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Categoria: variáveis que antecederam o término dos estudos e escolha por

No documento 'O apego às origens' (páginas 74-83)

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

4.2 QUEM É TUTMÉS?

4.2.2 Análise dos dados de Tutmés

4.2.2.2 Categoria: variáveis que antecederam o término dos estudos e escolha por

a) Sujeito - Tutmés

A tabela 9, disposta a seguir possui como finalidade demonstrar as falas de Tutmés registradas ao longo da entrevista relacionadas à categoria variáveis que antecederam o término dos estudos e escolha por trabalhar no meio rural.

Tabela 9 - Variáveis que antecederam o término dos estudos e escolha por trabalhar no meio rural – sujeito Tutmés.

Subcategorias Unidade de Contexto Elementar

Trabalho durante os estudos

[Trabalho no ensino médio] “Ajudava o avô e o tio [...] na maçã.”

“Sempre. Há! Oito horas tava de pé. Pra ajudar o pai a tirar leite, né. Tratar boi, sempre fui”.

“Dava poda. Ajudava na colheita também quando tinha maçã, sempre tinha alguma coisa para fazer”.

[Trabalho no internato] “Tinha, cinco da manhã. Quando tinha as escalas, que

eram: alimentar as aves, tirar leite. E voltar para o alojamento, tomar banho para

as oito está tudo pronto para estudar”.

[internato] “[...] (risos) pagava para trabalhar. Não ganhava nada, só”. [Estágio] “Numa empresa de granja. Sai de lá (colégio agrícola) e fiquei

trabalhando neste estágio”.

“No Rio Grande do Sul. Na divisa com o Uruguai, lá bem no final. Tinha que fazer três meses de estágio, então fiquei três meses sem vir para casa. [...] Bah, e ai? (risos) tinha que ligar quase todos os dias, né, é muito longe. O pessoal não fala brasileiro tudo espanhol, né. Era como não trabalhar no Brasil.”

“Bah (risos), imagine tudo diferente, né. Mas era também uma coisa que eu gostava, mexer com gado e ovelha,né. Mas, foi bem legal”.

“Daí fiquei trabalhando lá, mas daí apareceu emprego aqui, daí que eu vim”. “Não, né. (risos). Mas, gostava bastante de lá né. Ai fiquei mais um pouco e acabei indo embora. Muito longe da família, daí não adiantava né. Só trabalho né”.

Possíveis dificuldades de trabalhar/morar no meio rural e estudar no meio

urbano

“Muda bastante as matérias novas, no sítio é só um professor que dá as várias matérias [...].”[ensino médio] Saía daqui as onze e meia (manhã) e a aula começava a uma hora. Ficava até as cinco e depois voltava”.

[Freqüência à aula] “Sempre. Dezessete quilômetros”.

[Internato]“E tinha saudade de casa, há imagina (risos), principalmente no começo né”.

“Há, no começo foi difícil, porque a pessoa tá acostumada com o interior e até pegar o jeito da coisa na cidade, mas depois é só...”

[Quarto no internato] “Ah, era dezesseis por quarto. Ah! Era uma cambada (risos) de gente.[...] era separado, primeiro, segundo e terceiro”.

[Escola ensino médio, dificuldades] “No começo foi inglês, porque foi à primeira vez, né. Nós não tínhamos no sítio”.

[Sobre querer estudar na cidade ensino médio] “Sempre. Isso era certo para mim. [sair para estudar em Bom Retiro]. [Estudar em São José do Cerrito] Esta foi bem diferente para mim, porque ficava semana fora.”

“Sim, mas às vezes ficava quinze dias fora de casa”.

“Bom era uma coisa assim que eu gostava, o colégio agrícola também é no sítio. Mas, ai até se acostumar e ficar longe dos pais. No começo até ligava todos os

dias, mas logo se acostuma, né. Ai tem [...] os amigos”.

“Mais era a pressão dos professores. É muito puxado. Há tem que gostar né. Bem puxado. Daí tem que fazer as escalas, de bovino e de leite. Tinha que

levantar às cinco horas da manhã para tirar leite. Era um colégio interno, né.

Tinha as escalas da semana e se tivesse na escala tinha que ficar no final de

semana”.

Diferenças no estudo percebidas entre o meio

rural e urbano.

“Daí foi bem diferente”.

[Diferenças entre o ensino médio e técnico] “Tinha. Tinha vinte e duas matérias, a metade era do, do ensino médio e metade era técnico daí”.

[Disciplinas] “Mais, era bovino de leite, Irrigação, horticultura, fruticultura

também. De ovinos também. E assim vai. As outras eram mais difícil e não

gostava tanto”.

[Disciplinas que não gostava - técnico] “Mais de construção, que era muito cálculo e eu tinha dificuldades com cálculo. De construção era a pior parte. O professor passava que queria um, uma granja de leite de dez por quinze, e tinha que fazer aquela granja com tudo daí né. [...]tinha que fazer a planta baixa e tudo”.

Dificuldade em fazer amizades do outro meio que não o de sua origem.

[Discriminação] “Não, o pessoal também é acostumado com o pessoal do interior e a cidade também é pequena”.

[Houverá amigos que foram com você] “Teve, teve”.

[Amizades novas] “Ah, até pegar, ficava meio quieto na sala. Depois, depois fui pegando o jeito da coisa”.

[Amigos] “Não, depois que saímos de lá não. A maioria de uma cidade ou de outra, né. Ai é difícil a gente se ver”.

[Amizades do meio rural] “Sentia. Até ficar bem amigo destes outros colegas sentia. E no final de semana eu sai atrás para sabem como eles tavam, daí

ficava o dia inteiro depois ia para Bom Retiro”.

[Professores] “Geralmente eles chamaram, quando tinha que dizer alguma coisa, na sala e conversavam”

[Amizades] “Sim, a maioria, da sala (risos), desde que a gente começou tudo da mesma sala. E tudo no mesmo quarto e na mesma sala, né. Ficava o dia inteiro,

enjoava da cara do outro”.

Fonte: Elaboração da autora, 2009

Na tabela anterior percebe-se que, relativo ao Trabalho durante os estudos, o jovem ajudava seu pai e seu avô nas questões referentes à agricultura e agropecuária, acordava aproximadamente às oito horas quando morava na casa dos pais e ia ajudar seus familiares. E diante do trabalho, Tutmés provavelmente inicia suas “internalizações” sobre o sentido e o significado de exercê-lo em sua vida. Portanto, refletindo sobre as idéias de Marx (1985a) acerca do trabalho, pressupõe-se que aos poucos o jovem passou a se re-significar

através das transformações feitas por ele, no ambiente onde trabalhava que ocorreram com ele, por meio do trabalho que executava.

Neste re-significar-se, aos poucos, Tutmés passou a entrar na época juvenil, quando o autoconhecimento se torna uma necessidade, pois as escolhas dependerão desse processo. Autores como Dayrell (2003) e Peralva (1997), relatam que experienciar o mundo transgredindo algumas normas pré-estabelecidas fazem parte desta época. Entretanto, no relato de Tutmés e nem mesmo nos relatos de seus pais, verificou-se evidências de transgressão social.

Questões relacionadas a dificuldades em ficar longe da família também foram evidenciadas, Tutmés menciona sentir falta de seus pais, quando saiu para o colégio agrícola e depois quando foi trabalhar em uma cidade na fronteira com o Uruguai. O jovem deixa claro que não troca a família pelo trabalho, ou seja, prefere sempre ficar perto de seus familiares. b) Pais de Tutmés

Com relação à categoria: Variáveis que antecederam o término dos estudos e escolha por trabalhar no meio rural, os pais de Tutmés apontam os dados evidenciados no tabela a seguir.

Tabela 10 - Variáveis que antecederam o término dos estudos e escolha por trabalhar no meio rural, pais de Tutmés.

Subcategoria Unidade de Contexto Elementar

Amizades Ísis: “Ele tinha muitos amigos. Até porque era um internato e todos dormiam e faziam as coisas juntos”.

Desempenho do filho no

estudo no meio urbano Amón: “Ele sempre foi na média”.

Questões financeiras em manter o filho estudando no meio urbano.

Amón: “Bastante. Todo mês tinha que pagar a mensalidade e era difícil. Por que tinha mais despesas, não eram apenas a mensalidade.

Ísis: era todo mês né, e cem, duzentos dependendo do mês é apertado. Tinha a mensalidade, tinha o transporte...”

Amón: “As roupas, mais um dinheirinho para ajudar né. Não podia ficar lá sem nada né. Acabava saindo o dobro né. Se era cem a mensalidade tinha que mandar duzentos. E era todo mês, não era uma vez no ano. Era complicado”.

Ísis: “É”.Amón: “A gente teve que manter né, mas não foi fácil”.

Influências dos pais pela escolha do filho

Amón: “Teve”.

Ísis: “[...] a gente incentivo porque vimos que era uma coisa que tinha futuro. Olhando pro colégio assim, ele é ótimo é um colégio interno, tem que trabalhar e estudar e a responsabilidade era dele. Estudava de manhã, à tarde e à noite. Fica bem dizer imerso. Ele não podia sair do colégio para nada, ele não podia pegar e vir embora. No começo foi difícil, por que as coisas eram diferentes e as pessoas também eram diferentes. No começo não foi fácil para ele se adaptar né.” Ísis: É que o pai dele também queria fazer (risos),

Amón: Eu gostaria.

Influências externa pela escolha do filho

Ísis: “É ele [Tutmés] no caso tinha dois primos que estudavam lá, e daí depois a gente levou ele para conhecer o colégio, para ele ver se era isso mesmo que ele queria. Por que ninguém iria obrigar ele a fazer o que ele não quisesse [...].”

Questões afetivas com a saída de Tutmés para estudar em outra cidade

Ísis: “Não também, não foi. Acostumada com ele em casa (risos). Quando a gente foi para lá e deixou ele, deixou tudo né. Teve que levar muitas coisas, era um enxoval e tudo era numerado. Tinha aula de campo. Mas, a gente deixou de lá sabendo que era uma coisa boa, por que víamos as pessoas que tinham estudado lá e era uma coisa boa. Ele quando terminou os estudos e foi para o Rio Grande ele não ficou lá por causa da pressão, distância. Então foi difícil para ele. Mas, agora aqui. Ele adora o que faz.”

Fonte: Elaboração da autora, 2009

Segundo a tabela anterior, no. 10, sobre as Amizades de Tutmés, senhora Ísis mencionou que seu filho tivera amigos no internato. Nesta época da vida, juventude, a busca por relacionamentos, segundo Sartri (2004, p. 123), torna-se uma necessidade, pois lhe darão amparo para os conflitos internos. Sobre o Desempenho do filho no estudo no meio urbano, de acordo com senhor Amón, Tutmés sempre foi na média.

Quanto às percepções dos pais sobre as Questões financeiras em manter o filho

estudando no meio urbano, os pais relataram que não foi tarefa fácil, pois havia

mensalidades e gastos extras. Entretanto, por serem os estudos uma questão aparentemente de necessidade, estes gastos não foram muito inferidos como estressantes para a família.

Sobre as Influências dos pais pela escolha do filho, Amón, sem demora na entrevista, anunciou que influenciou o filho e a mãe Ísis disse que também percebe que houve

influências, pois acreditavam no colégio, e que seria um projeto do pai de Tutmés. E quanto às Influências externas pela escolha do filho em estudar no colégio agrícola, Ísis trouxe que Tutmés teve entusiasmo de dois primos em ir estudar no internato. Pode-se perceber que tanto os pais quanto o filho percebem as mesmas influências em relação ao estudo.

No que tange às Questões afetivas com a saída de Tutmés para estudar em

outra cidade, a mãe de Tutmés, demonstrou ter sentido muita falta do filho em casa. E nesta

questão evidenciam-se particularidades de mãe e filho, pois no relato de Tutmés ele também demonstrou sentir falta de sua família.

4.2.2.3 Categoria: Percepções sobre a atualidade (projetos e perspectivas de futuro) diante da profissão e/ou qualificação realizada no meio urbano.

a) Sujeito da pesquisa - Tutmés

Na tabela a seguir demonstrar-se-á as falas de Tutmés sobre questões relacionas a sua atualidade (momento da entrevista) frente aos seus projetos e perspectivas de futuros. Tabela 11 - Percepções sobre a atualidade (projetos e perspectivas de futuro) diante da profissão e/ou qualificação realizada no meio urbano – sujeito Tutmés.

Subcategoria Unidade de Contexto Elementar

Cobranças internas para terminar os estudos.

Como sabia que era um pouco difícil para eles [pais] , tinha vontade de estudar mais e aprender mais né. Para poder mais tarde passar para frente né.

Trajetória de estudo

“ [...] e até a oitava foi na cidade X.”

Trabalho atual e Amizades

[Emprego] “Não, né. (risos). Mas, gostava bastante de lá né. Ai fiquei mais um pouco e acabei indo embora. Muito longe da família, daí não adiantava né. Só trabalho né”. “Numa cooperativa. Faço visitas a campo, vendo a qualidade do leite. Daí eu tenho que visitar esses produtores de leite. Vendo como ta a produção, né. Vendo se tem alguma coisa errada para mudar, né. Então eu faço isso.

“É que a gente já tirava leite lá de casa para essa empresa, né. A gente já se conhecia mais, antes de fazer o técnico, ai depois do técnico me chamou”.

“É, fica no centro, dá uns 50 metros de casa, bem pertinho. É dentro da cidade. Tem a matriz na cidade de Urubici e as filiais, no caso trabalho numa das filiais. Eu tava em Lages, ai abriu em Uribici e tô lá agora”.

[mora sozinho] “Não eu e meu gerente. Tem um apartamento que dividimos. É bem legal, só que ele faz faculdade, ele sai quatro horas e volta meia noite. A gente só se vê na loja mesmo, né. Dentro de casa é difícil, só no final de semana e assim mesmo é difícil.”

[Saudades do meio rural] “Não, por que eu to sempre vindo para casa e indo para o campo”.

“Eu queria fazer veterinária.É difícil, porque é o dia inteiro né. E tem que fazer em Lages. É complicado. Mas, o dia que eu puder eu vou fazer, né.

A veterinária sei que tem na Facvest, que se faz dois anos (sem ser integral) e depois é integral. Dois anos pode se fazer só de noite. Só que depois até. É algo que tenho pensado, mesmo querendo a Udesc. Por que na Facvest não tem nenhuma vaca (risos) e na Udesc eles criam ovelhas. A Facvest fica dentro da cidade, né. E só vou mexer em cachorro e gato.”

Fonte: Elaboração da autora, 2009.

A tabela anterior tivera o objetivo de demonstrar que o jovem Tutmés diante das

Cobranças internas para terminar os estudos, percebia que a sua despesa financeira era

difícil para os pais, mas mesmo assim tinha vontade de estudar mais. Talvez esta vontade de estudar mais esteja intrinsecamente relacionada ao seu meio sócio-histórico, pois seu ambiente familiar é propício para a continuidade dos estudos, uma vez que tanto sua mãe quanto o seu pai se interessam.

Sobre Trabalho atual e amizades, disse que trabalhou em outro estado, mas que a saudade dos pais lhe era algo a ser considerado, pois para ele trabalhar apenas não é essencial. O trabalho na vida de Tutmés ao mesmo tempo em que lhe re-significa fornecendo novas formas de ser, apesar de demonstrar gostar do que faz, não lhe é mais caro do que sua família.

Atualmente trabalha com uma distribuidora de leite, sua função é ir no meio rural averiguar a qualidade do leite. Segundo Tutmés, ele se sente muito feliz na empresa em que trabalha. Conseguiu este trabalho por contatos pessoais. Mas, mora em outra cidade, Urubici e

de lá, todos os dias, vai em direção ao meio rural fazer sua inspeção. Mencionou que não mora sozinho, que seu gerente mora com ele e que este estuda em Lages, indo todos os dias e voltando. Quanto aos estudos futuros disse que não sente falta do meio rural e que tem pretensão de fazer Veterinária. Conforme demonstrado na pesquisa de Carneiro (2005, p. 245), percebe-se que o projeto de estudar de Tutmés converge com as palavras do autor, pois ele menciona que a educação está em primeiro lugar enquanto assunto de interesse dos jovens rurais.

b) Pais de Tutmés

A tabela a seguir, no. 12 têm o objetivo demonstra a fala dos pais de Tutmés referentes à categoria: Percepções sobre a atualidade (projetos e perspectivas de futuro) diante da profissão e/ou qualificação realizada no meio urbano.

Tabela 12 - Percepções sobre a atualidade (projetos e perspectivas de futuro) diante da profissão e/ou qualificação realizada no meio urbano – pais de Tutmés.

Subcategoria Unidade de Contexto Elementar

Percepção sobre a importância da educação

Ísis: “É tudo! A herança que nós queremos deixar para eles é o estudo. Se eles não quiserem estudar daí é com eles. Mas, a gente quer que eles levem a sério e que eles continuem”.

Amón: “Por que hoje é complicado né, por que se você não consegue mais as coisas se não tiver estudo. Até para você ir no banco hoje e não saber as coisas não consegue ir no caixa eletrônico. Depende dos outros, para tudo. Estudo é tudo!”

Ísis: “E cada vez mais, né. Quanto mais se especializar numa coisa será melhor né. Sem estudo não tem como!”

Futuro do filho

Ísis: “É difícil para ele entrar né. Ele vai ter que estudar muito, por que pra gente

pagar universidade particular é difícil, porque é integral veterinária. Então tem que ser

pública. E a aula é lá em Lages e é integral né. Ai vai ficar o dia inteirinho e tem que manter. E particular é mais difícil. Não tem condições, por que a faculdade mais perto é só em Lages”.

Sobre a Percepção sobre a importância da educação verificou-se na tabela anterior que tanto a mãe dizendo “É Tudo!” quanto o pai afirmando “Estudo é tudo!” percebem ser fundamental para a vida do filho Tutmés. Portanto o núcleo familiar compreende que a educação é essencial e que o projeto do filho em fazer veterinária, pode ser viável. Entretanto, desde que ocorra em universidade pública. A vontade de estudar do jovem e a disposição dos pais demonstra que na contemporaneidade jovens rurais ou urbanos podem ter sonhos parecidos.

A vontade do pai de Tutmés, em fazer Veterinária, sugere a influência do pai sobre o filho, o que, segundo Peralva (1997, p. 19), sinaliza a necessidade dos pais de terem seus desejos do passado realizados no presente, através das ações e escolhas de seus filhos.

No documento 'O apego às origens' (páginas 74-83)