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Causo contado por Seu Zeno, de 64 anos Caçapava, cidade, 29.07.98.

Aqui, exatamente naquele trevo que vai prá Guarda Velha, tem a estrada prá Pelotas, se pegar à direita vai prá Guarda. Tem um morro à esquerda que chama-se Morro do Queima Chapéu. Um moço, também coisa de duzentos anos atrás ou mais. Diz que um moço dali daquela região foi embora pro Uruguai, trabalhar no Uruguai. Trabalhava numa estância e lá pelas tantas começou a namorar a filha do estancieiro. São os tais namoros proibidos. Ele era pobre e eles eram ricos, quando descobriram gerou uma revolta muito grande entre os pais da moço. Só que tavam apaixonados um pelo outro. E o rapaz manifestou vontade de ir embora: “Vou embora, teus pais não admitem o casamento...” Só que ela também não admitia, ela queria ir junto. Então acertaram tudo prá ela fugir com ele. De ir embora aqui pro município de Caçapava. E aí ele sentindo que ia ser morto, que não ia ter como escaparem, ele conseguiu fugir. Na noite marcada, tava tudo pronto, conseguiu fugir, parece que com um filho de outro empregado ele conseguiu fugir. Só que os pais não aceitaram aquilo ali e começaram a perseguir, a procurá-lo, e vieram até aqui procurá-lo.

Eu - E a moça ficou?

Seu Zeno - A moça ficou. A í descobriram aonde ele residia, onde ele morava. E contrataram um matador de aluguel. Um outro paisano, um outro castilhano prá vir assassiná-lo. Mas depois disso, já decorrido algum tempo, dois anos, ele já tava até casado com outra, aí chegou aquele castilhano, pediu uma posada, ele deu, e no outro dia pediu serviço. Ele deu serviço. E ficou trabalhando com ele. Passado algum tempo, não sei se era um mês, dois meses ou três meses, o castilhano foi tão bem recebido por ele, tão bem tratado por ele que desistiu: “ Eu não vou matar... Eu não vou matar. Eu perco de ganhar o dinheiro mas não vou matar.” Aí um dia o castilhano disse prá ele, de noite, disse prá ele: “Olha, eu quero acertar as contas, o senhor me paga que eu vou me embora.” - “ Mas porque? Eu tô contente contigo, tu tá trabalhando...” - “Não, eu vou lhe dizer porque. Eu vou lhe contar, ser sincero com o senhor. Eu vim prá cá prá lhe matar. Eu fui contratado prá lhe matar, mas eu não me animei a fazer isso e não vou fazer. E vou lhe contar a verdade, o senhor me tratou tão bem, eu vejo que tá se tratando de uma pessoa boa, então eu vou me embora, só vou querer que o senhor me dê o dinheiro que eu trabalhei prá mim poder retomar. O senhor pode ficar tranqüilo que eu não vou dizer onde é que o senhor tá e...” Mas ele foi franco, foi sincero. Só que o brasileiro esse, agradeceu mas depois... ele disse que ia sair de madrugada... depois lembrou: “ Mas ele chega lá e vai dizer onde é que eu moro, e aí vão vim me matar.” E resolveu de matar o... esperou numa picada, assassinou e queimou o cadáver. Queimou o cadáver, consumiu com cavalo e arreio e tudo... só que o chapéu queimou por metade e ele não se deu conta. E pelo chapéu mal queimado foi descoberto o assassinato. Por

isso que o morro aquele ali tem o nome de Queima Chapéu. É... não é só causo prá ri, tem que ter uns meio sério, meio dramáticos...

Causo contado por Seu Wilmar, de 42 anos, à tarde, enquanto vacinava algumas ovelhas,

com a presença de Seu Solon, administrador da estância - Quaraí, “posto” da Coxilha São

Rafael, zona rural, 10.09.98.

Então

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Pedro Malasartes arranjou um emprego com o rei: “ Rei, eu vou recon-er o campo.” Disse: “Olha rei, encontrei toda a manada dando risada.” - “Manada dando risada Pedro?” - “Sim, a manada dando risada.” - “Amanhã quando eu me levantar tu me põe ela toda ali, presa, dando risada.” - E ele: “ E agora? O que é que eu vou fazer?” Ele era muito campeiro, não. Agarrou, botou toda a manada, toda prá frente do palácio assim. E ele botou tudo freio, tudo freio assim. E claro, quando o rei olhou tavam as égua tudo com os dente anreganhado assim. Claro! Tavam tudo dando risada do tal! (...) E tem a outra... Então vinha um gaúcho e chegou numa casa... o senhor sabe aquela também? (dirigindo-se a Seu Solon) Então chegou um gauchinho, chegou numa casa e disse: “Tem o que comer?” - “Não, não tem, tem ovo.” - “Então me frite uma meia dúzia de ovo. Mas eu não vou pagar porque eu tô sem dinheiro. Mas assim que eu tiver dinheiro eu vou lhe pagar.” Bueno, aí foi... Trabalhou, trabalhou, prá ir pagar. Quando chegou prá pagar, disse: “Tu me soma aí, que eu vou te pagar.” E a mulher: “Se tivesse descascado tinha tantas pondo, elas iam botar tantos ovos...” Então tá, não deu o dinheiro e ele voltou. A í não, a dona da casa resolveu botar ele na justiça. “E aí? E agora, com quem é que eu falo?” Vou lá falar com o Pedro Malasartes. Disse prá ele: “Olha, eu vim lhe botar como meu advogado. Pois se eu comi uma meia dúzia de ovo, devo e não tenho podido pagar.” Bueno, aí chegou lá, o advogado dela chegou e o Pedro sabe o que fez? Se atrasou na hora da audiência, mas

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advogado da dona dos ovos já tava. Aí chegou o Pedro. Quando ele chegou o juiz perguntou, já tava terminando a audiência: “Olha seu, chegando a essa hora?” - “Sim, chegando a essa hora. Eu tinha que aferventar uma panela de feijão prá plantar e deixar ele nascer.” - “ Onde é que o senhor viu feijão cozido nascer?” - “ Mas e onde é que o senhor viu ovo frito dar pinto?” (risos) “ Onde o senhor viu...” Essas eu gosto, mas tem outras que não dão prá contar.

Causo contado por Dona Marica, de 93 anos, pela manhã, na casa de sua filha - Quaraí,

cidade, 19.09.98.

“Tinha um velhinho, um mundano, vivia rolando (?). Olha, ele contava até quando a Nossa Senhora fugiu dos judeus. Contava. Ela fugiu numa burrinha... prá ganhar Jesus, tava grávida de Jesus. Chegou numa estância e tinha uma... uns cavalo, tinha cama de cavalo e ela ganhou Jesus... Eu tenho o retrato dele! na cama do cavalo. E ela de joelho rezando. E a vaquinha bafejando... ele tava nuzinho, não é? Nu. E a vaquinha bafejando prá eles não mon^er de frio. A vaca e a égua... a burrinha dela, bafejaaando em cima do Jesus, (silêncio) Olha, a Nossa Senhora vinha fugindo dos judeus... e o quero-quero gritou, avisou os judeus, (ela faz o

som do quero-quero gritando) Queeeero-queroü Aí... ela excomungou o quero-quero: “Tu não vai sentar em árvore.” Não senta, né. Por isso quero-quero não senta em árvore.

Causo contado por J. Fernandes, de 67 anos, à tardinha, num “galpão” nos fundos da sua

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