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3 METODOLOGIA E TEORIA:

3.2 Das Fontes Utilizadas para a Elaboração do Corpus:

Os textos selecionados, para a coleta dos dados, são em prosa e em verso e abarcam os diferentes gêneros e tipos textuais (poemas (líricos/ épico/ religiosos/ albas, alvas ou serenas, barcarolas ou marinhas, bailias ou bailadas, romaria, sonetos, tenções) cantigas (amor/ amigo/ escárnio/maldizer), cartas, receitas culinárias, doações, testamentos, crônicas, vilancetes, verbetes de dicionários, recibos de compra, manuscritos, editais, petições, procurações, tratados, denúncias, glossários, direito consuetudinário, tratado de poética, auto, farsa, comédia etc.), além de consultas e pesquisas em dicionários e em gramáticas da língua

portuguesa.

Versam as obras sobre temas diversos: amor, flora e fauna brasileiras, o “descobrimento” do Brasil, ingredientes e modo de fazer de receitas culinárias, doações e testamentos de bens, denúncias, vidas de reis portugueses, a vida no Brasil Colônia, coita d´amor, saudades do amigo que não regressa, o ambiente doméstico onde a moça aguarda o “namorado” (amante), aspectos típicos da vida dos jograis e/ou da corte, a impossibilidade de realização amorosa, lamento pela distância do namorado, amor cortês, diálogos com a natureza, narrações de vidas de santos, críticas diretas ou indiretas a pessoas da sociedade, narrativas de viagens, descrições de lugares, a instabilidade e a fugacidade da vida e dos bens materiais, a viagem de Vasco da Gama às Índias, a História de Portugal, narrativas cavaleirescas, milagres e mistérios de santos, etc.

Muitas vezes, critica-se que muitas formas encontradas na língua ficam apenas nos grandes inventários das obras lexicográficas, principalmente nos Thesauru e, na realidade, nunca são utilizadas pelo povo que a fala. Por essa razão, os dados que compõem o corpus são baseados em documentações históricas e comprovam o uso por um autor ao retratar a época à qual pertence e de que faz parte e a linguagem utilizada pelo povo em determinado período histórico-literário;

As fontes utilizadas abrangem do século XII ao século XVI e, para a seleção das mesmas, consideramos as observações de Mattos e Silva (1989) acerca da constituição de um corpus representativo para o estudo do período arcaico da língua. Foram utilizadas:

a) documentação poética, ou seja, a lírica galego-portuguesa, reunida nos

Cancioneiros Medievais Portugueses, sendo os mais importantes: 1) o Cancioneiro da Ajuda: códice depositado no Palácio da Ajuda (Lisboa),

compilado ou copiado provavelmente em fins do século XIII; consiste na mais antiga coletânea de cantigas da poesia trovadoresca; é o mais reduzido dos

Cancioneiros Medievais e contém 310 cantigas; nela não se encontram cantigas de amigo, cantigas de escárnio nem de maldizer e todas as cantigas

são anteriores à morte do rei Afonso X, o Sábio; do ponto de vista artístico, salientam-se o valor das iluminuras – letras pintadas ou miniaturas que ornamentam um manuscrito – que se encontram na obra; 2) o Cancioneiro

da Vaticana: provavelmente compilado na Itália, em fins do século XV ou

início do século XVI, a partir de originais do século XIV; contém cantigas líricas ou lírico-amorosas (cantigas de amor/cantigas de amigo) e cantigas satíricas (cantigas de escárnio/cantigas de maldizer), perfazendo um total de 1205 cantigas; apresenta cantigas de trovadores anteriores e contemporâneos de D. Afonso III, de D. Dinis e de seus filhos; muitas delas incluídas no Cancioneiro da Biblioteca Nacional; atualmente encontra-se depositado na Biblioteca Apostólica do Vaticano (Roma/Itália), de onde deriva o nome pelo qual é conhecido; 3) o Cancioneiro da Biblioteca Nacional ou Cancioneiro Colocci-Brancutti: datado do século XVI, foi compilado de textos originais possivelmente do século XIV. É o mais completo dos Cancioneiros; inclui textos de todos os poetas contemporâneos de D. Dinis e ainda dos filhos do monarca. Contém 1560 cantigas dos gêneros e tipos cultivados (cantigas de amor/cantigas de amigo/cantigas de escárnio/cantigas de maldizer), incluindo textos presentes no Cancioneiro da

Ajuda e no Cancioneiro da Vaticana, além de fragmentos de um tratado

incompleto de poética – a Arte de Trovar que abre o referido Cancioneiro. Esses Cancioneiros marcam a primeira produção literária portuguesa, o Trovadorismo; teve seu apogeu nos séculos XII e XIII, entrando em declínio

no século XIV. Seu último grande incentivador foi o rei D. Dinis (* 1261 – † 1325) que prestigiou a produção poética em sua corte, tendo sido ele próprio um dos mais fecundos e talentosos trovadores medievais. Para este trabalho, utilizamo-nos de:

“ Lírica Profana Galego-Portuguesa – volumes I e II: corpus completo das

cantigas medievais (amor/amigo/escárnio/maldizer). Ambos os volumes foram coordenados por Mercedes Brea, com o apoio de uma equipe de investigação e de apoio dos diversos pesquisadores da Xunta de Galicia e do Centro de Investigacións Lingüísticas e Literárias Ramón Piñero.

b) documentação em prosa não literária: entendida em seu sentido mais amplo. Trata-se de documentação de natureza jurídica. Em relação a esses documentos, utilizamo-nos de:

“ A Escrita no Brasil Colônia: um Guia para a Leitura de Manuscritos:

organizados por Vera Lúcia Costa Acioli. Contém textos fac-smimilados dos séculos XVI a XIX, de autores diversos. Há cartas, manuscritos, editais, procurações, tratados, etc.

“Documentos Portugueses do Noroeste e da Região de Lisboa: organizado

por Ana Maria Martins, apresenta 218 textos dos séculos XIII (1243) ao XVI (1ª. metade – 1548), a maior parte deles encontrada em Mosteiros Portugueses (S. Miguel de Vilarinho/S. Salvador de Moreira/S. Pedro de Cete/S. Pedro de Pedroso/S. Baptista de Pendorada/S. André de Ansede/Chelas) e na região de Lisboa e ainda inédita.

“Testamento de Afonso II: considerado o mais antigo documento oficial real

datado. Utilizou-se o Testamento presente na obra Curso de História da Língua

Portuguesa, de Ivo Castro, a qual traz duas versões do mesmo.

c) Documentação em prosa literária: entendida em seu sentido amplo, opõe- se aos textos jurídicos. Há textos escritos em português assim como muitos

textos traduzidos do latim ou de outras línguas. Na realidade, não apresentam grande valor literário, mas um valor lingüístico inestimável. Retratam, na sua maior parte, a vida medieval na sociedade portuguesa (corte principalmente) e descrições das flora e fauna brasileiras, a vida dos primeiros habitantes encontrados no Brasil etc. Utilizamo-nos de:

“ Coisas Notáveis do Brasil: sua autoria é incerta e ainda não foi

comprovada, mas estudiosos atribuem-na ao Padre Luís da Fonseca ou ao Padre Francisco Soares.

“ Carta de Pero Vaz de Caminha: Considerada a “Certidão de Nascimento

do Brasil”, título atribuído por Capistrano de Abreu. Nela o escrivão da armada de Cabral narra ao rei de Portugal a viagem iniciada em 26 de abril e concluída no dia 1º. De maio de 1500. Considerado o mais minucuoso e importante documento relacionado à viagem da esquadra de Cabral ao Brasil, o documento só se tornou público em 1790, sendo publicada a primeira vez no Brasil em 1817, pelo geógrafo Manoel Ayres do Casal, no primeiro volume da Corographia

Brasílica..., de autoria de Manuel Aires do Casal. Contém informações e

pormenores sobre a viagem ao Brasil e a estadia nesse país inexistentes em outras fontes conhecidas. Utilizamo-nos do “Vocabulário da Carta de Pero Vaz

de Caminha”, edição preparada por Silvio Batista Pereira e publicada pelo

INL/MEC em 1964.

“ Crônica de D. Pedro I, Crônica de D. Fernando e Quadros da Crônica de D. João I, todas de Fernão Lopes, integram a Chrónica dos feitos dos Reis de Portugal e Crônica da Tomada de Ceuta e Crônica dos Feitos de Guiné, de Gomes Eanes de Zurara ou Azurara. Todas as edições consultadas fazem parte da Livraria Clássica Editora.

“ Livro das Aves: de autoria desconhecida, foi preparada por um grupo de

pesquisadores/professores da Universidade Federal da Bahia, sob a direção de Nelson Rossi. Aprsenta o fac-símile do códice utilizado e um glossário completo dos vocábulos utilizados na obra.

“ Obras Completas de Gil Vicente: obra em seis volumes, contém toda a

produção dramática vicentina. Gil Vicente é considerado o primeiro grande dramaturgo português, além de poeta de renome. Escreveu autos (peças teatrais de assunto religioso ou profano; sério ou cômico) , farsas (peças cômicas de um só ato, com enredo curto e poucas personagens, extraídas do cotidiano), comédias (peça cujo propósito é divertir pelo tratamento cômico das situações, dos costumes e dos personagens), etc. Sua obra reflete a mudança dos tempos e a passagem da Idade Média para o Renascimento.

“ O Livro de Vita Christi em Lingoagem Português - Vol. I: da autoria de

Ludolfo Cartusiano. A edição é fac-similar e crítica e foi cotejada com os apógrafos de 1495 por Augusto Magne. Apresenta Glossário das palavras mais utilizadas na obra.

“ Os Lusíadas: obra de Luiz Vaz de Camões, considerado o maior escritor do

Classicismo português e um dos maiores em Língua Portuguesa. Escritos em 1572, são um poema épico, divididos em dez cantos. O tema central é a viagem de Vasco da Gama às Índias e a história portuguesa, desde a luta contra os mouros invasores até a consolidação do Estado luso e as grandes navegações. Utilizamo-nos da edição fac-similar de 1972, editada pela Xérox do Brasil S.A. Reproduções Gráficas e do Índice Reverso de “Os Lusíadas”, organizado por Temo Verdelho (1981).

Foram utilizadas ainda as seguintes Obras para a recolha dos dados e a montagem do corpus:

“Textos Arcaicos. Para Uso da Aula de Filologia Portuguesa da Faculdade de Letras de Lisboa.: A obra é uma compilação de representativos textos arcaicos dos

séculos XII a XVI, além de alguns textos não datados. Foi preparada por José Leite de Vasconcelos. Contém textos em prosa e em verso, de vários gêneros e tipos textuais (testamentos/poesias líricas/ crônicas/ testamentos/ doação/ títulos de venda/ direito consuetudinário etc.). Destaca-se o Testamento de Eluira Sanchez (1193).

“Dicionários: Selecionamos o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado (5 vol.) e o Dicionário da Língua Portuguesa Arcaica, de Zenóbia Collares Moreira: ambos elaborados em verbetes por ordem alfabética, resgatam boa parte do vocabulário presente nos textos arcaicos do português sendo o de Machado mais completo e de superior valor – quer pelo número de entradas quer pelas abonações utilizadas.

“ Um Tratado da Cozinha Portuguêsa: obra do tipo descritivo-injuntivo, de

autoria incerta, apresenta receitas culinárias, supostamente atribuídas a Rainha Dona Maria I de Portugal (* Lisboa, 17/12/1734 – † Rio de Janeiro, 20/03/1816), conhecida pelos cognomes de A Piedosa ou A Pia, devido à sua extrema devoção religiosa e como D. Maria, a Louca, devido à doença mental manifestada com veemência nos últimos 24 anos de vida, depois da morte de seu filho primogênito, que ela havia se recusado a vacinar contra a varíola, por motivos religiosos. Utilizamo-nos da obra publicada pelo INL/MEC, 1963, que traz a reprodução fac- similar do manuscrito I–E da Biblioteca Nacional de Nápoles; leitura diplomática; a leitura moderna dos textos e índice de vocábulos utilizados na obra.

Utilizamo-nos, para a coleta de dados, de textos de documentação poética e de documentação em prosa (literária/não literária).

Outras obras serviram-nos de fonte de consulta e pesquisa, embora não se tenha utilizado das mesmas para a elaboração do corpus, salvo quando encontravam-se passagens abonatórias delas nos Dicionários supracitados. São elas, principalmente:

“ 1) ARROYO, L. A Carta de Pero Vaz de Caminha. Ensaio de Informação à Procura de Constantes Válidas de Método. 2. ed. São Paulo: Melhoramentos; Brasília: INL, 1976.

“2) CAMARGO, C. de O. et al. Textos Medievais Portugueses – Cantigas de

João Servando. Araraquara: Faculdade de Ciências e Letras/Centro de Estudos

“3) CORTESÃO, J. A Carta de Pero Vaz de Caminha. Rio de Janeiro, Livros de Portugal, 1943.

“ 4) FERREIRA, Maria E. T. (Selecção, Introdução e Notas). Poesia e Prosa

Medievais. 3. ed. Lisboa: Biblioteca Ulisseia de Autores Portugueses, 1998.

“ 5) LAPA, M. R. Vocabulário Galego-Português. Extraído da edição crítica das “Cantigas d´escarnho e de mal dizer”. Editorial Galáxia, 1970.

“6) MAGNE, A. A Demanda do Santo Graal – Vol. I. Reprodução fac-similar e transcrição crítica do Códice 2594 da Biblioteca Nacional de Viena. Rio de Janeiro: INL/MEC, 1955.

“7) MALER, B. Orto do Esposo. Vol. I. Texto inédito do fim do século XIV ou comêço do XV. Edição crítica com introdução, anotações e glossário. Rio de Janeiro: MEC/INL, 1956.

“8) MATTOS E SILVA, R. V. A Carta de Caminha: testemunho lingüístico de

1500. Salvador: Editora da Univerisdade Federal da Bahia, 1996. (Col.

Cinqüentenário).

3.3 Do Corpus:

No item 3.2, apresentamos, em linha geral, as obras selecionadas para a

elaboração do corpus e breves comentários sobre as mesmas.

O corpus final elaborado para a coleta de dados ficou assim constituído:

OBRA ABREVI-