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Categoria: percepções sobre a atualidade (projetos e perspectivas de futuro) diante

No documento 'O apego às origens' (páginas 63-69)

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

4.1 QUEM É RAMSÉS?

4.1.2 Análise dos dados de Ramsés

4.1.2.3 Categoria: percepções sobre a atualidade (projetos e perspectivas de futuro) diante

a) Sujeito - Ramsés

Esta categoria tem como objetivo analisar os projetos e perspectivas de futuro diante da profissão e/ou qualificação realizada no meio urbano do jovem Ramsés, além de demonstrar a percepção de seus pais.

Tabela 5 - Percepções sobre a atualidade (projetos e perspectivas de futuro) diante da profissão e/ou qualificação realizada no meio urbano - sujeito Ramsés.

Subcategoria Unidade de contexto elementar

Aprendizados conseqüentes dos estudos

[Amizades com os professores] “Sim, nós nos encontrava além da aula. Até por [silêncio] alguma dúvida dele assim sobre, negócio de campo, sim, sim era bom, eu gostava de estudar. As explicações que às vezes a gente não prestava atenção, eu vejo hoje que fazem falta.[...] Aprendendo coisas novas [silêncio].”

“Acho que a forma de falar, por que a gente aqui não dá bola, para a forma de falar e mesmo hoje depois de formado e tudo. Me formei em 2004 e hoje 2009, tem muitas palavras que, que eu aprendi a falar certo, eu né, voltei a falar errado né,[...]. Não precisa falar certo então, porque é colono, mas o estudo serviu né, serviu. Serviu para conversar melhor com eles, entender melhor eles.”

Trabalho atual

“[...] aqui, a gente cultiva, cebola. O mais principal é a cebola, né. Tem milho, a batata doce, o aipim. Os produtos que daí a gente, prô nosso consumo, né. A cebola, às vezes o milho, a gente tenta além de consumir a gente vende, né. Mas, o principal aqui que a

gente trabalha e trabalhou é a cebola.[...]”

Influências do pai para continuar no meio rural

“É a gente conversava né [pai], via que, se eu fosse pra lá sozinho ia ser complicado, né. Mas, meu pai ele, ele, depois de casado que ele veio trabalhar para cá né, e aprendeu a profissão com o avô de carpinteiro, a maioria dos irmãos foram carpinteiro e eles saíram cedo pra cidade para trabalhar né. E ele sempre trabalhando lá e aprendeu com a vida né, que era complicado. Sempre o que ele fazia, essa casa aqui ele levou anos, de tempo em tempo ele ia guardando o dinheirinho que ia sobrando do trabalho e foi construindo ele mesmo, né. [...]Aqui ele conheceu a mãe, casaram aqui, e tão vivendo aqui.”

“Foi assim sei lá. Com a vontade de estudar e trabalhar resolvi que não tinha como e ai [...] sem a ajuda de meu pai, né. Me conformei, em continuar aqui. Estou aqui até hoje.”

Amizades “Tem. Sim, tenho mais amigos aqui do que lá [meio urbano] até por causa de uma questão de distância.”

Trabalho – projetos futuros

“[..] E eu vou continuar trabalhando, no caso [ com cebolas].”

“Ele [pai] e eu na verdade, porque eu comecei com ele. Tipo como é que eu vou dizer, com um contrato né. De quatro partes, uma era minha. E daí agora casado, vai ser um pouco diferente né, pretendo continuar trabalhando juntos, mais agora cada um com suas despesas e lucros. Para mim e para ele. Em áreas de terras separadas mais todo

mundo trabalhando junto né.”

[Término da casa própria] “Ajudou, meu avô ajudou, com a madeira, meu sogro, meus amigos também, com cepa [inaudível]. Muito, bastante gente me ajudou, e ai como ele já tinha essa profissão de, ele parou faz quatro anos que ele parou de trabalhar. Dedicou só para a lavoura, então com mão-de-obra a gente só teve gasto com a ferragem da madeira, o beneficiamento e a mão-de-obra foi tudo ele [pai] que vez. Deu o terreno ali, que é dele [pai].

“Olha, terminar a minha casa, com o tempo ir aumentando a lavoura. [...] e pretendo com o tempo ir aumentando [a lavoura].”

[Ir morar na cidade] “Ah, eu não vou dizer que não tenho este sonho não. Porque aqui

a vida é bem, bem sofrida eu penso assim, [...] mas que eu possa continuar com o meu

terreno aqui, de conseguir uma casa lá, já pensei né. Daí para a cidade descansar mais, continuar com o sítio aqui”.

Expectativa de estudos que foram inviabilizadas.

“Acho que teria tentado o ramo da Agronomia, já que é o ramo que a gente trabalha aqui né. Teria tentando para ver no que iria dar né.”

“Eu achava, eu tinha expectativa, que talvez estudasse mais se desse. Mais, mesmo sabendo que não desse, eu sabia que ia continuar aqui.”

Retornar os estudos. [Estudar para trabalhar no meio rural] “Não, aqui conforme a gente vai trabalhando a gente aprende, no trabalho mesmo lá, [...] com o tempo a gente mesmo vai

aprendendo.” Saudades

Quando agente no começo ficava olhando dá a hora do ônibus passar e de lá da montanha via ele passando (silêncio), não era fácil, pois sabia que não precisava mais ir, né.

Fonte: Elaboração da autora, 2009

A propósito da categoria: Percepções sobre a atualidade (projetos e perspectivas de futuro) diante da profissão e/ou qualificação realizada no meio urbano, podemos visualizar na tabela 5, disposto anteriormente, que Ramsés, nos aspectos relacionados aos

Aprendizados conseqüentes dos estudos, mencionou que as explicações da época em que

estudava lhe faltam e recorda este tempo como época em que vivia aprendendo. Outra informação sobre os aprendizados que tivera com o estudo, foi aprender a falar de forma correta e que isto o ajudou a comunicar-se com as pessoas no meio urbano.

Assim, verificamos que Ramsés fez a transitoriedade entre a infância e a maturidade, exercendo o trabalho na lavoura, sendo que as atividades adultas foram aos poucos introduzidas e realizadas de forma a participar da construção de sua identidade. E, paralelamente à educação formal, o estudo, também o acompanhou, pois aparentemente os pais percebiam esta necessidade para o futuro do filho. Quanto ao “possível” sofrimento referente a este “ser ou não ser” adulto, a entrevista de Ramsés nada apontou. .

Sobre os aspectos concernentes ao seu Trabalho atual (momento da entrevista), Ramsés disse que trabalha com seu pai na agricultura e que sua principal fonte de renda é a cebola. Constata-se, nesta escolha pelo trabalho, haver certa influência dos pais de Ramsés, já que a profissão e até mesmo a opção pela cultura agrícola a ser trabalhada são as mesmas de sua família de origem. Neste sentido, como demonstram Davydov e Zinchenko (1995), a relação social é que molda a gênese do desenvolvimento humano e isto somente ocorre através de mudanças qualitativas.

Acredita-se que esta opção de escolha em ficar trabalhando no meio rural e de trabalhar na mesma cultura agrícola da família ocorre, devido a existência de certa facilidade e até mesmo por comodidade por parte do jovem agricultor. Já que trabalhar no meio urbano e

possuir os mesmos bens de consumo que possui no meio rural não seriam uma realidade nos primeiros momentos de migração. Também, cabe dizer que se Ramsés saísse e encontrasse emprego que lhe oferecesse o mesmo salário que possui nas terras da família, o seu gasto para se manter seria maior, pois na casa dos pais, aluguel, alimentação, transporte e até mesmo gastos com roupas não são necessidades iguais se as compararmos ao meio urbano.

O jovem Ramsés também demonstra em sua entrevista, que a liberdade perante o trabalho é um elemento essencial em sua vida. E desta forma ,este relato corrobora a pesquisa de Stropasolas (2006), os jovens que nascem e crescem no meio rural normalmente ficam por não querer perder a liberdade diante do trabalho.

No discurso de Ramsés, também se pode verificar que este se realiza e se re- significa na sua obra, e isto se configura, de acordo com Ferretti (1997) e com Marx (1985a), como uma condição para o viver humano. Assim, além de o trabalho ser uma necessidade humana, o reconhecer-se pelo que se faz se torna uma necessidade de seu produtor.

Sobre as Influências do pai para continuar no meio rural, de acordo com Ramsés, eles conversavam e, com isso, este percebeu que seria complicado sair do meio rural sem ajuda do pai, além deste também ter relatado suas experiências fora do meio rural, demonstrando não terem sido tão agradáveis.

Verifica-se que os sentimentos possíveis de insegurança em lançar-se a busca de trabalho no meio urbano, por parte do jovem Ramsés, possuem alguma base na insegurança de seu pai, pois os pais são influenciadores no que tange a demonstrar seus imaginários sobre as possibilidades de futuro. Isto ocorre devido a muitas vezes os pais refletirem sobre as experiências suas e não as possibilidades dos filhos. Tratam os filhos, como dirá Peralva (1997), muito mais com necessidade de prevenir do que esclarecer.

Outra forma com a qual o pai de Ramsés poderá tê-lo mediado está atrelado à questões referentes ao seu próprio passado, o de não querer sair do meio rural tendo a mesma expectativa para o filho.

Sob todas estas possíveis influências, e talvez outras não visíveis por meio da entrevista, o jovem Ramsés por fim incorporou uma identidade que foi mediada pelo seu meio social, seria ele, assim como seu pai, tios e avôs um agricultor.

Sobre as Amizades na atualidade, Ramsés disse possuir mais no meio rural do que no meio urbano. As ênfases sobre as formas de amizades do jovem demonstram que ele está em conformidade com sua escolha e projetos de vida, qual seja: morar e trabalhar no meio rural. Pois, como menciona Sartri (2004), torna-se natural os grupos de amigos se reconhecerem, já que pretendem buscar e entender o sentido de sua existência e, portanto,

como estes amigos fazem suas escolhas, elaboram seus significados e seus aspectos intrínsecos servem para diferenciá-los dos demais.

No que se refere ao Trabalho – projetos futuros, Ramsés disse que pretende continuar trabalhando com cebolas. Sobre seus ganhos disse que ganha um quarto do lucro da safra e agora passará, com o casamento, a dividir despesas e lucros com o pai. Mencionou na entrevista que se sente dono do próprio negócio e de sua terra.

De acordo com Stropasolas (2006), os jovens que saem do meio rural para migrar para o meio urbano normalmente o fazem por questões econômicas, pois a maioria não possui terras em seus nomes. Sendo assim, constata-se que Ramsés possuindo terras em seu nome e sendo dono de seu negócio, o movimento de migrar para o meio urbano não lhe causará tanto interesse, pois na cidade ele teria que se submeter a ser empregado. E, conforme demonstrado na pesquisa de Abramo e Branco (2005), as dificuldades de inserção dos jovens no mercado de trabalho têm sido uma realidade. Portanto, Ramsés teve a influência de seu pai diante da escolha, mas também possuiu a informação das dificuldades que encontraria caso quisesse ir morar no meio urbano.

No quesito preparativo para o casamento, Ramsés menciona que teve ajuda de seus parentes e vizinhos para construir sua casa e que pretende continuar aumentando-a. Desta forma, fica evidenciado que a família e os amigos apóiam a escolha de Ramsés em escolher o meio rural e ele provavelmente se sente seguro em estar nessas relações, pois além de lhe reconhecer como sendo um jovem produtor rural, papel este que Ramsés percebe como sendo seu também lhe oferta amparo nos momentos mais imprescindíveis na vida, entre outros: construção da casa própria.

Neste ínterim, pode-se perceber que existe certa identificação de Ramsés com seu pai e, por conseguinte, com inúmeros outros familiares e amigos, pois assume o projeto de futuro muito próximo do que foi a vida dos integrantes de suas relações sociais e familiares. Neste sentido, Ramsés demonstra sua identidade pressuposta conforme esclarece Ciampa (1994), ou seja, a identidade em que os integrantes de sua relação social percebem como sendo a que irá delimitar os passos do jovem.

Entretanto, Ramsés menciona na entrevista que possui como projeto ter uma casa na cidade, não para morar lá, mas para poder ter uma casa de passeio. Neste momento, verifica-se que o jovem mesmo não tendo o objetivo de trabalhar no meio urbano tem interesse de ter um local em que possa permanecer quando quiser ir para a cidade.

Quanto às Expectativas de estudos que foram inviabilizadas, disse que gostaria de ter talvez feito Agronomia e que tinha expectativas em estudar, mas caso isso fosse

possível. Contudo, aparentemente, o jovem Ramsés percebeu, ao longo da sua trajetória escolar que os pais não teriam condições financeiras em mantê-lo na cidade para estudar, portanto, talvez tenha sido este um dos motivos de não se interessar tanto pelos estudos.

Desta forma, o projeto de Ramsés é definido, como dirá Maheirie (2001), por mediações do campo de possibilidades sociais e históricas que mediam e amparam por meio da subjetivação que se objetivará novamente em movimentos dialéticos. Cabe ressaltar, que o projeto existe desde quando Ramsés nasceu, mas serão as influências no convívio social que as experiências vividas particulares a cada sujeito é que as sínteses dialéticas de superações e conservações de aprendizagens passadas e futuras irão fornecer o interesse por novos projetos, os quais não ficaram estanques, pois por estarem envolvidos por relações, serão sempre dinâmicos.

Quanto a Retornar os estudos, Ramsés no decorrer da entrevista não mencionou ter a pretensão de voltar a estudar, pois segundo ele, o que precisa aprender, o trabalho ensina. De acordo com Marx (1985a), o homem se re-significa por meio do trabalho, de forma a se perceber no mundo aprendendo constantemente com ele.

Sobre as questões relacionadas a Saudades do meio urbano, especificamente relacionado aos estudos, disse que no começo foi difícil ver o ônibus passando e compreendia que não poderia pegá-lo, mas de longe observava ele passando com sentimento de saudade dos momentos passados. Após a mudança no ritmo da rotina diária é comum que o sentimento de falta e de saudade acompanhe o sujeito, embora isto não queira dizer que há ou mesmo havia um desejo de continuar os estudos. Assim, o tempo anteriormente tomado pelos estudos passa a ser trocado por outras atividades. Como dirá Bohoslavsky (2007), toda escolha implica em um luto.

b) Pais de Ramsés

O tabela a seguir tem como finalidade explicitar as falas do pais de Ramsés sobre a categoria: Percepções sobre a atualidade (projetos e perspectivas de futuro) diante da profissão e/ou qualificação realizada no meio urbano do filho.

Tabela 6 - Percepções sobre a atualidade (projetos e perspectivas de futuro) diante da profissão e/ou qualificação realizada no meio urbano, pais de Ramsés.

Subcategoria Unidade de Contexto Elementar

Percepção sobre a importância da educação na vida de Ramsés

Touya: “Hoje em dia é importante, porque mesmo aqui na agricultura, tem que ter

estudo para tudo. Tudo depende um pouco pelo menos”.

Seti: “Tudo que aprende soma, na vida de qualquer pessoa, né. É importante muito

importante. Mais, muitas vezes tem vontade de estudá, mais não tem como estudá. Não

tem condições tem que trabalha, não pode perder tempo, porque aquele tempo precisa ganha para pode sobreviver, que acontece com a grande maioria dos que trabalham aqui

na roça.

Touya: “É como você vê assim, tipo eu, gostava de estudar, mais mesmo formada hoje eu podia pegá um emprego na creche, ou na escola, tem a escola, mais ai não tem estudo já não. Até para ser servente, merendeira tem que ter estudo. E agora né, faz falta.”

Touya [Referente ao filho]: “A gente ao menos conseguiu o segundo grau”.

Seti: “Acho que já serve, mesmo ficando aqui né. Tem um pouco de noção de como é as coisas, de como se pode fazer as coisas pro melhor né”.

Touya: “Aprendeu mais né. Tipo assim saiu dessa escola e foi para lá, né. Adquiriu mais conhecimento, mais...”

Seti: “Que mudô. Acho que se ele não tivesse ido estuda lá ele teria menos orientação da

própria vida. Não teve muita mudança”.

Fonte: Elaboração da autora, 2009

No tabela anterior, no6, na subcategoria Percepção sobre a importância da

educação na vida de Ramsés, os pais do jovem relataram que percebem a educação como

essencial principalmente para ter emprego, entretanto a sobrevivência na concepção de Seti, pai de Ramsés, está em primeiro lugar. Quanto às questões referentes na percepção dos pais sobre o filho e o que este aprendeu na escola, a mãe disse que acredita que o filho teve mais conhecimento, entretanto o pai ao contrário disse não perceber mudanças no filho por ter estudado, talvez isto ocorra, pois as atividades que Ramsés realiza no meio rural juntamente com o seu pai não traz o conhecimento aprendido nos estudos, já que há uma continuidade das atividades sem muitas alterações.

Por tudo visto, pode-se perceber que os pais tiveram o desejo de que o filho estudasse como possibilidade de futuro, caso a agricultura, no futuro, não lhe forneça sustento. Além disso, somente conseguiram conceder-lhe o estudo com base na ajuda da prefeitura, pois a mão-de-obra do filho fez falta à família durante o tempo do estudo. Com

relação aos projetos de futuro do jovem Ramsés, pode-se perceber que o sonho de possuir casa, melhorá-la, casar, dentre outros aspectos, não se mostra distante dos sonhos de jovens urbanos e isto está em conformidade com as pesquisas realizadas por Carneiro (2005).

No documento 'O apego às origens' (páginas 63-69)