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5 ETAPA QUALITATIVA

5.1 Análise qualitativa das entrevistas em profundidade realizadas no Brasil 1 Caracterização do perfil dos entrevistados do Brasil

5.1.2 Análises por categoria

5.1.2.1 Análises por categoria – Entrevistas com consumidores do CouchSurfing (Brasil)

5.1.2.1.7 Categoria 7: Risco Percebido

Um aspecto novo que emergiu nas entrevistas com os consumidores do CouchSurfing do Brasil foi a questão dos fatores restritivos de consumo deste tipo de plataforma. Nos relatos dos entrevistados, alguns pontos foram citados como fatores capazes de inibir o interesse dos participantes para o uso da plataforma de compartilhamento de hospedagem. Notou-se que a dificuldade de ter uma privacidade plena na casa de um desconhecido, o receio do hóspede de se sentir inconveniente na casa do host e o medo de sofrer algum tipo de violência ou assédio (principalmente, no caso de hóspedes mulheres) foram questões apontadas por alguns entrevistados.

Na revisão de literatura sobre economia compartilhada no turismo e sobre o CouchSurfing especificamente, não haviam sido encontrados, até então, trabalhos que abordassem a respeito dos fatores restritivos de consumo neste contexto. Por isso, o modelo inicial teórico da presente tese não considerou os antecedentes restritivos do uso. Contudo, após a realização e análise das entrevistas, tais aspectos foram agregados ao modelo teórico do estudo. Para isso, optou-se por denominar tal categoria restritiva do consumo de Risco Percebido.

Um dos riscos percebidos pelos consumidores acerca do CouchSurfing foi o receio de que a estadia na casa do anfitrião fosse marcada por uma ausência de privacidade. Os entrevistados 1 e 4 da plataforma CouchSurfing expressaram que a falta de privacidade pode ser um ponto negativo a ser ponderado na escolha da plataforma CouchSurfing, como pode ser notado no Quadro 16.

Quadro 16 - Citações ligadas à Falta de privacidade (CouchSurfing, Brasil)

Entrevistado Citações

Entrevistado 1 O que eu enxerguei é, por exemplo, você não tem aquela privacidade... Dependendo de com quem você fica, você fica dependente do horário daquela pessoa. (...) Você não tem aquela certa liberdade de ir e vir.

Entrevistada 2 Por mais que eu já tivesse tido um contato antes, não era um amigo, era como se fosse um colega distante que tivesse ficando de favor na casa dele. Não é nem pelo fato de estar de CouchSurfing. É por você estar de favor e ter que ficar bonitinha assim na casa, meio que ter um horário para chegar, não poder fazer muito barulho, não que eu fosse me sentir totalmente em casa, porque eu sempre soube que isso não ia nunca acontecer só que eu acho que é só este receio mesmo.

Entrevistado 4 Quando você tá na casa de uma pessoa, você tem que respeitar o horário dela. Isso é um ponto negativo. Se eu quisesse, por exemplo, sair e voltar duas horas da manhã, era meio complicado, né? Mas a questão da liberdade, de você sair a hora que você quer, também a questão do conforto e a pessoa não falar tudo sobre ela, né?

Entrevistado 8 É estranho você estar na casa dos outros, porque, de alguma forma, por melhor que eles sejam, você não se sente, não é sua casa... Eu como sou uma pessoa muito, sei lá, filho único, sempre trancado no quarto e agora com minha casa sozinho... Apesar de adorar receber as pessoas... Tem uma coisa... Sei lá... A privacidade não é a mesma.

Fonte: Dados do estudo (2018)

A falta de privacidade esteve associada, na visão dos entrevistados, à dependência em relação aos horários do anfitrião, ao sentimento de falta de liberdade de ir e vir por estar na casa de uma pessoa que não se conhece, e à questão de não se vestir de forma totalmente à vontade em respeito à presença do host.

Por outro lado, apesar de dizer que a falta de privacidade foi um receio, o entrevistado 8 demonstrou que ela não se concretizou como um problema. Pelo contrário, afirmou que foi tão bem recebido pelos couchsurfers que se sentiu como se estivesse em sua própria casa.

Pô, eu me senti em casa... Quando eu cheguei, era meio que de madrugada. Só que a minha hospedagem tava em uma festa. Ele saiu da festa. Foi em casa para me receber, me instalou, perguntou se eu queria ir para festa com ele... Aí, eu decidi ficar em casa, eu tava meio cansado... Ele saiu. No outro dia, foi como se eu fosse da família, tomamos café juntos e tal, ele saiu. Saímos para passear alguns dias. Ele fez festa em casa também e participamos como se fôssemos da família. Levou a gente para jantar com a sua avó. A família dele se reuniu toda um dia, porque a avó dele de 80 anos tinha voltado de uma viagem pela Europa e ela trouxe presente para todo mundo. Ela não sabia que a gente tava lá, mas nós nos sentimos parte de tudo. Muito legal. Foi uma hospedagem muito tranquila. Mas eu percebi que o uruguaio em si é muito simpático e receptivo (Entrevistado 8).

Assim, nota-se que a falta de privacidade pode ser um antecedente restritivo, um receio, mas não necessariamente vai ser algo que vai acontecer durante a viagem.

O receio de se sentir inconveniente no relacionamento com o host também foi um antecedente negativo sinalizado nas entrevistas com os consumidores do Brasil de CouchSurfing. Antes de se hospedar na casa do anfitrião, os entrevistados 1, 3 e 7 demonstraram que este era um fator que os incomodava em relação à hospedagem domiciliar e que poderia de alguma forma inibir o interesse em utilizar a plataforma. Tal aspecto pode ser constatado nos relatos dos entrevistados no Quadro 17.

Quadro 17 - Citações ligadas ao Receio de trazer incômodos ao anfitrião (CouchSurfing, Brasil)

Entrevistado Citações

Entrevistado 1 A princípio, você fica meio apreensivo, porque você marca com a pessoa e topa, mas você não quer ser aquela inconveniente de ficar o tempo todo falando para a pessoa lembrar... Mas você tem que dar um oi para a pessoa lembrar de você, porque ela marcou este compromisso com você, mas não é um compromisso oficial. Ela não precisa se dar ao trabalho disso. Ela tá fazendo um favor. Você não quer ser chato, mas você tem que ficar lembrando a pessoa... Este momento é o momento que eu achei mais inconveniente, porque você tem que forçar um assunto às vezes e você não tem uma intimidade... Aí, chegando, eu achei super interessante. Me acolheram de uma maneira, com uma receptividade...

Eu perguntei se não seria muito inconveniente, porque eu chegaria em um determinado horário em que as pessoas costumam estar dormindo. Mas foi muito de boa. A partir do momento que eles aceitaram, eu fiquei tranquilo, eu não achei nada assim de ficar tão tenso, de ficar preocupado, de ficar pensando em algo. Na minha cabeça, já era certo que eu ficaria lá.

Só teve a parte do inconveniente de você se fazer ser lembrado, para ele não esquecer de que ele marcou algo com você.

Entrevistado 3 Eu não gosto de ficar muito tempo, porque você começa a ficar inconveniente. Para você, receber pessoas na sua casa é legal, mas depois de uns três dias, aquele cara fica chato, porque você quer fazer suas coisas, quer ter sua liberdade, precisa do seu espaço. Pelo menos, eu sinto esta necessidade.

Nossa, eu tava com medo de eu não ser alguém chato... Essa era parte fundamental. Claro, eu queria que as pessoas fossem super legais comigo. Eu tinha medo de ser inconveniente com o outro. Eu sou um pouco tímido no começo, então... Eu tinha... Porque as pessoas que utilizam o CouchSurfing você imagina que sejam todas extrovertidas e não é verdade. Tem muita gente introvertida, que é o meu caso. No começo, eu sou um pouco introvertido, entendeu? Eu tinha medo de incomodar os outros porque eu tô na casa alheia.

Entrevistada 7 Acho que minha primeira preocupação era interferir demais na rotina do outro. Claro, as pessoas estão te recebendo, mas eu mesma ficava com receio. Dizia: ai, meu Deus, vou acordar agora numa hora que as pessoas não estão acordadas, vou usar o banheiro e vou fazer barulho. Vou incomodar as pessoas. Eu acho que todo o incômodo era da nossa parte. Eles eram um casal. Foi bom porque a gente tinha um quarto separado para nós dois. Eu não sei se a gente deu sorte de escolher as pessoas certas, mas foi incrível. A gente acordava todo dia e dizia: Meu Deus! A gente já esperava que fosse bem recebido, mas superou nossas expectativas. A gente acordava todo dia bestificado: Meu Deussssssssss! Como eles são legais! Como eles tratam a gente como uma família! Na última noite lá em Montevidéu, eles nos levaram para jantar na casa da avó dele e depois nos levaram no aeroporto. A gente pensava: Meu Deus, quase a gente não faz isso com os nossos amigos, com a nossa família! Dois estranhos! E aí, depois lendo de novo as avaliações, a gente viu que eles fazem isso com todo mundo. A viagem não teria sido tão boa se a gente não tivesse ficado na casa deles. Foi incrível!

E a gente pensou: Poxa, se a gente tivesse planejado melhor e tivesse dinheiro sobrando talvez a gente pudesse ficar numa pousada para não incomodar a pessoa. Eu acho que a gente ficou ponderando assim mais pelo outro. Mas foi muito bom para mim enquanto ser humano, eu acho, de ver como as pessoas ainda estão dispostas a compartilhar o que é seu...

A gente ficava com esta coisa. Ah, a gente vai incomodar. Então, que horas a gente vai chegar pra não incomodar?

Fonte: Dados do estudo (2018)

Este fator restritivo de consumo não foi encontrado previamente na literatura sobre economia compartilhada. Nos depoimentos, os entrevistados indicaram que existiu um certo receio inicial de incomodar o anfitrião por se tratar de uma estadia gratuita na casa de uma pessoa que não se conhecia presencialmente antes.

O entrevistado 1, inclusive, afirmou em sua fala que o host estava a “fazer um favor” ao oferecer o alojamento e que não se tratava de um “compromisso oficial” do anfitrião. O entrevistado 3 indicou também o possível sentimento de tirar a liberdade do host em sua própria casa. Para ele, o ideal é passar poucos dias na casa do anfitrião para não se tornar o “cara chato”, o sujeito inconveniente que vai atrapalhar as atividades do outro. Da mesma forma, a entrevistada 7 apontou a preocupação de interferir na rotina do anfitrião e de incomodar. Assim, este aspecto apontado pelos entrevistados nesta etapa qualitativa da pesquisa pode representar uma contribuição para a literatura sobre plataformas de compartilhamento no sentido de ser um antecedente negativo de consumo.

Outro risco percebido em relação ao CouchSurfing foi o medo de sofrer algum tipo de violência ou assédio por parte do anfitrião. Tal questão foi citada nas entrevistas, principalmente feitas com mulheres. As entrevistadas relataram que, apesar do receio, nunca sofreram assédio ou violência propriamente dita. Contudo, a entrevistada 10 relatou que, em uma viagem, postou publicamente na plataforma CouchSurfing que estaria a viajar para o determinado destino, pediu informação no site e foi abordada por muitos homens que se diziam interessados em hospedá-la. Como isso despertou medo na entrevistada, ela decidiu não se hospedar pelo CouchSurfing no país, e sim em um hotel. Pelas impressões da entrevistada acerca das mensagens recebidas, os anfitriões couchsurfers enxergavam a hospedagem gratuita como uma forma de obter sexo (moeda de troca), isto é, que a hospedagem seria “paga” com sexo. Depois desta experiência, que causou medo na jovem, a participante afirmou que não se dispõe mais a utilizar a plataforma de compartilhamento CouchSurfing e disse ter mais confiança na plataforma de consumo colaborativo AirBnb por ser paga, a qual utiliza mais atualmente.

O Quadro 18 apresenta alguns relatos das entrevistadas sobre receio de vivenciar algum tipo de violência durante a estadia.

Quadro 18 - Citações ligadas ao Medo de sofrer algum tipo de violência ou assédio (CouchSurfing, Brasil)

Entrevistada 2 Num primeiro momento, eu fiquei um pouco com medo pelo fato de eu ser mulher e já ser mais complicado, e pelo fato de eu estar praticamente do outro lado do mundo sozinha. Eu viajei sozinha. A primeira vez eu fiquei 20 dias sozinha e a segunda vez eu fiquei 28 dias sozinha. Então, na primeira vez, eu fiquei um pouco com medo. Só que a plataforma no próprio site você consegue ver as avaliações e eu sempre fui muito cuidadosa. Eu ficava olhando as avaliações e, um mês e meio ou dois de antecedência, eu entrava em contato com as pessoas. Pedia whatsapp, pedia o facebook e ia sempre olhando, sempre conversando, já fazendo uma pré-amizade para quando eu chegar lá, não chegar simplesmente, só chegar... Então, quando eu cheguei em todos os lugares, eu meio que conhecia a pessoa virtualmente. Então, eu nunca tive problema.

Eu sempre meio que me treinei a pensar na pior possibilidade, porque aí eu já estaria preparada para a pior possibilidade. A gente imagina coisas porque cê tá dormindo e a pessoa pode entrar no quarto e te matar. Eu saía do quarto, por exemplo, eu confiava que eu ia sair de casa para passear e eu tinha que confiar que eu ia voltar e todas as coisas iam estar lá dentro da minha mala. Porque eu podia voltar pra casa e não estar nada lá. Podia voltar pra casa e não abrirem a porta pra mim. E como eu ia na polícia provar que eu tava na casa de um desconhecido e tudo mais? Então, eu já pensava nas piores possibilidades, mas também criava muitas expectativas sobre fazer coisas bem legais tipo ter uma pessoa muito legal como se você tivesse na casa do seu melhor amigo/amiga e fazer várias coisas legais, cozinhar juntos, beber juntos e assim conhecer os amigos da pessoa que eu tava ficando... Então, assim, era de 0 até 1000.

Sim, eu acho que o principal medo para gente que é mulher é o fato do abuso sexual. Sei lá. De me agredir, de eu estar dormindo e alguém fazer alguma coisa. Ou de roubar minhas coisas. Eu acho assim que o pior mesmo que a gente consegue pensar de estar hospedado na casa de alguém. É a pior parte mesmo.

Entrevistada 7 Eu ouço algumas queixas de meninas que, quando viajam sozinhas, para ficar na casa de homens, às vezes, acontece de ter assédio. Talvez por eu estar viajando com um homem, talvez já me dê mais segurança também. Não sei se eu viajasse sozinha, se eu escolheria a casa de um homem para ficar, por exemplo. Simplesmente, eu escolheria ficar na casa de uma mulher. Mas acho que isso é mais da condição de ser mulher, né? A gente acaba querendo ou não, se protegendo e tendo medo de algumas coisas, mas eu acho que a plataforma é bem segura. Se você pesquisa bem o perfil das pessoas, não precisa ter medo, não.

Eu não escolheria estar na casa de um homem, por exemplo, mesmo que as avaliações dele fossem todas positivas.

Entrevistada 10 E na América Central, eu tive medo de ser assediada. Tive medo mesmo e desisti. Tinha CouchSurfing agendado para ficar na casa da pessoa e desisti, sabe?

Quando você começa a pesquisar na internet os casos de assédio em relação ao CouchSurfing, são altíssimos, muito mais altos do que outras ferramentas que envolvem dinheiro. Então, por isso, hoje eu opto por ferramentas que envolvem dinheiro ou que envolvam um propósito, porque ele é muito amplo. Então, esta é a parte ruim que eu acho.

Quando eu fui fazer as experiências na América Central, quando eu comecei a pesquisar, eu comecei a receber diversos convites. Como assim? Antes você tinha que ir, perguntar para a pessoa se ela te aceita, implorar, prometer que você é uma pessoa legal, que não vai incomodar, tudo isso para a pessoa te aceitar... Quando eu coloquei meu interesse na Guatemala, eu comecei a receber diversos convites o tempo inteiro. Durante o dia, o meu celular não parava de receber convites de pessoas, todos homens, para eu ficar na casa deles. E eu comecei a ficar com medo. (...) Então, eu percebi que a cultura lá é muito de se pagar com sexo, sabe? Então, não tive coragem. (...) Não tive coragem de me hospedar, sabe? Fiquei bem preocupada e aí desisti. Não procurei mais durante toda esta minha experiência na América Central. E aí, acabei preferindo hoje em dia, né, ficar no AirBnb que você paga um valor parecido com o do hostel até, mas você tem muito mais segurança, como num caso de uma mulher viajando sozinha, sabe? Eu acho que me sinto mais protegida.

Fonte: Dados do estudo (2018)

Os entrevistados do sexo masculino também pontuaram nas entrevistas que o receio de sofrer algum tipo de violência ou assédio é algo mais forte nas mulheres, devido à condição feminina de sofrer com uma sociedade ainda machista.

Mas eu acho que, para o homem, é mais fácil ele não ter receio, mas, para a mulher, se hospedar na casa de um homem, pode ter o receio de um assédio. São pontos complicados a serem tratados, quando se trata de uma mulher (Entrevistado 1). Tem uma questão também... Não aconteceu comigo, mas é um ponto negativo, que é a questão do assédio. Isso aí é um problema que acontece, mas também a plataforma tem como reportar, né? Não aconteceu comigo, mas acho que a questão da timidez e da possibilidade de assédio são problemas (Entrevistado 5).

Para mim, não vi muitos pontos negativos, não. Quase nenhum. Agora, já tive relatos de meninas que se hospedaram na casa de homens e, às vezes, tem coisas desagradáveis, que a gente já sabe como é esta relação né? Talvez para mulher possa ser complicado, mas eu acho que as referências ajudam a minimizar bastante o risco (Entrevistado 8).

Entretanto, é importante mencionar que a situação do assédio não é algo restrito às mulheres. O entrevistado 3, do sexo masculino, relatou que sofreu duas situações de assédio por parte dos anfitriões do CouchSurfing, também do sexo masculino, e que foi uma situação desagradável.

As experiências como hóspede, em parte, são legais. Infelizmente, tem muita gente que usa o CouchSurfing não da melhor forma possível. Eles usam o CouchSurfing com outros objetivos além do objetivo cultural. Tem pessoas que utilizam o CouchSurfing com objetivo sexual e... Não sei se nas suas entrevistas você já viu isso. Mas eu tive duas situações das quatro hospedagens que eu tive. Tive duas situações de pessoas que tentaram se aproveitar sexualmente de mim, entendeu? (Entrevistado 3).

O medo em relação à plataforma pode também não ser relativo apenas à questão do assédio. O entrevistado 4 relatou que sentiu medo ao utilizar pela primeira vez a plataforma por ir se hospedar na casa de uma pessoa que nunca viu na vida, por ser uma experiência nova e por ser em outro país.

Nossa, na primeira viagem, eu tive medo. Eu tava com outras duas meninas e o rapaz... Eu tinha colocado que eu faria esta viagem e assim, eu falei: “Ai, meu Deus, agora que eu vou utilizar mesmo a plataforma”. Tinha poucos comentários desta pessoa, comentários de um ano atrás...Eu senti medo... Tipo assim, era uma coisa nova. Era ele e ele morava com outro amigo. Tava eu e as meninas... Mas acabou que foi super de boa, a gente encontrou ele em um local público, no McDonalds, ele falou sobre a vida dele... Mas, no princípio, eu senti medo...Ai, meu Deus, vou ficar na casa de uma pessoa que eu nunca vi na vida, junto com outras meninas que nem falam a língua... (risos). Foi na Alemanha. Depois, das outras vezes, eu perdi o medo. Porque a gente que é brasileiro principalmente, a gente tem muito esta questão assim: “Ah, vou ficar na casa da pessoa que eu nunca vi, em outro país, né? Tô correndo um risco mesmo”. Mas depois eu vi que era tranquilo... (Entrevistado 4).

Neste sentido, o medo de sofrer algum tipo de violência pode corresponder a um antecedente negativo/fator restritivo de consumo do CouchSurfing, principalmente para mulheres, e a experiência, inicialmente, pode ser encarada como algo um pouco arriscado.

Figura 13 - Subcategorias ligadas à categoria Risco percebido (fatores restritivos do consumo) (CouchSurfing, Brasil)

Fonte: Dados do estudo (2018)