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O SIPAM/SIVAM vem se consolidando como paradigma de defesa e desenvolvimento da Amazônia. A importância do SIPAM/SIVAM para a região se insere intrinsecamente no discurso dos entrevistados em todos os momentos de suas falas, tanto com relação as ações civis quanto militares.

A gente ouviu muito a polêmica com relação ao projeto e, sem dúvida nenhuma, o governo brasileiro, o Estado brasileiro acertou, naquele momento, no sentido de fazer um investimento significativo para preservar essa região, que é uma das regiões mais ricas do mundo e que nós sabemos que tem uma disputa internacional que se mantêm. (Marcelo Lopes, Diretor do CENSIPAM).

A consolidação do sistema como instrumento estratégico para a defesa, segurança e proteção da Amazônia Legal tem sido positiva, na visão das forças armadas, pois sua atuação no sentido de viabilizar conhecimentos e informações que são utilizadas nas operações de segurança territorial e na definição de políticas públicas nessa área têm se efetivado satisfatoriamente. A evidência desse fato se insere do discurso dos militares, principalmente quando são abordadas as percepções de ameaças e vulnerabilidades da região.

A região de fronteiras pela sua vastidão, apresenta vazios que incentivam a prática e entrada de ilícitos no território nacional. O Exército Brasileiro busca manter uma constante vigilância na faixa de fronteira, por meio do contingente militar ali estabelecido, a fim de evitar tais práticas e manter os Objetivos Fundamentais do Estado Brasileiro. (Ten. Cel. Machado, Comandante de Operações de Inteligência da 17ª Bda. de Inf. Selva).

Esta fala deixa implícita uma das principais preocupações das Forças Armadas, notadamente do Exército Brasileiro. Nessa perspectiva também se enaltece a importância do papel do SIPAM/SIVAM no que se refere às ameaças externas ao País.

Como já foi dito, as principais ameaças que podem atingir o país vem do exterior. Atualmente o povo brasileiro vive um intenso e preocupante clima de insegurança, agravado pela impunidade e o fortalecimento do crime organizado extra-fronteiras. O tráfico de armas, de drogas, o contrabando e o descaminho são os principais problemas que ameaçam a segurança e a ordem interna do país. Convém também destacar que o Exército Brasileiro está atento aos acontecimentos e acompanha a situação dos brasileiros residentes na faixa de fronteira.

Como vulnerabilidade pode-se citar a ausência do Estado em todo o território nacional, principalmente na região fronteiriça, agravando ainda mais a carência de justiça e o amparo as populações carentes, diante das ameaças externas. (Ten. Cel. Machado, Comandante de Operações de Inteligência da 17ª Bda. de Inf. Selva).

O SIPAM/SIVAM atua satisfatoriamente no apoio às operações de defesa da Amazônia desenvolvidas pelas Forças Armadas, facilitando as ações de vigilância e operação na faixa de fronteira por meio do armazenamento e disseminação de dados e informações.

O SIPAM é hoje o órgão equipado com sistemas e tecnologia das mais avançadas no mundo, para dar o suporte necessário a todos os órgãos participantes da defesa desse imenso patrimônio nacional, a Amazônia. Esse órgão tem se caracterizado pela participação articulada com diversas instituições, onde o fluxo de informações gerado tem propiciado uma visão global, em tempo real e integrada dos problemas da Amazônia, proporcionando a convergência dos esforços para o desenvolvimento sustentado da região. É nesse contexto que atuação de vigilância e operações na faixa de fronteira, pelo Exército Brasileiro, tem sido facilitada pelo armazenamento e disseminação de dados e informações baseados em aplicativos tais como o sistema GeonetWork e GeoSIPAM. Programas desenvolvidos pelo SIPAM como o de Desenvolvimento de Áreas Especiais, que acompanhará o desmatamento em áreas indígenas e de conservação, e o banco de imagens do programa AMAZÔNIA

DIGITAL, tem sido compartilhado com o Exercito Brasileiro, melhorando e aperfeiçoando os resultados de suas operações. (Tem. Cel. Machado, Comandante de Operações de Inteligência da 17ª Bda. de Inf. Selva).

A importância do SIPAM/SIVAM também é tratada no âmbito da defesa regional e segurança cooperativa e do concerto das nações. Ressalta-se nas falas a importância estratégica do sistema como instrumento de integração dos países amazônicos liderados pelo Brasil, e de fortalecimento de tratados de cooperação entre esses países, como o OTCA, por exemplo.

Hoje, eu não tenho dúvida nenhuma, que o projeto mais ambicioso, enfim, o único projeto que foi efetivado nessa linha de um sistema integrado de proteção da região é o projeto SIVAM/SIPAM desenvolvido no Brasil. Então, nós temos uma demanda extremamente grande nos países amazônicos como Bolívia, Peru, enfim, tem nos procurado, Colômbia, no sentido de compartilhar a experiência do Brasil nesse projeto e desenvolver o seu próprio sistema. Nós, quando tivemos latente inclusive nos órgãos que tem interface com os países da região aqui. Isso é colocado diretamente quando nós estivemos em Washington, há 20 dias atrás, na assinatura desse convênio com o Bid, que alocou essa consultoria de gestão. Então, nós estamos tendo lá, o diretor brasileiro do plano piloto, um outro brasileiro que é responsável pelo BID, que é um movimento do BID para investir em infraestrutura na região. Nós fomos demandados lá no sentido de fazer uma proposta, que vai ter um reunião em Bogotá agora em 25, 26 e 27 de junho para apresentar propostas de um modelo regional no sentido de englobar os países na região amazônica no desenvolvimento de um sistema semelhante ao sistema brasileiro, liderado pelo Brasil. Nós faremos a apresentação dessa proposta. Como eu falei, o Peru, a Bolívia, nós estamos com uma missão marcada para o Peru, nos dias 25, 26 e 27 de junho, para iniciarmos projetos-piloto na área de sensoriamento remoto e hidrologia, em conjunto com o Peru. Então, há um movimento na OTCA dos países amazônicos. Enfim, tem uma demanda muito forte pelo compartilhamento, enfim, sobre o desenvolvimento do sistema regional. Sem dúvida nenhuma, o Brasil vai liderar esse processo. (Marcelo Lopes, Diretor do CENSIPAM).

Existem já contatos feitos através do Ministério das Relações Exteriores com os países da OTCA, Organização do Tratado de Cooperação Amazônica, não é? Nós já temos contatos com a Bolívia, com o Peru. Então, eles estiveram, o ano passado, visitando o centro de Manaus, não é, vários embaixadores desses países, não é? Existem várias visitas, principalmente, ao centro de Manaus, que é o mais antigo, não é, de várias entidades desses países da região amazônica. Está em vias,

inclusive, de se firmarem acordos com esses países. (José Neumar, Gerente do CTO-PVH).

Isso é tratado em Brasília. Aí, já entra o Ministério das Relações Exteriores. Existem algumas procuras, pelo SIPAM, através do pessoal aqui da Guiana, se eu não me engano, o Peru já procurou, Venezuela. Então, existem alguns contatos iniciais, porque até esses países pretendiam montar um sistema como o SIPAM, e a gente pode auxiliá-los na direção de que eles não cometam os mesmos erros que nós cometemos, e procurem tirar o que tem de vantagem no SIPAM. (Edson rocha, Gerente Técnico do CTO-Belém).

O SIPAM/SIVAM também surge como estratégia fundamental do Estado para

sua inserção na “fronteira política”74 amazônica, na medida em que colabora na eficiência das

instituições estatais que atuam na região e contribui para a articulação entre a fronteira política, o território e as redes, promovendo o desenvolvimento regional. Nesta perspectiva, a fala a seguir aponta o SIPAM como um instrumento de política pública para a solução da problemática social que assola a comunidade da Hiléia.

Então, quando eu falo da ineficiência das instituições estatais, eu falo no sentido de que não há, nesses espaços fronteiriços, às vezes, as prerrogativas concretas, as dimensões concretas do Estado. Então, não há claramente, por exemplo, do ponto de vista político, a cidadania, do ponto de vista social, a cidadania, as instituições não funcionam ou funcionam precariamente, a corrupção permeia essas instituições. O cidadão, ele não é atendido por aquela instituição. Naquele espaço social ali da fronteira você não sabe o que é público ou é privado, há uma mistura muito grande entre público e privado, privatiza-se o público. O cidadão, às vezes, ele está completamente desprotegido do ponto de vista dos seus direitos e das suas garantias individuais. Há uma carência total no que se refere à presença do Estado no sentido de atender as suas necessidades, as suas demandas, infra-estrutura, serviços sociais básicos. Enfim, tudo. Ás vezes, você vai a uma cidade de fronteira e você sente a necessidade dessas coisas. Por que a ineficiência do Estado? A ineficiência do Estado nesse sentido, do ponto de vista do atendimento das necessidades da população. Não só, às vezes, as instituições não existem em número, como quando elas existem, elas não funcionam. Funcionam precariamente. As causas disso são muitas, não é? São muitas. Muitos alegam o problema do desenvolvimento, tem o problema do desenvolvimento local. Por que hoje se discute o problema do desenvolvimento local? Por que a defesa esta associada ao desenvolvimento da região amazônica. E a fixação no chamado “homem da 74 Ver em Durbens Nascimento. . Projeto calha norte: política de defesa nacional e segurança hemisférica na governança contemporânea, 2005.

região”, não é? Por que o SIVAM/SIPAM tem o discurso, exatamente, da proteção ambiental, do desenvolvimento regional? Por que todas as informações, todo o conhecimento do SIVAM tem que estar disponível para todos os órgãos que atuam no desenvolvimento regional para fins de políticas públicas? Por que isso? Porque há um entendimento de que o atendimento dessas necessidades e o avanço das instituições estatais, a eficiência das instituições estatais, a implementabilidade dos princípios constitucionais da nação para garantir a cidadania naquele lugar, depende do desenvolvimento regional. (Durbens Martins Nascimento, Professor e pesquiador do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos - NAEA)

Com relação á fronteira política, território e redes, a idéia do SIPAM é, a meu ver, de exatamente tentar ser um instrumento conectivo desses espaços. Então, quando você pega, por exemplo, lá no SIPAM, se ele visa fazer parcerias com um ente federal, estadual ou municipal, todos os órgãos nessas três esferas da federação, o que ele está fazendo? Ele está tentando fazer uma articulação conectiva entre esses espaços, essas dimensões espaciais, institucionais e políticas do território.Então, na verdade, quando ele se estabelece em rede e ele permite que os órgãos, os usuários de qualquer uma dessas esferas, quando ele permite mapear a dimensão social, a dimensão ambiental e a dimensão econômica, ele está procurando, também, conectar ou possibilitar que essa conexão, ela possa, efetivamente, acontecer. Então, é uma tentativa de, a meu ver, de superação das barreiras entre os diversos territórios. É uma idéia de tentar homogeneizar ou unificar um território que se fragmentou com esses acontecimentos das duas últimas décadas, não é, com o aparecimento da questão ambiental, com a questão dos direitos humanos, com a questão da etnicidade como uma problemática global, não é? É com essa possibilidade através da informação de vários atores e vários agentes se comunicarem ou dialogarem com vários outros atores em escalas globais diferentes, não é, com um grupo étnico lá do Amazonas, do interior do Amazonas, pode se comunicar via satélite ou através da informação com outro grupo localizado lá na Europa, não é, passando pela escala regional, pela escala nacional e pela escala continental, que já vai direto para a escala global. (Durbens Martins Nascimento, Professor e pesquiador do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos - NAEA).

Para o entrevistado na medida em que o SIPAM/SIVAM possibilita essa

ferramenta de vigilância e de aquisição de informações e produção do conhecimento, através dessas ferramentas sensores, satélites, radares, softwares , dar sentido mais unificado aos territórios fragmentados e possibilita a existência das redes.

O entrevistado evidencia a importância do SIPAM/SIVAM frente a sua percepção sobre o que identifica como ameaça para a Amazônia.

Uma visão mais crítica desse conceito de ameaça, tanto do Bush, quanto do conceito de ameaça que está na própria política de defesa, eu acho que a grande ameaça que existe, realmente, para essa região é nós, agentes, atores, a sociedade civil, o governo, não criarmos as condições necessárias para desenvolvermos, no sentido não do desenvolvimento puramente econômico, mas do desenvolvimento que procure respeitar o meio ambiente, as populações da Amazônia, seus moradores e seus habitantes, e que nós não tenhamos competência de criar uma alternativa que dê condições para que essa população possa ser feliz, ter melhores condições de vida, acesso aos bens e serviços de uma região como essa. Eu acho que a maior ameaça está nisso. Eu acho que todas as outras ameaças, elas se subordinam a essa ameaça. Eu acho que a ameaça é que nós não consigamos investir em ciência e tecnologia nessa região, para dar o status, que ela efetivamente merece, e que estão em todos os documentos, em todos os discursos, de todos os governos que por aí já passaram através dos tempos. Eu acho que esse é o problema, esse é o problema maior dessa região. Eu acho que até a questão da soberania militar, da soberania restritiva, da questão da internacionalização da Amazônia, do problema do narcotráfico, do contrabando, da biopirataria, eu acho que todos esses temas, eles podem ter um tratamento inclusive militar, inclusive de defesa ou de segurança, se essas questões forem acompanhadas de um processo mais amplo de integração e de construção da sociedade regional. Eu acho que a construção da sociedade regional, o desenvolvimento da sociedade regional, ela está ligada à solução desses problemas maiores. É o que eu penso. Eu acho que essas saídas, elas são militares, o Brasil se prepara para dar uma resposta militar para isso porque tem que ser assim, mas o sucesso, o êxito ou não, caso se confirme que se está na política como ameaça, o sucesso, o êxito disso, a meu ver, está em uma construção mais identitária da Amazônia e dessa relação a tudo isso. É mais ou menos isso que eu penso. (Durbens Martins Nascimento, Professor e pesquiador do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos - NAEA).

O que está implícito nas falas dos entrevistados nesta categoria é a importância do SIPAM/SIVAM para a manutenção da soberania brasileira sobre da Amazônia Legal.