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IDENTIDADE

No documento 'O apego às origens' (páginas 32-37)

A identidade que compreendemos como sendo nossa configura-se de duas formas: a primeira trata de uma concepção de que temos sobre nós, das nossas ações e da forma como sentimos e reagimos no mundo. A segunda trata da forma com que pensamos que o outro compreende o nosso agir no mundo. Entretanto, paralelamente a estas duas formas de construção da identidade existe outra, que é estabelecida como sendo a forma com que o outro percebe nossos atos e sentimentos, mas desta vez este perceber não partirá de nós, pois será o outro que nomeará e descreverá suas próprias impressões. Todavia, ao colocar a identidade como uma construção social define-se que ela pode ser modificada, já que ao longo de nossa vida modificamos várias vezes nossas relações sociais. Portanto, de acordo com Ciampa (1996, p.128), “[...] a identidade é metamorfose. E metamorfose é vida.”.

A metamorfose identitária que Ciampa (1994) aborda não é uma idéia de que a cada dia seremos pessoas diferentes, pois mudaremos nossas opiniões, atos, sentimentos e valores constantemente. Mas, o conceito que o autor apresenta é de uma metamorfose desenvolvida e mediada pelo meio social que aos poucos se modifica concretizando-se nas

5 Desinstitucionalização de uma condição juvenil, no sentido de que anteriormente compreendia-se a juventude como uma etapa da vida em que todos passariam e que teria uma duração cronológica estabelecida. Com a implantação deste novo olhar sobre o jovem desinstitucionalizado, assim compreende-se que o ser jovem implica estar inserindo-se na vida adulta, tendo como características: término dos estudos, entrada no mundo do trabalho e saída da casa dos pais, entretanto, não existe momentos previamente definidos.

relações e por intermédio delas. Isto ocorre, pois o olhar do outro se faz importante para avaliar e re-significar a nossa identidade.

Desta forma, pode-se pensar sobre o livro Agenor no Mundo como exemplo: o personagem principal do livro, de Maheirie (1994), que inicialmente quer sair do meio rural para ir morar no meio urbano, ao chegar neste, percebe que sua racionalidade não esta ali, ou seja, a percepção de si com este meio e a percepção que os outros sujeitos do meio urbano lhe conferem não são de um sujeito urbano. Neste âmbito, podemos nos perguntar: será uma tarefa fácil metamorfosear-se, aceitando estes olhares e permitindo se modificar por meio deste novo campo social?

Dirá Maheirie e Pretto (2007, p. 456),

[...] a partir das relações e, conseqüentemente, das mediações que estabelece com o mundo. Situado num contexto histórico e cultural específico, o sujeito está em meio a conflitos, contradições, negações, afirmações e superações, as quais estão impressas nas suas ações cotidianas, mediadas pela história que se dá num movimento dialético.

Portanto, as escolhas que realizamos estão sempre envolvidas por mediações e pela identidade que queremos ora manter ou ora superar.

Para Sartre (2007, p. 390), o princípio do ser do homem é a relação que se dá entre ele e o mundo ou entre ele e as coisas. Pois, para este autor, as coisas surgem primeiramente, depois as percebemos. E, imediatamente, ao perceber o homem relaciona-se com o objeto e por meio de tal relação o homem fundamenta o seu ser. Dessa forma, pode-se verificar que “Embora o sujeito tenha uma personalidade formada, a qual lhe dá a sua identidade, precisa do mundo para mantê-la [...] descobrindo o mundo que nos descobrimos [...]” (RAGASSI, 1998, p.103) e vice-versa.

Sobre as questões particulares ao realizar a metamorfose, elucidam Ciampa (1994), que ela é essencial para o desenvolvimento humano, pois permite que possamos experimentar o que desejamos ser sem deixamos de ser quem somos, ou seja, o processo de conhecer o que se quer ser aos poucos permite que o sofrimento não se faça presente. Entretanto, quando as modificações são repentinas, o sentimento de não se reconhecer na nova identidade torna-se experienciada.

Assim, devemos compreender que os exemplos anteriormente sugeridos metamorfoseados por uma identidade superada6, são uma experienciação de desejos de ser, que aos poucos se lançariam no mundo até conseguirem ser apropriados pela identidade do sujeito e pelo meio social ao qual integram, pois este processo de ir e vir na mudança traz maiores certezas perante aos projetos.

Esta necessidade de possuir a certeza sobre o projeto futuro refere-se a uma construção social de reconhecimento identitário, conhecida como identidade pressuposta7, necessária para que invistamos nela, pois ao estarmos imersos num ambiente social, compartilhamos com ele nossos ideais. Assim, a metamorfose se dá em espirais, onde a vida, segundo Sartre (apud Maherie, 1994, p.48) “[...] passa sempre pelos mesmos pontos, mas em níveis diferentes de integração e de complexidade [...]”. Portanto, nossas mudanças precisam passar pelo nosso ambiente social para que nele possam ser sintetizadas, pois a “[...] identidade, que se transforma, vai se concretizando nas e pelas novas relações sociais em que está se enredando. A materialidade dessas relações sociais faz com que a nova identidade não seja uma ficção, uma abstração imaginária [...]”. (CIAMPA, 1996, p. 109).

Todavia, esta construção identitária é perpassada desde os primeiros anos de nossa vida, pois nos primeiros tempos somos emaranhados por influências sociais, feitas por múltiplos aspectos, quais sejam, por exemplo: um sorriso, um olhar carinhoso, uma voz mais exaltada e assim caminhamos no nosso desenvolvimento. Desta forma, dirá Maheirie (1994, p.115),

[...] nascemos corpo e consciência na relação com o mundo e é a partir daí que vamos constituindo um EU, uma identidade. Isto significa que nascemos ninguém e vamos nos tornando alguém na medida em que vivenciamos as relações, com os homens, com o tempo e com o corpo. Nos essencializamos, ou seja, construímos nossa identidade a partir daí, e, enquanto produto das relações, esta identidade, este EU é uma síntese inacabada, uma totalização destotalizada e retotalizada para se destotalizar novamente: a identidade é histórico/dialética.

Por tudo visto, podemos perceber que a identidade vista pela dialética permite compreender, segundo Maheirie (1994, p.133), que não há forças estranhas que estão obscuras por detrás da identidade, apenas esperando um momento para despertar em

6 Identidade superada – de acordo com Luna e Baptista (2001, p.43), seria a resposta a algo que não foi dado, ou seja, seria agir no mundo com ações e pensamentos diferentes dos que os outros esperam, mantendo-se na decisão até que por fim, as relações reconheceram a nova identidade. Maheirie (1994, p.115 - 119), dirá que a superação de um movimento identitário, permite poder ampliar o campo das escolhas.

7 Identidade pressuposta – segundo Luna e Baptista (2001, p.43), “[...] ao nascermos, já estamos inseridos em um mundo, em um grupo social, que traz consigo uma série de expectativas, determinações e representações prévias sobre cada um de nós”.

espontaneidade, mas que a identidade é configurada de concretismos causais, construídos pelos laços sociais os quais fomos mediados.

2.2.1 Identidade profissional

Identidade profissional refere-se aos aspectos identitários pertencentes ao mundo do trabalho, neste sentido todos esses se referem às atividades desenvolvidas e às relações estabelecidas neste ambiente, além das demais relações sociais que pressupõem esta identidade estabelecida. Assim, segundo Luna (2005, p.81),

Entendemos a identidade profissional como a auto-percepção do próprio sujeito e a percepção de outrem sobre ele como alguém que desenvolve uma atividade relacionada a um conhecimento e/ou habilidade específico. A identidade profissional, sobretudo, implica a existência de um trabalho com significado para quem o realiza, ou seja, um “por que” e um “para que” que transcendem o momento imediato; implica uma compreensão global do processo de trabalho.

Como se pode perceber, o ser humano, irá possuir uma identidade, tanto nos demais ambiente sociais, quanto no universo do trabalho. Portanto, a forma com que somos, por exemplo a cor do cabelo, o tom da pele assume predicados de quem somos e no que tange o mundo do trabalho, as atividades que realizamos tornam-se predicados de nossa identidade. Nestes aspectos revela Ciampa (1996, p.133), “[...] quando representamos a identidade, usamos com muita freqüência preposições substantivas (Severino é lavrador), em vez de preposições verbais (Severino lavra a terra).”.

Diante destes aspectos devemos lembrar quais são as primeiras perguntas que se faz a alguém quando conhecemos, quais sejam: qual o seu nome? E, tão importante quanto o nome, o que você faz ou onde trabalha? Portanto, o nome em princípio de acordo com Ciampa (1996, p. 137), nos identifica fazendo parte de nossa personalidade,

[...] Quer dizer, em primeiro lugar, que ele nos distingue, nos diferencia dos outros: o nome indica identidade. Numa linguagem de dicionário, pode-se dizer que identidade é o reconhecimento de que um indivíduo é o próprio de quem se trata; é aquilo que prova ser uma pessoa determinada, e não outra.

A segunda pergunta, sobre o que se faz, também assume características identitárias, pois será por ela que se mostrará à sociedade a “significação do nome”. Desta

forma, pode-se compreender as problemáticas que um sujeito desempregado ou alguém que não consegue trabalhar enfrenta na sua identidade. Todavia, a identidade profissional na contemporaneidade é alimentada por problemáticas, pois o advento da instabilidade e do desemprego, segundo Luna (2005), promove a exigência de flexibilidade. Portanto, estar apto a mudar a atividade tornou-se uma exigência e esta nova forma de realizar o trabalho faz com que o homem precise estar apto a conseguir realizar novas funções. Contudo, anteriormente, o camponês e o artesão exerciam suas atividades de forma a conhecer o processo completo e com o advento da atividade manufatureira, dirá Marx (1984, p. 413a), a dissociação do trabalho ocorre, pois o trabalhador além de não conhecer todo o processo em que participa não utiliza suas forças intelectuais.

Quando o homem não reconhece todo o processo de fabricação, não reconhece o produto final como sendo algo que lhe representa. Assim, esta alienação diante de seu trabalho faz com que não se re-signifique na natureza. De acordo com Codo (1997, p. 19), alienação no mundo do trabalho ocorre quando o homem dissocia-se de si mesmo, ou seja, ao objetivar-se no produto que realiza não reconhece o seu trabalho, já que este está disposto em séries, onde muitos trabalhadores se objetivam, mas a maioria não reconhece o resultado como sendo seu. Assim, o trabalho realizado deixa de ser objeto de consumo de quem o faz, pois não se é verdadeiramente dono dele.

Por tudo visto, pode-se dizer que a identidade profissional é, “[...] assim como as demais identidades”, de extrema importância, pois num mundo em que se preza o capital, trabalhar ocupa funções primordiais em dar sentido a “quem se é” e “o que se quer”. Assim, acrescentar à preposição “o que se faz” ao nome além de demonstrar “quem se é”, confere aspectos da cultura e condição do sujeito. Entretanto, dar nome ao trabalho na modernidade, reflete esta época, onde existe uma tentativa de homogeneidade cultural amplificada pela globalização e neste aspecto, profissões novas nascem.

No documento 'O apego às origens' (páginas 32-37)