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Capítulo V – Formação de palavras.

PRINCIPAIS SUFIXOS NOMINAIS DE OUTRAS ORIGENS:

4.3 O Sufixo nos estudos de Gramáticas Normativas da Língua Portuguesa:

Vejamos a posição de alguns especialistas sobre os sufixos e/ou a sufixação

em Gramáticas Normativas da Língua Portuguesa:

4.3.1 Fernão de Oliveira

Fernão de Oliveira é o autor da primeira Gramática da Língua Portuguesa,

publicada em 1536. Em sua obra, faz, como observa BUESCU (1975, p. 20)18, “[...] efectivamente um conjunto de curiosas reflexões, de tipo ensaístico; em suma, uma miscelânea linguística e cultural.”

O referido autor não traz um capítulo específico sobre a estrutura das palavras, ou melhor, “dicções”19, em sua terminologia, nem sobre os processos de formação

de palavras em língua portuguesa. Contudo, Oliveira trata das “dicções” em dez

Capítulos (do XXX ao XXXIX), num total de vinte páginas. _______

18

Utilizamo-nos de BUESCU, Maria Leonor Carvalhão. A Gramática da Linguagem Portuguesa. Introdução, leitura actualizada e notas. Lisboa, INC – CM, 1975.

19

“Dicção, vocábulo ou palavra, tudo quer dizer uma coisa. E podemos assim dar sua definição: palavra é voz que significa coisa ou acto ou modo: coisa, como artigo e nome; acto, como verbo; modo, como qualquer outra parte da oração, as quais, como significam e que coisas, actos ou modos

–ejo. Parece de origem espanhola. Substantivos diminutivos, quase sempre com

Sobre a Gramática da Linguagem Portuguesa, é importante ressaltar:

À extensa parte dedicada à descrição fonética segue-se um breve estudo da morfologia, ou melhor, de alguns problemas morfológicos, sem seqüência ou planificação: derivação e composição, flexão dos nomes, alguns pronomes, plural dos nomes terminados em ão e em consoante, conjugação dos verbos. Termina com uma página dedicada à construção (sintaxe). (BUESCU, 1975, p. 21)

Em relação à curiosa nomenclatura utilizada por Fernão de Oliveira, cumpre- nos salientar:

Por outro lado, um dos aspectos curiosos da obra de Oliveira consiste na adopção de uma nomenclatura original, muito expressiva e notavelmente inovadora (palavras apartadas e juntas, mudadas, primeiras, tiradas), a qual, aliás, não virá a ser utilizada pelos gramáticos posteriores. (BUESCU, 1975, p. 21)

Algumas “dicções” da língua portuguesa nasceram entre nós; outras são antigas e supõe-se que vieram de outras línguas, são, portanto, importações

estrangeiras, embora não se possa provar com exatidão. Por exemplo:

pelote > pele; capa-pele (no tempo do Rei D. Afonso Henriques) sisa (no tempo do Rei D. João)

Fernão de Oliveira cita vários exemplos, baseado na analogia, na comparação ou na etimologia. Vejamos alguns casos:

Aveiro (topônimo)  porque nessa terra morava um caçador de aves, ao qual, de alcunha, chamaram aveiro;

Santarém (topônimo)  deve ter se chamado Santereia, de acordo com sua etimologia;

_______

são estes que significam, di-lo-emos em outra parte onde falaremos das partes da oração.” (OLIVEIRA, apud BUESCU, 1975, p. 81 – 82).

homem assim se chama porque é o meio de todas as coisas; > latim “homo”;

mulher  assim se chama porque é mole; > latim “mulier”; velho recebe esta denominação porque viu muito; candeia  vem do latim candela; etc.

Fernão de Oliveira em sua obra trata das seguintes “dicções”: alheias,

comuns, apartadas, simples ou singelas, inteiras, juntas ou compostas (nome dado

pelo latinos), velhas, novas, usadas (gerais x particulares), próprias, mudadas,

primeiras (primitivas para ao latinos) e tiradas.

Para este trabalho, interessam-nos mais de perto as seguintes:

a) dicções juntas: chamadas compostas pelos latinos. Suas partes significam ou podem significar, por essa razão são dicções por si, ou podem ser também partes de outras dicções de que se serviram. Podem se ajuntar diversas dicções ou suas partes, fazendo uma só dicção:

contrafazer estorvar

refazer arranhar desfazer aconselhar abastança revender abertura desimpedir

Alguns vocábulos supostamente derivados já apresentavam o prefixo e/ou o sufixo em seu étimo, tendo vindo, por esta razão, já formados para a língua portuguesa; outros, ao contrário, incorporaram o prefixo e/ou o sufixo à forma primitiva. Confira alguns exemplos de acordo com o Houaiss, versão eletrônica:

 abastança ETIM abastar + -ança;

 abertura ETIM lat.tar. apert

Ú

ra,ae 'ação de abrir, abertura, orifício';

 desfazer ETIM des- + fazer;

 estorvar ETIM lat. exturbo,as,

Á

vi,

Á

tum,

Á

re 'lançar fora, fazer sair à força,

expulsar, banir; esborralhar, deitar abaixo, demolir' fig. 'perturbar, transtornar, confundir'.

b) dicções primeiras: chamadas de primitivas pelos latinos; seu nascimento não procede de nenhuma outra parte mais que da vontade daquele que primeiro a nomeou:

manta esteira

candeeiro > candeo, candes (latim) = resplandecer

c) dicções tiradas: chamadas de derivadas pelos latinos; seu nascimento provêm de outras dicções, de onde são tiradas:

tinteiro > tinta velhice > velho honrada > honrar

Neste caso, encontram-se, de acordo com Fernão de Oliveira, as palavras derivadas por sufixação.

No Capítulo XL – Da analogia, Oliveira faz-nos refletir sobre a importância das

“dicções”, assim referindo-se a elas:

Assim como a diferença das dicções faz conhecer as diversas coisas uma das outras, segundo fica dito, também assim a semelhança das dicções nos abre caminho para que conheçamos umas coisas por outras, segundo que têm alguma semelhança ou parecer entre si. E, portanto, os nomes se conhecem dos verbos e os verbos com os nomes das outras partes, porque são diferentes uns dos outros, e os nomes se conhecem por outros nomes, e os verbos por outros verbos, porque são em alguma coisa e voz semelhantes, cada parte destas, com as outras do seu género. (OLIVEIRA, 1536, apud BUESCU, 1975, p. 101 – 102).

Embora Fernão de Oliveira não se refira em nenhum momento em sufixo em sua obra, mas apenas em “dicções” e de seus tipos existentes, ou seja, de suas

classificações e exemplificação, pode-se afirmar que foi um pioneiro em seu tempo,

tendo escrito a nossa primeira gramática.

Apesar de os gramáticos que se lhe seguiram não terem utilizado sua nomenclatura gramatical, uma “nomenclatura original, muito expressiva e

notavelmente inovadora”, como nos afirma Buescu (1975, p. 21), o autor nos deixa importantes contribuições.

É importante não nos esquecermos, no entanto, da época em que o autor viveu – o século XVI, em pleno Renascimento e de suas contribuições gramaticais para a época e local em que produziu sua Gramática da Língua Portuguesa, abrindo caminho para outros gramáticos de sua época e de séculos posteriores.

4.3.2 Júlio Ribeiro20

A Grammatica Portugueza, de Júlio Ribeiro, foi publicada pela primeira vez

em 1881 e teve inúmeras edições, apesar disso envelheceu superada pelos estudos de filólogos que o sucederam.

A Grammatica Portugueza é dividida em duas partes: a Primeira Parte trata da Lexeologia e contém o Livro Primeiro (com três secções) e o Livro Segundo (com três secções); a Parte Segunda, que trata da Syntaxe – Generalidades, no Livro

Primeiro (com duas secções), no Livro Segundo, que contém a Syntaxe logica (três

secções), no Livro Terceiro, têm-se as Regras de syntaxe e da Morfologia (Classes de Palavras), embora o autor não utilize esse último termo (contém X capítulos); no

Livro Quatro, temos os Additamentos (Pontuação, Emprego de lettras maiúsculas,

Estylo, Vícios, etc.), num total de seis capítulos. Seguem-se a esses Livros: Annexos (quatro capítulos) e Additamentos (dois capítulos).

É o Livro Segundo da Primeira Parte, Secção terceira, intitulada Etymologia, a

que mais de perto nos interessa para este estudo, sobretudo os 2º. e 3º. Parágrafos, onde o autor trata de substantivos derivados.

Nos §s. 276. a 279., Júlio Ribeiro assim define afixo, apresenta sua divisão e

exemplificação:

276. – Affixo é a palavra que, ajuntada a uma palavra já existente ou ao seu thema, lhe modifica a significação por meio de uma idéia accessoria que lhe acrescenta, ex.: de Fórma, refórma (fórma nova); –de guerra, guerreiro (homem que faz a guerra).

______

20

Utilizamo-nos de RIBEIRO, J. Grammatica Portugueza. Decima Primeira Edição. Bello Horizonte, Livraria Francisco Alves & C., 1913. A 1ª. edição data de 1881.

277. – Dividem-se os affixos em prepositivos (que se põem antes do thema) e pospositivos (que se põem depois do thema).

278. – Os affixos prepositivos chamam-se prefixos: os pospositivos chamam-se suffixos.

Prefixos ha que não alteram a significação do thema; chamam-se expletivos, ex. Atambor.

279. – As palavras formadas de outras por meio de affixos chamam-se derivadas-compostas.

A seguir, Ribeiro apresenta ao leitor os principais prefixos (§s. 280. a 282.) e

suffixos portuguezes (§s 283. a 285.).

De acordo com sua posição, os sufixos portugueses são numerosos, sendo alguns derivados de formas latinas e outros, das formas aumentativas, diminutivas e pejorativas da própria língua.

Há sufixos que se juntam ao radical de substantivos, de adjetivos e/ou de verbos. A seguir, exemplificaremos os dois primeiros tipos, que são os que interessam a este trabalho. Ambas as tabelas são de nossa autoria e baseiam-se na obra de Júlio Ribeiro (1913):

PRINCIPAIS SUFIXOS QUE SE JUNTAM AO RADICAL DE SUBSTANTIVO: