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'O apego às origens'

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Academic year: 2021

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(1)1. UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA KATEUSA DA CRUZ ROSAR. “O APEGO ÀS ORIGENS”: UM ESTUDO SOBRE JOVENS ORIUNDOS DO MEIO RURAL QUE SE QUALIFICARAM NO MEIO URBANO E ESCOLHERAM SUAS ORIGENS PARA O EXERCÍCIO PROFISSIONAL. Palhoça 2009.

(2) 2. KATEUSA DA CRUZ ROSAR. “O APEGO ÀS ORIGENS”: UM ESTUDO SOBRE JOVENS ORIUNDOS DO MEIO RURAL QUE SE QUALIFICARAM NO MEIO URBANO E ESCOLHERAM SUAS ORIGENS PARA O EXERCÍCIO PROFISSIONAL. Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao Curso de Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina como requisito parcial à obtenção do título de psicólogo.. Orientador: Prof. Vanderlei Brasil.. Palhoça 2009.

(3) 3. KATEUSA DA CRUZ ROSAR. “O APEGO ÀS ORIGENS”: UM ESTUDO SOBRE JOVENS ORIUNDOS DO MEIO RURAL QUE SE QUALIFICARAM NO MEIO URBANO E ESCOLHERAM SUAS ORIGENS PARA O EXERCÍCIO PROFISSIONAL. Este Trabalho de Conclusão de Curso foi Julgado adequado à obtenção do título parcial de Psicólogo e aprovado em sua forma final, pelo curso de Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina.. Palhoça, ___ de junho de 2009.. ____________________________________ Professor e orientador Vanderlei Brasil, Esp. Universidade do Sul de Santa Catarina. ____________________________________ Professora Deise Maria do Nascimento, Msc. Universidade do Sul de Santa Catarina. ____________________________________ Professor Iúri Novaes Luna, Dr. Universidade do Sul de Santa Catarina.

(4) 4. Dedico esta pesquisa de conclusão de curso ao eterno. amigo,. Ademar. Oscar. Rosar. (In. memoriam), pelas suas palavras sempre sinceras e por ensinar-me dentre tantas coisas, que “deve-se passar com a vida e não deixá-la passar”..

(5) 5. AGRADECIMENTOS. No decorrer do curso de psicologia, foram muitas as pessoas que me reservaram maravilhosos ensinamentos e que merecem meus agradecimentos, são elas: As amigas das madrugadas: Débora M. Gomes que me ensinou sobre paciência, Laidiara Schneider e Vera Ferraz que me ensinaram a relaxar com suas piadas, Lilian S. Kautnick por sempre me estimular. A Raquel C. Mottin pela presença constante em minha vida e a Letícia B. Castelo pelo carinho neste último semestre. As amigas do Trabalho de Conclusão de Curso: Roberta R. Ramos por sua alegria e críticas construtivas e a Fabiane Chaves por sua amizade e interesse. Os professores do curso de psicologia: Adriano Nuemberg por fazer-me apaixonar pela psicologia. Maria Ângela Giordani e Maria do Rosário Stotz por ensinarem que a psicologia é mais ampla do que poderia imaginar. Aos professores Eder B. Leone e Zuleica Pretto por me apresentarem ao Existencialismo. A professora Michelle Natividade pela ajuda nos momentos de indecisão e a professora Saidy Maciel por estimular meu autoconhecimento através dos atendimentos clínicos. Aos meus amados pais, agradeço por sempre me motivarem a estudar. As minhas irmãs Vanusa Wagner, Gerusa Pettarin e cunhados, agradeço, pois apesar da distância sempre depositaram interesse pela minha formação. A minha sogra estimada Ivete Cascais Rosar, obrigada por seu apoio e a amiga Juely Tortato, pelos incentivos iniciais na escolha do curso. E, agradeço imensamente a Fernando Luiz Rosar, meu esposo, por entender a minha ausência mental nas rotinas diárias durante estes cinco anos. A banca examinadora, Professora Deise Maria do Nascimento obrigada por ter feito parte de minha formação e por aceitar ser minha banca na qualificação trazendo contribuições essenciais. E, ao professor Iúri Novaes Luna, muito obrigada, por ter sempre me motivado com suas aulas e por ter me orientado no estágio final do curso, pois sempre me encorajou ir atrás de meus objetivos. Agradeço aos sujeitos desta pesquisa, que disponibilizaram o seu tempo e ajudaram-me a pesquisar e identificar aspectos da juventude rural e de suas escolhas profissionais. Por fim, agradeço ao querido orientador Vanderlei Brasil por ensinar-me que inteligência pode combinar com humildade e paciência..

(6) 6. Meu retorno A porteira vai abrindo, a saudade vai sumindo Como é bom esse lugar Vou chegando passo a passo, abro os braços num abraço Pros meus velhos abraçar Da janela da cozinha, já enxergo a santinha Onde a noite ao seu redor Balbuciava a Ave-maria, minhas orações fazia Pra um mundo melhor (Qualquer caminho Me traz aqui No meu retorno Me sinto um guri) Cruzo a porta num segundo, me sinto dono do mundo Por estar de volta aqui E uma lágrima teimosa rola macia e formosa Quando minha mãe sorri A família se reúne e cada vez mais se une Num momento infinito Cada história contada é uma página contada De um tempo tão bonito (Os Serranos).

(7) 7. RESUMO. O presente trabalho tem como tema a juventude no meio rural, sendo o objetivo geral identificar variáveis que fazem jovens oriundos do meio rural a se qualificarem no meio urbano e escolherem o seu meio de origem para exercício profissional. Para cumprir este objetivo, buscou-se distinguir a configuração do núcleo familiar dos sujeitos pesquisados, a percepção dos pais diante da qualificação do filho, as influências da escolha de qualificação e do exercício profissional, a trajetória acadêmica dos sujeitos, bem como suas perspectivas futuras e percepções sobre os meios rurais e urbanos. A fundamentação teórica constitui-se dos temas: juventude, identidade e identidade profissional, trabalho e trabalho no meio rural. Estes suportes teóricos foram embasados pela abordagem Sócio-Histórica, que compreende o homem como um ser social em que a mediação dos outros faz parte de sua construção e da forma com que se relacionam no mundo. No que concerne ao método, este se delineou como sendo estudo de caso, com objetivos exploratórios. Como forma de obtenção dos dados realizou-se entrevistas semi-estruturadas, com dois jovens que nasceram no meio rural e com seus respectivos pais, os quais estudaram no meio urbano e optaram por permanecer no meio de origem após conclusão de seus estudos. Os dados foram submetidos à análise de conteúdo e como forma de organização das informações foram estabelecidas categorias a priori e subcategorias a posteriori. As categorias a priori foram: 1) variáveis que antecederam o estudo no meio urbano; 2) variáveis que antecederam o retorno a escolha pelo meio rural; 3) percepções sobre o meio rural e meio urbano, e projetos futuros. Esta pesquisa concluiu que as mediações familiares foram cruciais no movimento de estudar no meio urbano e de optar por permanecer trabalhando no meio rural. O retorno financeiro foi também outro fator que mediou à escolha destes jovens em permanecerem trabalhando no meio rural, pois existia a possibilidades de trabalhar nas terras da família de forma autônoma. Relacionado aos fatores de continuar os estudos ou permanecer no meio rural, pode-se dizer que os sujeitos reconheciam o campo de possibilidades que tinham em suas vidas no momento da decisão em escolher o meio rural para viver, assim agiram no mundo de forma responsável com relação aos seus projetos futuros. Palavras-chave: Juventude. Meio rural. Identidade profissional..

(8) 8. LISTA DE GRÁFICOS. Gráfico 1. Os jovens podem mudar o mundo?............................................................................... 27 Gráfico 2. Inserção no mercado de trabalho................................................................................... 27. Gráfico 3. Condição trabalhista, por sexo e idade.......................................................................... 28.

(9) 9. LISTA DE TABELAS. Tabela 1 - Variáveis que antecederam o ingresso aos estudos no meio urbano – sujeito Ramés 53 Tabela 2 - Variáveis que antecederam o ingresso aos estudos no meio urbano. - pais do sujeito Ramsés.............................................................................................................................. 54. Tabela 3 - Variáveis que antecederam o término dos estudos e escolha por trabalhar no meio rural – sujeito Ramsés.................................................................................................................. 57 Tabela 4 - Variáveis que antecederam o término dos estudos e escolha por trabalhar no meio rural, pais de Ramsés. .................................................................................................................. 61. Tabela 5 - Percepções sobre a atualidade (projetos e perspectivas de futuro) diante da profissão e/ou qualificação realizada no meio urbano - sujeito Ramsés..................................... 63. Tabela 6 - Percepções sobre a atualidade (projetos e perspectivas de futuro) diante da profissão e/ou qualificação realizada no meio urbano, pais de Ramsés..................................... 68. Tabela 7 - Variáveis que antecederam o ingresso aos estudos no meio urbano - pais de Tutmés......................................................................................................................................... 72. Tabela 8 - Variáveis que antecederam o ingresso aos estudos no meio urbano - pais de Tutmés......................................................................................................................................... 73. Tabela 9 - Variáveis que antecederam o término dos estudos e escolha por trabalhar no meio rural – sujeito Tutmés................................................................................................................. 75. Tabela 10 - Variáveis que antecederam o término dos estudos e escolha por trabalhar no meio rural, pais de Tutmés.......................................................................................................... 77. Tabela 11 - Percepções sobre a atualidade (projetos e perspectivas de futuro) diante da profissão e/ou qualificação realizada no meio urbano – sujeito Tutmés.................................... 79. Tabela 12 - Percepções sobre a atualidade (projetos e perspectivas de futuro) diante da profissão e/ou qualificação realizada no meio urbano – pais de Tutmés.................................... 81.

(10) 10. SUMÁRIO. 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 12. 1.1. PROBLEMÁTICA ................................................................................................. 13. 1.2. OBJETIVOS ........................................................................................................... 18. 1.2.1. Objetivo geral ....................................................................................................... 18. 1.2.2. Objetivo específico ................................................................................................ 18. 1.3. JUSTIFICATIVA ................................................................................................... 19. 2. MARCO TEÓRICO............................................................................................. 23. 2.1. JUVENTUDE ......................................................................................................... 23. 2.1.1. Juventude na contemporaneidade ...................................................................... 23. 2.1.1.1. Concepção de juventude ......................................................................................... 23. 2.1.1.2. Caracterização da juventude brasileira na contemporaneidade..............................26. 2.2. IDENTIDADE........................................................................................................ 32. 2.2.1. Identidade profissional......................................................................................... 35. 2.3. TRABALHO .......................................................................................................... 37. 2.3.1. Trabalho no meio rural........................................................................................38. 3. MÉTODO .............................................................................................................. 42. 3.1. CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA ................................................................. 42. 3.2. SUJEITOS DA PESQUISA ................................................................................... 43. 3.3. INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS ....................................................... 44. 3.4. PROCEDIMENTOS .............................................................................................. 45. 3.4.1. Estudo piloto ......................................................................................................... 45. 3.4.2. Seleção e contato com os participantes ............................................................... 45. 3.5. COLETA DE DADOS ........................................................................................... 47.

(11) 11. 3.5.1. Situação e ambiente .............................................................................................. 48. 3.5.2. Tratamento e análise de dados ............................................................................ 48. 4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ................................................ 49. 4.1. QUEM É RAMSÉS?...............................................................................................50. 4.1.1. Caracterização de Ramsés...................................................................................50. 4.1.2. Análise dos dados de Ramsés...............................................................................52. 4.1.2.1 Categoria: variáveis que antecederam o ingresso aos estudos no meio urbano................ ..................................................................................................................... 52 4.1.2.2 Categoria: Variáveis que antecederam o término dos estudos e escolha por trabalhar no meio rural...........................................................................................................................57 4.1.2.3 Categoria: percepções sobre a atualidade (projetos e perspectivas de futuro) diante da profissão e/ou qualificação realizada no meio urbano. ...................................................... 63 4.2. QUEM É TUTMÉS? ......................................................................................... 6969. 4.2.1. Caracterização de Tutmés .................................................................................. 69. 4.2.2. Análise dos dados de Tutmés .............................................................................. 71. 4.2.2.1. Categoria: variáveis que antecederam o ingresso aos estudos no meio urbano.... 72. 4.2.2.2. Categoria: variáveis que antecederam o término dos estudos e escolha por. trabalhar no meio rural. .......................................................................................................... 74 4.2.2.3. Categoria: percepções sobre a atualidade (projetos e perspectivas de futuro) diante. da profissão e/ou qualificação realizada no meio urbano. ...................................................... 79 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................................83 REFERÊNCIAS....................................................................................................................87 APÊNDICE ......................................................................................................................... ..91 APÊNDICE A – Termo de consentimento livre e esclarecido .......................................... 92 APÊNDICE B - Roteiro da entrevista com os jovens.........................................................93 APÊNDICE C - Roteiro da entrevista semi-estruturada com os pais dos jovens............96.

(12) 12. 1. INTRODUÇÃO. O curso de Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina, no início da oitava fase, se articula por dois segmentos intitulados de Núcleos Orientados, sendo eles: Núcleo Orientado em Psicologia e Trabalho Humano e Núcleo Orientado em Psicologia e Saúde, os quais forneceram as ênfases curriculares do curso. Nesta fase do curso, os acadêmicos fazem suas escolhas perante um destes núcleos, pois é por meio de um deles que surgirá o norteamento das práticas de estágio do final de curso e a pesquisa do trabalho de conclusão final. Esta pesquisa é direcionada pelo Núcleo Orientado em Psicologia e Trabalho Humano, ao qual no início da nona fase os acadêmicos escolhem um dos três programas, sendo eles: Identidade Profissional, Saúde do Trabalhador e Gestão de Pessoas. Assim, esta pesquisa está vinculada ao Programa de Identidade Profissional (2009), que trabalha questões relacionadas à escolha e identidade profissional. Os estágios deste projeto são realizados em colégios da região da Grande Florianópolis, na própria universidade com atendimento à comunidade e na Superintendência Regional de Trabalho e Emprego. Nestes locais de estágio, são realizados atendimentos individuais e em grupos onde os estagiários com o auxilio/orientação de seus professores experienciam a futura profissão, colaborando com sujeitos que possuem dúvidas relacionadas à escolha profissional e em seus planejamentos de carreiras. O estágio e o trabalho de conclusão de curso devem ser articulados com o programa do curso. Assim, o presente trabalho cujo, título é “O Apego às origens”: Um estudo sobre jovens oriundos do meio rural que se qualificaram no meio urbano e escolheram suas origens para o exercício profissional, discuti quais as variáveis que fazem jovens oriundos do meio rural, a movimentarem-se para qualificar-se profissionalmente no meio urbano e após a conclusão de seus cursos, escolhem por seu meio de origem para o exercício profissional. O significado da escolha do título desta pesquisa, “O Apego às origens”, refere-se às constatações feitas na análise dos dados desta pesquisa, as quais evidenciaram certo apego ao lugar de origem por parte dos jovens pesquisados. Esta pesquisa está estruturada por cinco capítulos, a saber: o primeiro capítulo, consiste da introdução que contextualiza a problemática, problema de pesquisa, os objetivos e a justificativa desta pesquisa. O segundo capítulo trata dos aspectos do marco teórico que.

(13) 13. apresenta. a. fundamentação. teórica. contextualizando. juventude,. juventude. na. contemporaneidade, identidade, identidade profissional, trabalho e trabalho no meio rural. No terceiro capítulo, tem-se o método que foi utilizado para produzir e responder os objetivos desta pesquisa. O quarto capítulo trata da apresentação dos dados coletados e da análise destes. E, por fim, o quinto capítulo trará as considerações da pesquisa.. 1.1 PROBLEMÁTICA. O trabalho no meio rural desde os primórdios de nossa colonização não foi agrícola1, propriamente dito, mas de lavouras. Lavouras, pois se lavravam as terras e caso elas parassem de fornecer frutos com qualidade trocava-se de lugar (FREIRE, 2001, p.485), por meio da rotação de áreas cultiváveis. Assim, nasceram nossas raízes agrícolas, com base numa cultura nômade, que desconhecia como manusear o principal instrumento de trabalho – a terra. Segundo Holanda (2008, p.49), o Brasil colônia era como um espelho do que ocorria em Portugal, aqui como lá, o desprezo pela agricultura fazia parte. Sendo assim, o mercantilismo na sua forma utilitarista de mover-se em relação ao sentido de lucro foi sendo ampliado no mundo das relações subjetivas, pois os senhores de engenho, como eram conhecidos os grandes proprietários de terras no Brasil colônia, instauravam na relação entre patrão e empregados o sentido de obter lucro. Desta forma, a massa trabalhadora apenas sobreviveria, geração após geração, aprisionada nos mesmos trabalhos, sem possibilidades de ascender socialmente como forma de terem melhores condições de vida. Portanto, o enriquecimento e o valor obtido com as exportações pertenciam aos donos de terras e estes sabiam manter seus domínios e seus confortos. Cabe ressaltar que no início da Revolução Industrial havia dois grupos de trabalhadores do campo: os escravos e os imigrantes. Os primeiros tinham o sonho de terem a sua liberdade e com ela atrelavam-se mais “[...] à postura do assalariado do que à do parceiro[...]” (RIBEIRO, 1996, p.287). O segundo grupo, os imigrantes, tinha o sonho de 1. A colonização brasileira por parte dos portugueses baseou-se em retirar dessas terras o ouro, o minério e a exploração de algumas culturas agrícolas, tais como: a cana-de-açúcar e a cafeeira. A escolha destas sub-culturas deveu-se ao fato de possuírem facilidade em serem comercializada nos países europeus, pois além das terras brasileiras serem mais férteis do que as de Portugal, os produtos que daqui saiam estimulavam o comércio mercantil; embora os continentes no passado não tivessem a mesma globalização do século XXI, no sentido de serem rápidos e de terem diversidades de mercadorias, todos os países europeus precisavam do mercantilismo como forma de sobreviver internamente..

(14) 14. terem melhores condições de vida, assim almejavam a ascensão social acreditando que esta seria conseguida por meio da disciplina ao trabalho; este empenho os fez mais aderidos ao trabalho nas fábricas. O mercantilismo caminhou juntamente com a alienação dos trabalhadores, pois desconheciam o valor de sua mão-de-obra e os interesses dos grupos burgueses. De acordo com Holanda (2008, p. 156), “No trabalho não buscamos senão a própria alienação, ele tem o seu fim em nós mesmos e não na obra: um finis operantis, não um finis operis. As atividades profissionais são, aqui, meros acidentes na vida dos indivíduos [...]”. Portugal, após tentativas ineficazes de instalar no Brasil uma agricultura próspera, trouxe alguns colonos de outras origens, tais como a alemã, estas mais interessadas na terra do que comparados a Portugal. Entretanto, mesmo com a vinda de imigrantes alemães e italianos que possuíam em suas culturas a dedicação à agricultura foram “[...] poucos indivíduos [que] sabiam dedicar-se a vida inteira a um só mister sem se deixarem atrair por outro negócio aparentemente lucrativo.” (HOLANDA, 2008, p.59). Portanto, quando o capitalismo passou a nortear as profissões e ambições pelo consumismo, o trabalho manual aos poucos foi sendo visto como algo pouco dignificante e o anel de graduação dos filhos juntamente com o diploma de doutor ganharam espaço nos lares dos senhores barões. (HOLANDA, 2008, p. 83). Assim, os trabalhadores tiveram seus sonhos fortificados e com o advento da era industrial acreditaram ser esta a responsável por seus anseios, ou seja, seria com o surgimento das grandes máquinas a vapor e da oferta de mão-de-obra nas cidades que as melhorias na qualidade de vida apareceriam. Neste momento, de acordo com Holanda (2008), houve estímulos governamentais para que trabalhadores trocassem o meio rural pelo meio urbano. Desta forma, o desejo por maiores salários atrelado ao desconhecido do que realmente os trabalhadores enfrentariam, fez muitos movimentarem-se para esta migração. Todavia, as cidades não estavam preparadas para esta enxurrada de pessoas e a precariedade fez parte das primeiras décadas de industrialização no Brasil. Este movimento estimulado pelo governo e pelas indústrias fez com que trabalhadores se adaptassem à nova realidade social. Segundo Faoro (2002), o desenvolvimento industrial, tratou de ser uma articulação do governo para além de industrializar o país também reerguer o comércio agrícola. No período da Revolução Industrial o Brasil era governado pelo partido da Aliança Liberal, que pretendia dar suporte aos estados de Minas Gerais e São Paulo, onde a economia do café com leite imperava. Os.

(15) 15. incentivos agrícolas do governo deram certo por um determinado tempo e aos poucos as exportações fizeram parte da economia do meio rural. Mas, a quebra da bolsa de valores (1930), fez com que o governo (Getúlio Vargas) adquirisse o café por haver superávit, pretendendo com esta atitude diminuir os prejuízos dos cafeicultores. Entretanto, estas medidas não solucionariam o problema. De acordo com Faoro (2001), aos poucos o governo obrigou-se a parar de comprar o café, pois a dificuldade das exportações tomou proporções mundiais e assim não tinha para quem vender os produtos. Neste momento, a migração no sentido do meio rural para o meio urbano se tornou uma alternativa, principalmente para os filhos dos donos de engenho. Nos aspectos que se relacionam a saída dos filhos de donos de engenho para estudar na Europa, demonstra Holanda (2008, p.157), estes saíam para qualificar-se mais com o sentido de quando retornarem às origens terem possibilidades de trabalharem como profissionais liberais e também como funcionários públicos, do que trazer melhorias à forma de trabalhar no campo. Nesta época, via-se o estudo muito mais como sendo algo que se somaria a predicados da individualidade do que para contribuições para o âmbito social. Com o fim dos grandes latifúndios, os filhos da casta burguesa continuaram em seu movimento de educar-se, mas “os filhos de bacharéis dos antigos senhores, todos eles citadinos, têm agora como sua ‘fazenda’ a cota de ações que restou da propriedade familiar e, sobretudo, o erário público de que se torna uma das principais clientelas.” (RIBEIRO, 1996, p. 304). Como a educação no Brasil pertencia apenas aos mais abastados, ser bacharel em algo era ser doutor e a tamanha honraria tornava-os figuras públicas. Portanto, o bacharelismo estava submetido a uma limitação, onde os sujeitos formavam-se, mas não eram “[...] homens de sua profissão [...]” (HOLANDA, 2008, p. 156). Quando Holanda (2008) traz este significado de ser homem de sua profissão, o que se estabelece junto são verificações que em nossos dias também podem ocorrer, ou seja, quantos de nós, hoje, saímos de nossas casas para estudar movidos por elementos de conquistar uma honraria, um título, ou mesmo, um olhar social mais reverenciado? E, quantos procuram qualificação por anseios absolutamente pessoais, a saber: possuir tal profissão para realizar-se em seu trabalho, fazendo do trabalho apropriação e re-significação e agindo como dono de si? Diante do objetivo que norteia esta pesquisa, faz-se necessário, além de compreender os dados históricos como constituintes de reproduções sociológicas, estabelecer a complexidade de ser jovem no mundo capitalista. De acordo com Abramo e Branco (2005, p.09), juventude compreende a idade entre 15 e 24 anos. Entretanto, a juventude de nossa.

(16) 16. atualidade (século XXI), somente foi determinada a partir da Revolução Francesa. Assim, conforme Ribeiro (2004, p. 20-23), o sentido de juventude do século XXI, nasce sobre o leito do capitalismo, uma vez que a burguesia alcançou o poder e delimitou esta forma de se fazer como economia mundial. O mundo capitalista nasce e cresce imerso por atrativos, os quais estão bem construídos com os requintes do marketing, pois os estímulos que fazem com que nos apaixonemos por bens de consumo, e por conseguinte, por ter muito mais do que precisamos, torna-se uma realidade de nossas rotinas diárias. Hoje, se compra um carro em várias prestações, entretanto no dia seguinte a propaganda da televisão mostra um novo carro e com isto, o novo torna-se velho e as parcelas tornam-se “pesadas”. Cabe refletir que esta situação, exemplificada anteriormente sobre as influências do marketing na era capitalista e os sentimentos de ter e rejeitar bens de consumo ocorre com inúmeras mercadorias. De acordo com Sennett (2006, p.147), na sociedade do consumo o espectadorconsumidor possui “[...] uma força dramática, o uso possessivo é menos estimulante que o desejo de coisas que ainda não [se] tem; a dramatização do potencial leva o espectadorconsumidor a desejar coisas que não pode usar plenamente”. Neste âmbito, a juventude cresce e compreende que há na sociedade um consumismo, no sentido de que, existe na sociedade estímulos para gastar dinheiro com bens de consumo com funções de apaziguar as necessidades pessoais. Entretanto, o que a juventude percebe é que nem sempre as necessidades pessoais são extintas com a compra de algum produto, visto que, para ela há outras necessidades e estas por vezes, estão mais vinculadas a fatores relacionados a se sentirem aceitos por um grupo social. Portanto, o jovem da economia capitalista possui certa volatilidade em trocar coisa e sentimentos, uma vez que, existe uma idealização pelo belo constante e inatingível. Segundo Sennett (2006, p.82-83), os jovens do século XXI trocam os objetos, pois existe certa excitabilidade das sensações, ou seja, o prazer com a compra ou simplesmente o contato com o objeto almejado dura períodos cada vez menores, pois os meios de comunicação instigam o desinteresse. Nas palavras de Sennett (2006, p.85): “A atitude consumista moderna é dissoluta desses ideais. Essa é a sua nocividade. Ela rompe o fio da tradição [...]. É uma cultura de imediato, do descompromisso consigo, com o outro e com o devir de todos”. Sendo assim, desde o surgimento do capitalismo (séc. XIX) passou-se a acreditar que a capacitação dos jovens, promovida por meio dos estudos, faria com que estes pudessem ser sempre aceitos pelo mercado de trabalho (séc. XX) e, por conseguinte, poderiam participar desta nova economia globalizada e consumista. Portanto, além de ter os bens materiais, ter um.

(17) 17. título acabou sendo uma moeda de troca. O estudo virou objeto de marketing e para se perceber isto hoje, basta semestralmente ver as propagandas de jornais ou mesmo sair às rodovias e localizar outdoors, os quais trazem promessas sobre as qualificações que devem ser feitas, para se obter o “sucesso”. Contudo, “na, ‘sociedade das capacitações’, muitos dos que estão enfrentando o desemprego receberam uma educação e uma capacitação, mas o trabalho que buscam migrou para lugares do planeta em que a mão-de-obra especializada é mais barata [...]” (SENNETT, 2006, p.82). Assim, quantos jovens escolhem seguir os estudos para possuírem diplomas ou certificados muito mais por crenças e influências de pais, familiares e amigos? Quantos tomam estes desejos de seus entes queridos como sendo seu projeto de futuro, agindo no mundo com ilusões? Quantos, na qualificação, percebem que seus gostos e interesses não condizem com a profissão e permitem-se parar? E quantos destes escolhem por suas origens, percebendo que o seu projeto de futuro não poderá ser distante de suas procedências? Em outras palavras, o jovem muitas vezes faz sua escolha profissional baseado em crenças. Assim, segundo Bohoslavsky (2007) para sabermos agir no mundo com escolhas responsáveis dever-se-á compreender o quanto do que deseja ser é real e o quanto é fantasia, pois, com base nisto, o sofrimento terá probabilidades menores de se fazer presente. Nestes questionamentos, do vir a ser de cada um, quantos jovens rurais fomentam a idéia de abandonar um estilo de vida com o qual aparentemente não mais se identificam, para buscarem ser diferentes, tentando negar sua origem pelo simples desejo de ser diferentes? E se assim o fazem, este movimento será um modismo, que pode ser ocasionado por influência de mídia? Será por influências de amizades ou influências da sua família? Ou ainda, existirão outros fatores para tal? E quais os motivos por permanecer nas suas origens rurais? O que leva jovens no meio rural a escolher viver e exercer sua profissão em sua origem? Quais seriam os motivos e influências para esta escolha?.

(18) 18. Entretanto, cabe ressaltar que as diferenças na contemporaneidade entre os conteúdos culturais dos meios rural e urbano não apresentam mais tantas distinções. Neste sentido, pode-se falar menos em barreiras, e mais numa continuidade, pois: [...] as distinções entre o rural e o urbano, que tem por base estruturas sociais e as condições de vida, terminariam por serem abolidas, sob o efeito da difusão do modo de vida urbano [...]. Assim, a noção do rural se apaga, carregando consigo todas as noções a ela ligadas, em particular a noção de natureza (STROPASOLAS, 2006, p.69).. Pelo exposto, podemos tecer a seguinte pergunta: quais variáveis fazem jovens oriundos do meio rural se qualificarem profissionalmente no meio urbano e optarem pelo exercício profissional no seu meio de origem?. 1.2 OBJETIVOS. 1.1.2 Objetivo geral. Identificar variáveis que fazem jovens oriundos do meio rural se qualificarem profissionalmente no meio urbano e escolherem o seu meio de origem para o exercício profissional.. 1.2.2 Objetivo específico. a) identificar a configuração do núcleo familiar dos sujeitos pesquisados; b) verificar a percepção dos pais diante do movimento de qualificação, migração e retorno ao meio rural; c). verificar os fatores que influenciaram a escolha do local de qualificação no meio urbano dos jovens;.

(19) 19. d) verificar os fatores que influenciaram a escolha da qualificação e o exercício profissional dos sujeitos da pesquisa; e). descrever a trajetória acadêmica de jovens em relação aos estudos;. f). caracterizar, na perspectiva dos jovens em estudo, as suas percepções sobre o meio rural e o meio urbano;. g) identificar junto aos jovens pesquisados os fatores que influenciaram a volta para o meio de origem; h) identificar a relação das atividades profissionais exercidas no meio rural com a qualificação.. 1.3 JUSTIFICATIVA. As condições que delimitam as diferenças entre meio rural e meio urbano, de acordo com o Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia (IBGE, 2008) após implementação da constituição de 1988, ficaram sendo determinadas pelas prefeituras municipais. Assim, são estas as responsáveis em definir os meios urbanos e rurais de seus territórios. Todavia, a determinação da caracterização rural versus urbano, ocorre em primeira instância a partir das características de comércio territorial, ou seja, a existência de comércios é que delimitará se o espaço é rural ou urbano. Segundo Carneiro (2005, p.246) “[...] o ‘rural’ é, dessa maneira, delimitado pela negação do ‘urbano’[...]”. Sobre os aspectos relacionados às diferenças entre os meios rurais e urbanos, no que se refere aos aspectos culturais na vida de jovens, estas não são percebidas, pois estes possuem como pretensão e metas na vida coisas parecidas. Isto ocorre, pois, o advento da tecnologia. promoveu. acesso. amplo. à. informação. e. em. decorrência. disto,. a. contemporaneidade permite que os jovens possam ter culturas e sonhos semelhantes. Abramo e Branco (2005) realizaram uma pesquisa sobre os jovens brasileiros em 2003 e constataram por meio das bases do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) que o número de jovens representava 20,1% da população brasileira. A amostra da pesquisa foi com um total de 3.501 jovens com idade entre 15 e 24 anos, distribuídos em 198 municípios brasileiros. Nesta pesquisa, as perguntas tiveram como pretensão demonstrar o perfil dos jovens brasileiros. Nos livros de Abramo e Branco (2005) que trazem as.

(20) 20. informações desta pesquisa, foram cedidos os dados para que outros autores os analisassem colaborando assim na construção de futuras pesquisas. Os dados a respeito da pergunta – quais são os assuntos que mais interessam os jovens brasileiros?; o autor que analisou foi Carneiro (2005) e este demonstrou em sua análise que os temas que mais interessavam os jovens urbanos e rurais são os mesmos, quais sejam: a educação, emprego e cultura, e lazer. Portanto, na pesquisa constatou-se que “[...] a educação se destaca em primeiro lugar como o assunto que mais interessa a aproximadamente um quarto dos jovens rurais 22% e a 17% dos jovens urbanos.” (CARNEIRO, 2005, p.247). Desta forma, percebe-se que os jovens do meio rural se interessam mais por questões relacionadas à educação do que os do meio urbano. Contudo, os jovens estão imersos em questões sócio-históricas e assim pode-se pensar que o interesse quanto à educação possui diversas influências, não partindo apenas por anseios próprios. Neste sentido, Carneiro (2005) demonstra que os pais dos jovens rurais são mediadores dos interesses de seus filhos sobre a educação, pois percebem o estudo como o caminho para que os mesmos executem atividades mais leves do que há no meio rural. Entretanto, a escola ao preencher, idealmente, a realização de projetos individuais de pais e/ou filhos, traz conseqüências para as famílias agrícolas, que normalmente precisam da mão-deobra de seus filhos. Assim, os pais têm o sonho que seus filhos trabalhem e residam no meio urbano, pois consideram a “vida mais fácil”. Os pais de jovens rurais mais abastados financeiramente, também possuem a mesma opinião, pois há um clima de pessimismo sobre a produção e o retorno financeiro da mesma no meio rural. De acordo com Stropasolas (2006), os jovens mais abastados preferem a liberdade de serem donos de seus negócios, mesmo sendo no meio rural, do ter que se submeter a empregos no meio urbano. De acordo com Silvestro (2001, apud Carneiro, 2005, p.248), em pesquisa realizada no oeste catarinense com 116 jovens, “[...] 70% dos rapazes e 75% das moças demonstraram vontade de não ser agricultores”. Entretanto, os filhos das famílias com maior renda é que mostraram maior interesse em continuar no meio rural. Todavia, se destes jovens os que têm interesse em migrar para o meio urbano são justamente os que possuem maiores dificuldades financeiras, como ocorreria esta migração? Quais seriam as estratégias para migrar e se estabelecer no meio urbano? Será que estes jovens conseguem realizar esta migração ou ficam apenas na vontade? E, existiriam dificuldades para as famílias se manterem sem a mão-de-obra do filho (a) que migra para qualificar-se? De acordo com Stropassolas (2006), os jovens do meio rural quando fazem este movimento migratório para estudar e/ou trabalhar no meio urbano realizam um desejo em.

(21) 21. mudar de vida, mas se mantêm numa “[...] identidade cultural com um ethos de colono (a)[...]”, pois seus hábitos representam uma forma de agir no mundo que não pode ser reelaborada de um dia para outro, assim novos valores para serem adquiridos levam tempo. Portanto, quantos destes jovens permitem integrar-se a um novo meio e aprender novos valores? E também, quantos jovens rurais demonstram suas idiossincrasias e os seus valores, sem medo de preconceitos por parte dos sujeitos que vivem no meio urbano? Quantos jovens conseguem perceber quando migram que a idealização anterior diverge do que pretendiam para suas vidas e escolhem retornar ao seu meio de origem? Através das perguntas expostas até este momento, neste sub-capítulo, pretendeuse demonstrar a justificativa social para a realização desta pesquisa, pois as perguntas anteriormente formuladas estão em essência permeadas por possibilidade de sofrimento individual e social. Portanto, esta pesquisa teve o interesse de identificar se há necessidade de programas sociais de apoio a estes jovens e suas famílias, para que possam perceber-se no mundo traçando de forma mais reflexiva seus objetivos pessoais, bem como as conseqüências das ações para alcançar estes objetivos. Além disso, também o interesse de identificar por meio desta pesquisa, alternativas mais adequadas para com a realidade no que tange a inserção no mercado de trabalho e qualificação formal destes jovens rurais. Sobre as pesquisas relacionadas sobre juventude rural, Carneiro (2005) em sua pesquisa de Antropologia Social intitulada sobre Juventude rural: projetos e valores; e Stropassolas (2006) em sua pesquisa de doutorado, discorrem acerca dos mesmos aspectos relacionados à falta de pesquisas sobre juventude rural. A bibliografia disponível é bastante limitada, “[...] o que não acontece no que se refere à população jovem dos grandes centros urbanos [...]” (CARNEIRO, 2005, p. 243) e talvez por isso, “[...] os jovens rurais permanecem na invisibilidade no que diz respeito à sua inclusão nas demais esferas da vida social [...]. Este fato é constatado, também, no campo das políticas públicas [...]” (STROPASOLAS, 2006, p.18). Os artigos científicos disponibilizados pelo Scientific Eletronic Library Online (Scielo), referentes ao tema “rural” até meados do ano de 2009, totalizavam 228 artigos e os temas que mais apareceram foram: velhice, saúde da família, movimentos rurais, MST (movimentos dos sem-terra), assentamento de sem terras, história do meio rural, agronegócio, trabalho e trabalho feminino, acidentes de trabalho e problemas de saúde, aposentadoria no meio rural, nutrição e educação no meio rural. Cabe salientar que estas pesquisas na sua maioria foram realizadas por pesquisadores provenientes do campo das Ciências Sociais e Médicas. Dstes 228 artigos apenas uma pesquisa no campo da psicologia, sendo a de.

(22) 22. Whitaker (2002), que demonstrou reflexões sobre os aspectos psicológicos, com o assunto sobre meninas do meio rural e seus conflitos entre escolherem a tradição e a modernidade. As demais pesquisas possuíam algumas apropriações das ciências psicológicas, principalmente as voltadas para a educação. Sobre “juventude”, no Scielo, existiam no mesmo período anteriormente citado, 78 artigos. Os temas que mais apareceram, foram: desejos, identidade urbana, identidade pobre, cidadania, discriminação social, gravidez, transição para a vida adulta, o jovem como sujeito social. Este último tema trouxe pesquisas de Sposito e Carrano (2003), e Dayrell (2003) que ajudaram a compreender como ocorre o processo identitário na juventude, embora não tenha sido a do meio rural, o que as pesquisas visaram investigar. Mas, especificamente sobre juventude rural apenas uma pesquisa, a de Stropassolas (2004), que apresenta reflexões sobre a importância do casamento para jovens na agricultura familiar. Segundo Stropasolas (2006, p. 31), “[...] as discussões em torno de noções de juventude, agricultura familiar, exclusão, desemprego, modo de vida [...]”, estão colocadas no campo de pesquisas. Mas, quais são os motivos da escassez de pesquisa acerca da juventude rural? Segundo Stropasolas (2006, p. 15), jovens que saem do campo normalmente fazem este movimento por questões econômicas e limitações dos aspectos à auto-realização, pois a maioria não possui terras em seus nomes. Todavia, o acesso à mídia tanto no universo rural quanto no urbano estão presentes e basta ir até uma casa de uma propriedade rural, ligar a televisão para “[...] saber o que se passa na cidade, colocando-se como [se] estivesse num grande espetáculo [...]” (STROPASOLAS, 2006, p.70); assim, fazem parte do contexto da rotina diária, do meio rural. Desse modo, os anseios de um universo cultural diferente perpassam a tela do televisor e podem ser incorporados como anseio/desejos de jovens rurais. Portanto, quantos saem do mundo rural “deslumbrados” por estes desejos? Por tudo visto, percebe-se certa insuficiência de pesquisas relacionadas sobre o tema em questão, assim a justificativa científica desta pesquisa se dá ao pretender fornecer novos horizontes e compreender o interesse e o movimento de qualificação destes jovens do meio rural, trazendo contribuições também para o entendimento no âmbito das ciências psicológicas. Cabe dizer, por fim, que o interesse da pesquisadora também se sustenta em alguns propósitos pessoais, pois projeta atuar como psicóloga na área de orientação profissional intervindo junto às instituições de ensino do meio rural, promovendo melhorias acerca deste fenômeno..

(23) 23. “O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.” (Sartre). 2. MARCO TEÓRICO. A fundamentação teórica pretende forneceu subsídios para sustentação da presente pesquisa e da análise dos dados. Assim, os assuntos elencados neste capítulo forma três: 1º. Juventude, onde se discorrerá sobre os aspectos de como se configura a juventude na contemporaneidade, principalmente no Brasil; 2º. Identidade, neste subcapítulo apresentar-seá os aspectos que configuram a identidade pessoal construída por aspectos sócio-históricoculturais, além de também serem explanados aspectos sobre a identidade profissional; e o 3º. sub-capítulo tem como tema Trabalho, explicitando como este se constitui, quais as influências dele na formação social e como ocorrem as configurações do trabalho no meio urbano e no meio rural.. 2.1 JUVENTUDE. 2.1.1 Juventude na contemporaneidade. 2.1.1.1 Concepção de juventude. O conceito de juventude na contemporaneidade não foi o mesmo no decorrer da história, isto ocorre, devido às características sócio-culturais serem particulares à cada época e contexto. Na Grécia antiga,“[...] juventude se referia a uma idade entre os 22 e os 40 anos [...]” (NOVAES E VANUCHI, 2004, p.10), nesta cultura com vários deuses sendo reverenciados, havia a deusa Juventa, conhecida como a deusa protetora dos jovens e que tinha suas oferendas expostas no dia em que os mancebos (jovens) trocavam as suas vestimentas simples por túnicas e togas, tornando-se cidadãos (adultos) por direito..

(24) 24. Contudo, aquilo que se considera como sendo juventude na contemporaneidade trata-se de construções sociais, as quais de acordo com Ribeiro (2004, p.27-28), apenas surgiram nos últimos 200 anos. Assim, este olhar contemporâneo sobre o período intermediário entre a infância e a maturidade nasce no berço das grandes mudanças sociais, principalmente com o período da tomada do poder pela burguesia através da Revolução Francesa que instaura novas formas de compreender o mundo, tendo no capitalismo seu principal desdobramento. Mas,. afinal,. como. se. deve. caracterizar. a. categoria. juventude. na. contemporaneidade? A maioria dos organismos internacionais considera a juventude como sendo a transitoriedade no desenvolvimento humano que compreende o período dos 15 aos 24 anos. Entretanto, “[...] outras idades já são propostas em abordagens acadêmicas, na dinâmica da vida política e na mídia.” (NOVAES; VANUCHI, 2004, p.11). Algumas destas propostas ou formas de compreender a juventude ampliam o tempo de estar jovem, fazendo relação com o sair da casa dos pais, associando este momento à autonomia financeira, contudo, este processo poderá ocorrer depois dos 25 anos e normalmente para esta forma de entendimento sobre a juventude nomeia-se por adolescência. “A palavra adolescência é derivada do verbo latino adolescere que significa crescer ou crescer até a maturidade.” (Martins, 2003, p.555). A adolescência é percebida na sociedade do século XXI e também nas anteriores como sendo algo natural, pois se compreende que ela surge com o aparecimento dos primeiros caracteres sexuais, ou seja, as alterações no timbre da voz, o surgimento de pêlos para meninos e o crescimento dos seios, nascimento de pêlos que culminam com a menarca2, para as meninas. Assim, a adolescência nasce com a puberdade3 e o período da adolescência, segundo Muuss (1976 apud MARTINS 2003) “[...] é o tempo que se estende, aproximadamente, dos 12 ou 13 anos até os 20/21/22 anos, com grandes variações individuais e culturais.”. Entretanto, de acordo com Martins, “[...] ao caracterizar a adolescência como um estágio do desenvolvimento, deixou [-se] pouco espaço para as influências do meio. Sendo assim, era natural o adolescente viver uma época conturbada e não havia muita coisa a fazer para mudar essa sua característica [...]” (2003, p.556). Pois, ao se determinar a adolescência, como sendo uma etapa de desenvolvimento, deixou de se perceber as contribuições do habitat.. 2. Menarca – aparecimento da primeira menstruação. Puberdade – período que dar-se-á o aparecimento do processo de maturação das características físicas e sexuais. 3.

(25) 25. Assim, podemos verificar que a adolescência sendo percebida por critérios biológicos e fisiológicos, perante a sociedade, é compreendida como sendo uma “idéia de natureza humana” (OZELLA, 2003, p.8), “[...] no entanto o desenvolvimento do adolescente não se esgota [...][apenas em biologismos,][..] já que existem contribuições [e] significações superpostas elaboradas sócio-historicamente.” (MARTINS, 2003, p. 555). De acordo com Ozella (2003, p. 20), “[...] é necessário superar as visões naturalizantes presentes na Psicologia e entender a adolescência como um processo de construção sob condições histórico-culturais-sociais específicas”. Desta forma, o conceito de adolescência compreendido por esta pesquisa possui um viés de entendimento de homem como um sujeito construído e mediado pelo seu meio Sócio-Histórico4. A teoria Sócio-Histórica segue os princípios filosóficos do materialismo histórico e dialético que em seu cerne traz idéias que vão de encontro às do positivismo lógico. Na concepção positivista, de acordo com Ozela (2003, p.8), o homem é entendido como apriorístico, ou seja, a forma com que ele irá se comportar no mundo praticamente já é fornecido com o seu nascimento, por meio do seu aparato biológico. Entretanto, na concepção Sócio-Histórica o homem está compreendido como um ser que se constrói no mundo por meio de mediação. Portanto, contrária à concepção de “natureza humana” norteada pelo positivismo pode-se afirmar com Martins que: A adolescência, então, deve ser entendida como um período e um processo psicossociológico de transição entre a infância e a fase adulta e que depende das circunstâncias sociais e históricas para a formação do sujeito. Sendo assim, a adolescência é um período/processo em que o adolescente é convidado a participar, dinamicamente, da construção de um projeto seu, o seu projeto de vida. Neste processo, a identidade, a sexualidade, o grupo de amigos, os valores, a experiência e a experimentação de novos papéis tornam-se importantes nas relações do adolescente com o seu mundo. Nessa fase, o adolescente procura se definir por meio de suas atividades, de suas inclinações, de suas aspirações e de suas relações afetivas. (MARTINS, 2003, p. 556).. Sendo a adolescência um conceito utilizado de forma a determinar aspectos que devem existir na transição entre a infância e a maturidade, adotamos nesta pesquisa a terminologia de juventude ao invés de adolescência, já que o determinismo biologista não 4. Assim, a faixa etária de ser jovem nesta pesquisa não assume uma postura biologista exposta por algumas abordagens psicológicas, em que trabalham atribuindo características psicológicas especificas à faixas etárias. Portanto, classificar-se-á juventude nesta pesquisa, delineando-a na faixa etária que vai das idades entre 15 e 24 anos e não se atribuirá fenômenos psicológicos inerentes a essa faixa etária. Assim, embora se entenda que a juventude esteja num período de transição entre infância e maturidade não se supõe que este momento da vida possua uma essência a priori. Esta classificação esta em acordo com a classificação adotada pelo IBGE..

(26) 26. faz parte do conceito de juventude e sim a compreensão que o meio sócio-histórico media as práticas deste momento da vida, assim como também da infância, maturidade e da velhice.. 2.1.1.2 Caracterização da juventude brasileira na contemporaneidade. Sobre os aspectos relativos às características societárias da juventude na contemporaneidade brasileira, podemos identificar que nesta época da vida tem-se o andamento dos estudos e muitas vezes os seus términos, além da entrada no mundo do trabalho. Em decorrência destes fatores, esta transitoriedade entre a infância e a maturidade é nomeada por juventude, visto que é conhecida como o momento em que se iniciam as atividades adultas, as quais possuem como uma de suas finalidades promoverem o autoconhecimento, pois o jovem é provocado a perceber os seus sentimentos e atos, já que ora se reconhece e ora não se reconhece como sendo adulto. Desta forma, este “ser ou não ser” culmina com a necessidade de posicionar-se diante do mundo. No que tange a essas necessidades “ser ou não ser”, os autores Dayrell (2003, p.40-41) e Peralva (1997, p.18), discorrem sobre as mesmas idéias, quais sejam: que há um modo de se constituir como sendo jovem e neste âmbito, ser jovem possui como características ter a “dita” crise nas relações familiares, já que nesta fase da vida o sujeito desvia-se de algumas normas pré-estabelecidas, experimentando-se no mundo e violando muitas vezes dispositivos burgueses. Pois, como define Singer (2005, p.28-29), os jovens acreditam ser capazes de construir um novo mundo, mais solidário e justo, diferente do que seus avós e pais estão deixando. Diante disso, negam a rotina pré-estabelecida e, por conseguinte, partes do seu contexto social. Isto ocorre, pois os jovens acreditam que poderão demonstrar por meio de seus atos, provas de sua auto-suficiência fornecendo assim, subsídios à entrada no mundo adulto e a construção de uma sociedade mais livre. Abramo e Branco (2005, p.387), em sua pesquisa sobre a juventude brasileira, ao que concerne a valores e referências, sobre a questão: os jovens podem mudar o mundo? O gráfico 1, demonstra a seguir os resultados desta questão:.

(27) 27. Os jovens podem mudar o mundo? 15%. 1%. Podem mudar muito Podem mudar um pouco. 27%. 57%. Não podem mudar Não sabem/não respondeu. Gráfico 1.. Os jovens podem mudar o mundo? Fonte: Abramo e Branco (2005, p.387), p.387) adaptado pela autora (2009).. Verifica-se no gráfico 1, que dos jovens que participaram da pesquisa de Abramo e Branco (2005), exposto anteriormente, anteriormente 57% acreditam que podem mudar o mundo, 27% acreditam que podem mudar pouco, 15% que não podem mudar e 1% não sabe/não responderam. Entretanto, etanto, mesmo percebendo que existe uma motivação dos jovens em mudar a sociedade, a pesquisa de Abramo e Branco (2005, p.35), também chama atenção para os dados coletados pelas perguntas: inserção no mercado de trabalho (p. 372). Os gráficos destes dados da pesquisa estão dispostos a seguir:. Inserção no mercado de trabalho. Gráfico 2.. Inserção no mercado de trabalho Fonte: Abramo e Branco (2005, p.372)..

(28) 28. O gráfico anterior demonstra dados sobre a inserção no mercado de trabalho. Os jovens que responderam esta pesquisa disseram: 36% estão trabalhando; 24% nunca trabalharam, nem procuram trabalho; 8% nunca procuraram, mas estão procurando trabalho; 32% já trabalharam e estão desempregados; sobre estes dados, podemos perceber que os jovens que fizeram parte desta pesquisa, em sua maioria, estão envolvidos com o universo do trabalho, pois 36% trabalham e 32% já trabalharam e estão procurando emprego. Portanto, percebe-se que a juventude participa significativamente do mercado de trabalho no Brasil. Sobre os aspectos referentes à idade e gênero em relação ao mercado de trabalho, os homens são os que mais cedo ingressam no mercado de trabalho, entre 15 e 17 anos, também os homens são os que mais trabalham 47%, pois as mulheres na totalidade somam 25%. O gráfico 3, disposto a seguir, possui como função fazer com que possamos compreender de forma mais clara o ambiente de trabalho diante das condições trabalhistas, que envolvem fatores de idade, gênero e relação formal e informal com o campo da prática profissional. Condição trabalhista, por sexo e idade (estimulada e única, em %). Gráfico 3 –Condições trabalhistas, sexo e idade (estimulada e única %). Fonte: Abramo e Branco (2005, p.393)..

(29) 29. No gráfico 3, pode-se verificar que dos jovens que participaram da pesquisa de Abramo e Branco (2005), 63% possuíam relação trabalhista informal e 35% relação trabalhista formal, sendo que 2% não responderam. Entre os homens, 58% possuíam relação trabalhista informal e 39% formal, sendo que entre os 15 a 17 anos 11% trabalham formalmente e 85% informalmente, 18 a 20 anos 36% formalmente e 61% informalmente e entre 21 a 24 anos o número de trabalho formal quase se equipara ao informal de 52% (formal) e 47% (informal). Relacionado às mulheres, o trabalho informal aparece como o mais expressivo se comparado aos dados dos homens, pois das entrevistadas 69% possuíam relação trabalhista informal e 28% formal. Sendo que entre 15 a 17 anos, 12% relações formais e 86% informais, entre 18 a 20 anos 23% trabalho formal e 73% informal e entre os 21 a 24 anos, 38% relações trabalhistas informais e 60% formais. Também se observam, ao centro do gráfico 3, dados referentes à natureza do trabalho que os jovens que participaram da pesquisa realizavam, sendo: 37% exercem o trabalho assalariado na cidade sem registro, 27% trabalha na cidade com carteira assinada, 16% fazem “bicos”, ou seja, realizam o trabalho por conta própria. Observa-se que 5% dos jovens trabalham na agricultura, 4% possuem trabalho assalariado na agricultura, 3% por conta própria e pagam o ISS, 3% eram funcionários públicos, 2% sem remuneração fixa e 1% são autônomos universitários. Destes dados verifica-se que entre os jovens que participaram da pesquisa de Abramo e Branco (2005), a maioria trabalhava no meio urbano e a minoria no meio rural, mas dos que trabalhavam no meio urbano a maioria exercia o trabalho informal. Segundo Singer (2005, p. 31), a juventude do século XXI tem como compromisso prover a sua sobrevivência em primeira instância. Desta forma, a necessidade de aperfeiçoamento constante para entrar e manter-se no mercado de trabalho, tornou-se uma necessidade do mundo capitalista, e, por conseguinte, globalizado. O mercado sem fronteiras tornou o consumismo uma necessidade da época contemporânea. Contudo, mesmo tendo este movimento por parte da juventude à busca da supressão das necessidades, a “dita” crise da juventude também constitui este momento, sendo esta uma demonstração da necessidade do sentimento de aceitação. De acordo com Sposito e Carrano (2003, p.18), o que faz os jovens rebelarem-se contra as normas nesta idade, envolve uma demonstração de descontentamento às imposições e normas do mundo dos adultos, pois estes além de configurarem seus desejos de forma projetada nos jovens, também são os intermediadores das instituições sociais..

(30) 30. Esta forma desmedida de querer rebelar-se com as normas pré-estabelecidas transforma, de acordo com Gonçalves (2005 p.208), os excessos juvenis em protagonistas históricos do aumento da criminalidade urbana. Mas, como frear esta necessidade de autoafirmação? Há autores como Peralva (1997, p.19), que relatam que para controlar esta forma de expressão da juventude na sua dimensão questionadora, e por vezes agressiva, seria necessária a implantação de formas mais controladoras da criminalidade, que também perpassam o contexto dos adultos, pois é este o espelho difuso dos jovens amorais. Propõem, Sposito e Carrano (2003, p. 26), que a interação e a solidariedade façam parte do mundo dos adultos ao mediarem a entrada dos jovens e vice-versa. Os sentimentos de insegurança dos jovens estão relacionados também ao imaginário que os adultos formulam sobre as coisas que os jovens deveriam fazer; desta forma “[...] não se trata aí do jovem cujo desvio é necessário prevenir ou mesmo punir [...]” (PERALVA, 1997, p.19), mas também das condições ambientais impostas pelos adultos que trazem a necessidade de terem seus desejos do passado realizados no presente através da ação destes jovens. A partir deste cenário em que o contexto social não permite ao jovem ter comportamentos adultos e também por vezes lhe restringe o universo adulto, os dilemas por conta deste ser ou não ser, criança ou adulto, torna parte da vida dos jovens. Todavia, como método de aliviar estes sentimentos de pertencimento aos grupos sociais, muitas vezes os jovens estabelecem grupos de faixa etária aproximada, onde segundo Dayrell (2003, p.41), “[...] a moda, os adornos, locais e de lazer [...]”,representam as peculiaridades do grupo. Portanto, cada grupo juvenil constituiu-se de forma diferente e além das relações também as normas e regras morais direcionam-lhes, concedendo parâmetros aos seus desejos futuros. A busca por relacionamento além do núcleo familiar faz com que o jovem possa conviver melhor com seus conflitos, pois estes grupos são formados de sujeitos em condições iguais a dele. Segundo Sartri (2004, p. 123) isto se faz necessário, “[...] pois neles se reconhece, sendo parte essencial da busca de sentido para a sua existência pessoal.”. Assim, entende-se aqui a juventude como uma construção social, pois ela está imersa em um contexto sócio-histórico, onde seus valores, classes sociais, culturais e gêneros lhe mediam, já que será o mundo das relações em que estarão inseridos que fornecerá suas bases, pois a essência humana configura-se pela mediação de um social. Diante deste fato, segundo Davydov e Zinchenko (1995, p.158) a base do desenvolvimento humano ocorre por uma mudança qualitativa, sendo a gênese da atividade fundamentada na relação social..

(31) 31. Desta forma, segundo Pino (1993, p. 17), há um entendimento diferente do biologismo, que coloca o homem como um ser determinado por um biológico. O ser humano visto por uma concepção Sócio-Histórica passa a ser visto como uma condição de sujeito de um. organismo-meio. que. lhe. possibilita. desenvolver. suas. características. e. seu. desenvolvimento. Todavia, o modo de ser jovem apresenta significados diferentes, já que dependem do contexto em que estão inseridos. “É neste sentido que enfatizamos a noção de juventude, no plural, para enfatizarmos a diversidade de modos de ser jovens existentes.” (DAYRELL, 2003, p. 24). Assim, os grupos de jovens são estabelecidos de diversas formas, já que possuem redes de significados distintos e é por meio delas que o homem se movimenta, estabelecendo significados e re-significados no grupo ao qual pertence, ou seja, o acesso a informação, alimentação, cultura, lazer, servem como aspectos que diferenciam os grupos de jovens. Este processo de re-significação ocorre constantemente, por meio de movimento dialético, onde o que era então conhecido como uma certeza ou uma síntese se desestrutura com a manifestação de um contrário, surge desta forma: tese e antítese, que por fim termina re-elaborando uma nova síntese. Este processo ocorre no universo cultural, pois é pela mediação de outros que passamos a perceber as coisas de outra forma. Portanto, de acordo com Konder (1999, p. 08), a concepção moderna que temos sobre a dialética trata-se “[...] do modo de pensarmos as contradições da realidade, o modo de compreendermos a realidade essencialmente contraditória e em permanente transformação [...]”. Lassance (2005, p.73), introduz seu artigo que fala sobre as diferenças na juventude brasileira com a seguinte pergunta: “Que jovem é esse?”, ou seja, quais são as identidades e diferenças dos jovens brasileiros? Em meio a tecnologia da informação, as diferenças regionais são percebidas e afirmadas pelos demais grupos com menos estranhamentos do que em tempos atrás, onde não se havia este recurso. Entretanto, mesmo com estas tecnologias, comparando-se os estudo de Abramo e Branco (2005), estes jovens “[...] divergem em termos de expectativas (aquilo que querem que aconteça), de visões de futuro (aquilo que acham que vai acontecer) e de estratégias”. Sobre os aspectos que se referem aos jovens do sul do país, local onde foi realizada esta pesquisa, a pesquisa de Lassance (2005, p. 77); demonstra que a região sul do país abriga 13,7% dos jovens do Brasil. Destes, 28,5%, possuem emprego e recebem remuneração de até dois salários mínimos. Relacionado à educação, os jovens do sul entre 15 e 19 anos, 25,66% estudam, sendo que o sistema público de ensino abriga 85,77% destes sujeitos. Entretanto, mesmo tendo o sul do país um elevado índice de jovens estudando, e.

(32) 32. embora a rede pública seja a principal formadora da educação, devemos perceber que esta educação é realizada de forma diferente em relação há décadas atrás e em especial à época da ditadura. Neste momento (século XXI), a educação possui como intuito, como dirá Sposito (2003, p.91), a desinstitucionalização de uma condição juvenil5, ou seja, o sistema educacional não mais define o ser jovem como uma etapa fixa, como era feito nos reformatórios. Por tudo visto, sobre juventude, deve-se compreender este momento de transição entre ser criança e ser adulto como algo natural e não biológico. Mas, que a forma de como o jovem se movimentará e compreenderá o mundo dependerá além de suas percepções, também de suas mediações.. 2.2 IDENTIDADE. A identidade que compreendemos como sendo nossa configura-se de duas formas: a primeira trata de uma concepção de que temos sobre nós, das nossas ações e da forma como sentimos e reagimos no mundo. A segunda trata da forma com que pensamos que o outro compreende o nosso agir no mundo. Entretanto, paralelamente a estas duas formas de construção da identidade existe outra, que é estabelecida como sendo a forma com que o outro percebe nossos atos e sentimentos, mas desta vez este perceber não partirá de nós, pois será o outro que nomeará e descreverá suas próprias impressões. Todavia, ao colocar a identidade como uma construção social define-se que ela pode ser modificada, já que ao longo de nossa vida modificamos várias vezes nossas relações sociais. Portanto, de acordo com Ciampa (1996, p.128), “[...] a identidade é metamorfose. E metamorfose é vida.”. A metamorfose identitária que Ciampa (1994) aborda não é uma idéia de que a cada dia seremos pessoas diferentes, pois mudaremos nossas opiniões, atos, sentimentos e valores constantemente. Mas, o conceito que o autor apresenta é de uma metamorfose desenvolvida e mediada pelo meio social que aos poucos se modifica concretizando-se nas 5. Desinstitucionalização de uma condição juvenil, no sentido de que anteriormente compreendia-se a juventude como uma etapa da vida em que todos passariam e que teria uma duração cronológica estabelecida. Com a implantação deste novo olhar sobre o jovem desinstitucionalizado, assim compreende-se que o ser jovem implica estar inserindo-se na vida adulta, tendo como características: término dos estudos, entrada no mundo do trabalho e saída da casa dos pais, entretanto, não existe momentos previamente definidos..

Referências

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