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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.4 Aceitação de Tecnologia

2.4.1 Teoria Unificada de Aceitação e Uso de Tecnologia (UTAUT)

A Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia/Unified Theory of Acceptance and Use of Technology (UTAUT) foi desenvolvida por Venkatesh et al. (2003) como uma síntese global das pesquisas anteriores de aceitação da tecnologia. Os autores revisaram a literatura dos modelos existentes sobre a aceitação de tecnologia da informação e os categorizaram acerca de seus respectivos constructos principais, semelhanças e diferenças com o objetivo de formular e validar o modelo UTAUT. Ele foi, portanto, obtido a partir desse processo de comparação empírica de oito modelos teóricos em um estudo longitudinal com indivíduos de quatro organizações que haviam sido introduzidos a uma nova tecnologia no ambiente de trabalho.

Desta forma, o modelo UTAUT unificou oito modelos anteriores em apenas um. Venkatesh et al. (2003) mantiveram, modelo a modelo, seus constructos, considerando suas afirmativas acerca da variável latente. Quando determinada variável apresentada por um modelo já havia sido devidamente contemplada por outro, aproveitava-se apenas aquela que ampliaria a proposição desse novo modelo.

O modelo unificado proposto por Venkatesh et al. (2003) contém quatro constructos considerados importantes e determinantes diretos da aceitação e do comportamento de uso da tecnologia: a Expectativa de Desempenho ou Performance, a Expectativa de Esforço, a Influência Social e as Condições Facilitadoras. Em complemento, os autores apresentaram quatro variáveis moderadoras da intenção de uso e uso propriamente dito. São elas: Gênero, Idade, Experiência e Voluntariedade de Uso.

Figura 1 - Teoria Unificada de Aceitação e Uso de Tecnologia (UTAUT)

Fonte: Venkatesh et al. (2003)

ݐO constructo Expectativa de Desempenho ou Performance tem o objetivo de avaliar O constructo Expectativa de Desempenho ou Performance tem o objetivo de avaliar em qual medida o sujeito acredita que a utilização do sistema contribuirá para a melhora do desempenho em seu trabalho (VENKATESH et al., 2003). Sua fundamentação foi feita com base nos constructos de diferentes modelos: Percepção de Utilidade/Utilidade Percebida (DAVIS, 1989), proveniente do modelo TAM e TAM 2; Motivação Extrínseca (DAVIS; BAGOZZI; WARSHAW, 1992), oriundo do modelo MM; Job-Fit (THOMPSON; HIGGINS; HOWELL, 1991), derivado do modelo PC de Utilização (MCPU); Vantagem Relativa

(MOORE; BENBASAT, 1991), oriundo da Teoria de Difusão da Inovação (IDT); e Expectativa de Resultados (COMPEAU; HIGGINS, 1995), procedente do modelo SCT.

A utilidade percebida é definida como a medida em que as pessoas acreditam que usar uma nova tecnologia pode aumentar seu desempenho (DAVIS, 1989). Já a motivação extrínseca é a percepção na qual as pessoas gostariam de desempenhar uma atividade quando tal atividade é percebida como instrumental na obtenção de resultados valorizados que são diferentes dos provenientes da atividade em si (DAVIS; BAGOZZI; WARSHAW, 1992). A vantagem relativa se refere aos benefícios de adotar uma nova tecnologia comparada aos seus custos (MOORE; BENBASAT, 1991). Venkatesh et. al. (2003) testaram os indicadores destes constructos e selecionaram quatro indicadores – os mais significantes para explicar o constructo Expectativa de Desempenho – para inclusão no modelo UTAUT.

O constructo Expectativa de Esforço corresponde, segundo Venkatesh et al. (2003), à perspectiva de facilidade pelo indivíduo em relação à utilização do sistema. Os autores elaboraram este constructo a partir das variáveis de outros modelos importantes como: Facilidade de Uso Percebida, proveniente do TAM/TAM2; Complexidade, oriundo do modelo MPCU; e Facilidade de Uso, um constructo da Teoria da Difusão da Inovação. A facilidade de uso percebida corresponde ao grau no qual as pessoas acreditam que usar uma tecnologia poderia ser livre de esforço, enquanto o conceito de complexidade corresponde ao grau no qual uma tecnologia inovadora é identificada como relativamente difícil para usar ou entender (HUANG; KAO, 2015). Venkatesh et al. (2003) afirmam que o constructo Expectativa de Esforço é significativo tanto em contextos em que a adoção do sistema se dá de maneira voluntária quanto em circunstâncias em que o uso é obrigatório.

O constructo Influência Social é definido por Venkatesh et al. (2003) como a intensidade com que o indivíduo compreende a influência que pessoas importantes em seu círculo social exercem sobre ele no sentido da utilização do sistema, na intenção comportamental de uso. De acordo com Huang e Kao (2015), em geral, a Influência Social pode ser classificada em duas partes: as normas sociais e a massa crítica. As normas sociais incluem duas diferentes influências: a influência informacional e a influência normativa. A influência informacional refere-se à obtenção de informações através de outras pessoas. A influência normativa refere-se à conformação de um usuário/utilizador à expectativa de outras pessoas para obter uma recompensa ou evitar uma punição.

O conceito de Influência Social é proveniente de três variáveis: Norma Subjetiva, presente nos modelos TRA, TAM2, TPB/DTPB e C-TAM-TPB; Fatores Sociais. originário do modelo MPCU; e pelo constructo do modelo IDT denominado Imagem (HUANG; KAO,

2015). A norma subjetiva diz respeito à pressão social percebida para desempenhar ou não um comportamento. O fator social é uma internalização individual do sistema social da cultura do sujeito e acordos interpessoais que o indivíduo em uma situação social particular faz com os outros. A imagem é definida como o grau no qual um indivíduo identifica que o uso de uma tecnologia inovadora pode aumentar seu status em sua organização social (HUANG; KAO, 2015).

No estudo, Venkatesh et al. (2003) perceberam a Influência Social como levemente impactante na intenção de uso em ambientes em que a adoção é mandatória. Nestes casos, o indivíduo é estimulado ao uso da tecnologia por membros do seu círculo de trabalho e gestores, o que aumenta a intenção individual de usar a tecnologia. Os autores também analisaram o cenário em que a adoção se dá de forma voluntária, entretanto, o estudo indicou que, neste caso, a Influência Social não é relevante nem significante.

O constructo Condições Facilitadoras é conceituado por Venkatesh et al. (2003) como o nível de confiança do indivíduo na existência de infraestrutura técnica e suporte para a utilização do sistema. Os autores desenvolveram este constructo a partir de outros constructos de três modelos: Controle Comportamental Percebido, proveniente da TPB/DTP (AJZEN; FISHBEIN, 1991) e C-TAM-TPB (TAYLOR; TOOD, 1995); Condições Facilitadoras, oriundo da teoria MPCU (THOMPSON; HIGGINS; HOWELL, 1991); e Compatibilidade, originário do modelo IDT (MOORE; BENBASAT, 1991).

O constructo Intenção Comportamental de Uso é oriundo da Teoria da Ação Racional (TRA), de Fishbein e Ajzen (1975). No modelo UTAUT de Venkatesh et. al. (2003), ele está posicionado como variável dependente que é afetada pelos constructos Expectativa de Desempenho, Expectativa de Esforço e Influência Social. Além disso, também está posicionado como variável antecedente do constructo Comportamento de Uso. De acordo com Venkatesh et. al. (2003), sua relação com os constructos antecedentes é moderada pelas variáveis Gênero, Idade, Experiência e Voluntariedade.

Por sua vez, a variável Comportamento de Uso, também proveniente da Teoria da Ação Racional (TRA), de Fishbein e Ajzen (1975), está situada no modelo UTAUT como um fator dependente que é impactado diretamente pelos constructos Intenção Comportamental de Uso e Condições Facilitadoras. As variáveis Idade e Experiência moderam o relacionamento entre Condições Facilitadoras e Comportamento de Uso. Elas constituem fatores que impactam a relação entre as variáveis dependentes e independentes. Os autores consideraram como variáveis moderadoras em seu trabalho a Idade, o Gênero, a Experiência e a Voluntariedade de Uso.

Após esta apresentação do modelo UTAUT, o próximo tópico aborda como o recente UTAUT 2 se apropriou dos constructos da Teoria de Aceitação e Uso de Tecnologia para adaptá-la para o contexto do consumo e uso de tecnologia.