• Nenhum resultado encontrado

5 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS OBTIDOS

5.1 CAUSAS DA EVASÃO NA PERCEPÇÃO DOS ALUNOS DESISTENTES

A fim de atender ao precípuo objetivo deste estudo, que é identificar as causas internas e externas que contribuíram para o abandono do aluno do PROEJA, no atual, Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão, algumas questões foram dirigidas ao desistente, como por que escolheu o curso, quais as suas expectativas, se o trabalho influenciou no abandono, o nivelamento oferecido contribuiu para a sua aprendizagem, a bolsa oferecida foi fator determinante ou não para a sua permanência ou desistência, a avaliação do curso, a relação entre disciplinas e a natureza do curso, e por último, as causas do seu abandono (APÊNDICE C). A análise do curso Técnico em Alimentos sinaliza muitas discussões. Com o intuito de aprofundar e favorecer melhor o entendimento aos debates acerca dos fatores investigados, optou-se, como estratégia, colocar o objetivo da questão, pergunta e gráfico de respostas, e por fim, a interpretação de cada questionamento presente no instrumento de coleta de dados.

Objetivo da questão: Identificar a motivação do aluno na escolha do curso.

Gráfico 3 – Motivação da Escolha do Curso

Fonte: Pesquisa de campo

40% 20% 20%

20%

Por que você escolheu o curso Técnico em Alimentos do PROEJA?

Intresse pelo curso

Os dados apresentados no Gráfico 3 apontam que 40,0% dos entrevistados tinham interesse pelo curso, 20,0% queriam ampliar conhecimentos, 20,0% em ter uma profissão e 20,0% declararam que o curso foi recomendado por colegas. Após a análise dos dados, verifica-se que, apesar de a maioria ter demonstrado interesse pelo curso, na verdade, duas respostas se interligam, ou seja, ampliação do conhecimento e obtenção de uma profissão, que irá culminar no interesse do aluno pelo curso. Significa que o aluno deposita confiança na escola e “[...] reconhece que o conhecimento constitui a variável mais importante nas novas formas de organização social e econômica [...]” (TEDESCO, 2006, p. 132). Assim, verbalizam:

Achava interessante, sempre pensei em fazer Química, e a oportunidade veio depois de velho, conhecer processos químicos, orientar na vigilância sanitária. Achava que seria um passo para me qualificar mais, ter um emprego melhor e ajudar a minha família. Pensei que fosse até o final, mas..., não deu, que pena, hoje fico triste com tudo isso [...]. ( A5)

Porque via esperança de me qualificar na área, terminar os estudos futuramente e conseguir um ótimo emprego ou montar meu próprio negócio. Pensei que as portas iriam se abrir na minha vida [...]. (A3)

Porque via uma saída, ou seja, uma oportunidade de terminar os estudos e, ao mesmo tempo, obter uma qualificação profissional Eu tinha orgulho porque estava estudando no CEFET. Meu certificado seria de lá. Eu, com certeza, ia arranjar emprego [...]. (A4)

Pelo tom da voz destes entrevistados, fica evidente que depositavam no curso uma esperança por este significar uma “luz no fim do túnel”, garantia de qualificação e profissionalização para que eles pudessem montar seus negócios, independente de faixa etária, buscando assim reduzir as desigualdades sociais que os cercavam. Tinham projetos para o futuro, sentiam a necessidade e a importância da sua formação escolar e técnica, com o intuito de romper com a exclusão que lhe fora imposta pela sociedade e a sua inclusão no mercado de trabalho, proporcionando-lhe um melhor desenvolvimento socioeconômico na vida. A esperança está, ainda, em sua insistência em não desistir, como bem se expressa:

[...] sou brasileiro e não desisto nunca. (A3)

Pela declaração do A4 percebe-se quanto orgulho possuía por estudar no IFMA. O peso da certificação dada pelo Instituto significava muito para o interlocutor, que, no entanto, abandonou a escola, apesar de tanta expectativa. Gomes e Carnielli (2003), ao fazerem uma pesquisa exploratória, com grupos focais, sobre a expansão do ensino médio, no Plano Piloto, em Brasília, junto a alunos de duas modalidades de ensino, perceberam que os participantes da EJA, após a conclusão do curso, consideravam-se estigmatizados com a certificação e

preferiam recorrer ao ensino médio regular noturno. Como afirmam ainda Gomes e Carnielli (2003, p. 47) “[...] a dualidade dos sistemas tornam a EJA com menos prestígio”. Entretanto, por outro lado, percebe-se uma jovem (A4), pertencente ao programa, otimista com o próprio futuro e orgulhosa por estudar no IFMA, mas que não resiste às circunstâncias que a fizeram abandonar o Instituto.

Objetivo da questão: Averiguar a expectativa do entrevistado em relação à educação e o sucesso profissional.

Gráfico 4 – Expectativa em relação ao curso

Fonte: Pesquisa de campo

A explicação apresentada pelos entrevistados sobre a sua expectativa em relação ao curso mostrou no Gráfico 4, que para 20,0% não era do seu interesse, 20,0% buscavam novos conhecimentos, 20,0% viam nele a possibilidade de emprego e 40,0% desejavam fazê-lo em dois anos, como propunha o Edital nº 18, de 10 de outubro de 2006 “O curso Técnico em Química de Alimentos do PROEJA, na forma integrada ao Ensino Médio, será realizado em dois anos, com matrícula única [...]” (BRASIL, MEC, 2006, p. 9).

Nesse sentido, de acordo com a análise feita, 80% dos entrevistados tinham interesse no curso desde que fosse feito em dois anos, como proposto no Edital, porém a instituição decidiu prorrogar o curso para três anos. Esse motivo intra-escolar, talvez, tenha sido decisivo para a desistência do aluno PROEJA, considerando que o jovem que retorna a estudar está em busca de certificação de caráter imediato. São jovens que trazem consigo sequelas de experiências frustradas ao longo da vida e, ao chegar à escola, necessitam aprender com urgência o necessário para sobreviver no mundo científico e tecnológico que os cercam.

20% 20% 40%

20%

Qual era a sua expectativa em relação ao curso de TQA?

Não era do seu interesse Buscavam novos conhecimentos Desejavam fazê-lo em 2 anos

Sobre a questão o entrevistado declarou:

Pensava, naquela época, que voltar a estudar era rasgar o atestado de óbito que ganhei quando parei de estudar pela primeira vez, principalmente porque ia ser rápido. Rapidinho ia me formar. Que sonho!...Ah! Não deu certo. Saí no 1º ano, talvez, se tivesse paciência e a Instituição voltasse atrás. Será que eu teria continuado? Acho que sim [...]. (A3).

Paulo Freire (2005) pontua que a finalidade da Educação para o homem é libertá-lo para poder transformá-lo. De forma análoga, Pinto (1997) sinaliza que a educação é substantiva, pois altera o ser humano, transformando-o, caso contrário, seria adjetiva, um mero ornamento da inteligência. De acordo com depoimentos, perceberam-se visões unânimes de interlocutores que viam a transformação como finalidade essencial da educação, como evidenciaram:

Foi uma oportunidade boa, porque iria recuperar o tempo perdido [...] Ter parado de estudar interferiu na minha vida, pois se não tivermos informação, não vamos a lugar nenhum, as tarefas do dia-a-dia não levam a nada, tem que ir mais além e só pela educação se pode conhecer o que está acontecendo a nossa volta, os mais espertos se sobressaem em cima de nossas fraquezas [...]. (A 5).

[...] Com o pouco de aulas que assisti, percebi que só se vence neste mundo pelo conhecimento e isso é educação [...]. (A 3).

Objetivo da questão: Entender a percepção do entrevistado acerca da área (ramo).

Gráfico 5 – Experiência em Alimentos

Fonte: Pesquisa de campo

O Gráfico 5 mostra que nenhum dos entrevistados tinha experiência na área de Química de Alimentos, mas, ao mesmo tempo, percebe-se que, quando indagados sobre suas expectativas e escolhas, revelados nos gráficos 3 e 4, notou-se motivação e interesse na área. Desta feita, observa-se que o curso não foi suficientemente motivador para manter e despertar no aluno maior vontade de adentrar no ramo. Um dos entrevistados justificou este

100%

Você tinha alguma experiência no ramo de Alimentos ?

comportamento como uma idealização que os alunos fazem da escola e da possibilidade de sucesso tanto profissional quanto financeira:

Apesar de não saber nada sobre Química, só o que tinha lido no edital, na época, sobre alimentos, pra mim foi uma oportunidade única que eu desperdicei... (pausa), pelo fato de ser um curso técnico e em concluir o ensino médio. Ah! Ia contribuir no aspecto profissional, financeiro, social, eu ia ganhar muito dinheiro, mas [...]. (A 4).

Na fala do entrevistado, o seu sonho não se tratou de realizar o curso por identificação com a sua vida, afinal, o aluno não tinha nenhuma experiência, não sabia efetivamente o que ia estudar, nem tampouco o que ia fazer, mesmo assim, o interlocutor considerou uma “oportunidade única” em sua vida, por estar estudando em uma escola técnica e concluir seus estudos. Essa esperança, conhecimento e êxito depositados pelo aluno na escola, surge da necessidade do indivíduo querer incluir-se, de fato, na sociedade como um ser escolarizado.

O que se percebe é que, no momento em que esses jovens adultos excluídos passam a frequentar mais amiúde os bancos escolares, o modelo paradigmático da educação, em execução, é insuficiente para ampará-los plenamente e dar conta desse direito do indivíduo à cidadania, o que resulta no abandono da sala de aula.

Desta feita, assim elucida a interlocutora:

Eu não sabia muito bem o que ia estudar nem o que ia ser na hora que o curso terminasse, mas voltar a estudar muda muita coisa. Se pode arrumar um emprego melhor. O estudo dá uma chance para a pessoa crescer na vida. É isso que eu quero... crescer na vida. (A 3).

A declaração corrobora com Morin (2000), quando apela aos educadores que envidem esforços para a reforma do pensamento, da consciência e das competências humanas. Moraes (2008), sobre esse contexto, elucida que, para que isso ocorrer, faz-se necessário uma reforma de natureza mais profunda, isto é, uma reforma paradigmática envolvendo dimensões ontológicas e metodológicas nos mais variados campos do conhecimento, o que também para ela constitui em um empreendimento que deve começar pelos professores. Só assim ocorrerá o reencantar da educação tanto para os aprendentes como para aqueles que mediam a aprendizagem, os professores. Reitera a estudiosa que muita coisa precisa ser feita, envolvendo o apreender a ser, a fazer, a viver e a conviver, ou seja, mudanças no pensar, no sentir, no agir dos que fazem parte do processo ensino aprendizagem.

Objetivo da questão: Verificar se estudos desenvolvidos foram fator relevante para o abandono do aluno.

Gráfico 6 – Nível de escolaridade dos alunos

Fonte: Pesquisa de campo

Quando indagados sobre terem cursado o ensino médio, 60,0% dos entrevistados responderam que já haviam terminado, enquanto 40,0% haviam começado a cursar, sem, contudo, concluí-lo conforme se observa no Gráfico 6. Esta amostragem reitera o interesse do aluno pelo curso técnico em Alimentos, já que o ensino médio a maioria dos alunos já tinha. Supõe-se que isso constituiu motivo efetivo para a evasão do curso TQA. Assim se expressou:

Sim, em outro tempo, eu comecei a cursar o ensino médio em outra escola, mas não concluí. Estudar era uma porta que se abria, naquela época, sonhava em chegar até à universidade. Sabia que ia encontrar dificuldade, pois todo mundo dizia que o CEFET era difícil, ainda mais pelo tempo que eu estava fora, mas até já tinha material em casa que ia ajudar. Livros de Química que um colega me deu, era livro do mestre, todinho respondido [...].Na verdade, o que eu queria era fazer só o curso técnico. (A6)

Nota-se na fala do entrevistado muita emoção ao declarar o seu abandono,

principalmente no que se refere ao seu sonho “chegar até à universidade”. O interlocutor sabia que ia encontrar dificuldades, mas a sua vontade de retorno era tamanha que até livros já havia adquirido.

Apesar de ainda não ter concluído o ensino médio, percebeu-se na fala do entrevistado que era o curso técnico que mais o interessava, talvez pela idade, na época, 32 anos, tinha pressa, além do mais “era uma porta que se abria”, porta para o mercado de trabalho que, para o interlocutor, sendo vendedor de uma farmácia, casado, ganhando em média 2 (dois) salários mínimos, representaria escolaridade e qualificação profissional. Isso demonstra que o entrevistado é consciente do seu papel enquanto trabalhador de baixa renda, exatamente porque não dispõe de pré-requisito fundamental exigido pelos melhores empregos, o que

60% 40%

Você já cursou o Ensino Médio?

Já haviam terminado o ensino médio

justifica a meta da maioria dos entrevistados, isto é, melhorar a qualidade de vida e conseguir uma melhor colocação laboral.

É oportuno, nesse contexto, citar Capanema (2004, p. 50), que registra a necessidade de transformação dos sistemas educacionais. Pontua a educadora que a “[...] educação por si mesma não elimina a pobreza [...]”, entretanto, constitui sustentáculo para o desenvolvimento pessoal, haja vista oportunizar ampliação de uma vida melhor, vida esta almejada pelo interlocutor, que coloca sua esperança na escola.

Isto posto, transformar os sistemas de ensino do país, ainda segundo Capanema (2004), inclui a necessidade de soluções educacionais específicas para conduzir o jovem, principalmente adulto, para o mundo do trabalho, bem como de políticas públicas que façam valer a equidade e a qualidade na educação de uma forma geral.

No que se refere ao PROEJA, como modalidade de educação básica atrelado à educação, a escola deve propor um modelo que assegure a função reparadora, ou seja, a criação de situações pedagógicas que atendam às necessidades de alunos jovens e adultos, a função equalizadora, isto é, a criação de oportunidades para esses jovens para o mundo de trabalho e a função qualificadora que se refere à educação contínua, permanente ao longo da vida (BRASIL, MEC, 2002).

A fala de A6, desistente do PROEJA, atualmente com 35 anos de idade, registra bem esse contexto:

Sim, eu só comecei, não concluí meu ensino médio, mas me interessava mais o curso técnico em Alimentos, no qual não sabia muita coisa, mas vi a oportunidade de voltar a estudar e aí me senti à vontade, sou muito tímido, e o PROEJA é uma educação especial que iria me ajudar a arranjar emprego, e não me deixar parar de estudar. [...] Só com o estudo se vence na vida. né? [...]. (A6)

Ao escutar a fala do entrevistado, infere-se, de fato, que o grande desafio da escola é a criação de uma identidade específica para esse alunado, pois esses jovens consideram-se “especiais”, como suscita o interlocutor. Muitos outros sentem-se estigmatizados por estarem atrasados, sentem-se fracos e impotentes para acompanhar os que estão estudando em idade regular. Logo, o que falta à escola é uma intervenção mais ontológica no sentido de atender às especificidades desses alunos.

Objetivo da questão: Verificar se o trabalho foi um fator relevante para o abandono do aluno.

Gráfico 7 – Trabalho x Estudo

Fonte: Pesquisa de campo

No que se refere ao quesito trabalho, a pesquisa apontou que 60,0% dos entrevistados afirmaram trabalhar, e 40,0% responderam não exercer atividade laboral. Dentre os alunos que exerciam alguma atividade, 100% responderam que o trabalho interferia nos seu desempenho em sala de aula. Entre estes, 44,0% afirmaram que chegavam à escola muito cansados e 56,0% reclamaram da exigência do horário de chegada à Instituição, às 19h, conforme se observa no Gráfico 7.

Esses participantes sinalizaram que esse fato foi motivo para a desistência do curso. Atrelado a isso, como já foi explicitado no gráfico 4, o participante do Programa esperava concluir o curso em dois anos, o que foi mudado a posteriori pela Instituição. Logo, fica claro, após análise dos dados, que, malgrado a maioria dos entrevistados mostrarem interesse pelo curso, como ficou evidenciado no Gráfico 4, mesmo sem experiência, como foi explicitado no Gráfico 5 e de acordo com os vários depoimentos, sobre a esperança depositada na escola, o aluno, diante da escolha entre escola ou trabalho, optou por aquele que lhe parecia ser mais valioso, o trabalho, e evadiu-se da escola, sugerindo que problemas extraescolares têm um peso muito grande na desistência do aluno.

40% 60%

Você trabalhava enquanto cursava o PROEJA?

Não trabalhavam Trabalhavam

100%