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Capítulo V – Formação de palavras.

PRINCIPAIS SUFIXOS QUE SE JUNTAM AO RADICAL DE SUBSTANTIVO: SUFIXO /

4.3.6 Evanildo Bechara

Para Bechara (1999), sufixo é um elemento mórfico que se junta ao final de

uma base e constitui-se uma forma presa, uma vez que não tem curso independente na língua para formar novas palavras, emprestando-lhe uma idéia acessória (agente, estado, instrumento, lugar, qualidade, semelhança etc.) e marcando-lhe a categoria a que pertence (substantivo, adjetivo, verbo ou advérbio).

Em geral, o sufixo assume uma função morfológica, uma vez que, geralmente, altera a categoria gramatical do radical (derivante) de que sai o derivado:

Derivante: Derivado:

(Base)

belo (adj.) beleza (subst.)

coroar (verbo) coroação (subst.) dormir (verbo) dormitório (subst.)

lapidar (verbo) lapidário (subst.) real (adj.) realidade (subst.)

Às vezes, contudo, o sufixo mantém inalterada a categoria da base, como podemos verificar nos exemplos abaixo:

Derivante: Derivado:

(Base)

árvore (subst.) arvoredo (subst.)

feio (adj.) feioso (adj.) poeta (subst.) poetastro (subst.) vidro (subst.) vidraça (subst.)

Os sufixos relacionam a palavra a que se agrega aos nomes aumentativos (casarão) ou diminutivos (livrinho), aos nomes coletivos (boiada, folhagem, lodaçal), aos pátrios (brasileiro), aos nomes de agente ou ofício (corredor, secretário,

dentista), aos nomes de ação ou resultado (punição, casamento, formatura, passeata), aos verbos: indicativos de ação (fertilizar), de ação de pouca intensidade

(chuviscar), de início de ação ou passagem para um novo estado ou qualidade (v. incoativos) (alvorecer), de repetição de ação (espicaçar, mercadejar, voejar), aos advérbios de modo (alegremente, suavemente) etc. Por essa razão, os sufixos, conforme Bechara (1999), distribuem-se em:

a) sufixos nominais – formam substantivos e adjetivos:

anual, aromático, cabeçudo, celeste, escolar, felizardo, laranjal, lavatório, lisboeta, mercuroso, narrador, ouvinte, parentalha, passeata, pousada, relicário, viuvez etc.;

b) sufixos verbais – formam verbos: apodrecer, bebericar, debilitar, humanizar,

namoricar, saltitar etc.;

c) Sufixo adverbial – forma advérbios. O único em língua portuguesa é –mente, o qual se prende a adjetivos uniformes, ou quando biformes, à forma feminina: atualmente, claramente, copiosamente, enormemente, horrivelmente, sinceramente, sossegadamente etc.

O autor ressalta ainda que temos sufixos de várias procedências, os latinos e os gregos, no entanto, são os mais comuns nas formações eruditas e adverte-nos de que

Os sufixos dificilmente aparecem com uma só aplicação; em regra, revestem-se de múltiplas acepções e empregá-los com exatidão, adequando-se às situações variadas, requer e revela completo conhecimento do idioma. Ao lado dos valores sistêmicos associam-se aos sufixos valores ilocutórios intimamente ligados aos valores semânticos das bases a que se agregam das quais não se dissociam.23 A noção de aumento corre muitas vezes paralela à de coisa grotesca e aplica-se às idéias pejorativas: poetastro, mulheraça. Os sufixos que formam nomes diminutivos traduzem carinho: mãezinha, paizinho, maninho.24 [...] (BECHARA, 1999, p. 357).

Bechara lembra-nos ainda de que

a) Alguns sufixos assumem valores especiais: florão não se aplica a flor grande, mas a uma espécie de ornato em arquitetura.

Outros exemplos:25

bordão (1. cajado grosso ou vara; 2. palavra, expressão ou frase que um

indivíduo repete viciosamente ao falar ou escrever);

corpete (parte superior da indumentária feminina, ger. Jaqueta ou blusa, de

corte ajustado, com comprimento do colo até a cintura; corpinho, corselete);

portão (espécie de porta de tamanhos e formas variados, que fecha uma

abertura em muro ou grade e que ger. serve para impedir o acesso da via pública para um local privado e vice-versa, ou entre dois recintos não cobertos de uma mesma propriedade);

______

23

O autor baseia-se em Rio-Torto, Sistêmica, 203 e ss. Veja a referência completa nas Referências.

24

Os sufixos diminutivos podem também traduzir pejoratividade: mulherzinha, jornaleco, lugarejo, casebre, ruazinha, etc. fato não ressaltado por Bechara (1999). A bem da verdade, é na enunciação, situação concreta de comunicação, que teremos o valor exato de uma determinada palavra, em seu inter-relacionamento com as demais, inclusive das palavras sufixadas.

25

vidrilho (cada um dos canudinhos de massa de vidro ou substância análoga

que se enfiam à maneira de contas ou miçangas, us. na fabricação de bijuterias, ornatos e em bordados).

b) Alguns sufixos perderam o seu significado primitivo. É o que podemos verificar nos exemplos abaixo:

camisola (Brasil: roupa feminina para dormir, semelhante a uma camisa

comprida ou a um vestido, com ou sem mangas, e de material e comprimento variáveis);

carreta (1 pequeno carro de duas rodas; 2 veículo tosco puxado por animais,

carroça; 3 carro empurrado à mão, em que se leva o caixão mortuário);

folhinha (calendário)

pastilha (pequena guloseima de açúcar, ao qual se acrescentam corantes

e/ou ingredientes ou essências de vários sabores; bala).

Em relação a esses valores especiais, presentes em a) e b) supracitados, retomando Cunha & Cintra (1985), os autores lembram-nos de que:

Muitas formas, originariamente aumentativas e diminutivas , adquiriram, com o correr do tempo, significados especiais, por vezes dissociados do sentido da palavra derivante. Nestes casos, não se pode mais, a rigor, falar em aumentativo ou diminutivo. São, na verdade, palavras em sua acepção normal. (CUNHA & CINTRA, 1985, p. 193).

Bechara (1999) considera, em sua gramática, as formas –ífic, –ífer, –duct, e outros da mesma natureza, elementos sufixais, em formações eruditas greco- latinas: sudorífico, frutífero, aqueduto etc.

Bechara apresenta ao leitor extensas listas26 dos principais sufixos utilizados em língua portuguesa formadores de substantivos, de nomes aumentativos, de no-

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26

mes diminutivos e/ou pejorativos, de adjetivos, de verbos e do sufixo formador do advérbio, das quais escolhemos alguns casos e exemplos, agrupando-os :

“ –ura, –dura, –tura: sufixos que formam substantivos indicativos de nomes

de ação ou resultado de ação:

feitura, formatura, mordedura etc.

“ –douro, –tério, –aria, –bulo sufixos que formam substantivos indicativos

de lugar, meio ou instrumento:

bebedouro, manjedoura, necrotério, dormitório, livraria, tesouraria, sorrate- ria, turíbulo etc.

“ –vel, –bil, –ento, –(l)ento, –ano, –ático, –ino, –eo, –timo, –ico, –aico:

sufixos formadores de adjetivos:

aromático, bailarino, corpulento, crível, cruento, flébil, humano, ignóbil, latino, marítimo, notável, paladino, problemático, público, prosaico, róseo, solúvel etc.

A obra de Bechara, por se tratar de uma Gramática Normativa é bastante tradicional, como as demais obras do gênero. No entanto, considerado um dos mais eminentes gramáticos da atualidade, sua obra já mudou bastante se a compararmos com as primeiras edições da mesma.

O autor já tem assimilado em seu trabalho idéias renovadoras, trazidas nos últimos tempos pelos diversos campos da Lingüística.

Ao conceituar sufixo, Bechara já o mostra como uma forma presa (espécie de morfema aditivo), capaz de modificar a categoria gramatical do radical, fato que nem sempre ocorre.

De acordo com sua classificação, os sufixos distribuem-se em três classes, de acordo com os derivados que formam, em: a) sufixos nominais; b) sufixos verbais e c) sufixo adverbial e, quanto a suas origens, observa que em português prevalecem os gregos e os latinos, presentes em formações eruditas.

Ainda ligado à tradição gramatical, apresenta “listas de sufixos”, como ocorrem nas demais gramáticas normativas/prescritivas, entretanto, apresenta os significados

principais dos sufixos, geralmente agrupados por finalidades e/ou significado(s) em

comum; sua exemplificação é bastante rica.

Destaques à parte, merecem os sufixos que perderam seu sentido original ou primitivo, presentes em algumas palavras da língua portuguesa (camisola, bordão,

folhinha etc.).

Sua gramática, pode-se dizer, deve ser lida com bastante proveito e é sempre um rico material para esclarecimentos de dúvidas e/ou pesquisas em todos os níveis de ensino.