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DA EJA AO PROEJA: INSTITUCIONALIZAÇÃO EM UM CENÁRIO DE FORMAÇÃO COMPLEXA

3 REVISÃO DE LITERATURA

3.2 DA EJA AO PROEJA: INSTITUCIONALIZAÇÃO EM UM CENÁRIO DE FORMAÇÃO COMPLEXA

O Programa de Integração da Educação Profissional Técnica de Nível Médio ao Ensino Médio na modalidade de Jovens e Adultos (PROEJA) foi originado pelo Decreto Federal nº 5.478 de 24/06/2005, no governo Lula, sob a coordenação da Secretaria Profissional de Educação (SETEC). Este Decreto tem como fundamento a integração entre trabalho, ciência, técnica, tecnologia, humanismo e cultura geral com o objetivo de contribuir para o enriquecimento científico, cultural, profissional e político de indivíduos, que, dadas algumas circunstâncias, foram excluídos do processo educacional (BRASIL, Presidência da República, 2005).

Nesse contexto, vale ressaltar que antes de o Poder Executivo baixar o Decreto nº 5.478/2005, outras instituições já desenvolviam experiências de educação profissional com jovens e adultos. Consoante o Documento Base do PROEJA (BRASIL, MEC, 2007), com a implementação do Decreto, muitas pessoas como estudiosos, gestores e parceiros do programa passaram a questioná-lo, propondo maior abrangência e aprofundamento em seus princípios epistemológicos.

Para Frigotto, Ciavatta e Ramos (2005), o Programa foi severamente criticado e uma das principais causas foi em virtude de limitar a carga horária a um “máximo”, ou seja, 1.200h destinadas à formação geral, 200h à formação profissional. Na habilitação técnica, 2.400h, das quais 1.200h para formação geral. Os estudiosos ainda pontuam que, na carga horária estabelecida pelo Decreto mencionado, havia incoerências, haja vista, carga horária, dada a modalidade de ensino, não constituir uma imposição e sim uma possibilidade. Além do mais, a carga horária era consideravelmente diferente dos cursos regulares da Rede.

Esses mesmos autores ainda elucidam que a carga horária estabelecida incorreu em deslizes éticos, políticos e pedagógicos, logo não poderia ser definida como “máxima”. Assim, como resultado desse questionamento, o Decreto nº 5.478/2005 foi revogado e foi baixado o Decreto nº 5.840 de 16/06/2006, que trouxe muitas mudanças para o Programa, entre as quais, a inclusão deste no ensino fundamental, admissão do sistema de ensino estadual e municipal e privado, todavia tendo como mantenedora a obrigatoriedade para a Rede Federal. Além de otimização da oferta de cursos na forma concomitante, quando o aluno cursa o médio ou fundamental em uma escola e o profissional em outra, e o integrado, quando este possui currículo único, isto é, formação geral e profissional.

Outra mudança, conforme Frigotto, Ciavatta e Ramos (2005) foi com relação à previsão de conclusão dos estudos do aluno do PROEJA, em qualquer tempo, caso fosse demonstrado o domínio de conteúdo relacionado ao nível de escolarização. Também foi implementado a instituição de um Comitê Nacional para fazer o acompanhamento do Programa (BRASIL, 2007).

Nessa perspectiva, observa-se que o PROEJA consubstanciou-se por meio de um segundo Decreto e dentro de um cenário complexo. É notório salientar que, nesse contexto, as Redes Federais de ensino, já elitizadas, não dispunham de experiências em relação à EJA, logo uma ramificação do programa consistiria em um desafio a enfrentar.

Ainda se pode pontuar, segundo Frigotto, Ciavatta e Ramos (2005) que, em se tratando do Programa ser específico para indivíduos que almejam entrar no mercado de trabalho, os seus partícipes foram excluídos da sociedade, em uma conjuntura histórica pautada no modelo econômico do país, e foram vítimas de uma política neoliberal excludente e individualista, na qual a industrialização dá lugar ao capital financeiro, constituindo, pois, razão para o aumento do desemprego. Logo, esses jovens e adultos ceifados do acesso à escola passam a ser vítimas de seu próprio destino.

Outro quadro que se configurou como desafiador na gênese do PROEJA se relaciona à necessidade de o indivíduo globalizar-se. Logo, o estudante do Programa almeja a sua interação entre teoria e prática para, a partir da prática, incluir-se no mercado de trabalho.

Destaca-se, nessa assertiva, que, na LDB nº 9.394/96, o Ensino Médio é a última etapa da Educação Básica e, através do PROEJA, pode haver uma ação efetiva na integração de um curso profissionalizante com o Ensino Médio para que esse jovem, supostamente excluído, possa ter mais perspectiva de trabalho e de socialização. Nesse sentido, cabe a proposição do Documento Base do PROEJA (BRASIL, MEC, 2007, p.38):

A vinculação da escola média com a perspectiva do trabalho não se pauta pela relação com a ocupação profissional diretamente, mas pelo entendimento de que homens e mulheres produzem na condição humana pelo trabalho-ação transformadora no mundo, de si, para si e para outrem.

Por outro lado, consoante Gomes e Carnielli (2003), ao fazerem um cotejo entre o ensino regular e a educação de jovens e adultos pontuam que há precariedade nessa modalidade de ensino, haja vista a mesma ser constituída de jovens carentes de uma segunda oportunidade. Constitui-se, também, de um ensino menos estruturado, não obrigatório, voluntário com a manutenção dependente da quantidade de alunos. Todas essas características fazem a modalidade ter um grau de prestígio menor do que o ensino regular.

Com referência aos partícipes do programa, é importante, ainda, destacar as considerações de Gomes e Carnielli (2003) quando esclarecem:

Muitos alunos internalizam essa situação de inferioridade, considerando-se incapazes e fracos. Sua visão de educação é individualista e utilitarista, esperam que a escola certifique e prepare para o trabalho. Grande parte do alunado continua a ser composta por pessoas que já experimentaram o fracasso escolar [...]. Também, persistem os impasses entre as características propedêuticas do ensino médio e as relações com o trabalho ou a formação profissional.

Destarte, apesar do explicitado, o modelo PROEJA pode resgatar muitos indivíduos à sua dignidade, efetivando, pois, políticas públicas e a dignidade humana, preceito de um país democrático. Este Programa pode reduzir as desigualdades sociais e oportunizar aos seus integrantes uma participação mais ativa nas mudanças do país. Indivíduos que sejam não meros coadjuvantes, mas protagonistas de sua própria história.

Constitui-se, pois o PROEJA, num Programa de extraordinária dimensão, pois aperfeiçoa as capacidades do indivíduo ao estimular “[...] o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”, conforme o que emana na Constituição Federal de 1988 (BRASIL, Presidência da República, 1988), possibilitando, dessa forma, oportunidades para indivíduos que foram tolhidos no processo educacional e, em dado momento de sua vida, voltam a ter sua dignidade restituída, por meio da interação entre a educação profissional e a educação teórica.

Assim, sabendo-se que o trabalho é a ação transformadora no mundo, de si para si e para outrem (BRASIL, MEC, 2007), e sendo a educação, consoante a Constituição Federal de 1988, um direito social básico e universal, um direito do cidadão e um dever do Estado e da família, a perenidade dessa política proporcionará aos seus partícipes uma forma de resgate e inclusão à cidadania.

Machado (2006), complementa informando que o PROEJA se estabelece e ganha significação no contexto atual de mudança de paradigma e de busca de universalização da educação básica, como uma forma de ampliar as oportunidades e as perspectivas de estudos em nível superior, a indivíduos, que, dadas algumas circunstâncias geográficas, sociais ou econômicas, ficaram limitados de inserção na vida social e no mundo de trabalho.