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3 REVISÃO DE LITERATURA

3.3 O PROEJA E O ENSINO PROFISSIONALIZANTE NO IFMA

Não se tem a pretensão de fazer uma abordagem histórica do IFMA, todavia por ser campo de estudo, explicita-se sucintamente um pouco da história da Instituição colocando em

evidência alguns marcos que tornaram viável a existência e a importância desta como propulsora de educação profissional e tecnológica no Estado do Maranhão.

No dia 23 de setembro de 1909, por meio Decreto nº 7.566, assinado pelo presidente Nilo Peçanha, foram criadas as Escolas de Aprendizes Artífices nas capitais dos estados, entre estas a do Maranhão. Já em 1937, dadas as transformações que ocorreram no sistema educacional do Brasil, a Escola de Artífices recebeu a denominação de Liceu Industrial de São Luís (IFMA, 2009).

Em 30 de janeiro de 1942, em face da industrialização substitutiva de importações, durante a Segunda Guerra Mundial, o Decreto-lei nº 4.073 instituiu a Lei Orgânica do Ensino Industrial e foram criadas as Escolas Técnicas Industriais. Assim, o Liceu Industrial de São Luís foi transformado em Escola Técnica Federal de São Luís (IFMA, 2009).

Em 03 de setembro do mesmo ano, em virtude do regime militar, que ansiava por controlar as políticas do Estado, a Escola Técnica Federal de São Luís, por meio da Portaria nº 239/65, foi transformada em Escola Técnica Federal do Maranhão (ETFMA) (IFMA, 2009).

Em 1989, movida pela necessidade do mercado de trabalho, com a instalação no Estado, de importantes projetos na área da indústria, como também pela influência do maranhense José Sarney, Presidente da República, a ETFMA transforma-se em Centro Federal de Educação Tecnológica do Maranhão, tendo competência para, a partir de então, ministrar cursos de graduação e pós-graduação (IFMA, 2009).

No dia 16 de julho de 2008, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cria 38 Institutos de Educação, Ciência e Tecnologia no país. A matéria segue para a aprovação pelo Legislativo Federal e, em 29 de dezembro de 2008, é sancionada (IFMA, 2009).

Os Institutos foram criados com o objetivo de desenvolver as áreas de pesquisa e extensão, visando estimular o desenvolvimento de soluções técnicas e tecnológicas com vistas a trazer benefícios à comunidade.

Assim, inserido na EJA, o programa PROEJA teve como base de ação a Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica. Ressalta-se que, antes do Decreto nº 5.478/2005, outras Instituições já desenvolviam experiências de educação profissional para jovens e adultos. Após o Decreto, o Programa tornou-se mais abrangente e houve uma maior preocupação e aprofundamento, principalmente, no que se refere aos seus princípios epistemológicos.

Logo, através da experiência já concretizada e os novos Parâmetros Curriculares, fez- se necessária uma ampliação do Programa tendo como principal embasamento a “[...]

universalização da educação básica, aliada à formação para o mundo do trabalho, com acolhimento específico a jovens e adultos com trajetórias escolares descontínuas” (BRASIL, MEC, 2007, p. 12).

Dessa forma, o PROEJA surge com o objetivo de enfrentar as descontinuidades que atingem a modalidade da EJA no país, no âmbito do ensino médio, assim como proporcionar a integração da educação básica a uma formação profissional que favoreça a inserção do aluno no mercado de trabalho.

O IFMA, com sede em São Luís, criado pela Lei nº 11.892, de 29 de dezembro de 2008, mediante integração do Centro Federal de Educação Tecnológica do Maranhão e das Escolas Agrotécnicas Federais de Codó, de São Luís e de São Raimundo das Mangabeiras constitui-se de uma Autarquia, no Estado do Maranhão, e detém autonomia administrativa, patrimonial, financeira, didático-pedagógica e disciplinar (BRASIL, MEC, 2009). O IFMA tem por meta:

I – Ministrar educação profissional técnica de nível médio, prioritariamente na forma de cursos integrados, para os concluintes do ensino fundamental e para o

público da educação de jovens e adultos; II – Ministrar cursos de formação inicial e continuada de trabalhadores, objetivando a capacitação, o aperfeiçoamento, a especialização e a atualização de profissionais, em todos os níveis de escolaridade, nas áreas da educação profissional e tecnológica; III – Realizar pesquisas aplicadas, estimulando o desenvolvimento de soluções técnicas e tecnológicas, estendendo seus benefícios à comunidade; IV – Desenvolver atividades de extensão de acordo com os princípios e finalidades da educação profissional e tecnológica, em articulação com o mundo do trabalho e os segmentos sociais, e com ênfase na produção, desenvolvimento e difusão de conhecimentos científicos e tecnológicos; V – Estimular e apoiar processos educativos que levem à geração de trabalho e renda e à emancipação do cidadão na perspectiva do desenvolvimento socioeconômico local e regional; VI – Estimular e desenvolver atividades físicas com base na cultura corporal, no equilíbrio da saúde e na melhoria da qualidade de vida. (grifo nosso). (BRASIL, MEC, 2009, p. 21)

No que se refere aos alunos, estão distribuídos nos cursos técnicos, tecnológicos e nas licenciaturas nos diversos cursos ofertados por este Instituto nas modalidades e níveis: educação básica, profissional, PROEJA, superior e a distância, representando um universo de 15.882 alunos matriculados no ano de 2011. Dados oriundos da Coordenação de Registro Escolar /CRE (2011), mostram que os ingressantes nos cursos de educação profissional, nas três formas de ofertas: integrada, concomitante e subsequente representam a maioria ofertada pelo Instituto. Ressalta-se que o Campus Monte Castelo, como parte do Instituto, tem 5.798 alunos matriculados.

Dos alunos matriculados na 1ª série, têm-se os cursos da Educação Profissional Técnica de Nível Médio, nas formas integradas ao ensino médio, concomitante, subsequente e

PROEJA. De acordo com dados, ainda, fornecidos pela Coordenação de Assistência ao Educando (CAE) do Campus Monte Castelo, foi registrado que estes estão na faixa etária de 14 a 40 anos, são predominantemente solteiros (96%) e do sexo masculino (60%). Dados também apontam que, cerca de 44% cursaram todo o Ensino Fundamental em escola pública, 11,5% fizeram a maior parte, desse percurso, também, em escola pública e que 15% de alunos são oriundos de escola particular, sem bolsa de estudo.

Dentro dessa linha de pensamento, sinaliza-se, para análise, o problema da evasão do PROEJA no IFMA e pontua-se que o Instituto deve repensar suas ações, encontrando maneiras de se integrar a essa nova política, isto é, a associação da formação geral à profissional, suscitando práticas pedagógicas que possam propiciar aos alunos horários mais convenientes, conteúdos que resgatem o entorno social do aluno, valorizem a sua experiência e promovam a sua autoestima, pois, como afirma Freire (2005, p 78), “[...] ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”, principalmente em se tratando de pessoas que foram tolhidas, ficando à margem da escolarização em tempo hábil. Nessa perspectiva, cabe citar a proposição de Machado (2006) que sinaliza a Educação de Jovens e Adultos como política de inclusão social e cultural. E que essa modalidade pode se basear na educação como direito para resgate ao trabalho e à cidadania.

Faz-se notório, aqui, destacar a visão de Saviani (2005, p. 2) quando pontua que “[...] trabalho e educação são atividades especificamente humanas”. Nessa assertiva, o papel fundamental da escola de nível médio será, então, o de recuperar essa relação entre o conhecimento e a prática do trabalho, ou seja, não basta que o aluno saiba somente dominar elementos básicos cognitivos, faz-se necessário que a teoria dada em sala de aula esteja atrelada à prática e que essa prática interaja com o processo produtivo (SAVIANI, 2005). Logo, o IFMA, por ser um Instituto especializado na oferta de educação profissional e tecnológica, em diferentes modalidades de ensino, incluindo o PROEJA, deve ter essa preocupação.

Saviani (2005, p. 10) acrescenta que essa interação entre prática e processo produtivo “[...] não implica em formar técnicos especializados, mas politécnicos”, que, para o estudioso, implica dar competências ao para aluno dominar os fundamentos científicos das diferentes técnicas utilizadas na produção moderna, o que, consequentemente, implicará na união entre escola e trabalho.

Saviani (2005, p. 4), ainda, assinala que “[...] a relação entre trabalho e educação é uma relação de identidade”, significando para o estudioso que é quase impossível ao homem

viver sem trabalhar. Apesar de existirem pessoas que vivem à custa do trabalho de outrem. Fato que, na antiguidade, resultou na divisão do homem em classes e que culminou na segregação entre a educação e o trabalho (SAVIANI, 2005). Nota-se, atualmente, que o séc. XXI, dada a força da tecnologia, exige maior interação entre os sistemas de ensino e a profissionalização do indivíduo.

Em dezembro de 2010 foi apresentado o novo Plano Nacional de Educação (PNE) por meio do Projeto Lei nº 8.035/10. De autoria do Poder Executivo, estabelece dez Metas seguidas de estratégias que devem ser alcançadas pelo Brasil até 2020. “É um instrumento decisivo, estratégico para o presente e o futuro da educação brasileira e os destinos do país” (BRASIL, Câmara dos Deputados, 2010).

Nesse contexto, o PROEJA, enquanto Programa, está inserido na Meta nº 10 que declara a oferta de “[...] no mínimo 25% das matrículas de educação de jovens e adultos na forma integrada à educação profissional nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio”. A estratégia nº 10.3 do novo Plano propõe “a integração da EJA com a educação profissional, em cursos planejados, de acordo com as especificidades do público [...]” (BRASIL, Câmara dos Deputados, 2010). Vale ressaltar que aos Institutos Federais, atualmente, cabe oportunizar, no mínimo, 10% de suas vagas o que, na verdade, nem esse mínimo, de fato, tem sido contemplado.

Ainda faz-se oportuno citar, nessa mesma linha de pensamento, a estratégia nº 10.8, também relacionada à Meta nº 10 ,que declara:

À diversificação curricular do ensino médio para jovens e adultos, integrando a formação integral à preparação para o mundo do trabalho e promovendo a inter- relação entre teoria e prática nos eixos da ciência, do trabalho, da tecnologia e

da cultura e cidadania, de forma a organizar o tempo e o espaço pedagógicos

adequados às características de jovens e adultos por meio de equipamentos e laboratórios, produção de material didático específico e formação continuada de professores. (BRASIL, Câmara dos Deputados, 2010, grifo nosso).

Vê-se, portanto, que o PNE ora proposto elenca medidas importantes para a consolidação e avanço do Programa já em andamento. O novo Plano, por tocar em problemas específicos que atingem diretamente os partícipes dessa modalidade de educação, como a diversificação curricular, por exemplo, instiga o fomento intrínseco entre a teoria e a prática, um dos princípios basilares para o sucesso da educação andragógica.

Isto posto, o PROEJA deve ser considerado em uma concepção educacional mais ampla, principalmente, por estar relacionada ao trabalho. Consoante a LDB (BRASIL, Presidência da República, 1996): “A educação profissional, integrada às diferentes formas de

educação, ao trabalho, à ciência e à tecnologia conduz ao permanente desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva”. Infere-se, dessa forma, que não se pode considerar a formação do PROEJA como algo singular e específico da área profissional ou da área da educação. Há, na verdade, uma simbiose entre esses dois campos, que compreendem uma dimensão bem mais ampla, como foi explicitado anteriormente, ou seja, uma dimensão sociolaboral. Nessa assertiva, o Programa “[...] postula a vinculação entre formação técnica e uma sólida base científica, numa perspectiva social e histórica-crítica, integrando a preparação para o trabalho à formação de nível médio” (MANFREDI, 2003, p. 57).