE, I. e FARIA, I. H. Gramática da Língua Portuguesa. Lisboa: Caminho, 1983; 1989, 2ª. edição revista e aumentada; 1992, 3ª. edição.